A garota mais fria do Recanto
Aos poucos vamos conhecendo-nos, uns mais, outros menos. Assim vou me aproximando, deixando aproximar, me desnudando, mesmo estando com um grosso e longo casaco, fortalecendo a coragem de ver se, realmente, há monstros no armário.
Não apenas estou me dirigindo para longe da minha antiga vida, e, entrando em uma versão distorcida, como aquela gerada em um salão de espelhos. Também vim trilhando um longo caminho, por isso, detestaria voltar de mãos vazias. Espero ter algo para com o que eu possa me amarrar, nem que seja ao pescoço.
No entanto, não espere lhe compensar com flores secas, recordações de séculos atrás, mãos ociosas, botões e travessuras, nem tencione uma estranha beleza, feito uma pintura de guerra. Apenas, como um prisioneiro no corredor da morte, com direito a uma última refeição especial, escolho deliciar-me neste mundo, antes de ir para a cadeira elétrica.
Eu sou fascinada pela beleza humana e tudo que, em si, envolve. Todavia, tão pouco serei um rato apaixonado por uma cobra. Não o convidarei a conhecer quão escuro pode ser o meu porão, e tão pouco expor minha fraqueza, meu tendão de Aquiles, pois, já é certo, você poderá ser mais nocivo do que o nascer do sol.
Então, aqui, recebo as boas-vindas, assim como desejo vida longa a todos. E, como dissera Voltaire, “aos vivos nós devemos respeito, mas, aos mortos, devemos somente a verdade”, e, então, como já aconselhou Debra Winger, cuide-se ao aproximar, “chegando assim tão perto da morte, você será beijado”.
Diretamente do meu submundo, numa sexta-feira 13,
Alais Rockenback Cancellier.