O IPE E O EUCALIPTO
A tarde fresca preparava-se para ceder o horário para a noite e um vento sibilante cortava o silencio frio da estrada de chão batido que tinha como destino as fazendas centenárias indo para a borda do campo e suas araucárias gigantescas e solitarias nos pastos montanhosos, morada dos carrapatos e terríveis jararacas traiçoeiras,alvo contudo do gavião pinhé.
Preás não sossegavam pelas sombras do capim meloso, quem sabe buscando refugio de algum gavião pinhe. Um bando de maritacas ruidosas rodeou em voo faminto uma plantação de milho e desapareceram numa galhada de Espatódias com suas flores amarelo-avermelhadas. Uns canários também não deixaram se passar despercebidos e queriam tudo que poderia estar representando sementes no brejo onde os preás finalmente foram se esconder dessa vez de uma cascavel que hibernante até ali, acordou faminta e saracoteava lenta porque sabia onde estavam os mais molengas e gordos e que serviriam de exemplo na hora de começar a correria em defesa da existência que perigava.
Alheios a tudo e fincados no chão sob a forma de cerca um tronco roliço de eucalipto tentava mostrar a inferioridade de um pau de ipê certamente assentado como moirão por equivocada decisão de um lavrador distraído já que seu lugar seria as campinas.
- O que faz você ai nesta fila e quem te disse que tens tendência a ser uma cerca oh! estranho toco? - Pergunta o eucalipto em tom de reprimenda.
- Do modo como perguntas, passa-me a impressão de que estou gostando de ficar aqui fincado nessa parte baixa do brejo quando os meus estão todos La no alto da colina balançando suas folhagens e exibindo suas flores em sintonia com os ventos.
- Ora, então acha mesmo que poderia ser algo além de um arbusto esquecido e apenas lembrado por um lavrador relapso? Não me faca rir. Pois na primeira fogueira tuas cinzas não passam de alguns segundos.
- E possível seu eucalipto insolente que não percebas o quanto sou nobre na natureza, dai que te dou um desconto, mas fica nisso e não quero mais saber dessa conversa, ate porque tenho em conta as mais belas flores de toda região dai que acredito ser de bom alvitre que paremos com esse diálogo desnecessário e que poderá me chatear.
- Não te cabe dispensar-me oh insignificante galho desconhecido por certo apanhado na primeira encosta por alguém que não encontrou coisa melhor. Pudesse eu sair daqui e se veria em maus lençóis diante das bordoadas que receberias para respeitar um membro das mais frondosas árvores que a natureza conheceu.
- Ah! Pois agora te digo, sei bem que sois na verdade, um fanfarrão de primeira grandeza e que dai serás apenas mais um toquinho pobre a quem substituirão sem demora e na primeira estação chuvosa, derrubado que serás pelos fortes ventos no norte. Cala-te que nãos sabes o quando me aborreces nessa fria tarde. Logo eu que não pude ainda ouvir o canto do sabia por estar pedrando tempo contigo por ora.
- Eis que a sorte te favorece malcriado galho de lenha esquecido para sempre nessa posição que não te torna digno dela mas olhais para cima daquele cume e veras que a grandeza de minha espécie toma todo a extensão vegetariana e nas alturas somos soberanas.
- Soberanas? – retruca o ipê. Sua hilária condição não te deixa qualquer limbo de consciência. Não vês que não passa de material para utilização do homem? E por isso foi por ele plantado? Ao contrario de mim que nasci e vivo livre pelos bosques colinas campinas e toda parte levando a alegria de minhas cores. Pobre de ti, vitima das ventanias noturnas e do calor do Sol nas tarde insuportáveis. Silenciai, pois esta perto de chegar ai o sabiá e precisarei deliciar-me do teu canto.
- Mas olha se tenho mesmo que tolerar isso desse toco tagarela que não se enxerga. Veras comigo assim que eu possa te fazer dar ao respeito à grande comunidade que represento.
Irava-se o eucalipto quando um urubu passa e nele pousa resolvendo descansar um pouco virando alvo.
- Ei seu urubu desocupado, caia fora de cima de mim, veja se te escrito campo de pouso algum dos meus galhos.
O urubu trata de cair fora e o ipê não poderia mais retrucar nada porque veio à noite. E o sabiá também voou para abrigo noturno Ao som de sapos e grilos todos silenciaram.