O PRESENTE.
Chagaspires
Conta-se que em uma cidade do interior de Pernambuco havia uma família que tinha certa condição social e de um dia para outro perdera grande parte de seus bens.
Lógico que como qualquer outra família, não se conformaram com a perda, e muito menos a matriarca que continuou a manter a mesma pose de antes como se nada tivesse acontecido, pois era uma pessoa que se julgava de casta superior e mantinha os mesmos “ares de princesa” de sempre.
O tempo foi passando e o estado daquela família foi piorando, porém a matrona continuava como se nada tivesse acontecido.
Certo dia, alguém do povoado do convívio antigo daquela família, iria casar sua filha e mandou um convite para as bodas só por uma questão de educação em memória dos velhos tempos.
Dona Mocinha, pois assim era chamada à senhora, ficou radiante de felicidade quando recebeu o convite, há muito tempo não era convidada para uma festa de tamanha importância, porém logo caiu em si e pensou como faria para comprar um presente à altura de pessoas tão abastadas.
Correu a lojinha da cidade e procurou entre o variado estoque alguma coisa que fosse vistosa e ao mesmo tempo barata, pois não queria fazer feio, e nem dar a entender o momento cruciante que sua família passava.
Já havia circulado de um lado para outro da loja e não encontrava nada que resolvesse aquela situação, quando em dado momento percebeu que o dono da loja de presentes havia derrubado um valioso jarro chinês ficando todo quebrado.
Mais que depressa a mulher arquitetou um plano mirabolante; iria pedir que o dono vendesse a ela os restos do famoso vaso por um preço irrisório e mandaria embrulhar para presente; certamente quando a noiva fosse desembrulhar o presente iria verificar que havia se quebrado, porém também compreenderia que o artigo era de primeira qualidade e deveria ter custado uma fortuna lamentando com certeza o ocorrido; e assim foi feito.
Não contava ela com um imprevisto. Acontece que o dono da loja chamou um empregado e deu a tarefa a ele de embrulhar o presente, que não entendendo o porquê de tão semelhante absurdo; fez a coisa a sua maneira.
Qual não foi o susto da jovem consorte quando foi abrir o famoso presente. Ficou estonteada com o que via, pois o empregado havia embrulhado pedaço por pedaço dos restos mortais do famoso jarro e colocado numa caixa para presente. Não foi difícil para ela entender o ardiloso engodo que a velha matrona tinha preparado.
Moral da estória: “Quem se julga muito inteligente, um dia poderá cair numa esparrela”.
NOTA: Estória do domínio público, que me foi contada por Dona Jupyra Cavalcanti; uma amiga muito especial.
* Esparrela significa: armadilha, cilada, engano, entre outras coisas.