O INIMIGO OCULTO

Marcos Barbosa

 

 

Dizem que quem conta um conto aumenta um ponto e é o que eu vou fazer com esta fábula antiga, de cujo autor não sei o nome. Se algum leitor descobrir autoria do mito por traz da lenda, por favor, me informe para que eu possa acrescentar o devido crédito, citando-lhe o nome.

Sonhei que estava jogando conversa fora com o maior contador de piadas no ano 2070, justificando e explicando coisas da política que são paradoxalmente injustificáveis e inexplicáveis,,, de repente o vereador concursado me contou uma fábula no lugar das costumeiras piadas do dia. Estou dando um nome e um título ao personagem principal, escolhi Iporã como palco do acontecimento lendário e encerro com um final esperançoso, otimista e feliz.

Um pequeno comerciante de Iporã tinha mais prazer ensinando as pessoas do que propriamente em vender seus produtos. Conhecido como “Professor” em Iporã, na capital recebeu o apelido de Dr. Maubássi nos ambientes frequentados por escritores, poetas e outras categorias de intelectuais. Muita gente se aconselhava com o professor: estudantes, professores, pequenos e grandes empresários e até os políticos de todos os partidos. Todos queriam beber a água limpa daquela pequena fonte de conhecimento.

Como é costumeiro e recorrente nessas situações, o professor tinha três falsos amigos, fingidos e invejosos. Dr. Maubássi desconfiava, algumas pessoas o alertaram, mas ele mantinha a amizade, com um pé à frente e outro atrás,,, sempre dizendo: “Um amigo falso dá mais prejuízo que um inimigo declarado”.

Os inimigos ocultos se reuniam na casa de um deles e tinham o prazer mórbido de trocar maledicências, na base do ouvi dizer, me falaram,,, era um “diz-que-diz-que” interminável produzido pelas mentes doentias daqueles três fofoqueiros, que saiam afiados daquelas reuniões semanais espalhando os boatos.

Se esses venenos fossem acompanhados de um antídoto adequado, fatalmente o boato, fofoca, opinião ou conceito negativo, poderiam nascer e morrer ali mesmo, mas ao contrário, estavam sendo plantados naquele momento. Dali pra frente bastava um “tão dizendo aí”,,, como adubo da maledicência popular, para o boato plantado em outras mentes doentias crescer.

O procedimento dos três inimigos ocultos era diabólico e feito de tal maneira que não ensejava oportunidade de defesa, porque quem ouvia, receando ser indiscreto, não contava ao professor,,, o veneno era acompanhado de um lenitivo, assim:

“Mas eu sou amigo do professor”... “Eu sempre defendi o Dr. Maubássi”... “Ele é um grande homem, preparado”... “Deveria ser o nosso deputado”...

Plantaram tanto boato, espalharam tanto comentário e conceito negativo sobre o Dr. Maubássi, que ele ficou completamente desmoralizado na cidade, a ponto de perder até a freguesia da sua loja... Foi ficando triste, abatido e finalmente entrou em depressão, sendo necessário se internar no sétimo andar de um hospital de repouso.

Uma junta médica, assessorada por psicólogos, psicanalistas e neurolinguistas, usando terapias alternativas, descobriram a causa da depressão e trataram de aplicar um novo sistema de reprogramação mental no professor. Como a medicina social já estava bastante avançada, chamaram as assistentes sociais da cidade, que conheciam todos os moradores e seus problemas. Em poucos dias descobriram os três fofoqueiros que causaram aquela catástrofe social na vida do professor Maubássi.

- “ Vocês passaram dez anos espalhando maledicências contra o professor e um dos remédios para a cura dele, que já descobriu e tomou consciência de tudo que vocês fizeram por inveja, molecagem, ou brincadeira de mau gosto, é um pedido de desculpas. Se ele conseguir perdoá-los do bullying que vocês três fizeram com ele, estará dado o primeiro passo para a cura do nosso mestre.”

Os três patifes concordaram e o pedido de desculpas foi aceito. Entretanto, o professor passou a mão num Travesseiro caríssimo, de plumas de ganso, que levou para o hospital, alegando que não conseguia dormir sem ele e dirigiu-se para a janela do apartamento. Abriu o travesseiro e jogou todas as plumas ao vento e olhando para os patifes, que já diziam uns para os outros que o homem tinha surtado, estava louco,,, disse:

“Agora eu quero que vocês desçam os sete andares do prédio e recolham nos arredores do hospital todas as plumas para eu recompor o travesseiro”.

“Mas isto é impossível!” – disseram os patifes em coro.

“Assim estou eu,,, não tenho mais jeito, posso perdoar vocês que a minha honra, a minha moral, o respeito que o povo tinha por mim nunca mais voltará a ser o mesmo. Com boca suja vocês vomitaram merda no ventilador e jamais conseguirão desfazer o mal que fizeram, porque a podridão das suas idéias fora espalhada pelo vento”.

Os três patifes baixaram a cabeça e foram embora, arrependidos, sem dizer mais nenhuma palavra.

A equipe multiprofissional de saúde assistiu a toda a cena. Normalmente eles se reuniam para discutir suas conclusões, mas desta vez uma mulher, a chefe da equipe, se destacou no grupo olhando firmemente nos olhos azuis do professor:

“Acontece que o Senhor, Dr. Maubássi, não é um objeto, não é um travesseiro, mas um homem, capaz de se refazer, de se transformar, de se auto-construir. Está demonstrado que não colocou o coração no seu tesouro, representado por este travesseiro. Seu coração está assentado sobre um ideal maior, por isso será capaz de sair dessa depressão.” Bastou estas palavras da Médica, psicóloga e psicanalista, especializada em Neurolinguística para dar um novo ânimo e despertar a vontade de viver no mestre.

 

 

A SOLUÇÃO PARA A FALTA DE FINANCIAMENTO

DA LITERATURA É PASSAR O CHAPÉU

 

 

ANTIGAMENTE HAVIA UM MÉTODO SIMPLES DE FINANCIAMENTO POPULAR DA ARTE, PASSANDO O CHAPÉU. ARTISTAS, POETAS E ATÉ ALGUNS ESCRITORES, APÓS SUAS APRESENTAÇÕES PASSAVAM O CHAPÉU EM PRAÇA PÚBLICA E ATÉ EM FESTAS PARTICULARES, PARA OS OUVINTES CONTRIBUÍREM.

OS TEMPOS MUDARAM E OS COSTUMES SÃO OUTROS... ENTÃO sugiro aos escritores, poetas e artistas em geral,,, QUE ARRECADEM CONTRIBUIÇÕES DOS SEUS LEITORES E/OU OUVINTES/ PLATÉIAS EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS, PARA POSSIBILITAR A CONTINUAÇÃO DO TRABALHO. SABE-SE QUE LIVRO NÃO DÁ LUCRO PARA ESCRITOR INICIANTE, MAS MESMO ASSIM O NOSSO SONHO CONTINUA.

 

Marcus Aurelius
Enviado por Marcus Aurelius em 22/10/2012
Reeditado em 01/07/2024
Código do texto: T3946377
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