Cinnamon Girl e sua satisfação vicária
Não sou do tipo que gosta manifestar qualquer ínfima expressão de sentimento, prefiro mergulhar em águas frias do Pacífico. Sobretudo, águas congelantes e escuras. Sobre confissões, prefiro elucubrar, olhando para paredes álgidas e sem cor. Ou pelo menos num tom: branco. Feito camisa de força. Feito manicômio. Feito lembranças embrulhadas em álcool.
Sabemos o quanto tudo isso é confuso. Você tenta me expulsar, mas eu sempre acabo voltando feito uma parasita, que precisa de algo para sobreviver, feito um demônio em busca de uma vítima. Em busca da possessão.
Eu tento, inutilmente, me desprender, mas é como um fio que segura e separa. Que sustenta e desampara. Uma linha tênue, como uma parede que separa o calor e o frio. De que lado estou?
Saio de cada “encontro” sempre com bagagem, às vezes, uma coleção de palavras que se descarregam desesperadamente no papel, outras com uma ligação cerebral a mais, já em outras, insanidade a menos e satisfação vicária conformada nas sombras.
– Aqui, o silêncio parece durar horas, dias, meses, anos! Eu pensei comigo mesmo, mas a minha boca não consegue segurar o que se passa na mente e exclama enquanto reclama: – Preciso fugir dessa sala, cada dia a mais tem cheirado a doces e mortes.