Tigela Vazia
Eu estava na fila com a minha tigela nas mãos.
Estava emasiado frio e eu não me lembro de ter dormido ou feito outra coisa antes de estar ali.
Para falar a verdade eu nem me lembro de ter ido a outro lugar...
E se eu nasci ali?! Naquela fila?!
Não.
Impossível.
Repreendi a mim mesmo, murmurando mais baixo do que a minha respiração fraca.
E se talvez eu colocar a tigela no chão eu possa esfregar as palmas?! Está frio!
Abaixei-me, encostando meu joelho esquerdo no asfalto... AH! Mas fui pisoteado por um par de pés!
Levanto-me novamente, envergonhado.
Roubaram a minha frente na fila, mas eu não tenho coragem de reclamar. Meu coração se aperta e eu passo a língua nos lábios, na tentativa de umedecê-los, mas não consigo falar. Acabo me conformando e aperto a tigela entre os dedos.
E se eu nasci ali?!
Pensei novamente. Besteira.
Depois de longos minutos esperando, chegou a minha vez.
Estendi as mãos e o cozinheiro, dono de uma grande colher de madeira cutucou a panela, mas dela só veio um tiquinho de nada.
A sopa rala eu bebi em dois goles.
Eu pedi mais um pouquinho, mas antes do cozinheiro botar na minha tigela, eu fui empurrado e caí no chão.
Minha vez acabou.
Saí do bequinho e olhei pela última vez aquela placa:
“Sopa da Felicidade”.
Respirei fundo.
Não deu nem para sentir o gosto...