Adamastor, o grilo

Produção textual VI

Era uma vez, num lugar recôndito, um grilo chamado Adamastor. Ele era do tipo que cantava para qualquer fêmea que tivesse patas. Embora investisse muito na paquera, ele sempre se grilava, pois só levava fora.

Certa vez – não que haja aqui uma novidade –, Adamastor atraiu-se por uma borboleta, e lá foi o “galã” para mais uma investida. Pousada sobre uma folha, lá estava a borboleta com as asinhas abertas, como as mocinhas quando vão à praia tomar um bronze. Depois de tomar coragem, Adamastor foi até à borboleta e cantou-a, roçando as patinhas já cheio de confiança estava bem confiante, mas ela fez pouco dele, dizendo: “Você até que é bonitinho, mas quando solta essa garganta...” – e voou para longe. Por um momento, ele pensou que tivesse dito besteira, mas finalmente percebeu que o problema era maior, era o seu canto... Se é que se podia chamar de canto um estridor que, ao invés de atrair, espantava as pretendentes.

Frustrado, procurou a ajuda de um amigo seu, uma cigarra de nome Chico, que lhe ensinou a cantar como uma cigarra. Tudo se resolve quando se quer mudar para melhor. Era o que pensava o grilo se sentindo aos poucos mais contente.

Passados alguns dias, Adamastor avistou uma bela esperança, por quem se apaixonou, esta o olhou de cima a baixo cheia de interesse, ao que pareceu bem satisfeita, mas quando o grilo foi cantar a reação não foi boa: “Não há coisa mais insuportável que o canto da cigarra, mil vezes fosse o canto do grilo, que é mais belo que o canto do sabiá!” – disse ela enquanto se afastava em pulinhos nada sutis.

Adamastor, coitado, estava só e sem identidade, se ainda cantasse como o grilo que era, estaria contra o gosto do resto, mas teria a esperança ao seu lado.

Moral: Quem ama o feio, bonito lhe parece.