O bibelô de Papai Noel e o controle Remoto do papai

Um belo dia a criança estava brincando sossegada na sala quando viu que algo se mexia. Eram dois objetos bem travessos: o bibelô de Papai Noel que a mamãe havia colocado ali naquela semana com a chegada da época de Natal e o controle remoto do papai (sim... o controle remoto sempre foi do papai e de ninguém mais).

Intrigada a criança parou de brincar e começou a prestar atenção naqueles dois pestinhas. E prestando mais e mais atenção percebeu uma conversa mais ou menos assim:

- Ei seu banana, você fica aí o ano todo fazendo a mesma função, no mesmo cômodo da casa, sempre duro, com cara de cansado, sendo apertado e quando acaba sua pilha leva até uns bofetões. Você não se cansa não? – disse rindo o velhinho de gorro vermelho.

- Pelo menos tenho uma função e que é muito importante, afinal sem mim as pessoas teriam que levantar toda hora para mudar de canal. Além disso, eu me divirto muito com as novelas e sei tudo o que acontece no mundo todo graças aos telejornais. E você seu velho gordo. Está gordo de tanto ficar parado feito um bibelô – risos maldosos do controle remoto – Me diz uma coisa, e você? O que fica fazendo o ano todo? Ah é, nem precisa me falar nada, sei que fica na caixa de papelão lá no fundo do porão com os ratos e baratas. Sendo lembrado apenas por alguns dias do ano.

- Mas é muita audácia da sua parte seu magrelo quadrado. Eu sou uma estrela. Quando me colocam aqui no móvel da sala, passam até lustra móvel para me receberem. Sou apreciado pelas crianças e adultos. Sou lindo! E não preciso fazer nada para isso. Apenas sou importante e ponto final. Você é que tem inveja de mim que trabalho pouco, sou famoso, e o centro das atenções no período do Natal.

- Você não tem função nenhuma. Os bibelôs são capachos das pessoas que o colocam onde quer que seja e vamos combinar que vocês são muito frágeis. Eu caio no chão sempre e estou aqui intacto, preto, brilhante, com minhas teclas legíveis e grandes.

O menino ficou a olhar a discussão que foi longe, até o momento em que o pai chegou do trabalho, sentou cansado e pegou no controle para ligar a TV. Neste momento o controle caiu e quebrou. Coitado do controle, ficou todo envergonhado, e na certa sentiu dor. E o maldoso bibelô riu com muita destreza.

Mas não é que a irmã caçula também chegou e correndo, esbarrou no armário da sala e tudo foi para o chão? O Papai Noel ficou sem uma mão. E os dois foram parar no porão. A criança, sem saber muito bem como contar, chamou a mãe e desembestou a falar. Claro que os pais acharam graça. Os únicos que levaram a sério foram a pequenina irmã que começou a chorar e o avô que ouvindo lá do quarto chamou os dois e disse com aquele sorriso de sempre nos lábios:

-É... às vezes na vida é assim. Os dois objetos metidos, arrogantes, achando-se a ultima bolacha do pacote e agora vão os dois ter que conviver juntinhos lá na escuridão do porão. Cada um tem uma função, um dom, uma habilidade. Mas um dia todos neste mundo perdem a utilidade e a gente nunca sabe onde vai parar. É por isso que é muito importante a todos respeitar... Vai que um dia a vida pregue uma peça e tenhamos que conviver com a pessoa chata vai saber lá eu onde...

As crianças não entenderam muito bem o que o avô risonho quis dizer. Voltaram felizes para a sala brincar com os brinquedos espalhados pelo chão. Mas um dia elas entenderão.

Thaís Falleiros
Enviado por Thaís Falleiros em 29/10/2011
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