A margarida e o passarinho - parte I

A MARGARIDA E O PASSARINHO

Há um pássaro que ao entardecer gorjeia sem compromisso e bem intencionado uma melodia melancólica. E, paralelo ao seu canto desabrocha, no jardim uma linda Margarida que com aspecto de sono e irritação resmunga e queixa-se:

- Por que insistes em me acordar todos os dias a esta hora?

- Queres perder o nascer do sol? Linda Margô.

- Não gosto que me chames de Margô. Estais a zombar de mim.

O passarinho mudou de galho meio sem jeito. E, pôs-se a trilhar uma melodia bem alegre, na perspectiva de agradar a sua linda flor. Após completar o sofejo ele calou-se e ficou encolhido no galho.

- Está bem meu querido despertador não precisas ficar triste, estou feliz por teres me despertado.

Ele pulou mais uma vez de galho, bicou uma semente, coçou-se arrepiando a penugem colorida. Pulou pra mais perto de sua flor e disse:

- Minha querida florzinha não quero jamais te magoar. A verdade é que quando canto tu te vitalizas será que não percebes.

- Gosto de ouvir o teu cantarolar; mas não gosto que tirem o meu sossego. Quando gorjeias enche de fragrância a minha essência, sabes disso.

- Canto para enriquecer o teu cheiro, quando dormes o meu canto não tem graça, por isso canto o mais alto que posso para despertar-te. No dia que não conseguir tal proeza será o meu fim. Pois cantarei tão alto que explodirei no espaço e, não ficarás nenhuma lembrança do meu gorjeio.

- Por que falas assim? Não vedes que me entristece? E que apesar do mau humor e uma eterna felicidade ouvi-lo cantar.

- Não só gosto de cantar pra ti, como também já estou procurando o meu cantinho aqui perto.

- Não me digas que vai morar aqui perto, terei a tua companhia e tu terás a minha.

O passarinho alçou um vôo em direção ao céu, cantava o mais afinado que podia. Contemplava todo o universo com a sua felicidade. Contou para todos os astros que ele conhecia e que ia morar perto da sua florzinha querida, que ela estava feliz por isso. Sussurrou para a sua estrelinha mais amiga que: o que mais queria era viver perto, juntinho de Margarida sem incomodá-la. Pois gostava que o seu canto fosse contemplado por tão delicada flor.

- Mas por que uma flor? Pequeno passarinho. Indagou a estrelinha

Ele ficou pensativo, procurava resposta para aquela pergunta, não conseguia raciocinar direito. Mais do que atrapalhado respondeu.

- Porque eu gosto dela. . .Porque eu admiro ela. . .Porque eu morro de amor por ela.

A estrelinha ficou emocionada, do seu olhinho rolou um fio de lágrimas dourado que se precipitou no vazio do universo, deixando uma cauda luminosa vista apenas pelos olhos daqueles que são eternos amantes. O fio de lágrima chocou-se depois de uma longa viagem por entre as pétalas alvas da Margarida. Que meio assustada interrogou:

- Será que vai chover? E o meu Passarinho que não volta.

Neste momento o pequeno Passarinho pousou no seu galho favorito que ficava bem defronte da sua florzinha.

- Onde fostes meu Passarinho? Voou tão alto que perdi-lo de vista?

- Fui dizer aos céus o quanto eu sou feliz por conhecê-la, por poder cantar pra ti, sem incomodá-la.

- Precisavas ides tão longe? Por que, simplesmente, não pensou? Não conheces a força do pensamento?

Ele ficou pensativo, começou a cantar um canto diferente, cada vez mais agudo e afinado. Com os olhinhos fechado e o bico apontado para o céu. Ele cantou direto para a sua estrelinha amiga. Que mais uma vez deixou escapar outro fio luminoso de lágrima.

O lume dourado daquele fio de sentimentos cortou o céu mais uma vez e sob os olhares do passarinho e da florzinha, luziu o jardim em que os dois eram tão harmoniosos. Quando o clarão se dissipou os dois brilhavam como diamantes polidos.

- Esta é a força do pensamento Margô?

- Se conheces tal poder. Por que fostes tão longe a espalhar a tua felicidade?

- Estais a brilhar feito um vaga-lume. Não sentes o calor?

- A mesma pergunta faço a ti. Não percebes o teu brilho? Neste momento a florzinha percebeu que estava protegida por um campo luminoso. Era a sua aura que estava, totalmente, visível ao passarinho e ela milagrosamente também podia vê a aura dele.

- Por que a natureza nos despiu um para o outro? Indagou ela.

- Dever ser porque sou feliz por conhecê-la e você feliz por me conhecer?

- Mas eu sou uma flor e você é um pássaro

- João é um homem, rex é um cão entretanto, os dois se amam.

-Ah! Eu gostaria de ser um pássaro. Afirmou a flor.

- Eu gostaria de ser uma flor. Disse o pássaro.

- Então nunca seremos semelhantes?

- Somos semelhantes no que sentimos um pelo outro. Isto é fundamental.

- O que é fundamental?

O passarinho ficou totalmente confuso, pulou de um galho para o outro, cantou o seu canto característico com uma perfeição admirável. Depois disse:

JAILSON MERCÊS
Enviado por JAILSON MERCÊS em 25/02/2012
Reeditado em 25/02/2012
Código do texto: T3519358
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