POR QUE EU?

Era uma noite chuvosa, Lara, em seu quarto, observava pela janela o cair das águas, se fascinava pelo encontro destas com o chão, a cada gota que tocava o chão, sentia sua alma renovada. De repente, seus pensamentos foram interrompidos, era à sua mãe adentrando o quarto.

_ Fecha esta janela, menina! Dessa forma você vai pegar um resfriado, e só Deus sabe o que lhe pode acontecer.

_ Mas Mãe...

_ Não tem “mas” não, feche-a agora!

Lara então fechou a janela, sentou-se em sua cama e iniciou um diálogo com a sua mãe.

_ Mãe, você já parou para pensar como são perfeitos os átomos de hidrogênio e oxigênio, lá no céu, se juntarem e ocorrer à precipitação?

_ Menina, tenho outras coisas para pensar do que me preocupar com essas besteiras.

_ Eu não acho que seja besteira.

_ Para mim é, já não basta eu cozinhar, limpar a casa, lavar roupas, além de cuidar de você, ter de me preocupar com essas besteiras?

_ O mundo é perfeito, tudo se encaixa; tudo têm um sentido, tudo...

_ Por que esse papo agora, você está se sentindo bem?

_ Claro, mas por que você acha que quando eu fico assim é por causa do que tenho?

_ Eu não acho nada, agora vá dormir. Boa noite!

_ Boa noite também, Mãe.

Júlia, então se pôs a sair do quarto, balançando a cabeça de um lado a outro, representando um gesto de desaprovação por sua filha lhe fazer perguntas. Ela que sempre fora muito rude para com a sua filha, pelo fato de esta ter sido fruto de um relacionamento casual.

Quando Júlia saiu do quarto, Lara levantou-se da cama e abriu novamente à janela, porém agora, não mais fitava o cair da chuva, uma onda de melancolia havia tomado conta dela.

_ Por que eu, meu Deus? O que lhe fiz para merecer isso? Sempre fui à Igreja, ajudei quem de mim necessitou, sou uma boa filha, nunca fiz mal a ninguém, nem mesmo a uma mosca.

Após esta reflexão, Lara começou a chorar, sempre questionando o motivo de coisas ruins acontecerem a ela. Mesmo com toda rudeza de sua mãe, Lara, sempre entendia o motivo, e pensava que era apenas uma questão de tempo até Júlia realmente amá-la, porém, ela não tinha a mesma complacência para com as outras coisas que lhe afligia.

_ Por que eu meu Deus? Por que eu? Ajude-me, por favor!

Novamente, Lara, foi interrompida.

_ Eu não te disse para dormir e não mais abrir a janela?

_ Desculpe-me, Mãe, é que não consigo deixar de me fascinar por esta chuva.

_ Eu já lhe disse que você não pode se resfriar, vou ter de trancar essa janela, além do mais, amanhã acordaremos cedo, então, é melhor que agora você, realmente, durma.

Júlia então colocou um cadeado na janela, e retirou-se novamente, desta vez sem se despedir. Logo quando sua mãe saiu do quarto, Lara, esvaziou seus pensamentos e se pôs a adormecer.

_ Acorde, Lara, acorde, já são 05h30min da manhã, acorde, se não iremos nos atrasar.

Lara então se levantou e foi em direção ao banheiro, após enxaguar seu rosto, escovar seus dentes e pentear seus longos cabelos escuros, voltou ao seu quarto, desta vez, não para se lamentar, mas sim, escolher seu melhor vestido, então abriu seu guarda-roupa e pegou sua peça favorita: um vestido longo, na cor azul com preto. Estas, suas cores favoritas, vestiu-o e foi em direção onde sua mãe estava; na cozinha.

_ Vá tomar café, menina, senão vamos nos atrasar.

_ O que tem para comer, Mãe?

_ Comida, importa? Têm muitas pessoas que nada tem, devemos agradecer a Deus, ainda que tenhamos somente pão.

Lara, então abriu a geladeira, pegou a manteiga e começou a passar no pão que havia pegado; colocou um pouco de café em seu copo e começou a cear.

_ Vê se não demora, Menina! Vou aproveitar e chamar um táxi, pelo ao menos isso, a aposentadoria ainda me deixa ter como luxo.

Terminado de tomar o café da manhã e já com táxi à porta, ambas entraram no táxi.

_ Para onde, Senhora? Perguntou o taxista.

_ Hospital Municipal de Arapó.

Tanto Júlia, quanto Lara, durante todo o percurso, não trocaram nenhuma palavra. Quanto mais se aproximavam do Hospital, mais Lara sentia um aperto no peito, fazendo com que até suores frios escorressem em sua testa.

_ Chegamos! Proferiu o taxista.

_ Aqui o dinheiro, fique com o troco.

_ Obrigado, Senhora, que Deus te abençoe!

Ao saírem do táxi, logo adentram ao Hospital e foram em direção à recepção.

_ Bom dia! Vocês têm hora marcada? Perguntou a recepcionista.

_ Sim, minha filha está marcada para as 06h30min com o Dr. Melo.

_ Qual o nome da paciente, Senhora? Retrucou a recepcionista.

_ Lara Ferreira. Respondeu Lara.

_ Deixe-me verificar se o Dr. Melo já está disponível? Aguarde um momento, por favor!

_ Sim, claro! Entonou Júlia.

A recepcionista pegou o telefone e ligou para o Dr. Melo.

_ Podem entrar, ele está disponível. Sala 207.

_ Obrigado! Respondeu Lara.

Lara e Júlia se dirigiram em direção à sala 207, e os poucos metros que separavam Lara da sala, para ela, pareciam quilómetros. Ao chegarem à porta, logo adentram a sala.

_ Bom dia! Disse o Dr. Melo.

_ Bom dia! Responderam ambas.

_ Sentem-se, por favor, enquanto pego o resultado de seu exame.

Neste momento, Lara, em seus pensamentos, suplicou a Deus para que tudo estivesse bem com ela.

Dr. Melo, começou a ler pra si, em voz baixa, o resultado do exame.

_ Infelizmente, minha Filha, não tenho uma boa notícia para lhe dar.

_ Fale logo, Doutor. Apressou Lara.

_ Seu tratamento quimioterápico não obteve sucesso, e seu tumor cerebral aumentou de tamanho, alcançou a região occipital.

_ O que isso quer dizer, Doutor? Perguntou Júlia.

_ Quer dizer que, a sua filha, infelizmente, têm no máximo seis meses de vida...

Fim