a(MORTE)amo
A rainha do gelo, submersa em seu mundo psicodisléptico, lembrando um relógio de Escher, sempre descendo em espiral para a loucura. Sustentando seu demasiado gosto por filmes de terror (afinal, tudo quanto mais trash, melhor!), delirando em sua coleção de A Nightmare on Elm Street, com suas manias, seus hábitos, seus medos...
Nos conhecemos numa festa black metal. Iniciou-se por oscilação dos ânimos, uma conversa conspícua sobre Igrejas Góticas e a invasão dos Godos ao Império Romano; ele cruzava as mãos sobre o peito, da forma como posavam os faraós mortos em seus sarcófagos. O comecei a perceber... Vestia uma jaqueta de couro. Lábios suculentos. Comecei a desejar provar do seu gosto.
Eu gosto dos olhos tristes, dos caras malvadões, das bocas cheias de mentiras bem-intencionadas, do gosto rock’n roll, da barba por fazer...
Eu não estou buscando um rosto novo, eu não estou fugindo daquele fantasma, mas se o se personificasse não teria outro destino senão seus braços. Fortes braços.
Tudo foi rápido demais, não consegui pedir para parar. Eu sabia que precisava me precaver. Mas ele avançou vorazmente, conheceu todos os meus defeitos, qualidades (raras, mas existentes), soube dos meus pecados e vaidades, meu tendão de Aquiles, e todas as partes, mesmo aquelas em que o sol não encontra espaço.
Olhos azuis quilométricos, o fantasma de sua saliva ainda me segue. Vive na minha sombra. Não encontro outro para substituí-lo. E nos tornamos inimigos. Um perfeito inimigo.
Eu estou buscando algo que sou incapaz de alcançar. Meu fantasma, por onde você anda?
Recordo a busca por pedacinhos de amor delirante dentro da sua camisa, deslizando sobre o seu peito, sua barba roçando meu pescoço, seu cabelo enroscando no meu.
No entanto, nem sempre as coisas ocorrem como se quer. Você tem sua vida e eu sigo com os restos da minha. Não me dignifica. Me tortura. Eu não queria que fosse dessa forma, sinto tanta sua falta, corrói o meu peito; sinto falta dos seus beijos, realmente, o diabo deve viver em seus lábios. Mas não há, a oportunidade passou. Simples assim, contente-se poor little dumb girl!