O COLECIONADOR DE PÁSSAROS

Era uma vez um homem colecionador de pássaros. Ele se chamava Ivo, era casado, não tinha filhos e comumente chegava em casa com um pássaro e outro preso em uma gaiola, indo dependurá-la na varanda de sua casa.

Numa tarde, quando Ivo cuidava dos pássaros na varanda da casa, colocando rações e águas nas gaiolas, a esposa, Bernadete, que sempre protestava o péssimo hobby de ele viver prendendo e cuidando daquelas aves pobres e cativas, desabafou.

- Cada pássaro que você traz corta o meu coração, Ivo. Qual mal fizeram estes pobres para serem presos por você, nestas gaiolas...

Ele olhou para Bernadete e respondeu secamente.

- Eu lá tenho culpa, se sou obstinado por esses danadinhos, mulher...

Bernadete, feito advogada de pássaros cativos, retrucou.

- A sua obstinação gera a condenação dos pobrezinhos. Eles nada de mal fizeram para se tornarem reféns nestes cativeiros...

Ivo, chateado com o falatório da esposa, se defendeu com o seu vago discurso.

- Cuido sempre bem deles, não cuido? Não falta a nenhum deles ração e água...

Bernadete, tentando convencer Ivo a mudar daquele hábito, buscou fazê-lo a enxergar outro ponto de vista.

- Mas se você gosta tanto deles, deveria querer vê-los em liberdade...

Ivo pendurou uma das gaiolas com um pássaro preto, em um prego da parede em um lugar da varanda, olhou Bernadete meio sinsudo e reclamou.

- Se alguém aqui não gosta deles, esse é alguém é você...

Bernadete sorriu e discursou severamente.

- Isso me assusta, Ivo. Modo estranho de você achar o que é gostar das coisas... Eu gosto de tudo que existe na natureza e por isso eu defendo que tudo nela deve ser preservado. Tanto a fauna, quanto a flora devem ser respeitadas e admiradas, por nós, estando cada espécie em seu habitat ecológico.

Ivo, enquanto ouvia o discurso da esposa, terminou de ajeitar as gaiolas em seus devidos lugares na varanda e saiu de casa, calado, indo dar fim àquela tarde em um barzinho próximo a casa dele. Lá, ele beberia cervejas com alguns amigos. Ao chegar ao barzinho, entre conversas e outras e algumas fartas cervejas, ninguém soubera explicar porque dois rapazes, ali, iniciaram-se uma briga. Ivo, que deveria ficar quieto em seu canto, talvez por ter bebido demais, acabou se metendo na briga dos dois rapazes, tentando apartá-los. Um dos rapazes da briga tirou um punhal afiado do bolso e meteu no peito do outro, matando-o bruscando. O rapaz assassino fugiu e, não se sabe como, apesar de ter tantas testemunhas ao seu favor, Ivo acabou sendo detido na prisão por alguns dias. Estando preso, sem culpa alguma no cartório, Ivo sentia-se ali, na cela, humilhado e abatido. No ínfimo da consciência de Ivo brotava-se um pessimismo de ele viver ali para sempre preso, sem nada dever à justiça. A situação a que ele estava vivendo levava-o a pensar também em seu passarinhos inocentes, presos nas gaiolas. Tempos depois, quando a esposa, Bernadete, arranjou a ele um bom advogado, a inocência dele foi comprovada e ele logo voltou para casa. Ao chegar em casa, ele chamou a esposa, os dois foram até a varanda e abriu as gaiolas libertando todos os pássaros de seus cativeiros. Dizem que dali por diante Ivo passou a contemplar os pássaros em uma maravilhosa chácara, cercada de área verde. Desta forma ele se sentia reciprocamente interagido á natureza.

MORAL DA HISTÓRIA: “Às vezes o homem precisa passar por experiências semelhantes à de outrem para sentir na própria pele o que não conseguia enxergar”.

Shicko Rodrigues
Enviado por Shicko Rodrigues em 23/04/2012
Reeditado em 27/04/2012
Código do texto: T3628160