O vento que traz a chuva

Ashamanja foi o filho de Anshuman e Dilipa foi o filho de Ashamanja, da linhagem do sol.

Ouça tudo o que vou lhe dizer em nome de Rama.

Nunca houve rei maior na terra;

Chandra e Mala eram suas jovens noivas.

Um dia o grande rei foi à floresta caçar cervos; cansou-se inutilmente. Não conseguiu encontrar um único bicho.

Desapontado, ele se preparava para voltar quando viu inesperadamente um casal de veados copulando.

Indiferente à situação o rei disparou rápido uma flecha, e matou o cervo macho, no ato do acasalamento.

A fêmea, chorosa e de luto por seu companheiro, amaldiçoou o grande rei.

‘’Que você morra se chegar perto de uma mulher’’

Assim amaldiçoado, o rei Dilipa retornou para seu reino, mas recusou-se a entrar no palácio para rever suas noivas, com medo da maldição do cervo fêmea.

Distante do palácio, pois, ele governava os assuntos do Estado durante um bom tempo, até que enfim vencido pelo desejo ele correu para os braços de Malavati e Chandra.

A maldição da fêmea do cervo o atingiu e ele morreu de súbito; o corpo do rei tombou sem vida, e a tristeza pesou nos ombros das mulheres dentro do palácio.

O reino sem um rei tornou-se instável e as obrigações civis foram interrompidas; sem a linhagem do sol, até o mundo ficou ameaçado de entrar no caos.

Os deuses celestiais reuniram-se para tratar do problema; Brahma, Vishnu e Shiva encontraram-se na montanha Kailash.

Lorde Brahma ouviu a opinião de todos e decidiu convocar o sábio Vasishtha; ele rogou a Vasishtha que ajudasse Mala e Chandra a ter um filho, e restaurar a linhagem perdida.

‘’Vishnu! Vishnu!’’ dizia, porém, Vasishtha, tapando os ouvidos e se recusando a atender seu pedido.

Diante da recusa do sábio, lorde Brahma chamou Madan, o deus do amor, e lhe entregou a incumbência de fazer nascer apressadamente um filho na barriga de Mala, através de Chandra.

Em obediência à ordem de Brahma, Madan voou ligeiro para o interior do palácio; assim que ele entrou, as duas rainhas começaram a menstruar. O deus do amor atirou uma seta no peito das mulheres, incitou o desejo entre elas, fez surgir a paixão.

Três dias depois elas se banharam e se purificaram, adentrando juntas nos aposentos do falecido marido e deitaram na alcova.

O céu estava encoberto pelas nuvens, os cisnes cantavam alegremente e dançavam os pavões; o vento soprava furioso.

Uma chuva tempestuosa seguiu-se à escuridão celestial, e Chandra tomou Malavati nos braços e cada uma beijou a outra; as duas arderam de desejo e jogaram os jogos do amor.

Chandra jogou os jogos masculinos e Malavati os jogos femininos.

As duas mulheres flertaram uma com a outra e fizeram amor sob a benção dos deuses; a energia de Madan entrou no útero de Malavati e ela engravidou.

E foi assim que Mala se tornou mãe.

A notícia da gravidez foi recebida com surpresa e alegria; os amigos das duas mulheres brincavam a respeito do assunto.

Quando Malavati percebeu que estava grávida,entretanto, ficou assustada e começou a chorar. Ela dizia:

-Como posso estar grávida? Eu não me deitei com um homem. Vou ser denunciada como uma mulher de má fama.

Desesperada, correu para o rio Sarayu, disposta a se afogar nas águas.

Entrou no rio para acabar com sua vida, mas Brahma a deteve.

-Ouça com atenção. Ele disse, com sua voz de mil aspectos.

-A menos que a linhagem do sol continue, o mundo estará perdido.

Lorde Vishnu deverá renascer no futuro através da sua linhagem e por isso os deuses prepararam esse estratagema.

Foi a energia de Madan que impregnou você em seu ventre, e seu filho nascerá forte e muito bonito.

Este filho será a encarnação de deus e suas mãos habilidosas vão salvar o mundo.

Ouvindo isso a rainha ficou muito contente e voltou ao palácio.

Dez meses se passaram e em uma hora auspiciosa um lindo menino nasceu; rapidamente ele cresceu e sua beleza era inigualável nos três mundos.

Quando ele tinha cinco anos foi enviado para estudar em um Eremitério com outros meninos; um dia uma das crianças, numa briga, chamou-o de ‘’filho de mulher cortesã’’. Profundamente magoado, o pequeno não disse nada, mas não quis voltar para casa. Malavati fica preocupada e foi atrás dele; o garoto então perguntou para ela:

-De quem eu sou filho e a qual linhagem eu pertenço?

Sua mãe lhe contou toda a verdade sobre o seu nascimento.Depois disso, o menino riu.

-Porque estás rindo? Quis saber a mãe.

-Porque não há nada que eu não possa fazer neste mundo, considerando que fui capaz até de nascer de duas mulheres.

Ele aprendeu a ler os Vedas aos quatorze anos e na idade de vinte tornou-se rei e governou o seu povo.

Brahma o chamou de Bhagiratha, aquele que nasceu do prazer mútuo entre duas vaginas.

Walter silva

Baseado no Krittivasa Ramayana

Versão Bengali do Ramayana, epopéia sagrada hindu