O pássaro e a dúvida

Era uma vez, lá onde tudo é incerto e duvidoso, onde a terra era mar e o mar era o ar, existia um pequeno pássaro, verde como as plantas, com escamas de répteis e olhos aguçados de águias. Ele era sagaz e inteligente e tudo que fazia em sua vida era subir ao pico da montanha mais aguada e despencar rumo ao mar de grama para se espatifar nas ondas do nada e recomeçar tudo novamente.

Ele fazia dia após dia o que queria, que era exatamente como acabei de relatar, mas nada poderia ser mais divertido na mente do pequeno pássaro. Não haviam doenças, mortes, sofrimento ou dor, mas também não havia regozijo, contentamento, felicidade ou amor.

Sentimentos eram para ela a mesma coisa, nublada e sem cor, sem sombra e sem calor. Algo que para ele não tinha sentido algum. Mas tudo isso iria mudar.

Pois um belo dia as coisas deixaram de ser incertas e duvidosas. O mar decidiu ser de água, e a grama cobriria as montanhas. E o pássaro teve que decidir se penas teria ou escamas de répteis iria conservar. E entre todo o desespero da dúvida a única coisa que podia querer fazer era subir novamente em sua montanha que já não era aguada e despencar rumo ao mar que agora era de água. E enquanto ele caia percebeu que não iria despencar nas ondas de nada, e sim afogaria-se e nunca recomeçaria,

Com a mais fervorosa força de seu coração ele desejou se salvar, então foi lhe novamente questionado a decidir, se penas ou escamas teria a seguir.

E a força da queda de repente se apoderou do pequeno, e entre as águas e o ar, teria um deles que rejeitar, e pensando na imensidão de ambos parecia que nada viria a calhar, pois não sabia de qual mais amar.

Pois revolto o pássaro sentiu-se e resolveu que desejaria a ser como é, e o castigo merecido recebeu, sem penas ou asas, sem guelras e escamas. Nunca mais no ar, nunca mais no mar. Um escravo da terra sem fim que ele nem sequer conseguia gostar.

Felicidade não pode encontrar pois antes de amar, resolveu apenas desejar.