DO OUTRO LADO DA RUA (11) – VISITAS À POCILGA
         
          ____Bom dia dona Chiquinha...hoje estou na “velha casa de fundos, do outro lado da rua” logo de manhãzinha, vim trazer um mimo, à minha doce velhinha.
          ____Vai se achegando fia, num faiz cerimonha, que eu já to fazeno café pra nóis...senta aí que vo fazê tumém os bolinho de chuva...
          Mas hoje, ela não vai fazer seus saborosos bolinhos pois eu lhe trouxe um bolo de fubá, e como havia percebido já há tempos que, naquela casa não havia frutas, trouxe também algumas mangas à boa velhinha.
          Começa assim o meu dia, com este gostoso café fresquinho e o bolo de fubá, na companhia da minha querida dona Chiquinha.
          E ali, naquela manhã tranquila e prazeirosa ela dá vazão às lembranças inesquecíveis, da fazenda Engenho Novo.
           Havia na fazenda, uma grande quantidade de porcos pois matava-se quase que diariamente, para alimentação de todos, proprietários, capataz, escravos e quem mais aparecesse. As carnes eram cozidas e armazenadas na gordura, em latas de 60 litros e conforme fosse acabando, outros eram mortos para repor o consumo. Eles comiam a carne melhor do porco e descartavam os restos que consideravam de menor qualidade. Para incrementar sua dieta, os escravos recolhiam essas partes “ruins” para fazerem um cozido com as sobras, feijão preto e alguns legumes que tivessem à disposição.
           Existia dentro daquela grande pocilga, milhares de pés de manga que serviam de alimento aos porcos quando caiam de maduras mas, eram também a diversão da garotada, que ali se deliciavam de chupar manga. A menina Chiquinha, aos 12 anos de idade, tinha rotinas diárias de trabalho mas, quando podia, dava uma escapada e ia junto com o escravo, encarregado de levar a lavagem aos porcos. Quantas vezes fora castigada, porque subia nos pés de manga e esquecia de voltar.
          Meu mimo à boa velhinha rendeu uma história bastante interessante, me fez lembrar de como iniciou essa culinária tão apreciada pelo povo brasileiro, a deliciosa feijoada que, é consumida em vários lugares do país.
          Hoje cheguei à uma conclusão, aquela velhinha “da casa de fundos, do outro lado da rua” não é somente a minha doce velhinha, ela também é cultura!

         
Moly
Enviado por Moly em 30/07/2012
Reeditado em 30/07/2012
Código do texto: T3804211
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