NA TERRA DOS VEGETAIS...

CONTOS MÁGICOS 2

“As aventuras de Laura, uma borboleta mágica e de Serena, uma camaleoa contadora de histórias, continuam... Não deixe de conferir cada momento, reflexão, num mundo mágico, mostrando a realidade com muita fantasia e imaginação”

O autor - Rogério José Martinelli

NA TERRA DOS VEGETAIS....

Laura voava, rapidamente, ao encontro de Serena naquela quente e úmida manhã. Pequenos beija-flores sobrevoavam e pintavam o céu com suas cores celestiais, do azul escuro ao azul celeste, passando ao acinzentado cintilante e fechando com um clássico preto ao redor das minúsculas cabeças;com velocidade e tamanha sutileza,mesclavam-se entre as doces flores da floresta encantada.. Laura, não tão rápida quanto os beija-flores, voava tentando aproveitar-se da corrente de vento numa busca frenética pela amiga...

___Serena! Serena! Cadê você!? – gritava a pequena borboleta mágica – Serena! Serena!

___ Calma , Laura! Estou aqui bem debaixo de suas louras madeixas! O que está acontecendo?!

___ Puxa! Já era hora, hein! Você não está sabendo?!

___ Laura, o que você está querendo me dizer?! Você não aprontou outra das suas, aprontou?!

___ Imagine! Eu!? Agora, sou outra borboleta! Quero mais é ser feliz! Você não confia mesmo em mim!

___ Ah, Laura!... não pense assim! É que você sabe, sou seu anjo da guarda e você, não pode ter uma recaída, minha amiga! – disse Serena em tom acolhedor. - Desculpe-me , Laura! Você sabe o quanto amamos você!

___ Ah, Serena! Dê-me um abraço, amiga.

Nesse ambiente fraterno, Laura comentou com Serena o que a estava deixando aflita. A bicharada estava contando, aos quatro cantos da floresta mágica, uma história interessante...

___ É Serena, dizem que apareceu na clareira próxima ao riacho, um animal estranho...

___ Como assim, Laura?!

___ A bicharada estava falando que é um menino da cidade, de carne e osso!

___ Um menino! Aqui na floresta?! O que poderia ter acontecido, Laura?!

___ Não faço a mínima ideia!

___ Vamos até lá, Laura! Deve haver uma explicação para tudo isso!

Assim, Laura e Serena, amigas inseparáveis, vão desvendar mais essa situação...

O menininho encontrava-se encolhido próximo a uns arbustos... estava apavorado! Pudera, Dona Onça tomava conta do pequenino e logo ia dizendo:

___ Olha aqui menino! Com Dona Onça não tem “a” nem “b”! Pisou na floresta vai seguir a minha cartilha!

___ O que é isso! – interrompe, Serena – Não assuste o pequenino!

___ Olá, Serena! Oi, Laura! Bom vocês estarem aqui! Venham, aproximem-se e confiram uma coisa... Laura e Serena observaram que ao redor dos olhos do menino havia uma imensa marca roxa; muito parecida com um soco!...

___ Qual é o seu nome pequenino? Conta para a Tia Laura!

O menino permanecia ali, inerte e sem emitir qualquer ruído... Laura, enfurecida...

___ Olha aqui, menino! Você abra essa boca ou...

___ Laura! Fique calma! Deixe que eu converse com ele! – insistiu Serena – Vocês não percebem que ele está com medo da gente?!

___ Como assim, Serena! Medo de nós!?

___ Minha amiga, pense bem ... aqui é uma floresta mágica... todos os animais falam! Com certeza, o menino nunca imaginou estar numa situação dessas!

De repente, o menino soltou algumas palavrinhas sem sentido...

___ São os vegetais! Cuidado com eles!

___ Mas que história é essa de vegetais! – indagou, Laura.

O pequenino menino acabou desmaiando falando dos dito cujos “dos vegetais”. A bicharada se reuniu para cuidar da pequena novidade enquanto Serena aproveitava a oportunidade para contar outras de suas histórias mágicas...

“Na Terra dos Vegetais carne não tinha vez, relatava Serena. Diziam também, que o repolho roxo ficou assim de tanto apanhar e que a mandioca se escondia com medo de ser comida. Naquela Terra, cada vegetal sabia do seu lugar; a disciplina era muito rígida! Era pisar fora da linha e o castigo vinha num rabo de foguete! Isso mesmo, cada arbusto ou vegetal tinha sua função, como num relogiozinho... tic, tac... o Sol se escondia à noite e o movimento da manhã funcionava mais ou menos assim... a água era a grande guardiã; Dona Água regava a todos os vegetais e os nutria com tudo de bom. Na Terra dos Vegetais todos andavam sob o solo verde e refrescante; as beterrabas estavam sempre em bandos e riam tanto que ficavam roxinhas, roxinhas; os pimentões, sempre nervosos, eram multicolores... os verdinhos eram nenéns, os amarelos, adolescentes e os vermelhos, adultos e estavam sempre irritados! Assim, cada legume, flor, árvore, frutas tinham sua função no saboroso planeta da Terra dos Vegetais! Tudo ia bem até que, um dia, os filhos da família dos jilós começaram a aparecer de olhos roxos! Pela tradição, os jilós eram severos e rancorosos e muito amargos! Ninguém tirava vantagem deles; viviam isolados dos demais e contagiavam os outros com um mau humor que só vendo! Eles diziam a todos que se não estavam gostando que fossem então comer jiló; de nosso filhos cuidamos nós! Nessa Terra, a pimenta malagueta era policial de investigação e precisava apurar o que estava se passando com os pequeninos jilós; olhos roxos, sempre chorando...tomou coragem e bateu à porta do Sr. Jiló-pai com uma autorização para realizar uma sindicância no caso. Dona Malagueta disse ao Sr. Jiló-pai que era a décima denúncia contra ele e precisa examinar seus filhos! Depois de alguma relutância, conseguiu o seguinte depoimento do bebê-jiló:

___”É que eu estava andando pela mata... sou muito distraído e bati com o olho num arbusto bem forte e rombudo! Quem mandou eu deixar meu olho na frente dele!? A culpa foi minha Dona Malagueta, amanhã eu já estarei melhor e vou poder abrir meus olhinhos, direitinho.”

Dona Malagueta soltava até fumaça pelas ventas e não podia fazer mais nada; afinal, um vegetal com a força de um arbusto..., às vezes, realiza grandes milagres!

Essa história virou lenda na Terra dos Vegetais e nas escolas, quando os vegetais de qualquer espécie não seguiam a cartilha, eram logo advertidos: “Cuidados com os vegetais!”

___ Mas, Serena! O que esta história tem a ver com o nosso menininho?! – indagou Laura.

___ Tudo , Laura! Você não vê que ele também foi vítima de um vegetal?!

___ Quer dizer que o menino teve uma conversa séria com o arbusto rombudo?!

___ É, Laura, muitas vezes, os adultos perdem o controle da situação e têm na violência, uma forma de controle de seus pupilos!

___ Ah, Serena! Que tristeza ouvir isso...

¬¬___ A vida Laura, muitas vezes, apresenta as conseqüências de um trabalho mal feito dentro das famílias!

___ Nas famílias?!

___ Isso mesmo, minha amiga, se todos aprendessem a lidar com os próprios limites, nunca precisariam ter uma conversa com os “vegetais”!

___ É, Serena, você tem razão. Vamos cuidar do menininho...

Dias depois, Laura entregou ao menininho dos “vegetais” um brilhoso e pequeno fio mágico! Conta-se que ao retornar ao seu lar, fez um pedido muito, muito especial, semeando de amor, carinho e compreensão, todas as famílias de seu vilarejo...; elas passaram a entender o verdadeiro significado da palavra cidadania, temperada com uma deliciosa salada de sabedoria!