A empatia na clínica psicanalítica infantil
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” (Carl G. Jung)
Partindo desse pensamento de Jung é possível refletir um pouco a respeito da clínica infantil e dos clientes coadjuvantes no processo psicoterápico.
Lidar com pessoas envolve muito mais do que conhecimento de técnicas e conceitos, não estamos lidando com uma matéria inerte. Do outro lado está um ser vivo com emoções, história, traumas, pensamentos e atitudes, as quais variam de pessoa para pessoa. Para atender esse cliente precisamos primeiramente neutralizar nossas opiniões, preferências, desejos e emoções de forma que possamos apenas ver a nossa frente uma alma que precisa de ajuda. Para que esse trabalho seja feito tem que haver uma conexão energética (se assim podemos chamar) precisamos sentir o outro, estar aberto para entendê-lo e utilizar a atenção flutuante, na qual os inconscientes se comunicam e acontece a alquimia. Nosso papel é ser uma ferramenta/um brinquedo que ajuda o indivíduo a solucionar o seu problema e para isso é necessário ter empatia.
Diante disso, no setting analítico entramos no mundo lúdico da criança criando uma ligação de confiança. As informações obtidas vão completando o quebra-cabeça do psicodiagnóstico e nosso papel é entender como ele funciona e se relaciona com o meio em que o indivíduo está, pais, irmãos, família, amigos, escola, casa e rotina. Em paralelo não podemos deixar de entender a rotina dos pais e o contexto familiar em que o indivíduo está.
Os pais têm papel colaborativo na terapia das crianças e informações devem ser compartilhadas de maneira que eles entendam o esse papel, visto que, a maioria dos casos o problema começa em casa. Atualmente, no ritmo frenético da vida os valores mudaram do verbo “ser” e para o verbo “ter”. Cada vez mais a criação das crianças é delegada a terceiros, cada vez menos os pais têm tempo qualitativo com os filhos, cada vez mais as pessoas são abduzidas pelo mundo virtual e seus apps e menos espaço para as crianças em suas vidas.
O conhecimento e as técnicas nos darão suporte para compreensão do contexto e apontarão o caminho a seguir, mas o manejo da terapia pertence ao mundo subjetivo, único com cada indivíduo e humanizado.
O psicanalista tem a responsabilidade de acolher os pais com empatia, pois muitos deles chegam à clínica se sentindo culpados e desorientados. Quando os desafios residem no ambiente familiar, é crucial orientá-los a buscar psicoterapia para abordar as questões inconscientes que frequentemente são projetadas de forma inconsciente sobre a criança, impedindo-os de ter clareza sobre esses aspectos.
De acordo com a teoria freudiana, o ser humano é movido pelo inconsciente, o qual é alimentado pela absorção de todos os acontecimentos desde o momento da concepção até o fim da vida. Como resultado, os filhos recebem uma grande carga de influências das experiências introjetadas pelos pais, perpetuando esse padrão de geração em geração. Através da psicoterapia, é possível interromper esse ciclo e promover uma maior consciência das ações do dia a dia.