MEU AMOR, O BOTO (CAP. 2 DE 9)

O dia passou lentamente, como era de esperar. Marisa fez todas as suas atividades domésticas, sentindo a excitação se avolumar no seu corpo, coração e entre suas pernas. Na escola, Isabel teve sua atenção chamada muitas e muitas vezes pela professora. Com a cabeça no boto, ela errou todas as lições que a mestre passou. E quando o sinal finalmente tocou no fim da tarde, ela saiu correndo para casa.

Naquela noite tudo ocorreu como sempre. Depois do jantar, Josias foi se encontrar com os amigos e Ivone se postou na janela a esperar o boto. Mãe e filha limparam a casa, conversando entre si, normalmente. Perto das onze horas da noite, Josias chegou bêbado e desabou na cama. Ivone continuava no seu posto.

Isabel e Marisa saíram pé ante pé. A vila estava escura, com poucos pontos de iluminação. Dando a volta por trás da casa, elas escaparam de possíveis olhares dos vizinhos e seguindo uma trilha, chegaram ao rio em pouco tempo.

Como era de se esperar, o lugar encontrava-se deserto e silencioso. O único som que se escutava era das águas paradas do rio e de um ou outro sapo. Marisa cutucou a filha, murmurando:

- Vamos esperar o boto nas pedras.

Elas contornaram a beira do rio e foram para o outro lado, onde se acomodaram nas pedras escorregadias. Isabel, visivelmente nervosa, gemeu:

- Será que ele vem?

- Se não vir hoje, virá amanhã - respondeu Marisa, determinada - Alguma noite ele tem que aparecer.

- Tomara - Isabel mal podia se conter na sua ansiedade.

Baixando mais o tom de voz, Marisa disse:

- Vamos ficar quietas agora. Talvez ele não demore.

As duas mulheres ficaram então em silêncio, tensas. Algumas vezes soprava um vento e balançava as árvores ao redor. E era só isto o que acontecia. Aos poucos, Isabel começou a se sentir com sono e cansada. Procurava controlar o número de bocejos e manter as pálpebras abertas. Já Marisa estava alerta e na expectativa. Parecia que a qualquer momento o boto iria aparecer de dentro do rio. Até mesmo alguns passos a mulher escutou. Porém, quando olhou em volta, expectante, somente se deparou com a escuridão.

As horas foram passando. As duas continuavam empoleiradas nas pedras. Marisa sempre firme. Isabel, nem tanto. Lá pelas tantas, Isabel se aproximou da mãe e comentou:

- Acho que hoje ele não vem.

- Vamos esperar mais um pouco - replicou Marisa, olhando para os lados - Talvez nem demore muito agora.

- Estou com sono, mãe. E se nós voltarmos amanhã? - sugeriu Isabel com os olhos quase se fechando.

- Volte você. Eu vou ficar.

Isabel se surpreendeu com a determinação de Marisa. Dando-se por vencida, Isabel retrucou:

- Vou me deitar um pouco na relva. Descanso uns minutinhos e volto para cá.

Marisa não se deu ao trabalho de olhar para a filha, preocupada que estava em perscrutar o local. Exausta, Isabel se arrastou até a relva e ali se jogou, pesadamente. Antes de fechar os olhos, ela prometeu a si mesma que somente iria tirar um cochilinho.

... CONTINUA...

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 16/06/2012
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