Até lá
Há um bom tempo venho pensando
em coisas que eu já devia ter deixado para trás,
mas que de uma forma, ainda insisto em me apegar.
eu queria me sentir melhor
em relação a coisas que nunca consegui te falar.
Mas eu não sei como.
o peso sempre vai estar aqui comigo
pra carregar.
e não tem muito mais o que fazer sobre isso.
me sinto como um cachorro velho, deitado em uma calçada
vendo o tempo passar.
Sem nada novo pra acrescentar. Só remoendo lembranças
e histórias que não fazem sentido pra mais ninguém
além de mim.
Eu sinto..
eu sinto como se houvesse uma ferida aberta na minha cabeça
como um furo
na lona de um circo.
deixando fugir
um pouco da cacofonia,
e da infinidade de vozes
e atos
ocorrendo simultaneamente
dentro de mim.
Como é que alguém pode achar algo assim interessante?
eu me pergunto muito
se eu tenho algo a acrescentar pra alguém,
no fim das contas.
algo além de ilusão,
de intensidade
e de palavras...
Já me disseram que esse tipo questionamento não leva a lugar nenhum.
Mas eu continuo pensando.
Continuo fugindo...
continuo nessa,
de não estar no mesmo lugar por muito tempo.
E eu não sei,
dona Moça,
dona Menina...
o que te faz pensar que eu seja algo diferente
de um cachorro velho
com delírios de escritor,
um beatnik uns anos atrasado,
mais boca e coração
do que razão,
sem foco nenhum
pra fazer a coisa certa...
Me salve de novo...
talvez seja destino
talvez não.
Vai saber se eu ainda consigo em acreditar em algo assim.
Eu vou embora,
mas antes eu ficou mais um pouco,
só pra dar tempo de você ler tudo,
e pensar um pouco mais.
Se quer um conselho,
eu vou dizer
que as ladeiras vão estar no mesmo lugar
ano que vem,
e nos outros que vão se seguir,
e eu vou estar escalando as mesmas ruas
as mesmas pedras polidas
e as mesmas calçadas,
até que não sobre mais frevo
até que não sobre mais poesia
dentro de mim,
até lá,
persisto no erro.
do seu,
R.