Nos dias de malditos dias no escuro

Nos dias de malditos dias no escuro,

a minha visão fora do claro...

à noite enfurece, o dia queimava,

o corpo cansado, dor no músculo;

nas sombras pensando em passo vago,

tudo em volta, tudo que odiava.

Sumindo, paranóia à janela,

vivendo dentro d'um pesadelo,

na parede o reflexo sem ver;

alma fria no que toca congela,

pesados olhos, sujo cabelo,

sempre em pé ou deitado á sofrer.

Sede por algo forte, se ruir

para sentir o próprio desgosto.

És dias de calados sentimentos

em tormentos seguia sempre ruim,

interno vivendo dentre o esgoto,

que sujei-me comendo excrementos.

Sem conseguir pensar nem andar,

o cheiro forte em minhas narinas;

novamente sangue em meu nariz,

eu próprio estava à me atormentar...

As mãos eram minhas assassinas

e na pele marca a cicatriz.

De quando fiquei sem os meus olhos,

– Não olhe para mim, sou diabólico,

que só desejo apodrecer morto.

Meu copo secára nesses solos

talvez todo esse tempo, um eufórico

e na lãmina fria via conforto.

Vida em que as telas tem tom cinzento,

irei me poetizar pela sede

até qu'o que me pinta se apague.

Com linhas desenhando o momento;

meu sangue manchado na parede,

em tons de ódio tudo se esmague!

Que seria minha última arte.