"Vida de Índio".



Após dois dias caçando sem nenhum sucesso. Por causa de minha incompetência, bati, no chão e chorei a raiva Tupi. Da floresta que tudo tinha, nada dava para a gente, que a respeitava. Enrolei no chão e dormi um sono cheio de pesadelos. Onde Anhanga reclamava seu olho. E a minha namorada, a índia mais bonita que eu conhecia. Sorri, como um menino, e ela falou. :- Triste guerreiro? Não sei caçar, não consigo nem matar minha fome. É porque você está cansado, tome coma isto, esta é a geléia real, só a rainha e os deuses comem dela. Restaurará suas forças, e curará suas feridas, acordará, mais forte ainda. Durma filho. Com o gosto doce na boca e a vós macia no ouvido. Dormi como a muito não fazia. Minha visão ficou mais aguda, meu ouvido mais sensível, ouço até as formigas no chão. Vejo através das folhas, acho que a bela índia é uma deusa. A próxima vez que eu a vir, não deixarei ir embora, será minha mulher. A poucos metros dele, a deusa deu um sorriso, feliz e preocupada, meu filho, me acha bela, e eu vou carregar sua caça, até breve grande guerreiro. Uma aragem suave a levou dali.
Oripê andou poucos metros, e flechou um javali médio, a carne daria para ele e o velho Arauê, por vários dias. Falou para o velho índio do sonho, e Arauê falou. :- Houve um tempo, que os deuses andavam no meio dos índios. Você não sabia quem era índio ou deus. Depois ficou fácil, porque o homem engorda e envelhece, o deus não. Todo deus, ou deusa tem um dedo mindinho a mais, só que ele esconde, mas quem for íntimo verá, e eles namoram também. A deusa que você falou, parece com Yara, à preferida de Tupã. Se ela gosta de você não é sorte, é azar, porque Tupã é deus ciumento e violento. A força dela é menor que a dele. Ele não vê tudo, mas sabe de tudo, ouve até seus pensamentos. Só que ele nunca vai guerrear com um Tupi, ele tem Boitatá, a cobra do mal, Anhangá, e outros tantos, até uma cobra comum pode receber poderes especiais, só para o combate. - O guará, que é covarde por natureza e só ataca em situação de vantagem, vira uma fera igual a Boitatá. Se vir esta deusa fuja dela, já enfeitiçou índio, mas dizem que é uma morte muito gostosa, eu sei. Oripê, você já viu esta mulher? Dizem que é lindíssima. Ela é. Então você já está morto, a menos que ela não lhe queira, mas você é muito forte, sua vida já acabou, e eu não posso fazer nada. Traga ela aqui, você pode, eu sei. Mas filho, você quer que eu, Arauê, traga a desgraça para você? Se gosta de mim, sim. Farei isto, e fez um círculo de fogo. Colocou uma coberta dentro, deite ali, ela deitará com você. E começou a cantar suas cantigas estranhas, em línguas estranhas. Ao meu lado, uma nuvem de fumaça começou a se formar. Da fumaça saiu à índia que domina meu coração. Arauê cantava, ela falou. :- você feiticeiro me invocou. Espero que tenha algo que eu deseje ou sabe o preço. Arauê falou. :- nenhum preço é maior que o desejo de meu filho. Que assim seja, quando ela virou para mim, ficou triste, e falou. :- criança é tão forte assim o teu amor? Maior que eu, só desejo você e preciso senti-la, pois estou ficando louco. Venha comigo.
Velho! :- Não se preocupe, pois meu amor por ele é tão grande quanto o seu, fique em paz e durma. Arauê dormiu e caminhamos pelas nuvens, saímos sobre a montanha. Um dia Oripê, um guerreiro tão bonito e forte como você, namorou comigo. Por fazer isto, ele caiu em desgraça, e morreu afogado no rio puxado por Boitatá. Sabemos que foi Tupã, pois, sou sua preferida. O segundo castigo teria que matar a criança, que não deixei. Então Tupã fez com que ela ficasse como filha da floresta. Ele me perdoou, à noite eu vinha, te dava leite e cantava musicas de ninar, até você dormir. Os bichos cuidavam de você e os que não cuidavam também não faziam mal, pois tinham medo de mim. Até hoje, toda vez que você dorme ou fica triste, eu apareço para consolá-lo. Não o amor que você sente por mim, mas pode ter certeza que é muito maior. Eu vi o teu começo e o teu fim. Você terá uma linda mulher, a primeira que amará muito, depois amará outras, talvez, não com a mesma intensidade. Até que um dia Tupã resolver, aí você deixará a floresta para viver comigo e ajudar os outros. Não posso te fazer sentir, os prazeres da carne, mas te farei sentir uma paz e o amor que nenhum filho até hoje sentiu ou recebeu, outra vez dormi em seu colo. Quando acordei, Arauê me cutucava com uma varinha. Coma um pedaço de carne, deve estar fraco. Não falei nada, mas comi, pois estava realmente com fome.

OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 16/11/2011
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