Falível

A moça acabrunhada ficou com um sorriso do oriente ao ocidente tocando ambas orelhas. Sua cor passeava em tons quentes e não escondia sua doce satisfação em suas leituras. Num primeiro momento.

Sentiu -se atraída por uma fábula em cada verbo trocado, em cada pronome rasgado, em cada substantivo que deleitava seus olhos vidrados. Enquanto névoa, atinava em deleites luxuriosos com o âmago de quem os fornece as palavras observadas.

Percebeu que não era apenas o falo de sua pequenez, mas o amargo sal incrustado, em sua alma diminuta na nascente da gramática entendida a saltar os olhos.

Falível, infalivelmente numa insustentável materialização,aparece a besta amarga de sal, ululante esfusiástica. Cansada do circo armado em sua apresentação, despede-se do público com uma audiência exaurida em sua falta de originalidade, entre grunhidos desatinados.

O público pensa besta do sal nada tem a amedrontar pode pular, qualquer garoa derrete. Besta do sal nada tem a permanecer, um toque desmonta, nada tem a oferecer. Falivelmente a besta do sal deixa o recinto. Entra em seu cômodo entre outras estátuas de sal. Dentre elas, a besta diz-se forte, acreditam. Infalivelmente acreditam.

A moça, falível em sua leitura, infalível em sua realidade, se admira com tal fábula. Como nebulosas palavras podem esconder tal objeto? Pois não há de ser um ser, pois seres por mais que deformados sejam, almas possuem. Bestas de sal enganam muito com palavras temperadas, mas suas amarguras imperam. Toda fábula tem um fim. Sinto dizer que sim.

A besta de sal não tem fim, mesmo escondida em seu confortável recanto, longe de qualquer umidade que altere sua forma.

A moça se afasta. Joga as palavras no lixo, infalivelmente pega sua bolsa e vai suspirando: Uffs que conto ruim, besta de sal de tão fraca não assusta nem minhoca. Besta falível.

Julie Bergerac
Enviado por Julie Bergerac em 18/10/2012
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