MEUS OITENTA ANOS

 

Oh! que saudades que tenho

Da Aurora, minha vida,

Minha mulher tão querida

Que fugiu, não voltou mais!

 

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

 

Foram tão belos os dias

Deu vida à minha existência

Cultivei-a como flor;

O amor foi um lago sereno

Foi meu céu, manto azulado,

Alimentei sonho dourado,

Minha vida, — um hino d'amor!

Aurora, meu sol, minha vida,

 

Nossas noites, melodia

Um mundo de alegria,

Vivia só para amar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

 

 

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De Aurora as carícias

E beijos toda manhã.

Naqueles tempos ditosos

Sem tempo para a zangas

Não precisava de cangas

Nossa vida era brincar

 

Aos céus eu agradecia

Rezava às Ave-Marias,

Com seu rosto sempre lindo

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

 

MEUS OITO ANOS

                               CASIMIRO DE ABREU