O mundo encantado dos pés

Minha avó dizia que se dormimos de barriga cheia, teremos pesadelos. Um dia desses não sei se o que eu tive foi um pesadelo ou um sonho. Só sei que com ele aprendi e hoje não sou mais a pessoa que era antes.

Sonhei que fui transportada para uma terra longínqua , onde não havia seres humanos, era a terra dos pés. Me vi cercada de pés curiosos, que me observavam , enquanto eu cambaleava pela cidade dos pés. De repente ouvi um brado: “Peguem-na!” - Sem pensar saí correndo, mas isso foi inútil, logo fui capturada. Dois pés me conduziram ao palácio do Rei Pedal e lá, não entendi a situação, seria julgada.

O rei começou falando que todos os humanos são sempre culpados da situação desprezível que eles viviam. Eu estava assustada, não sabia o que se passava, porque seria julgada e nem sequer me deram a oportunidade de me explicar ou perguntar nada. Ouvi forte a voz do rei: “ Condenada!” – Estremeci.

Então fui conduzida a uma habitação muito grande e bonita, com aroma de flor, não, não era flor , era óleo de maracujá, suave e refrescante. Fui colocada em uma cama, com os pés para cima. Tiraram meus sapatos e daí começou o meu martírio. No começo parecia mais uma sessão de relaxamento, mas vi que não era isso.

Entrou no recinto um pé gordo, em silêncio começou a lavar os meus pés. Disse para mim : “ Sou Peneia e vou cuidar de você”. Aquela ou aquilo era do sexo feminino, não sabia que pé tinha sexo. Aquele tinha. Esparramou óleo perfumado em meus pés e fez massagem por um longo tempo. O problema é que eu não podia me mexer de forma alguma, somente o meu rosto. Com o tempo meu corpo estava doendo, partes dele estavam dormentes. Aquela situação estava me deixando irritada, com sede. Mesmo que eu tentasse me mexer, não conseguia, era como se aquele óleo me imobilizasse. Perguntei a Penéia porque estava sendo tratada daquele jeito. Ela me respomdeu que aguardasse e veria o porquê.

Fiquei ali por horas sem me mexer, tudo me passava pela cabeça. De repente vi algo que não esquecerei jamais. Entrou no quarto um pé cheio de bolhas que cheiravam mal e começou a acariciar meus pés. Me espantei, gritei, mas não resolveu. Ela me olhava e as bolhas estouravam e um cheiro repugnante invadia o ambiente. Neste instante o pé começou a falar: “Tem nojo de mim? Não deveria porque eu sou o reflexo das atitudes de algum humano de seu mundo. As escolhas que vocês fazem no mundo real, é frefletido aqui em nosso mundo. Essas bolhas representam erros eos percalços do caminhar do humano que me detém. Vocês nos maltratam muito, traçam caminhos tortuosos, andam por veredas malignas, sem pensar no mal que nos fazem. Nos os conduzimos por anos, sofrendo as consequências dos seus atos.” Nesse momento eu não tinha forças, meu estômago rodava, minha cabeça rodava, de súbito não vi mais nada.

Ao despertar tive a impressão que estava em casa mas aquilo era real, continuava em choque, gritei , queria sair dali. Mas era inútil. Para completar a situação de terror, entra no quarto outro pé, este tem feridas abertas e delas saíam sangue. Então Peneia me explicou que esse pé ferido era de um humano que não soube tomar decisões certas, trazendo muitas consequências, feriu-se e também feriu a outros.

Tentei entender as situações à mim apresentadas e não conseguia. Porque afinal estava ali? O que eu tinha haver com aqueles pés? Não tinha culpa? O que fariam comigo? Queria me levantar, estava com o corpo doendo, não aguentava mais. Peneia me disse que todas as vezes que um humano entra no mundo dos pés, recebem esse tratamento para que ao retornar ao seu mundo tentem mudar a realidade a sua volta. Queria acordar daquele pesadelo! Perguntei onde estavam meus pés naquele mundo? Peneia abriu um armário ao lado da cama onde estava, abriu a porta e pude ver. Lindos , bem tratados, bem cuidados. Percebi com aquela visão que minhas decisões não tinham afetado meus pés. Pedi para sair dali, não me deixaram. Cansada dessa história adormeci de novo.

Acordei! Estava em meu quarto! Olhei em volta, que bom era meu lugar , foi só um sonho. Olhei meus pés, estavam dormentes, toquei-lhes, que bom eram meus. Só então pude refletir um momento sobre aquele sonho lindo e perturbador. Minhas decisões afetam os meus caminhos. O meu sucesso é realizado com meus pés. Isso tem sentido. Sorri satisfeita.

Hoje sempre que tenho que tomar uma decisão olho meu pés e me pergunto como eles irão trilhar essa jornada, a partir dessa resposta faço minha opção.

Pitufa
Enviado por Pitufa em 15/04/2012
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