O ano que o mundo não acabou.

Afirmava com toda certeza que de acordo com o que estava se passando,e com as diversas catastróficas previsões, aquele seria o derradeiro ano da humanidade.
Assustava tendo acessos de ansiedade a cada vez que assistia ao noticiário, que enfatizava as tragédias do cotidiano.
Acordava cada dia com a ideia que poderia ser o definitivo ano de sua vida.
Pensava em todas as coisas que havia feito e ficava ainda mais angustiado por tudo que teria deixado de fazer.
Ainda mais consternado ficou quando leu em um trabalho "científico" feito com pessoas com doença terminal,que não era seu caso, chegou-se ao resultado que a maioria das pessoas diziam que o maior arrependimento que levariam é de não ter desfrutado mais de coisas simples da existência.
A conclusão o deixava entristecido, mas não o fez mesmo assim refletir sobre o que ainda poderia viver, como o abraço não sentido, a palavra de carinho que não disse,para realizar neste "seu" tempo que estava esgotando.
O pensamento era fixo de que nada poderia fazer, pois tudo iria irremediavelmente acabar ao final daquele ano.
Lembrou-se do terrorismo que ocorrera quando da mudança do século do alarmante "bug do milênio", que não passou de uma preocupação desnecessária que não se concretizou.
Ainda assim não atentou para viver cada instante intensamente.
Esqueceu da palestra que havia assistido a qual falava sobre a felicidade, cujo tema central era aproveitar cada momento, e não ficar esperando passar uma fase para imaginar que assim que passa-se aquele tempo é que a vida se tornaria plena.
Contrariamente ao que deveria ter de atitude para ainda viver de fato intensamente os dias que hipoteticamente lhe restavam, ficava apenas passando pela cabeça filmes imaginando de como seria o grande final.
Chegou a pensar de como teria sido inútil sua vida, pois até aquele momento nada realizou para contribuir com algo que pudesse faze-lo feliz.
Extremante decepcionado ficou quando o ano terminou, e viu seu tempo passar, sem fazer se quer uma ação que pudesse justificar estar vivo.
Tudo porque ficou de braços cruzados a esperar o fim dos tempos, que não aconteceu...