Sonhar
Era uma tarde fria e nublada. O pequeno cavalo relinchava inquieto no estábulo. Desejava correr pelos campos verdejantes, longe daquela fazenda-prisão. Os outros cavalos julgavam-no louco, afinal a vida na fazenda era bem confortável e, apesar de restrita, provia-os todo o necessário para continuarem em sua morosidade e alienação. O pequeno cavalo não se conformava com tudo aquilo, desejava sempre ver e saber mais, sentir, experimentar, quebrar barreiras.
Certo dia, sedento por liberdade, resolveu tentar pular a cerca de arame farpado que separava a propriedade dos grandes campos perto da floresta. Era uma tentativa insólita, mas para tudo que é novo é preciso ousadia. Infelizmente, enquanto tentava alcançar a cerca, havia uma pedra no meio do caminho, que o fez tropeçar. Como diz o ditado, só não tropeça quem não anda, e o nosso corajoso cavalo corria, sendo inevitável a queda.
Apesar dos empecilhos, é preciso ter força de vontade, e o cavalo a tinha em grande quantia. Estava determinado a pular a cerca de arame e chegar aonde nenhum cavalo da fazenda jamais chegou. Resolveu correr de uma distância maior, pois embora o risco de tropeçar também o fosse, a chance de falha no salto seria reduzida.
Tomou fôlego e foi. Durante o percurso, sentiu pequenas osciladas, porém nada que o derrubasse como da outra vez. Estava fortalecido com a queda. Quando chegou perto da cerca, sentiu-se um pouco inseguro, porém saltou. Havia conseguido chegar ao outro lado da cerca. Era uma sensação maravilhosa. Extasiado, começou a correr pelos grandes campos cada vez mais rápido e, de repente, as nuvens se afastaram e o sol apareceu, brilhando grandioso.