Logo Passa! Sai Na Urina - Crônica
Uma Crônica Nordestina
Na imensidão do sertão nordestino, onde o sol castiga e, na poeira levantada em redemoinho pelo o vento, a sabedoria popular se manifesta em cada canto. Entre as muitas expressões que ecoam nas rodas de conversa, uma se destaca: “Isso sai na urina. Se não sair na grossa, sai na fina.” À primeira vista, pode parecer apenas um ditado engraçado, mas para os que conhecem sua profundidade, é uma verdadeira ode à passagem do tempo e à cura das dores da vida.
Era uma manhã quente, e na calçada de um pequeno vilarejo, um grupo de homens conversava sobre os desafios da vida. Entre risadas e provocações, um menino se aproximou, com lágrimas nos olhos. Algo o afligia — um pequeno machucado, talvez, ou uma decepção infantil. Então, um dos homens, com a voz rouca e o olhar sábio, lançou a expressão que ecoaria em sua mente por muitos anos: “Isso logo passa: sai na urina. Se não sair na grossa, sai na fina.”
Para o menino, aquelas palavras eram como uma promessa de alívio. O que parecia insuportável logo se tornaria uma memória distante, como tantas coisas da infância. Ele entendia que, na próxima "mijada", tudo se resolveria, como se a urina levasse consigo as mágoas e preocupações da criança. O ditado, em sua essência, falava sobre a efemeridade das dores e a leveza que a vida poderia oferecer.
Mas a beleza da expressão se revelava em sua profundidade. Ao crescer, o menino descobriria que “sair na grossa” se referia a algo mais. A passagem da infância para a adolescência, e então para a vida adulta, trazia consigo desafios mais complexos. O tempo, aquele velho amigo que sempre resolve as questões mais complicadas, não apenas curaria as feridas da infância, mas também proporcionaria novas experiências — as dores da primeira paixão, os desamores, os romances que, como um bálsamo, aliviariam as mágoas mais profundas.
Ali, naquela calçada empoeirada, a frase ganhava um novo significado. Para os homens adultos, a “mijada grossa” simbolizava a maturidade, a virilidade, e a habilidade de enfrentar as agruras da vida com um novo olhar. A sabedoria popular se entrelaçava com as vivências, lembrando a todos que a vida é feita de ciclos, que cada fase traz suas dores e suas alegrias, e que, em última análise, não há mal que uma boa paixão ou um romance não possa curar.
A expressão “Isso sai na urina” é mais do que um simples ditado. É uma reflexão sobre o tempo, o crescimento e a capacidade de se reerguer diante das adversidades. É um ensinamento que atravessa gerações, lembrando-nos de que a vida é passageira, e que, independentemente do que enfrentamos, sempre haverá um novo amanhecer, uma nova esperança, e, quem sabe, um amor que nos cure. E nada há que um romance, uma bela paixão não resolva.
Assim, ao olhar para o horizonte, é possível ouvir os ecos das risadas dos homens, as perguntas inocentes das crianças e a sabedoria ancestral que, em forma de palavras, nos ensina a viver com leveza, mesmo nas horas mais difíceis. Afinal, no sertão, tudo é passageiro — e cada “mijada” traz consigo a promessa de um recomeço.