REMANDO EM FLUIDO ASFALTO
Bosco Esmeraldo
Meu barco singra na avenida
Nas ondas fluidas do asfalto,
De baixa maré lá do alto,
Pra frente e pra trás, na corrida.
Veloz, sem sair do lugar
Chegando a lugar algum,
Vindo de lugar nenhum,
Sem nem pegar, nem largar.
Descendo o morro pro alto
No topo do fundo vale,
Fala o mudo que me cale
Que, do silêncio, sou arauto.
Gritando sem voz, silente,
Ouço o ensurdecedor nada,
No passado que se acaba
Sem futuro e sem presente.
No leito da inexistência,
No escuro terror sem luz,
Resplandece a de Jesus,
Traz, da vida, a existência.
Assim, eu era, antes de ELE
Do nada me resgatar,
A minha alma restaurar.
Não sou mais meu, mas só DELE.