MEU AMOR, O BOTO (CAP. 7 DE 9)
De repente, o mundo pareceu rodar para Isabel e tudo saiu do lugar. Ela lutou para não despencar do banquinho e permanecer sentada, encarando a avó, embora praticamente não a enxergasse. Lá no fundo, ouviu a voz preocupada dela, perguntando:
- Você está bem, minha neta?
- Estou…
Uma xícara de chá pousou nas mãos da moça e ela bebeu quase de um gole só, queimando a língua. Tentava assimilar tudo o que a avó dissera, mas não conseguia. Era como se fosse uma piada de mau gosto. Uma mentira. Porém, assim que passou seu estado de torpor e olhou novamente para o rosto enrugado da avó, soube que tudo era verdade. Ninguém seria capaz de contar uma mentira daquele tamanho.
Com as mãos trêmulas, Isabel bebeu o último gole do chá e balbuciou:
- Eu… sou filha… filha dele?
- Sim, Isabel.
- Eu sou filha do boto?
- Sim, Isabel.
- Será que foi por isto que ele nunca se aproximou de mim? - Isabel segurou as mãos da avó, tensa - O boto sabe que sou filha dele?
- Não sei, menina.
- Eu o desejei tanto… - murmurou ela - Mas… ele é o meu pai! E agora?
- Agora siga a sua vida.
- Não pode ser…
Isabel se sentia perdida. O fato de a sua mãe estar viva perdera todo o sentido. Não era isto que importava agora. Ainda desejava o boto… mas era filha dele.
- Eu vou para casa, vó. Preciso pensar.
Dona Chica se levantou e pousou suas mãos encarquilhadas nos ombros da neta. E ordenou:
- Boca fechada. Você não tem que contar para ninguém que sua mãe está viva.
- E se papai falar alguma coisa?
- Você acha que ele quer ficar com fama de corno aqui na vila?
Zonza, Isabel se despediu da avó e foi embora. No meio do caminho avistou seu pai no bar. Na porta de casa, sua irmã embalava o filho. Tudo parecia muito normal. Ela se jogou na cama, desconsolada. A quem iria amar agora se o amor da sua vida era seu pai?
... CONTINUA ...