Recíproca

Dois inimigos: O urubu e a serpente.

Viviam em eterno combate sem que um conseguisse derrotar o outro por definitivo.

O tempo foi passando e muitos anos depois, o urubu, após uma longa espera, pôs dois ovos no ninho.

Com os olhos atentos, vigiava tudo o que se passava a sua volta afim de proteger o ninho contra qualquer perigo.

Mas aconteceu que um dia, precisando ele se ausentar do abrigo em busca de alimento, a serpente sagaz e sorrateira, aproveitou-se da ocasião e sugou os dois ovos no ninho.

Regressando o urubu, embateu-se com a cena do crime.

Abandonou o ninho e num galho seco de árvore, se pôs a lamentar a triste ocorrência.

Em seu íntimo, o único desejo existente era o de vingança contra a serpente.

Um dia, a raposa ia passando quando viu o triste e enlutado urubu:

- O que houve urubu? Que tristeza é essa? - Indagou.

O urubu então narrou todo o acontecimento, e também o seu desejo de vingança que parecia ser impossível, pois todas as vezes que tentava atacar, lá estava a serpente em sua toca de cabeça erguida, armada com os dentes de fora, impedindo-o de se aproximar e furrar-lhe os olhos, como ele tanto queria.

A esperta raposa logo encontrou uma solução para o dilema:

- Por que tu não vais até a fonte lá na cidade onde ficam as ricas donzelas, roubas a jóia de uma delas e lança na toca da serpente? [...] Certamente os homens que estiverem por perto tomarão a defesa da moça, e virão corrento atrás em teu encalço para o resgate da jóia estimada. Ao vê-la jogada na toca da serpente, não pensarão duas vezes e farão todo o serviço sujo por ti!

O urubu animou-se e pôs em prática o plano que a raposa lhe dissera.

Foi até a fonte na cidade, roubou a jóia de uma bela donzela e voou até o covil da serpente, atirando lá o colar que havia furtado.

Todos os homens presentes no local que viram o acontecido, correram destemidos no rastro da ave de rapina, munidos de foices e machados.

Chegando no lugar marcado, não hesitaram em atacar e executar a serpente, que mesmo sem saber o porque daquele massacre, já não tinha mais como se defender.

E enquanto ela morria, o urubu do alto de uma árvora, satisfeito por sua façanha [...] exultante, sorria.