O Caldeirão da Bruxa ( I I )
Texto escrito a quatro mãos por Gajocosta e Luciana Vettorazzo Cappelli, em homenagem ao Dia Internacional de Mulher, lembrando a saga das mulheres que sofrem violências.
O caldeirão fervia, e fervia, e a bruxa passava o tempo a por lenha no fogo e a voar pelo mundo em sua vassoura.
Não gostava muito de pisar em terra.Porém nessas aterrissagens, o que mais fazia era coletar sementes.A intenção era que alguma delas fosse como a do pé de feijão de João, que crescesse tanto que a levasse ao céu.
Mas todas as sementes iam invariavelmente para o fogo.Desde que uma delas, ao crescer com tantos cuidados, virara um monstro que tentara assassiná-la por estrangulamento, não tivera mais coragem de deixar nenhuma se desenvolver.
(Luciana VEttorazzo Cappelli)
(Gajocosta)
O fogo crepitava incessantemente, tudo torrando. E a bruxa continuava em seus fugitivos voos, mas sem perder o hábito de pousar e colher sementes. Porém, o grande medo de velhas lembranças não lhe permitia deixá-las germinar. A madeira foi escasseando. Pequenos gravetos ainda alimentavam as chamas, depois folhas secas, até que o fogo se extinguiu.
A bruxa foi tomada pelo pânico, pois não mais sabia o que fazer com as sementes. Louca e incontidamente, colhia-as e as espalhava ao vento. Muitas germinaram, e ocorreram ainda alguns traumas em sua vida. Porém, pouco a pouco, ela, de tantos tropeços, foi aprendendo a selecionar sementes, separando “o joio do trigo”, fazendo escolhas...
Arbustos e plantas então brotaram. Ainda temerosa, ela pouco pousava. Porém percebeu a presença de flores nas plantações. Passou a voar menos e pousar mais, sem jamais deixar de espalhar suas sementes de esperança. Já então passeava com calma entre os verdes, volta e meia colhendo, ao acaso, uma flor e prendendo-a nos cabelos...
Na parede de sua casa havia um insólito quadro que retratava sua face cada vez mais horrenda e aterrorizadora. Certa vez, ela observou que o quadro se modificava, sua face se descontraía, e ia lentamente expondo um rosto harmonioso, já quase sereno, como o reverso do famoso quadro de Dorian Gray. Consultou seu espelho não mais mágico. O que viu a surpreendeu ainda mais. Humanizada, segura, de suave beleza, atraente, com certo enigmático conhecido sorriso...
Gostou-se. Gostou-se tanto que subiu às nuvens, não as dos altos céus, mas às nuvens de sua própria alma, onde reinava beleza e paz. Logo se desfez da vassoura, pois bruxa não era mais... E, com os pés no chão , iria viver sua vida com coragem, pois lá fora, nas veredas imprevisíveis da vida, ela procuraria a felicidade, sem mais medos...
Para trás, ficaram as cinzas...
Texto escrito a quatro mãos por Gajocosta e Luciana Vettorazzo Cappelli, em homenagem ao Dia Internacional de Mulher, lembrando a saga das mulheres que sofrem violências.
O caldeirão fervia, e fervia, e a bruxa passava o tempo a por lenha no fogo e a voar pelo mundo em sua vassoura.
Não gostava muito de pisar em terra.Porém nessas aterrissagens, o que mais fazia era coletar sementes.A intenção era que alguma delas fosse como a do pé de feijão de João, que crescesse tanto que a levasse ao céu.
Mas todas as sementes iam invariavelmente para o fogo.Desde que uma delas, ao crescer com tantos cuidados, virara um monstro que tentara assassiná-la por estrangulamento, não tivera mais coragem de deixar nenhuma se desenvolver.
(Luciana VEttorazzo Cappelli)
(Gajocosta)
O fogo crepitava incessantemente, tudo torrando. E a bruxa continuava em seus fugitivos voos, mas sem perder o hábito de pousar e colher sementes. Porém, o grande medo de velhas lembranças não lhe permitia deixá-las germinar. A madeira foi escasseando. Pequenos gravetos ainda alimentavam as chamas, depois folhas secas, até que o fogo se extinguiu.
A bruxa foi tomada pelo pânico, pois não mais sabia o que fazer com as sementes. Louca e incontidamente, colhia-as e as espalhava ao vento. Muitas germinaram, e ocorreram ainda alguns traumas em sua vida. Porém, pouco a pouco, ela, de tantos tropeços, foi aprendendo a selecionar sementes, separando “o joio do trigo”, fazendo escolhas...
Arbustos e plantas então brotaram. Ainda temerosa, ela pouco pousava. Porém percebeu a presença de flores nas plantações. Passou a voar menos e pousar mais, sem jamais deixar de espalhar suas sementes de esperança. Já então passeava com calma entre os verdes, volta e meia colhendo, ao acaso, uma flor e prendendo-a nos cabelos...
Na parede de sua casa havia um insólito quadro que retratava sua face cada vez mais horrenda e aterrorizadora. Certa vez, ela observou que o quadro se modificava, sua face se descontraía, e ia lentamente expondo um rosto harmonioso, já quase sereno, como o reverso do famoso quadro de Dorian Gray. Consultou seu espelho não mais mágico. O que viu a surpreendeu ainda mais. Humanizada, segura, de suave beleza, atraente, com certo enigmático conhecido sorriso...
Gostou-se. Gostou-se tanto que subiu às nuvens, não as dos altos céus, mas às nuvens de sua própria alma, onde reinava beleza e paz. Logo se desfez da vassoura, pois bruxa não era mais... E, com os pés no chão , iria viver sua vida com coragem, pois lá fora, nas veredas imprevisíveis da vida, ela procuraria a felicidade, sem mais medos...
Para trás, ficaram as cinzas...