Esopo, o filósofo grego moralista que gostava de ensinar sua filosofia através de fábulas, conta que um rato do banhado, um dia conheceu uma rã, e os dois se ligaram por laços de forte amizade. Depois de algum tempo estavam tão ligados um ao outro que resolveram celebrar sua amizade atando suas patas, um ao outro, para que nunca mais se separassem. E assim lá se foram, os dois, pelo pântano afora, em busca de comida.
Ao chegar à beira de um igarapé, a rã imediatamente pulou na água atrás de um petisco que vira boiando nela. E arrastou com ela o rato. Enquanto a rã se banqueteava o rato se afogava. Só depois de saciada sua fome foi que ela percebeu o cadáver do seu amigo rato boiando nas águas pútridas do igarapé. Mas não teve tempo de chorar nem de separar-se do seu grande amigo, pois um gavião que estava observando tudo de cima de árvore, num vôo rasante e certeiro arrebatou imediatamente o corpo do rato e o levou para o seu ninho, onde seis famintos filhotes, com seus dilacerantes bicos abertos esperavam a ração do dia. E nesse dia o repasto dos gaviõezinhos foi bem mais farto, porque junto com o rato morto veio também uma gorda rã, que embora viva, não resistiu mais que dois minutos aos ataques dos famintos filhotes do gavião.
 
Uma aluna dos nossos treinamentos de PNL conta uma história semelhante. Ela viveu essa história. Tinha sido educada numa família de bons princípios morais, com pais muitos sérios e amorosos, que tudo fizeram para que ela e seus irmãos tivessem um futuro brilhante e uma vida digna.
Mas ainda muito jovem, apesar de todos os conselhos de amigos mais experientes e das advertências dos pais, ligou-se a um grupo de amigos que conheceu em uma balada. Eles tornaram-se a sua “turma”. Por conta daquela amizade ela esqueceu todos os bons princípios que havia adquirido antes e lhe parecia que somente o prazer que lhe dava a companhia daqueles amigos a satisfazia. Alguns deles gostavam de consumir drogas. E ela, por solidariedade e amizade a eles acabou também se viciando.
Teve a sorte de conseguir desatar-se deles antes que um gavião (um evento mais grave como um acidente de carro, uma morte em uma briga, uma overdose, ou outro acontecimento desse tipo, que vive a rondar a vida de toda pessoa que se mete nesses pântanos fétidos da droga), a destruísse de vez. Recuperada, depois de um longo tempo de internação em uma clínica e após um terrível período de sofrimento e dor, dela e de seus parentes e verdadeiros amigos, ela só queria agora recuperar o tempo perdido no cultivo com de uma amizade perigosa. Que Deus a ajude e os verdadeiros amigos também. 
Na fábula de Esopo a rã tinha, na verdade, um propósito mau. Ela queria sacanear o rato. Por isso amarrou a perna dele na sua sabendo que o rato não era bom nadador e fatalmente acabaria se afogando. Ferrou o rato, mas também teve o seu castigo por querer prejudicar os outros. Os dois acabaram na pança de um predador. Não é o caso da nossa jovem colega. Aqui, os amigos dela, ao arrastarem-na para essa vida dissoluta e perigosa achavam que estavam fazendo algum bem a ela. Estavam dando-lhe prazer, o prazer que eles mesmos pensavam que estariam obtendo. As pessoas são assim mesmo. É uma característica intrínseca do nosso sistema neurológico acharmos que tudo que fazemos tem uma intenção positiva. Até o mais aberrante comportamento é praticado porque de alguma forma ele se justifica. Essa fábula de Esopo, entretanto, não chama atenção apenas pelo ensinamento moral que ela pretende transmitir, ao sugerir que quem procura ferrar os outros acaba sempre se ferrando junto.  Ela contém também um preceito de sabedoria muito interessante: ele diz que não existe inteligência nenhuma em ficarmos amarrando nossas vidas á vida de pessoas que nada tem a ver conosco. Rãs e ratos foram feitos rãs e ratos pela natureza. Cada um deve viver no seu habitat, com a sua própria cultura. Uma convivência pacífica entre ambos já está de bom tamanho. Mais do que isso é querer parar mesmo, no bico do gavião.
Carpe Diem.

  
 
A RÃ E O RATO


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 07/03/2012
Reeditado em 08/03/2012
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