O INESPERADO SORRISO DE SOFIA
Seis horas da manhã. Sofia levanta-se. É hora de ir trabalhar.Veste sua roupa.Toma seu café apressada.Apanha sua bolsa de couro com alça longa.Calça seu sapato de salto e salta porta a fora.Dirige-se até a garagem.Entra no carro.Liga-o e acelera pela rua sile-
ciosa. A manhã mostra-se levemente fria.É outono.Sofia abre sua bolsa.Apanha um cigarro.Acende-o.Suga-o incessante.Semblante sério,preocupada.Para no sinal.Fuman-
do.Angustiada.No caro ao lado um homem a olha atento .Pisca,sorri.Sofia ali rígida,séria,contida.Abre o sinal,06h30min .Sofia está atrasada,acelera um pouco mais.O homem a segue com seu carro vermelho.Outra vez fecha-se o sinal.Novamente o carro do homem para ao seu lado.Sofia acaba de acender outro cigarro.Sinal vermelho.Carro vermelho.Olhos vermelhos de sono.O homem acena.Sofia disfarça.Olha para o outro lado.O homem joga um cartão por sua janela.Cai aos pés de Sofia.Sinal verde.Sofia arranca.O homem arranca.Pedem-se entre o intenso frenesi.Sofia chega ao trabalho. Entra em sua sala. Acende outro cigarro. Abre a janela.Boceja.Suspira.Liga o computador.Pensa em acender outro cigarro.Não acende.Olha para o quadro na parede. Olha para a janela. Olha em seu relógio.7:00.Vai ao banheiro.Pega uma revista.Lembra do carro vermelho,do homem,do cartão que ela não pegou.Dirige-se ao estacionamento.
Pega o cartão no tapete do carro. Alexandre.Advogado.Telefone,endereço e um leve perfume.
Sofia guarda o cartão em seu bolso. Volta ao consultório. Alguém liga.Ela pensa.É ele.Mas não pode, como?não pode!não pode!Atende. Engano.Sofia gostaria que fosse ele, mas não é.Não poderia ser.A secretária entra.Anuncia um paciente.Sofia o recebe. Sisuda. Semblante cansado.Psiquiatra renomada Sofia atende inúmeros pacientes em
Seu consultório. 12:00 horas.Sofia vai almoçar.Um filé de peixe.Um arroz integral. Salada. Um suco natural no restaurante da esquina.Sai do estabelecimento e dirige-se
a praça. Senta-se.Acende um cigarro.Olha o lago e as árvores altivas.
14h00min horas. Volta ao consultório. 16:00 horas.Uma pausa.30 minutos.Um cigarro.Uma lembrança. 17h30min. Sofia vai embora.Entra no carro.Ganha a avenida.Segue seu rumo.Para em um café.Olha o relógio 18:30.Toma um cafezinho.Suspira.Paga.Pega a Chave do carro e sai. Passa em uma padaria próximo a sua casa.Compra pães,geléia,
frutas. Chega em casa.Guarda o carro na garagem.entra.Joga sua bolsa e as compras no sofá.Vai tirando a roupa.Despida liga o chuveiro.Uma bela ducha para relaxar.Banheira,
espuma, aromatizantes. Agora esta pronta.Sofia senta-se à cadeira junto à mesa e toma seu café sossegadamente.Sua mente,não mente.O homem,o carro vermelho,o sorriso,
o aceno. Correu até a sala onde jaz sua calça jeans atirada sobre o tapete tibetano.Enfiou a mão no bolso e tirou o cartão de seu interior.Estava amassado,quase ilegível.Um frio abrupto brotou em seu corpo.-Meu Deus!-Exclamou Sofia, como vou localizá-lo. O número,o endereço.Que tola eu fui.Deveria tê-lo guardado em minha bolsa.
Uma desilusão total toma conta de Sofia. Um leve pranto, um desalento, um arrepen-
dimento como nunca antes havia sentido.
Sofia tenta um número. Chama.Alguém atende.Marcos mecânico.Responde a voz
masculina um tanto irritada. Desculpe-me foi engano diz Sofia desligando o celular.
Outra tentativa. Chama Marcelo motoboy.Desculpe-me engano! Gerson vendedor. Rudinei pintor. Milton corretor e, assim, sucessivamente. Sofia tentava desordenada-
ente identificar o número do homem do carro vermelho que, agora, tanto atormentava sua mente. Sabia apena chamar-se Alexandre e que era advogado.
Sofia pensou em deitar-se um pouco para descansar. Mas antes,nova tentativa.Caixa de mensagem.Sofia,cansada,adormeceu.
Uma hora depois toca o celular de Sofia. Ela não houve a chamada.Dorme pesada-
mente, ali mesmo, na poltrona da sala de estar em meio a grandes e largas almofadas
listadas e fofas. Acorda-se duas horas depois.Dirige-se a seu quarto..Deita-se em sua cama.Olha o celular.Uma chamada não atendida.-Meu Deus!-Quem será?pensa Sofia.
Retorna a ligação. Rapidamente alguém atende.Alô!voz masculina. Sofia após um breve silêncio e um rápido calafrio responde.
-Por gentileza quem fala?
-Alexandre! responde a voz do outro lado da linha.
-Alexandre? Exclama Sofia aturdida.
-Sim! Responde novamente.
-Você é advogado?
-Sou! Mas quem esta falando, por favor?
Sofia sente-se levitar. Seu coração acelera.Sua frio.Fica perplexa.Muda.Respira fundo
e então continua. Alô...alô...eu sou Sofia a moça a qual você jogou um cartão outro dia pela manhã no sinal,lembra? Você tem um carro vermelho não é mesmo? Eu vi no cartão, seu nome é Alexandre e é advogado. Você seguiu-me até um certo ponto e depois... então resolvi ligar.
Perdoe-me Sofia sinto muito deve ser engano. Apena uma mera coincidência. Sou casado. Minha esposa chama-se Marta e tenho dois filhos. Além disso, não tenho nenhum carro vermelho. Enfim,desculpe-me.Até logo.
Sofia sentiu um vazio imenso. Solidão,vergonha e seus olhos entristecidos choram em silêncio nostálgico.
Tudo tão efêmero. Quase inacreditável.
Sofia deitada em sua cama lembra-se de tudo saudosa e perplexa. Espia a hora, 22h40min. É hora de dormir. Amanhã tudo inicia novamente bem cedinho. Boceja,cansada e inesperadamente sorri levemente.Em sua casa,em sua cama,em seu quarto.Sofia exausta entrega-se ao sono e o cansaço persistente.Dorme angelicalmente esperando por um novo dia.Quem sabe uma nova história .Um novo final.Um novo começo.Afinal, tudo foi exatamente como não deveria ser.Ou será que foi ao contrário?