Parábola dos Instrumentos Musicais

No país da música havia vários instrumentos. Cada um com suas qualidades e, lógico, com seus defeitos também. Todos eles dependiam de alguém para serem tocados. Eles nunca conseguiram viver sozinhos. A guitarra se orgulhava muito do som que emitia. Era muito animado, contagiante! Mas quando quem a tocava não sabia como tocar, nossa! Era de doer os ouvidos! O violão, da mesma forma. A melodia que transmitia era fantástica! Era começar a tocar e só se via gente saindo de tudo quanto é lugar para ouvir o maravilhoso som. Começavam a cantar e a festa estava arrumada! Mas quando estava desafinado, aaaí!! Nem parecia ser um violão, mais parecia um bando de notas desequilibradas sambando no salão. E o piano? Sempre calado no seu canto, até que alguém se dispusesse a tocá-lo. E quando tocavam de verdade.... Nossa!! O som que emitia parecia penetrar o mais profundo da alma. Quanta paz, quanta saudade, quanto amor despertava! A flauta, o sax, o tambor, a sanfona, o afoxé, o triângulo e tantos outros instrumentos viviam a mesma situação. Quando bem tocados, quanta vida transmitia, quantos sentimentos despertavam!!!

Tudo parecia ir muito bem nesse país da música, até que aos poucos, a maioria dos instrumentos passou a não mais apreciar o próprio som. Acostumaram-se tanto com o som que emitiam, que já nem percebiam mais se era bom ou não. Era como se fosse um som que nascesse automaticamente de dentro deles e não tivesse nada de extraordinário nisso. Começaram então a querer ser o que o outro instrumento era. Aí é que é que houve a maior confusão. A guitarra queria ser o violão, o piano queria ser flauta, a flauta sonhava em ser um sax e ninguém mais ficava feliz com o seu próprio som, nem apreciava o som do outro instrumento, pois a inveja que sentiam era fora de série! A confusão era tanta, que ninguém mais conseguia identificar os sons dos instrumentos. O barulho que emitiam era tão confuso, que não se sabia quem era quem.

Um dia, a bateria, que é composta por um conjunto de tambores e pratos, e que já tinha costume de conviver com sons diferentes, teve uma brilhante ideia. Iria propor a todos que se juntassem e formassem uma orquestra. Assim, todos os instrumentos seriam tocados de forma organizada. Cada um, do seu jeito diferente, com seu talento específico, contribuiria para tocar uma única música. Ninguém apareceria mais que o outro. O que valeria seria o produto final feito com a colaboração de todos, pois se alguém quisesse aparecer mais que o outro, a música não sairia bonita, ficaria desafinada e agrediria os ouvidos. A ideia foi aceita pela maioria. Alguns resistiram, pois ficaram com medo de confiar nessa história de todo mundo se juntar pra fazer uma única música. Vai que não desse certo, ele perderia a chance de aparecer num grande teatro. Com muito custo, e com muita paciência, respeitando o tempo para cada um se acostumar com essa nova ideia, a bateria conseguiu mostrar a todos que valeria a pena tentar, mesmo que para isso demandasse muito tempo, muito ensaio. Afinal, como juntar tantos talentos diferentes, para sair algo organizado, com o formato de uma única música? Nada fácil, mas nada impossível. Dependeria do tamanho do querer de cada um. E assim, pouco-a-pouco, resolvendo algumas confusões, ajudando a educar os sons de um aqui, de outro ali, pois alguns não estavam acostumados a ceder, a recuar um pouco, a avançar lentamente, enfim, não estavam acostumados a ter um jogo de cintura que é tão necessário quando se faz algo junto. Não foi fácil vencer o orgulho ferido de muitos instrumentos. Sempre se perguntavam: quem vai me ver no meio desse tanto de instrumento? O que eu vou ganhar com isso?... Eram tantas perguntas, tantos sentimentos, tantos desafios...

Mas a incansável bateria tinha um sonho e dele não abria mão tão fácil. Sabia que teria de enfrentar muitos e muitos obstáculos, mas um dia chegaria lá. Tocariam uma linda música para ficar na história para sempre!

Os ensaios eram muito engraçados. No início, parecia uma piada, um entrava fora de hora, outro atrasava para entrar. Mas depois de muitos ensaios, uns foram se acostumando com os outros e cada dia ia ficando mais fácil a interação entre eles. Era muito bonito ver o violino introduzindo a música e logo em seguida o trompete e o sax entrarem complementando os sons, com jeitos totalmente diferentes, mas combinando de forma muito interessante. Bastava um olhar para o outro saber o que fazer a comunicação entre eles foi ficando cada vez melhor, à medida que iam abrindo mão das vaidades pessoais.

Passados alguns meses, num grande evento da cidade, a orquestra foi chamada a se apresentar. Claro que aceitaram o convite, não sem um medinho básico, só de pensar na hora da apresentação. No grande dia, quanto nervosismo! Mas quanta expectativa! A apresentação então começa. Todos nervosos, mas felizes, afinal, era a primeira vez que se apresentariam depois de longo tempo de ensaios. Chega a hora da apresentação. Todos os olhares se voltavam para a orquestra. E valeu a pena. A apresentação foi belíssima! A música ecoava como um presente aos ouvidos. Quanta harmonia! Quanta beleza! Ao final, foi grande a alegria de todos os componentes, pois perceberam o quanto foi válido trabalharem em conjunto.

Lourdinha Fonseca
Enviado por Lourdinha Fonseca em 30/09/2012
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