ESCRITA RUPESTRE NA CHAPADA DIAMANTINA

O PLANETA RUPRO

(curta-metragem para Lençois-BA)

Lençois – BA, dezembro de 1975.

- Acorda Zeinho ! Tá na hora ! O café já está na mesa. Se demorar de sair da cama vai ficar aqui sozinho viu?.

- Meu primo Sidarta já chegou?

- Chegou sim e já tomou o café e você vai ficar ai sozinho se não sair desta cama agora ! Seus irmãos já estão lá fora esperando a Rural.

Zeinho pulou da cama, correu para o banheiro, escovou os dentes, vestiu a roupa de banho e engoliu o café da manhã ansioso com aquele passeio tão esperado durante esses dias de férias na cidade de Lençois, onde nasceu seu pai, avô, avó, bisavô, tataravô e outros tantos lembrados tios, primos e outras estimadas pessoas que desenharam a importância dessa cidade que, após alguns anos, foi transformada em cidade histórica, tombada como patrimônio da humanidade.

Cheia de crianças, tias, tios e primos, a velha Rural saiu da cidade por muitos quilômetros e avançou em direção as cavernas e grutas e proximidades, inclusive do morro do Pai Inácio e fora aos poucos se afastando em direção aos locais inexplorados e repletos de cascatas, rios e cachoeiras e outras obras divinas, que só a arquitetura da mãe natureza soube planejar e depois executar.

 

Depois de várias caminhadas, banhos, brincadeiras, brigas e todas as atividades que se pratica aos 12 anos de idade, Zeinho e toda a tropa, resolveram dar uma parada em local próximo as cavernas e grutas do Tanquinho para devorar o almoço, preparado cuidadosamente pelas duas tias Clarita e Lucrécia, que nunca casaram, não tiveram filhos, mas exerceram permanente papel de mães de tantos sobrinhos e agregados capetas, em época de férias.

Família numerosa, mais de 10 irmãos, a maioria voltava em dezembro, mês de folga das crianças e lotavam a casa, local onde Zeinho se hospedava junto aos irmãos e primos de tudo quanto é grau, idade e crenças.

Já passava das 15h e depois de terem devorado o almoço, Zeinho e seu primo Sidarta se afastaram do acampamento: uma grande pedra plana, que se transformara naquele instante na melhor mesa para o almoço de numerosa família.

Eles saíram novamente para brincar e explorar outras cavernas e grutas daquele paraíso ecológico, que até hoje é um enigma para os mais ilustres antropólogos e que até hoje povoam as mentes criativas crivadas de maconha, ali encontram um cenário perfeito para degustar as mais mirabolantes estórias da origem da arte, escritas no inconsciente coletivo.

 

No ápice dos seus 12 anos de idade, Zeinho já apresentava uma mente fértil, cheia de idéias e fantasias que povoam a mente de um menino.

Estimulado por aquelas aulas de pré-história da humanidade, tão repletas de homens da caverna e mistérios da arte e da escrita, a fantasia do Zeinho era ilimitada, principalmente porque associava aquelas lições aos poucos capítulos que leu do livro que o seu Pai guardava com tanto cuidado “Eram os Deuses os Astronautas?”.

Zeinho e Sidarta, entravam e saiam das cavernas e grutas em busca de novidades, mas a fantasia de Zeinho não parava de atentar a necessidade de conectar os Deuses aos Astronautas e como não encontrava nenhum vestígio de escrita naquelas cavernas, teve uma grande idéia.

- Sidarta, vamos pegar um pedaço dessa mesma pedra, que forma a caverna e fazer as escritas pré-históricas daqui de Lençois? Não vamos colocar letras. Vamos fazer aqueles desenhos de caça, caçadores parecidos com os que li no meu livro de história e vamos usar pedras de três cores e argila branca e colocar coisas do Egito, óvinis, a letra Pí, discos voadores e outros enigmas da humanidade.

- Não fala nada com ninguém não ta? Daqui a 1000 anos vão descobrir isso aqui e a nossa obra vai dar no que falar!. As pedras são da mesma idade da caverna. Eu ouvi o professor de história falar num tal de teste de carbono 14. Parece que eles usam esse tal carbono para ver se a idade da escrita é a mesma da Caverna. Se a pedra e a caverna são uma só......A idade de nossa escrita será a mesma, né?. E naquele dia, inúmeras cavernas e grutas da Chapada foram decoradas com os mais esquisitos desenhos pré-históricos do Zeinho.

Vinte anos depois.....Lençois, agosto de 1995

Menos de 1000 anos haviam se passado e naquele dia ensolarado, do ano de 1995, a cidade de Lençois estava muito agitada. Eram dias fora do período de férias e ninguém entendia o que tanta gente, o que tantos gringos de carro para cima e para baixo. Muita gente esquisita com aquelas mochilas e botas e aparelhos que eles usavam para entrar no mato para fazer sabem-se lá o quê, fotografando e catalogando desde o mais raso buraco até a mais gigantesca caverna. Estavam bastante ocupados e isso é muito bom.

Não eram turistas, pareciam trabalhar em algo importante. Há vinte anos, o Pai do Zeinho sempre dizia: - Esses Americanos sabem de tudo!! Tudo que tem em baixo do solo eles já viram com a tecnologia dos satélites da NASA. Conseguem ver até um lápis em pé no asfalto. Uma hora eles aparecem aqui em Lençois para tomar tudo.

 

Naquele amontoado de gringo tinha de tudo: doutores, antropólogos, cientistas da NASA, historiadores, suas amantes, cineastas, biólogos, fotógrafos e outras profissões bem estranhas. Inventaram até uma tal de arte e escrita Rupestre, fundaram algumas ONGS, coisa de gente doida, talvez empapuçada de tanta erva “Canabis Sativa” nas idéias. Teve até gente que virou PHD, ganhou financiamento de instituto de pesquisa americano para desvendar os mistérios daquela arte e escrita extraterrestre.

Outros cientistas finalmente ligaram o elo que haviam perdido em nossa história. Não faltavam eram cavernas e grutas povoadas de tanta teoria pré-histórica para estudar.

Mas os Gringos trataram tudo como segredo de estado. Essas coisas foram parar lá na NASA e alimentaram os arquivos secretos e são tratados com muito sigilo porque poderiam abalar as estruturas de nossas crenças e religiões e inclusive reduzir o dízimo para 3%.

Eles tiraram fotos, fizeram várias hipóteses, catalogaram coisas e formularam as mais mirabolantes teses de mestrado e doutorado. Teve até um ilustre que defendeu uma teoria do efeito Borboleta nas cavernas da Chapada e ganhou um prêmio de cientista do ano, reconhecido pela NASA. Ele fez cálculos matemáticos, usou as informações da escrita pré-histórica e até a letra Pí, que estava desenhada lá em uma das cavernas, que foi a base de construção da teoria da invasão da Chapada pelos alienígenas rupestres.

 

O Doutor juntou tudo e com as mãos habilidosas de um cozinheiro, uniu os ingredientes e enfiou os dados nas entranhas dos computadores poderosos da NASA e calculou, com exatidão, qual o planeta de origem daqueles seres extraterrestres e a exata data que visitaram, a Chapada Diamantina há milhares de anos, com seus desconhecidos e sofisticados discos voadores.

Ele concluiu que a cidade de Lençois foi fundada há 15 mil anos pelos habitantes do planeta Rupro, da galáxia Omega 3. Os habitantes do planeta Rupro, ou sejam os rupestres, não só fundaram Lençois como nos deixaram os segredos da escrita e da arte Rupestre. Esse povo estranho, do planeta Rupro, deu a origem do DNA do povo da Chapada e até hoje alguns deles vivem secretamente no Capão, disfarçados de hippies e misturados com a exótica população local. .

Aquelas mensagens iconográficas, criptografadas, aquelas escritas enigmáticas nas cavernas de Lençois. Até hoje ninguém sabe, no que deu, mas o povo da NASA sabe. É assunto restrito, coisas da ciência.

Autor: Paulo França (16/04/2011)

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Nota: Este conto é uma ficção, pois a arte rupestre é assunto sério e tema de estudo antropológico pesquisado, na Bahia, desde a década de 50.

Mais informações sobre a arte Rupestre

Vide site http://www.revistaohun.ufba.br/pdf/carlos_costa.pdf