MEU AMOR, O BOTO (CAP. 3 DE 9)

A garota acordou quando o primeiro raio de sol bateu no seu rosto. No minuto seguinte ela já estava em pé, apavorada. Olhou ao redor, mas não viu nem sinal de Marisa.

- Mãe!

Apesar de não ter gritado, sua voz pareceu alta demais tamanho o silêncio do local. Marisa não respondeu. Era nítido que ela não estava ali. Teria voltado para casa? Ou…

Em pânico, Isabel saiu correndo, ansiosa para chegar em casa. Havia um mínimo de chance de a sua mãe estar lá. Felizmente a vila ainda dormia quando a jovem a cruzou, esbaforida. Sua casa estava em silêncio e na penumbra quando abriu a porta da rua bem devagar.

- Mãe - chamou ela, aos sussurros.

Nada. Caminhando nas pontas dos pés, Isabel foi até o quarto de casal. Josias dormia sozinho, curando-se da sua bebedeira de sempre. Irene, por sua vez, dormia no seu quarto, com a mão na barriga, guardando o filho do boto. Trêmula, Isabel se deitou na cama e fitou o teto, sem saber o que pensar ou fazer.

Afinal, o que teria acontecido com a mãe? O boto a teria levado para o fundo do rio? Mas não era assim que ele fazia. O boto sempre devolvia as mulheres. Bom, havia a possibilidade de Marisa ter caído dentro da água, em uma tentativa frustrada de encontrar o boto. Mesmo assim, Isabel teria escutado algum som, nem que fossem os gritos dela, pedindo socorro.

- Mãe, onde você foi parar?

O mistério já estava na boca da vila antes do meio dia. Quando Josias acordou e não encontrou a mulher nem em casa e nem em lugar algum, entrou em desespero. Isabel tentou dissimular, porém se conseguiu enganar os vizinhos, o mesmo não se deu com Irene. A irmã não parava de lhe fitar, como se soubesse de tudo. Será que ela teria visto alguma coisa noite passada? Isabel não cansava de se fazer esta pergunta. E foi justamente de Irene a idéia de que deveriam procurar Marisa no rio.

Logo foi organizada uma expedição dos homens da vila até lá. Depois de uma hora de buscas, Josias avistou um pedaço do vestido da mulher boiando na água. Inconsolável, ele se abaixou e chorou para comoção dos demais. Ainda assim, mesmo que todos concordassem entre si que era muito provável que Marisa tivesse se afogado no rio, os homens decidiram prosseguir com as buscas na mata que circundava a região. E assim eles fizeram por mais dois ou três dias. Contudo, nem o corpo de Marisa apareceu boiando e muito menos outro sinal qualquer para dar algum tipo de esperança para a família. Por fim, Josias se conformou que sua esposa jamais voltaria para casa e a cabo de um mês até já havia se enamorado de outra jovem da vila.

As duas meninas tentavam levar suas vidas da melhor maneira possível, com a ajuda da avó materna que morava duas casas depois. Isabel guardou seu segredo a sete chaves. Não fazia a menor idéia do que poderia ter acontecido com sua mãe, porém tinha certeza de que o boto estava metido no meio daquilo tudo. Apesar de sofrer com a falta de Marisa, acreditava que sua mãe estava bem, em companhia dele. Que inveja, suspirava a jovem, desejando muito estar no lugar da outra.

- Por que será que o boto não trouxe nossa mãe de volta?

... CONTINUA...