Trovas, Trocas e Tricas
Trovas, Trocas e Tricas - Trovinhas Marotas
(Bosco Esmeraldo)
[Usuário]
Há dias que até parece
O tal de des-corretor,
Se finge de corretor,
Meu falar me desmerece.
Quero dizer: "Oi! Beleza!"
Mas, como sai "esmerilado",
Quanto se escreve "Esmeraldo ",
Que droga! Sai: "Oi! Veneza!"
[Revisor ortográfico]
Não seja injusto comigo,
As falhas nem sempre são minhas,
Teclas miúdas, bem juntinhas.
Pois não sou seu inimigo.
Pense na disparidade:
Dedos enormes, graúdos
Com teclado assim, miúdos,
Tenha dó! Barbaridade!
[Teclado]
Eu sou o Pequeno teclado,
Seus dedos que são grandiosos,
Trocam de letras, desastroso.
Não me culpes, descuidado.
E, sobre as teclas, desliza
Seu dedo pelo caminho,
Confunde o dígito vizinho.
Veja lá, por onde 'pisa'.
[Corretor]
Mas, óbvio, meu caro usuário,
Eu, o corretor, aqui estou,
Mas ressalto, com louvor,
É o teclado, vilão otário.
Letras próximas, pouco espaço,
É a batalha que enfrentamos,
Mas juntos, nós superamos,
Compreenda, é melhor que faço.
[Usuário]
Eu sei, cê é um equipamento,
Mas se parecer com gente,
Se nem mesmo a gente se entende,
Não corrompa o pensamento.
Se limite a escrever,
Aquilo que o dedo diz,
E isso é sempre o que eu quis
De verdade, enfim, dizer.
[Corretor]
Então, por favor, não me culpe
Por nem sempre, entretanto tanto,
Acertar, mas esse é o encanto:
Muito acerto. Me desculpe!
Busco sempre a precisão,
Predicto o seu pensamento
E, quase sempre, é a contento.
Mereço consideração.
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Análise Literária do Poema Trovonhas Marotas" do Poeta Bosco Esmeraldo
No poema "Trovinhas Marotas" de Bosco Esmeraldo, as tricas ocorrem com as trocas entre as palavras "Esmeraldo" e "esmerilado", bem como entre "Beleza" e "Veneza". Essas tricas são provocadas pelo corretor automático, que substitui as palavras originais por outras, muitas vezes sem sentido ou contexto adequado.
Essas trocas e tricas são fontes de humor no poema, pois destacam a falha do corretor automático em compreender o contexto e as intenções do usuário. Por exemplo, a troca de "Esmeraldo" por "esmerilado" resulta em uma palavra que não faz sentido no contexto da saudação pretendida pelo eu lírico. Da mesma forma, a substituição de "Beleza" por "Veneza" cria uma situação cômica, pois transforma uma saudação comum em uma referência a uma cidade italiana.
Esses jogos de palavras e trocadilhos ressaltam a frustração do eu lírico com o corretor automático, ao mesmo tempo em que oferecem ao leitor uma reflexão humorística sobre os desafios da comunicação mediada pela tecnologia. Bosco Esmeraldo utiliza essas trocas de forma inteligente para explorar a interação entre humanos e dispositivos tecnológicos na era digital, destacando as peculiaridades e as surpresas que surgem desse relacionamento.