A Busca do Mudo
Ele queria paz e não sabia como pedir, tentou grafitar
O reboque do muro silenciou sua voz
Resolveu montar um jornal alternativo,
Passava horas procurando palavras e letras em jornais e revistas
Cortava uma figura aqui, passava cola ali.
E, de repente, estava montado, artesanalmente,
Seus gritos eram transformados em cinco folhas e uma contra capa
A mão que colheu de um lado, derrubou do outro
E, restou as lágrimas do menino desapontado com a atitude.
Restou cantar
Escrevia três letras de música por dia, fez arranjos, compôs versos
Mas o pré-conceito o silenciou
Buscou diversas maneiras para gritar e percebeu que tudo que havia tentado
Não fora reconhecido. Ninguém o escutava
Já não pedia ajuda, pedia socorro...
Pegou um caderno e começou expor para o papel tudo o que sentia
Sua revolta foi se transformando em amor
Descobriu que, na verdade, nunca havia buscado desabafar
E sim inflar seu “ Ego”
Se tornou uma pessoa silenciosa, já não se ouvia sua voz.
O jejum do silêncio incomodava a todos
Pois ninguém compreendia a paz que ele havia encontrado
Descobriu um grande amigo e um estimulador de criatividade
Gostava de sentar debaixo da árvore e ali numa relação papel, caneta, mente e criatividade
Vivia todas as aventuras que um dia sonhou viver, ali desabafava.
Concluiu que a transcendência o permitia se, primeiro, se permitisse matar o “Ego”
Descobriu que não conseguiria matar
Então, dentro do silêncio, buscou transformar o “Ego”
Com o silêncio foi se transformando e conforme ia evoluindo
Seu quarto foi ficando pequeno, pois os cadernos iam ocupando todo espaço.
Já em sua velhice e com os anos de silêncio percebeu que em toda sua vida
Jamais havia experimentado tamanha paz mas, então,
Um dia o silêncio o incomodou, pois se permitiu a isso
Agora, percebia que mesmo o silêncio lhe proporcionando a paz
Lhe roubou o direito de conhecer alguém.
Sua mãe já havia falecido e herdará a casa de cinco cômodos
Mas habitava somente em um, pois os outros estavam ocupados
Pelos cadernos escritos que acumulava há anos
Tentou falar e, percebeu que esqueceu como fazer
Agora se via calado em sua casa, só ele e seus cadernos, sem ninguém.
A paz foi embora e só ficou a guerra da ausência da comunicação
Então, escreveu:
O silêncio traz a paz mas, as palavras se não escritas precisam ser ditas;
Não sei falar...
Não sei amar...
Não tenho paz...
Já no leito de sua morte viu uma luz branca, queria dar risadas
Mas só conseguiu chorar
Enfim,
Mudo, morreu
Mudo, viveu,
Mudo sofreu,
Escreveu, escreveu e, no fim, nem mesmo ele se compreendeu.
Revisao: Claudia Fabiana de Jesus