PAPAI NOEL EXISTE


Aqui pertinho, na vizinhança, mora um pai que tem apenas uma filha ainda pequenina, com apenas cinco aninhos, mas muito inteligente e linda! Ele chama-se... Deixe-me lembrar... Ah! Os vizinhos o chamam seu Né e a menininha chama-se brisa e nunca vi nome mais adequado para aquela doce menina. 

Mas aquela família era muito simples, pobre mesmo e a mãe da Brisa partira para o outro lado da vida no exato momento em que nos oferecia sua linda e suave Brisa que nascera prematura de seis meses.

Era uma menina de olhos claros, cabelos lisos e longos, muito bem cuidada pelo pai que para trabalhar, tinha que leva-la consigo, pois não havia quem olhasse por ela.

A casa era simples, tinha apenas duas portas  a da frente e dos fundos e uma janelinha que dava para a avenida e nos finais de semana no final da tarde a Brisa sempre estava ali sentadinha na porta observando o movimento e sempre com um suave sorriso triste.

Eu, sempre que vinha do trabalho passava por ali e parava um pouco para conversar com ela, saber como foi seu dia, o que tinha feito, com o que brincava se havia feito mais alguns desenhos para que eu os compasse; eu fazia sempre essa caminhada apenas para lhe dar um pouco de atenção e carinho e ela me retribuía com um beijo no rosto, mostrando-me o que havia desenhando e eu os comprava por alguns trocadinhos que ela colocava num cofrinho dizendo ser  para comprar um presente para seu pai já que estava chegando o natal.

Certa tarde eu pedi para ela me mostrar seus vestidinhos, sapatos... Queria saber o que lhe comprar de natal e ela mostrou-me orgulhosa um único par de sapatinhos branco que ganhara do pai no dia dos seus cinco aninhos e dizendo-me que iria pôr os mesmos na janela na noite de natal para o papai Noel lhe trazer uma boneca que tinha visto numa daquelas lojinhas do bairro e me descreveu como seria a boneca que pediria ao bom velhinho.

Aí eu tive a idéia de lhe dar de presente a tal boneca tão desejada, mas apenas no natal como se fora o papai Noel que a tivesse presenteado.

Chegou o natal e a Brisa como me havia dito, pôs o sapatinho na janela com um bilhetinho do jeito que sabia escrever e até desenhou a boneca que queria ganhar, mas que o Né, seu pai, não teria como lhe comprar.

Pois bem, no outro dia quando eu voltava do trabalho e não vendo a Brisa no lugar de sempre, perguntei ao seu Né porque ela não estava ali e ele me disse que ela estava triste porque pusera o sapatinho na janela na esperança de que o papai Noel lhe deixasse o que tanto desejava e o que aconteceu, foi que lhe roubaram o único sapatinho que tinha, pois se roubaram um pé, do que lhe serviria o outro? E agora nem o sapato nem a boneca com que tanto sonhara.

Era de cortar o coração o pranto silencioso e resignado daquela menininha linda e tão carente. Abracei-a e beijando seu rostinho molhado de lágrimas,  disse-lhe que não ficasse triste, pois o bom velhinho, devia ter levado o sapatinho para saber que número trazer e quem sabe, no dia de natal, quando ela estivesse dormindo ele não deixasse ali a realidade do seu sonho! E assim fiz, comprei-lhe outro par de sapatos, e a boneca que ela me descrevera com todos os detalhes e quando seu Né me disse que ela estava dormindo, fui de vagarzinho e junto da caminha deixei dois pacotes enfeitados com laços de fita cor de rosa para quando pela manhã ela acordasse fosse a primeira coisa a encontrar.

No final do dia seguinte ao dia de natal passei em frente da casa da Brisa e de longe vi que ela estava todo arrumadinha, com um vestido novo e o sapato que ganhara do papai Noel... Mas ela nem esperou eu chegar mais perto da casa, avistou-me e correu com a bonequinha nos braços, gritando de felicidade,  dizendo em alto em bom som: Agora eu sei que PAPAI NOEL EXISTE! Agora eu sei.



Brasília, 18/12/2010