COMPLEXO DE ÉGUA
COMPLEXO DE ÉGUA
Segundo a mitologia Gorobixabense, “ELE” nasceu com o destino de assassinar o pai e casar-se com a mãe. A mãe vendo aquele picurrucho rosadinho, deu água na boca, e salpicando-o de pimenta-do-reino; quase o comeu no ninho, mas foi contida de última hora, para se cumprir a profecia.
O pai mandou pendurá-lo pelo saco escrotal, de tal maneira que se alguém o achasse; o criasse do seu jeito, como bem entendesse. Quem o achou foi “ELA”. Que levou para seu haras e criou no meio de éguas e cavalos. Assim, “ELE” cresceu longe da civilização humana.
Um belo dia ensolarado “ELE” pulou a cerca de arame farpado que o separava da liberdade e vasou. Sem saber ao certo para onde ia, foi marchando num trote eqüino, como aprendeu dos seus irmãos de criação. Sem mais nem porque se encontrou com o João Congo, seu pai biológico e verdadeiro. Quando viu aquele ser horroroso, nunca havia visto um homem, atacou de coices e dentadas. No que recebeu o mesmo tratamento, mas como era bem alimentado, à base de feno e alfafa; mais novo e mais forte, venceu o adversário no sétimo round, por nocaute atordoante.
“ELE”, vendo aquele ser parecido com abóbora madura, resolveu comê-lo. Matou e comeu. Primeira profecia cumprida.
Continuou sua caminhada. Chegando à cidade de Gorobixaba, foi direto para o primeiro boteco de cachaça. Onde foi posto a prova com o enigma da (es-finge). Se errasse a resposta, não beberia nenhuma pinga e ainda seria morto circuncidado.
O enigma era: “Qual é o espertinho que pela manhã se finge de morto na porta da igreja; ao meio dia, simula ser uma panela para comer todos os alimentos, e ao entardecer, disfarça de coveiro para dormir nas sepulturas”.
“De manhã era o padre, para furunfar com o sacristão. Ao meio dia era o cachorro do padre, para comer as hóstias da corola Sinhá Inês; e á tarde é o sacristão para ser traçado pelo coveiro”. “ELE” acertou na mosca!
Assim “ELE” é reconhecido como herói em Gorobixaba, toma todas, se embriaga; mais tarde, casa-se com a Sinhá Inês, que era sua mãe biológica e verdadeira. Cumpre-se, assim, a última parte da profecia.
Ao descobrir que havia se casado com a própria mãe “ELE” comeu seu próprio pênis. E sai pelas ruas gritando:
- Eu sou uma égua! Eu sou uma égua!
Eis por que complexo de égua!
O que motivou “ELE” a comer seu próprio pênis? Foi porque não tinha quibe com ovo naquele botequim? “ELE” pensou que fosse salsicha? A cuca lhe sapecou um feitiço? Não teve infância cibernética nem on-line? Não teve um desenvolvimento psicossexual eqüino?
Na realidade todas estas questões são respondias numa simples conclusão psicológica: “ELE” descobriu que sua hereditariedade biológica obrigava-o a masturbação periódica. O que não aconteceu.
É sabido que, para se fazer uma análise desapaixonada de qualquer tema, é necessária o pesquisador manter certa distância emocional do assunto abordado. Ao passo que para “ELA” o conhecimento científico e o senso comum são formas distintas de entender a realidade social. Não esquecendo que o contexto histórico-social define o objeto de estudo. E que o modelo de pesquisa aborda a realidade objetiva de forma quantificável.
No fritar dos ovos eles continuam crus.
(junho/2010)