ENTRE O BEM E O MAL

Dentre as poucas ruas daquela diminuta cidade, sempre que eu descia bem lá do cimo daquela pirambeira, lá embaixo na planície eu já as avistava, uma ao lado da outra, a contrastar seu viço de vida.

Aquilo me colocava a pensar.

Eram praticamente gêmeas, vindas portanto da mesma carga genética, todavia, a única diferença perceptível entre ambas era as mãos que delas cuidavam.

Uma esbanjava seu viço robusto de cor forte a se espevitar para o céu, já a outra ocultava o viço definhado do mesmo tom a se inclinar sobre a terra.

Aquilo seria um sinal? Decerto que sim.

Lembro-me que da última vez que delas me despedi carreguei comigo a sensação de que todo ser vivo, embora de tantas diferentes espécies, reflete para o mundo o seu interior amado ou castigado, enfim, todas as energias absorvidas que emanam do seu micro cosmos.

Dia desses a notícia me chegou: o mesmo céu altruisticamente presenteado pelas cores viçosas das flores da espirradeira "do bem" mandou àquela terra uma "tromba d'água".

Soube que o viço forte das flores pinks tombou ao chão em fracções de segundos, expondo na calçada as suas grossas raízes.

Misteriosamente, sua irmã gêmea e sem viço permaneceu intacta sob a fúria do vendaval, sem absolutamente nada a oferecer, a não ser a introspecção das mãos que lhe abandonaram no tempo, na impermeável aridez daquele seu triste tomo de calçada.

Nota:

Fato verídico.