O PADRE
O PADRE.
Num remoto lugar, entre o sertão e o mar, habitado por jagunços e marinheiros, pescadores e cangaceiros, onde lindas e brejeiras mulheres vivem sempre a esperar, por seus bravos ou nem tanto guerreiros, nasceu e viveu um tal Aguilar. Que desde criança já dava o que falar, mas cresceu guardando um segredo corriqueiro, no entanto, muito estranho de revelar. Como o lugar sempre foi meio mato, e meio mar, cresceu solto, feito à gaivota que corta o cèu ou o novilho correndo entre os galhos secos do sertão beira mar, no entanto, preso feito pipa nas mãos de sua mãe Gerusa Daguimar, que com seu sonho de ser freira, desfeito por um lindo marinheiro, que atracou pelas bandas do lugar, e que levou com sigo um cabaço, um sonho e uma tal honra, que obrigou, a ainda menina Daguimar a procurar com quem casar, já que, na barriga da agora ex-freira o forasteiro deixo Aguilar, que para remir os pecados do pai e os desejos da mãe, à igreja teve que dar seus votos e nela carreira trilhar, ocupou todos os postos da capela do lugar, depois foi para longe, conheceu o mundo, mas um dia resolveu voltar. Já homem feito, cor de terra e olhos de mar mistura que causava alvoroço entre as beatas, as meninas da praça, as mariposas e esposas, e até alguns moçoilos, deixava de orelha em pé a maioria dos esposos. Padre Aguilar, reprimia em si a volúpia de macho voraz, pois provou da fruta feminina com uma prima, fogosa e letrada no império dos sentidos ainda rapaz. Para rabo-de-saia ele era um perdigueiro, despia a fêmea no olhar, no entanto domava toda esta fúria a chicote e arreio. O Padre encantava as multidões, ao proferir divinamente salmos e provérbios, mas no ínterim, o homem vivia as voltas com visões, muitas do céu e outras do inferno. Se ocupava de quermesses e novenas, na cidade fazia parte de todas as suas cenas, do batizado ao casamento, ajudava nos partos e dava estremunção no falecimento, aconselhava a todos do mesmo jeito do pedinte a o prefeito, era a figura no município de maior respeito, era cantado em verso e prosa em todas as rodas. Principalmente num lugarejo onde a falta de assunto levava os nativos a ficar na praça ouvindo o som dos grilos e percevejos, até que de uma hora para outra, as noites secas e frias do inverno, noites tristonhas e vazias das cercanias do lugar, passaram a ser mais provocantes e cheias de mistério, tudo por causa da aparição misteriosa de um charmoso e libidinoso homem de terno, um zorro vestido de branco e cheio de encanto, de modos operantes tal qual o boto e muitos outros, que seduzem as donzelas na boca da noite e somem com a chegada da aurora, este tal tem perfume de orvalho, é elegante, galante e ordinário, faz pais e maridos de otários, produz nas moçoilas múltiplos orgasmos. E ainda mas estranha e misteriosas tornaram-se as noites quentes de verão e lua cheia, em meio a cantorias e luais a beira da fogueira, surge uma linda e sensual aparição, uma fêmea envolta em seda de cor velho carmim, de dar água na boca em qualquer machão, uns se assustam com a assombração outros se entregam a experiências de total lascividão com uma charmosa porem exótica Padilha . Depois disto o lugarejo não foi mas o mesmo, acabou-se o sossego, o povo estava em alvoroço, ferviam as rodas de bate-papo que a toda hora se formavam, nas casas, repartições, praças e pátios, sobre os cavalos no cangaço ou na proa dos barcos, em todos os lugares o mesmo papo: “ o que são estes seres?” a filha de sicrano perdeu com o ele o cabaço, fulano disse que viu a pomba gira e falou que é um pedaço, cruz credo topar de frente com tais mau agouros rapaz, deus é mais. O padre Aguilar era o mais consultado, quase que impelido a resolver e desvendar o caso das tais, aparições desconjuradas do lugar, enquanto isso somaram-se historias da tal Padilha e do homem de terno, a cada noite de verão e inverno, tiveram culpa ou simplesmente levaram a culpa, por horas perdidas e barrigas que cresceram as escondidas, por esposas perfeitas que viraram bandidas, pelo aparecimento de travestis que saíram do armário e resolveram colorir a vila. O padre proferia missas para acalmar a sandice que se tornou o lugar, vinha gente de longe, tentando desvendar o mistério ou apenas viver esta aura de filme de suspense onde tudo é fascinante, os guias turísticos tinham passeios que contemplavam até o cemitério, os jornais da capital enviaram jornalistas para fazer matérias especiais, mas o que se viu nas entrelinhas é que as vitimas eram cúmplices dos algozes, omitiam detalhes, guardavam segredos queriam notoriedade ou tinham medo, uns, no entanto desejavam um novo encontro. A cidade cresceu e se desenvolveu tendo como mola mestra este contra ponto, é povoado agora por forasteiros, turistas, filhos e filhas do homem de terno branco, pervertidos que se envolveram com a Padilha, entre outros espectros e personagens que nem me cabem na rodilha. Nos jornais continua sempre sendo noticia, pois muito tempo se passou com as aparições até que como veio cessou. Assim reza as historias tradicionais do lugar, onde hoje o padroeiro é o nosso santo padre Aguilar.
Toda via, como todo santo carrega consigo um sincretismo, tenho uma coisa a revelar. Ainda frade em cachoeira dos milagres o padre e agora padroeiro Aguilar conheceu e estudou o candomblé e suas entidades e descobriu com isso uma verdade, a de que era cavalo de um deles desde a pouca idade, Logun-Ede. Entidade que é seis meses homem e seis meses mulher, por convicções religiosas o então frade e agora padroeiro continuou cavalo sem cuidar do cavaleiro, com isso era atormentado e rodava meses mulher vestida de vermelho carmim, meses outros, homem impoluto de terno e em branco absoluto. Em meio ao alvoroço que causou, tentou se afastar, mas os agora devotos nunca o deixaram da paróquia largar, seus superiores recusavam-se a o transferir ou afastar, então o que fez Aguilar! Conseguiu depois de alguns anos um mês de férias, e foi do seu guia cuidar, foi raspado, cortado e assentado num terreiro não muito longe das cercanias do lugar, onde não era muito conhecido e disfarçado pode cumprir seu sincretismo, junto a pais de santos, iaôs e Iabás. Levou consigo o segredo que me foi revelado por uma velha mãe de santo, que viu parar as aparições que ate hoje povoam o lugar onde o padroeiro tem um pé assentado no terreiro e outro santificado está.
Agora que você também sabe, trate de espalhar, digo trate de guardar