DO OUTRO LADO DA RUA (10) - ROUBO DO LEITE DA MUCAMA
Que lindo dia de sol está hoje, brilha até a alma! Me animo a caminhar e por uns trinta minutos caminho na pista de Cooper, por entre as árvores da praça, ali nas proximidades e sem perceber já estou me dirigindo “do outro lado da rua”, para “aquela velha casa de fundos”.
Encontro dona Chiquinha sentada em sua cadeira de balanço fazendo crochê, ela tece um cachecol e diz que é meu presente de aniversário. Que alegria me dá essa doce velhinha, com seus mimos e benzimentos. Por esse motivo procuro de alguma forma minimizar sua solidão com minhas visitas, levando à boa velhinha um pouquinho de carinho. O dia tranquilo transmite paz e, sem pressa para voltar, me sento ali junto à ela para mais um papo gostoso.
____A fia percisa de um binzimento? Pera vo já pegá um gaio di alicrim... Se dirige para o fundo do quintal onde volta com a planta, uma beleza de planta verdinha e perfumada que dá gosto. Assim, em poucos instantes está espargindo em minha cabeça, tórax e pernas, naquele seu benzimento de palavreado bem caipira, em seguida reza o pai nosso e ave Maria por 3 vezes consecutivas, dando por encerrado o ritual.
Sento novamente ali na cozinha, perto do fogão de lenha, enquanto a boa velhinha prepara o café, no seu tradicional coador de pano e frita os saborosos bolinhos de chuva. Ela já sabe que desejo ouvir suas memoráveis aventuras e histórias da Fazenda Engenho Novo, onde viveu por muitos anos.
Começa então a contar que, as crianças pequenas, os “sinhozinhos” eram amamentados pelas mucamas, pois as escravas naquela época produziam tanto leite que amamentavam seus filhos e os dos patrões, cada qual assim que nascia tinha uma mucama especial só para cuidar dela e amamentá-la. Em certa ocasião, uma das mucamas começou a notar que os peitos enchiam bastante em determinada hora da noite, mas ao acordar de manhã para amamentar as crianças, os peitos estavam vazios. Resolveu ficar acordada para verificar o que ocorria, e para a surpresa de todos os habitantes da fazenda o caso foi esclarecido.
Existia no porão da casa grande um ninho de cobra, essas cobras caseiras que não são venenosas e que os antigos não permitiam que se matasse, e até faziam questão de criar em suas casas, para que comessem insetos e roedores que por ali proliferavam, impedindo assim que consumissem o milho e outros grãos dos silos. Acontece que essas cobras durante a noite, subiam por uma fresta no assoalho do quarto, onde dormiam as crianças e ali se infiltravam na cama da mucama e mamavam todo seu leite. Coronel Porfírio resolveu então exterminar as cobras que por tantos anos viveram naquele porão sem nunca prejudicar ninguém, as crianças até choraram pois muitas delas tinham costume de brincar com as mesmas.
Encerrando assim mais um dia de história fantástica, narrada pela minha doce velhinha, encerro também minha visita à casa de fundos, do outro lado da rua.
Que lindo dia de sol está hoje, brilha até a alma! Me animo a caminhar e por uns trinta minutos caminho na pista de Cooper, por entre as árvores da praça, ali nas proximidades e sem perceber já estou me dirigindo “do outro lado da rua”, para “aquela velha casa de fundos”.
Encontro dona Chiquinha sentada em sua cadeira de balanço fazendo crochê, ela tece um cachecol e diz que é meu presente de aniversário. Que alegria me dá essa doce velhinha, com seus mimos e benzimentos. Por esse motivo procuro de alguma forma minimizar sua solidão com minhas visitas, levando à boa velhinha um pouquinho de carinho. O dia tranquilo transmite paz e, sem pressa para voltar, me sento ali junto à ela para mais um papo gostoso.
____A fia percisa de um binzimento? Pera vo já pegá um gaio di alicrim... Se dirige para o fundo do quintal onde volta com a planta, uma beleza de planta verdinha e perfumada que dá gosto. Assim, em poucos instantes está espargindo em minha cabeça, tórax e pernas, naquele seu benzimento de palavreado bem caipira, em seguida reza o pai nosso e ave Maria por 3 vezes consecutivas, dando por encerrado o ritual.
Sento novamente ali na cozinha, perto do fogão de lenha, enquanto a boa velhinha prepara o café, no seu tradicional coador de pano e frita os saborosos bolinhos de chuva. Ela já sabe que desejo ouvir suas memoráveis aventuras e histórias da Fazenda Engenho Novo, onde viveu por muitos anos.
Começa então a contar que, as crianças pequenas, os “sinhozinhos” eram amamentados pelas mucamas, pois as escravas naquela época produziam tanto leite que amamentavam seus filhos e os dos patrões, cada qual assim que nascia tinha uma mucama especial só para cuidar dela e amamentá-la. Em certa ocasião, uma das mucamas começou a notar que os peitos enchiam bastante em determinada hora da noite, mas ao acordar de manhã para amamentar as crianças, os peitos estavam vazios. Resolveu ficar acordada para verificar o que ocorria, e para a surpresa de todos os habitantes da fazenda o caso foi esclarecido.
Existia no porão da casa grande um ninho de cobra, essas cobras caseiras que não são venenosas e que os antigos não permitiam que se matasse, e até faziam questão de criar em suas casas, para que comessem insetos e roedores que por ali proliferavam, impedindo assim que consumissem o milho e outros grãos dos silos. Acontece que essas cobras durante a noite, subiam por uma fresta no assoalho do quarto, onde dormiam as crianças e ali se infiltravam na cama da mucama e mamavam todo seu leite. Coronel Porfírio resolveu então exterminar as cobras que por tantos anos viveram naquele porão sem nunca prejudicar ninguém, as crianças até choraram pois muitas delas tinham costume de brincar com as mesmas.
Encerrando assim mais um dia de história fantástica, narrada pela minha doce velhinha, encerro também minha visita à casa de fundos, do outro lado da rua.