Vida De Vaqueiro

Logo de madrugada, bem antes da alvorada, o vaqueiro toma um café de pó decantado, adoçado com rapadura. Após o primeiro gole, sente a energia correr pelas veias, pega os arreios e adentra ao curral onde as vacas, de úberes latejando de leite, estão separadas de suas crias. A Vaca Malhada é a primeira a ser ordenhada. O vaqueiro prende o bezerro na perna esquerda da mãe, dando-lhe a impressão de que é ele a mamar, enquanto com hábeis movimentos nos dedos, simula o filhote sorvendo o leite materno. A vaca vira-se, cheira o filhote e lhe dá uma lambida de carinho, liberando generosamente o seu leite. Depois de encher o balde de dez litros, o filhote é solto e finalmente consegue mamar o seu precioso alimento.

Agora é a vez de Estrela, e o mesmo procedimento se repete. Depois, Aurora, Cintilante, Chocolate e Cappuccina, uma a uma sendo ordenhada, como de rotina. O trabalho é meticuloso, mas o vaqueiro o faz com paciência e precisão, conhecendo cada uma das vacas pelo nome e comportamento.

Após entregar o leite na cozinha, o vaqueiro pega a longa vara com um ferrão na ponta, abre a porteira do curral e sai tocando o gado rumo ao Canta Galo, onde há uma viçosa manga de pastos verdejantes, um córrego de águas límpidas e uma área de frondosas árvores que ajudam o rebanho a mitigar o forte calor sob suas atrativas sombras. Enquanto segue na estrada, montado em seu burro Ninguém, vai estalando o chicote no ar para lembrar aos animais que ele está no comando. E vai em frente, enchendo os ares com seus aboios misturando com os cantos de Bob Nelson:

Ô, ohô, ohô. Ô, ohô, ohô.

Vai o Touro Rufião

Conduzindo o seu bando,

A levar de contrabando

Sua vaca do coração.

Ô, ohô, ohô. Ô, ohô, ohô.

Meu coração já tem dona,

Ela em mim, manda e desmanda,

Mas minha é a última palavra:

(Sim, senhora, Ocê que manda.)

Ô, ohô, ohô. Ô, ohô, ohô.

Yodel-ay-hee-hoo, yodel-ay-hee-hoo,

Yodel-ay, eu tiro o leite,

(yodel-ay-hee-hoo,)

Ô, ohô, yei, ohô. Ôleriô.

O vaqueiro segue em frente, e entre uma estalada de chicote e outra, canta:

Ô, ohô, ohô. Ô, ohô, ohô.

Estrela, Mimosa, Chocolate,

Cappuccina, que beleza!

Barroso e Roncador, os bois fortes,

Ninguém, meu burro valente, que destreza!

Yodel-ay-hee-hoo, yodel-ay-hee-hoo,

Nos campos verdes, o gado vai,

Yodel-ay, nos pastos amplos,

(yodel-ay-hee-hoo,)

O gado na manga, que paz me traz!

Ô, ohô, ohô. Ô, ohô, ohô.

Yodel-ay-hee-hoo, yodel-ay-hee-hoo,

Yodel-ay, eu cuido do gado,

(yodel-ay-hee-hoo,)

Ô, ohô, yei, ohô. Ôleriô.

Quando o sol já está alto e a manga está satisfeita com o gado espalhado entre a sombra das árvores e as águas do córrego, o vaqueiro sente que é hora de começar a jornada de volta. Ele reúne a boiada e a conduz de volta ao curral. O gado marcha tranquilo, alimentado e descansado, e o vaqueiro, satisfeito com a conclusão de mais um dia de labuta, agradece a Deus pelo dom da vida, pelo trabalho e pela família que tem, sentindo-se privilegiado.

Ao chegar em casa, toma um bom banho para aliviar o cansaço do corpo e se junta à família para uma saborosa refeição: uma sopa de feijão, arroz da várzea, engrossada com carne seca e toucinho, que aquece e conforta. Juntos, à mesa, ele dá graças a Deus, e após as orações da noite, leva os filhos para a cama. Com ternura, os abençoa, e antes de sair do quarto, deposita em cada um deles um carinhoso beijo de boa noite. Com o coração pleno de gratidão e amor, ele finalmente se entrega ao descanso, renovando suas forças para o novo dia que logo virá.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 12/08/2024
Reeditado em 12/08/2024
Código do texto: T8127514
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