Presa-zumbi
Eu me policiei para não me entregar por inteira, mas já estava envolvida demais. Ele me contava o quanto estava decepcionado, ferido, se sentindo abandonado e eu, começava a entrar em sua hipnose. A cada segundo, ele invadia mais e mais a cerca delimitadora. O não ultrapasse lhe soava como um convite.
Eu tentava ser fundamentalista, tentava raciocinar, mas a velocidade com que avançava me deixava tonta, desorientada. Eu queria ser metade naquele momento para não apodrecer o todo, mas já estava contaminada.
Tentava me recobrar, mas já estava em sua boca como uma presa se debatendo, tentando se salvar. Eu não queria me perder, mas já estava perdida.
Então, me sentindo como barata sendo atacada por uma vespa, com um coquetel poderoso de veneno acertando o cérebro, bloqueando o neurotransmissor octopamina, passei a perder meu livre-arbítrio, me tornei incapaz de lutar ou fugir, apenas obedecia aos seus comandos. Assim, fui arrastada para sua toca subterrânea, uma presa-zumbi em sua cova.
É tão cruel, seu passatempo favorito é torturar e afogar. É tão perturbador não conseguir escapar e se ver emaranhada nas teias de uma aranha. É certo que, cedo ou tarde, iremos matar sua fome.
Mas então, ao se cansar, quando o parque não mais o diverte, apaga a luz e sai do quarto. Eu, arrasada por minha fraqueza, embriagada, tentarei, vértebra por vértebra, me levantar.