ALICE, E O INUSITADO REENCONTRO DELA COM A SUA FÉ .

Livro número 1.

De: Isaías Amorim.

ALICE, E O INUSITADO REENCONTRO DELA COM A SUA FÉ .

Primeira parte:

Aceite o convite para entrar comigo no túnel do tempo e retroceder ao dia dezessete de fevereiro de 1992, mais especificamente às 6h35min da manhã.

Agora já estamos na varanda da imponente residência de Alice, enquanto ela dorme profundamente.

Logo ouviremos o estridente toque do alarme do relógio que irá despertar a protagonista.

vamos entrar na casa e ver o que se passa lá dentro:

Os filhos de Cristiano e Alice, Mozart e Georges, repousam tranquilamente em seus leitos, embora imersos em uma leve frustração por terem que ficar duas longas semanas sem seus pais.

No quarto seguinte, encontra-se a jovem Cecília, dezenove anos.

Se pudéssemos testemunhar a beleza infinita que Cecília exala, mesmo em sono profundo, certamente ficaríamos por horas em contemplação extasiada.

Entretanto, bisbilhotar a privacidade alheia é algo totalmente inaceitável . Por isso, devemos seguir adiante e narrar os eventos importantes que estão por vir.

É chegada a hora de adentrarmos o quarto de Alice, onde tudo está em ordem para a grandiosa viagem que se avizinha: malas, passaportes, reservas de hotel e todos os acessórios indispensáveis para o sucesso desta viagem.

Alice dorme placidamente, confiante de que, ao despertar, encontrará um dia ensolarado aguardando-a do lado de fora.

De fato, essa conclusão é evidente, uma vez que o casal está celebrando os dez anos de casamento: são as Bodas de Estanho.

Por isso, Alice está certa de que Deus lhe concederá seu pedido, pois é uma pessoa extremamente religiosa que orou e jejuou durante um mês, pedindo ao Altíssimo uma bênção em sua data especial.

Apesar das duas semanas consecutivas de chuvas torrenciais que haviam assolado toda a região, Alice acordou com um dia ensolarado ao som das badaladas das sete horas.

Levantando-se da cama, ela se ajoelhou no tapete e agradeceu a deidade, como fazia todas as manhãs, antes de tomar um banho refrescante e partir para o seu emprego remunerado.

Olhando pelo vitral de seu banheiro, ela confirmou que o dia estava realmente tão bonito quanto imaginava.

Ao sair do banho, Alice encontrou seu marido no corredor segurando duas xícaras de café. Entregando-lhe uma xícara e sorrindo para ela, porém, quis saber:

-- O que você fez para o dia nascer tão bonito desta vez, meu amor

Alice respondeu, tentando não parecer muito orgulhosa explicou ao marido:

-- Não fui eu, foi deidade quem nos presenteou com este dia, graças à nossa fé inabalável, meu amor!

Ela recebeu um abraço caloroso e um beijo de seu amado marido.

Cristiano reconheceu que não esperava que o dia estivesse tão bonito, mesmo quando ela lhe afirmou que Deus nunca os desapontaria. O marido não tinha tanta fé em deidade quanto Alice gostaria que ele tivesse. Ela segurou a mão dele e disse:

-- A Palavra de Deus diz que uma mulher sábia santifica sua casa.

Ela tentou explicar que orava pelo bem-estar de toda a sua família.

Cristiano pacientemente explicou que a frase correta é:

-- Uma mulher sábia constrói o seu lar.

E que Alice estava fazendo um excelente trabalho a este respeito. Ele disse que uma mulher sábia torna sua família maravilhosa, com todos se amando e seguindo a vontade do Todo-Poderoso, o que é o caso da nossa família.

O marido disse que ela é maravilhosa, e que foi o seu maior investimento, afirmou que seus filhos eram bem-educados graças a ela, e que, a esposa é uma excelente mãe, esposa e pessoa.

Depois que Cristiano disse isso abraçou afetuosamente, e a beijou com paixão. Naquele momento, a esposa sentiu-se a pessoa mais amada e feliz do mundo. Ela segurou as mãos do marido e disse:

-- Estou tão feliz que você recitou essas belas palavras que toda mulher gostaria de ouvir do seu companheiro, especialmente em uma data como a de hoje, uma comemoração muito especial para nossa família. Obrigada por você existir, meu amor. Deus e minha família são minha vida, e se eu algum dia perdesse vocês, eu não teria força nem a vontade de viver, e a vida não teria significado algum para mim.

De repente, no meio dessa frase Alice começou a chorar. Cristiano, sem entender o que ela queria dizer a confortou com outro abraço e disse muito carinhosamente:

-- Alicinha, nada neste mundo vai te deixar triste, você confia tanto na sua deidade; é a última pessoa neste mundo que mereceria chorar...

A mulher, em um estado de grande comoção, confirmou com um movimento da cabeça que sim, mas, estava tão tensa que nem conseguia articular palavras sensatas. Parecia que ela tinha uma premonição que algo ruim estava prestes a ocorrer.

Percebendo que sua amada não estava bem, Cristiano interrompeu seus pensamentos e disse-lhe com amor:

-- Por favor, não profira essas falas incoerentes. A sua deidade a ama profundamente e nós também a amamos, e você sabe muito bem disso! O Onipotente já mostrou que está ao seu lado... Observe como o dia está magnífico! É como se fosse um milagre ter parado de chover! Dá a impressão de que até a natureza se esforça incessantemente para agradá-la em tudo o que você almeja, e necessita.

Cristiano apontou para a janela da sala, de onde a luz da manhã entrava, e estava testemunhando todo o amor que este homem tem por sua esposa. Ele até imaginou que os raios do sol sorriam jubilosamente, como se fossem uma felicitação da natureza ao amor que sentiam um pelo outro. Alice olhou na direção indicada pelo marido e disse com ternura:

-- O dia de hoje é o mais feliz de minha vida até aqui. Tenho tudo que necessito para ser feliz: Deus e vocês, minha família querida e minha irmã, que se encontra conosco. Sinto-me alegre em poder receber a menina com conforto e solidariedade neste momento difícil em sua vida .

Os olhos dela irradiavam felicidade e alegria. Cristiano tomou suas mãos com todo o afeto do seu coração e disse com emoção:

-- Alice, eu amo você, e nossa família com todas minhas forças.

O casal parecia pairar nas alturas, envolto por um momento mágico, banhados apenas pela luminosidade daquela tão linda manhã.

Porém, mesmo com todo o afeto em cena, Alice o interrompeu delicadamente:

-- Meu querido, você se esqueceu de declarar o seu amor a Deus, o qual deve estar sempre em primeiro lugar.

Cristiano prontamente reagiu:

-- Não, eu não me esqueci não, Eu amo vocês, minha família em primeiro lugar, mais que qualquer outra coisa! Eu nem sei se a Divindade de fato existe, pois não há evidências concretas da existência de Deus! Talvez ele seja apenas um conceito pelo qual medimos a nossa dor!

A esposa de Cristiano, por outro lado, defendia que Deus deveria sempre estar em primeiro lugar em nossos pensamentos e ações. Porém, o marido enfrentava dificuldades para refletir profundamente sobre a divindade. Ele valorizava mais as pessoas que estavam presentes em sua vida, as quais ele podia interagir: enxergar, tocar e sentir. Se o Todo-Poderoso de fato existisse, Cristiano acreditava que a divindade desejaria que as pessoas cuidassem umas das outras e se amassem reciprocamente, essa seria a postura que ele adotaria, caso fosse ele mesmo a figura do próprio Deus.

As palavras de Cristiano deixavam sua esposa em um estado de desespero e apreensão, visto que ela acreditava firmemente que seu marido estava sendo gradualmente influenciado pelo rock, um gênero musical que ele sempre apreciou desde a juventude, especialmente as músicas do renomado cantor ateu John Lennon, conhecido por suas opiniões anticlericais.

Ela acreditava que a devoção no Todo-Poderoso deveria ser a principal prioridade na vida de seu marido, pois, o Altíssimo é a fonte da existência humana e o Pai amoroso que governa o universo com toda sabedoria e justiça.

Em contrapartida, Cristiano contestou as opiniões da esposa, afirmando que, por ser eterno e onisciente, a Divindade não necessita das pessoas para nada, e as pessoas precisam apenas umas das outras. Ele argumentou ainda que a única pessoa que parecia estar sendo agraciada por Deus em sua vida era própria Alice, já que, aparentava que a divindade estava disposta a mover céus e terra apenas para satisfaze-la.

Tentando se redimir com a esposa, Cristiano citou uma frase alegando ser um ensinamento de Jesus, salientando que a maneira mais eficaz de demonstrar amor ao Senhor que está no céu e não pode ser visto fisicamente, é amando e servindo o próximo, ou seja, os irmãos e irmãs que estão ao nosso lado no dia a dia lutando cada qual por suas vidas e estão precisando da nossa ajuda e de nosso amor.

Alice concordou apenas com algumas partes deste ponto de vista do esposo, mas também expressou sua opinião de que discutir e refletir sobre as coisas de Deus é uma tarefa importante que deve ser realizada em qualquer circunstância. O marido preferiu deixar para resolver esse ponto de vista dessa passagem da Bíblia em o um momento mais adequado.

Como o tempo estava se esgotando, ela explicou ao marido que ainda precisava acordar a Cecília para repassar mais detalhes dos horários, também das roupas e tudo mais para a festa.

Ao ouvir isso, Cristiano se despediu da esposa, prometendo aproveitar bem o dia de folga que ganhou como parte dos presentes de dez anos de casamento juntos.

Ao término da fala de Cristiano, ele já estava totalmente despido no banheiro, enquanto Alice se encaminhava para seu quarto para se vestir. Logo após, dirigiu-se ao quarto de sua irmã mais nova, despertando-a e recebendo um forte abraço de Cecília, que, com o mais brilhante sorriso que Alice já havia visto, congratulou-a por seus dez anos de um casamento perfeito.

Porém, logo em seguida, ao mencionar o fim prematuro de seu próprio casamento, que não durou nem dez meses, a alegria de Cecília foi ofuscada pela tristeza, que transpareceu em seu semblante.

Ao mencionar tal fato, uma lágrima escapou dos belos olhos grandes e verdes da jovem mulher infeliz. Alice, com um lenço de papel, delicadamente interrompeu o passeio da lágrima que atravessava o rosto de Cecília, deixando a pele aveludada e clara da irmã com um tom suave de vermelho quase rosado.

A mais velha abraçou a caçula, transmitindo um gesto carinhoso que sugeria uma conexão íntima e verdadeira entre as duas.

O silêncio que as envolvia era tão poderoso quanto qualquer outra forma de comunicação. Nenhum poeta ou escritor poderia descrever a intensidade daquele amor, pois era algo que ultrapassava os limites da linguagem. E assim, as irmãs permaneceram em silêncio, imersas na contemplação mútua e na entrega uma à outra.

Foi então que Alice rompeu o silêncio com palavras de conforto:

--Um dia, o Pai Celestial vai lhe conceder uma pessoa maravilhosa e o colocará em seu caminho. O Antônio não era uma boa pessoa para você. Ele era muito ciumento e possessivo. Foi o Todo-Poderoso quem a livrou dele. Se você começar a orar três vezes por dia, de manhã, à tarde e à noite, jejuar pelo menos uma vez por mês e levar a religião mais a sério, eu tenho certeza de que o Papai do Céu, o mais rápido o possível, vai lhe abençoar com um companheiro que a ame de verdade, um marido bom que lhe mereça, um homem que lhe faça muito feliz, uma pessoa que faça a vontade de Deus, não um sujeito malcriado como aquele que, somente, lhe fez sofrer! Cecília, eu tenho certeza de que, no final, tudo vai dar certo. Então, não se preocupe, está tudo bem agora? Preocupar-se é, na verdade, uma demonstração de falta de confiança no Onipotente! Você já sabia disso, menina?

Perguntou, ao olhar nos olhos ainda úmidos de sua querida irmãzinha, Alice transmitia confiança, inspirando a caçula, que, mesmo sem ter a mesma fé que a irmã mais velha, acreditava em cada uma de suas palavras. Cecília admirava a sabedoria da irmã, e tentava seguir seus passos na fé. Apesar de também ser católica, não praticava muito os dogmas da igreja, e sua mãe costumava dizer que ela "fazia muitas coisas erradas". Mais tarde, era o padre João Fernando que repetia as mesmas palavras para a Cecília.

Com uma expressão mista de gratidão, carinho e amor, Cecília retribuiu o carinho da primogênita, agradecendo-lhe por sempre se preocupar com ela desde a partida de seus pais há quatro anos, tornando-se como uma mãe perfeita para ela, mesmo tendo apenas agora vinte e sete anos.

No entanto, ainda que Cecília tivesse se mantido em silêncio, a eloquência de seu olhar já havia sido suficiente para expressar seus sinceros sentimentos de gratidão, admiração à Alice, orgulho e respeito pela primogênita

No momento seguinte, ao observar os ponteiros do seu relógio de pulso, Alice se sobressalta com a constatação do seu atraso e, em tom incisivo, justifica a sua decisão de acordar Cecília, enfatizando a importância de que tudo seja feito corretamente desta vez, em conformidade com as suas instruções anteriores já bem combinadas.

-- Eu só lhe acordei, minha linda irmãozinha, porque tenho que explicar tudo em detalhes, de novo. Para que você não faça as coisas erradas, mesmo porque parece que você nunca presta muita atenção no que eu lhe digo e faz tudo sempre de maneira bem diferente do que eu lhe peço. Acordei você porque dessa vez exijo que tudo seja exatamente como eu já lhe disse ontem, entendeu?"

Ela prossegue, expondo as suas expectativas de que tudo esteja perfeitamente preparado para a festa que se aproxima:

-- "Gostaria que você preparasse tudo para mim, já que quando eu chegar, gostaria apenas de tomar um belo banho, depois vestir a roupa da festa e sair rapidamente. Quero que todos cheguemos juntos na comemoração, que está programada para começar às 19h em ponto. Não quero deixar os convidados esperando. Eles pagaram toda a festa e ainda vão preparar tudo como um presente para nós. Então, não acho justo deixá-los esperando como bobos. Você concorda comigo nisso, ao menos?

Por sua vez, Cecília, com seu jeitinho encantador, faz um biquinho com os lábios, manifesta sua vontade de preparar tudo de uma forma mais especial para a família de sua irmã.

No entanto, Alice se antecipa, deixando claro que já havia explicado tudo anteriormente e que a caçula deveria seguir suas instruções à risca desta vez.

Após dar um beijo na testa de Cecília, a primogênita segue em direção ao quarto de seus filhos, beija suas bochechas e faz o sinal da cruz antes de se dirigir à porta da frente, percorrendo os quase quinhentos passos até o portão e novamente fazendo o sinal religioso.

A residência de Alice está em um local ermo, onde se encontra cercada de árvores que abrigam pássaros de variadas espécies, cujo canto ressoa pelos arredores. Desde sempre, a família dela habitou em espaço permeado por jardins vastos e pequenos animais silvestres. A sua casa foi recebida como herança de seus padrinhos de batismo, que, por sua vez, concederam tal bem com intuito de perpetuar a tradição e a história da família da nossa protagonista.

Ao entrar na empresa, ela demonstra um estado de contentamento incomum, a ponto de parecer que flutuava ao caminhar. Seu gesto de fazer o sinal da cruz não passa despercebido aos olhos das colegas de trabalho, que prontamente a cumprimentam pelas Bodas de anos.

Ao recebê-la, seus colegas presenteiam-na com um ramalhete de rosas vermelhas e brancas, acompanhado de um cartão em que parabenizam-na por ser uma pessoa magnânima, incentivando-a a continuar a ser uma influência positiva a todos eles.

Desde que iniciou suas atividades nessa nova empresa, há oito meses que Alice trabalha nessa empresa, seus colegas de trabalho perceberam que o ambiente de trabalho tornava-se mais aprazível quando Alice estava presente, sobretudo, à aura de serenidade e benevolência que ela emana. Em sua presença, não há espaço para atitudes grosseiras ou violentas; ela parece representar uma espécie de santidade aos olhos de todos. Tamanha luminosidade é ainda mais acentuada no dia de hoje, de modo que os funcionários da empresa, cujo tamanho é bastante considerável, disputam para ficar ao seu redor por alguns instantes. Algumas pessoas sentem que estão em paz simplesmente por estarem perto dela.

Outros se satisfazem pelo privilégio e pela alegria de estarem em contato com alguém que transborda felicidade e bem-estar.

Há uma semana, Alice solicitou ao seu superior hierárquico a possibilidade de antecipar sua saída do trabalho em duas horas, posto que ela necessitava dirigir-se a um cabeleireiro a fim de modificar um pouco sua aparência.

Enquanto aguardava o ônibus, que estava com um pequeno atraso, a mulher expressava crescente contentamento.

Porém, a ansiedade que a acompanhava e aumentava a cada instante. Alice havia marcado um horário com a sua cabeleireira preferida para realizar um penteado que se assemelhava a uma escultura, sob sugestão de sua irmã, a qual havia lhe convencido a fazer algo apropriado para tal ocasião especial, ainda que ela não fosse particularmente vaidosa. Alice também desejava estar linda para esse dia tão importante para sua família. Entretanto, ao se aproximar do salão de beleza, ela constatou que as portas se encontravam fechadas, e seu semblante imediatamente descaiu. Por um breve momento, ela cogitou a possibilidade de que pudesse ser uma brincadeira boba, porém, logo retornou à realidade. Havia um bilhete afixado em um painel que dizia:

“Desculpem-me, mas tive que ir ao médico, emergência. Não volto mais hoje, peço mil desculpas, Assinado: Célia.”

Ao ler essa mensagem, pensou em retornar imediatamente para casa sem um penteado ideal. Posteriormente, considerou que não poderia comparecer ao evento "como uma mendiga". Ela expressou em voz alta:

-- Depois de tudo o que Deus me providenciou!? Até parar de chover Ele fez por mim! Minha família merecia muito mais dedicação de minha parte! O pessoal da igreja está trabalhando tanto! E eu não vou me arrumar direito para eles? Isso não vai acontecer! Não acho isso justo!

Então, ela teve uma ideia que mudaria o rumo do seu dia. Na verdade, sua ideia era óbvia e ela decidiu procurar por outro cabeleireiro.

De repente, agradeceu ao Espírito Santo, por achar que Ele a inspirou a ter essa ideia e fez o sinal da cruz e partiu em busca de outro salão de beleza.

A despeito de sua confiança, estava ansiosa e seu semblante logo evidenciou seu verdadeiro estado de espírito. No entanto, ela sabia que no final tudo daria certo para ela, e pensou em seu íntimo: "meu Pai, estou em suas mãos". Andou apenas um pouco e prontamente avistou outro salão, mas, havia uma cliente que estava em processo de realização de um penteado que demandaria muito tempo para ser finalizado. Mesmo assim, decidiu esperar. Ela calculou que isso poderia acarretar em um atraso superior a meia hora.

Porém, já havia tomado a decisão e repetia baixinho somente para si mesma e para sua fé:

-- Tudo vai dar certo! Um grande salto do ponteiro do relógio da Humanidade é apenas um pulinho para o relógio do Papai do Céu.

Ela sorriu radiante assim que seu penteado ficou pronto, deixando o cabeleireiro extasiado diante da obra de arte que havia criado. Pedindo um breve instante para capturar o resultado do seu trabalho, o profissional se deparou com algo ainda mais belo do que o próprio penteado: o semblante dela parecia iluminado por uma felicidade incontida.

No entanto, Alice estava bem atrasada, ansiosa e feliz ao mesmo tempo, e pediu desculpas pela pressa ao cabeleireiro, explicando rapidamente que não poderia deixá-lo fotografar o seu penteado, pois O Senhor dos céus, sua família, amigos e convidados a aguardavam com expectativa para a celebração.

Ao ouvir isso, o cabeleireiro, em um gesto desesperado, saltou à frente dela e lhe ofereceu para fotografar em dois instantes, enquanto ela efetuava o pagamento. Com a foto finalmente registrada, Alice pagou pelo serviço do talentoso cabeleireiro e saiu apressadamente do salão, ciente de que havia subestimado o tempo necessário para se preparar; ela nunca foi muito boa em medir as horas.

Ao descer do ônibus em frente a uma pequena e antiga capela, Alice refletiu por um momento sobre a possibilidade de não parar exclusivamente para agradecer a Deus naquele local. Sempre que encontrava lugares sagrados como esse, ela fazia suas preces e se referia carinhosamente a eles como "as casinhas do Papai do Céu". Alice acreditava que esses lugares eram construídos com muita fé pelos cidadãos, para que outras pessoas pudessem entrar e conversar com o Pai do céu, mesmo que estivessem com muita pressa, já que para Ele, um minuto é uma eternidade.

Embora essa prática sempre atrasasse seus acompanhantes e a frustrasse, a expressão "vou ter uma conversinha íntima com o Todo-Poderoso" era muito importante para Alice, pois lhe proporcionava um momento de profunda devoção e reflexão.

Ao entrar na capela, Alice ajoelhou-se rapidamente em total reverência, fez o sinal da cruz e dedicou uma oração profunda e sincera a Deus. Expressando sua gratidão por todas as bênçãos recebidas e pela saúde de sua família, ela também agradeceu pelas adversidades enfrentadas em sua vida, pois acreditava que elas a fizeram crescer espiritualmente e fortalecer a sua fé. "Se Deus é justo, então tudo o que acontece com cada pessoa é justo e tem um propósito para a sua evolução", ela refletia, confiante na sabedoria e na infalível justiça divina.

Alice era uma pessoa de grande compaixão, capaz de perdoar até mesmo as falhas mais graves das pessoas, exceto quando o assunto se tratava da falta de fé delas no Todo-Poderoso. Ela não conseguia entender como alguém poderia não acreditar no Pai Eterno, uma vez que acreditava que as pessoas precisavam muito Dele, e não o contrário. Para ela, a falta de fé era um obstáculo muito grande para a misericórdia divina, que é o que verdadeiramente salva o homem.

Acreditando que o Senhor era justo e infalível, Alice também acreditava que os problemas que as pessoas enfrentam são testes divinos, e que tudo seria para o seu próprio bem ao fim das contas. Na visão dela, o Todo-Poderoso está acima do bem e do mal, e a maior bondade é a Justiça Divina. Ela tinha uma fé inabalável de que tudo o que Deus faz, fez e fará no futuro é certo e correto. Alice era tão convicta em sua fé que chegava a afirmar que aqueles que não pensavam como ela simplesmente não entendiam os desígnios do Senhor.

Embora mantivesse a crença de que a vida possuía uma simplicidade intrínseca, pautada em visitas à igreja, orações, confissões e súplicas ao Divino para obter suprimentos necessários, ela tinha consciência de que o tempo despendido em orações era um recurso precioso, que jamais seria desperdiçado pelo Onipotente. Por isso mesmo, ela ansiava por uma breve pausa de apenas cinco minutos, entretanto, o que deveria ser uma oração rápida, estendeu-se por uma hora inteira. Tal comportamento se explicava pela sua convicção de que Deus jamais imporia aos seus filhos fardos que estes não pudessem suportar, o que lhe permitia manter uma serenidade interior sem igual.

Ao caminhar pelas calçadas em direção à sua família, ela se mostrava ainda mais decidida e confiante em sua fé. Ela amava música clássica e, ao tentar, sem sucesso algum, assobiar a Quinta Sinfonia de Beethoven, imaginava o que seus filhos estariam fazendo em casa naquele momento. Embora esperasse encontrá-los ouvindo rock'n'roll ao som nas alturas, percebeu que o som estava desligado ou bem baixinho, o que a fez questionar se algo de bom, algo bem especial havia acontecido em sua casa naquele dia. Alice tinha uma intuição muito forte, o que levava algumas pessoas a acreditar que ela podia ler os pensamentos do Todo-Poderoso.

Em suma, Alice era uma mulher de uma fé inabalável e de grande compaixão, que acreditava que Deus estava presente em todos os aspectos da vida. Sua crença em uma justiça divina a ajudava a manter a paz interior, mesmo diante dos desafios mais difíceis da vida.

Então, a mulher que conhecia bem sua família decidiu por si mesma:

-- "Eu já sei! Eles me viram e desligaram o som! Então, quando eu abri a porta, Serei eu quem os surpreenderei! Eu os assustarei! Abrirei a porta lentamente para não fazer barulho e, em seguida, vou gritar com toda a minha força!

Apesar de estar bem atrasada, ela estava alegre e queria se divertir.

Ela pensou consigo mesma:

-- Embora compreensível seja que as personalidades mais notáveis da festa possam enfrentar pequenos imprevistos em sua chegada, a expectativa por sua presença pode acrescentar um toque de sofisticação e requinte, semelhante ao que muitas vezes é digno de um enredo de novela. Não tenho dúvida de que Cecília, que tem um apreço por tais elementos, ficaria maravilhada com tal comentário meu."

A mulher, agora brincalhona e feliz, abriu a porta lentamente até a metade e, subitamente, empurrou a porta com vigor, soltando um grito ensurdecedor. Alice ficou paralisada na porta, petrificada. Com os olhos fechados, desejava que aquilo não fosse real.

Ela sempre acreditou que Pai do céu atenderia prontamente seus pedidos, mas agora havia pedido e não recebia. Ela tinha perdido muito. Fechar os olhos era uma reação natural diante da cena horripilante que havia presenciado. Mas quando os abriu novamente, viu sua família inteira morta. Seus filhos estavam amontoados como se fossem lixo, esperando para serem levados ao depósito. Cada um tinha uma perfuração na cabeça causada por arma de fogo, arruinando seus penteados. Os penteados agora não tinham mais importância alguma. Ela aceitaria tirar fotos sem se preocupar com os cabelos dos meninos se tudo isso não fosse verdade, mas agora não tinha futuro para eles. Eles nunca se casariam, não haverá mais fotografias, alegrias ou qualquer outra coisa. Fechou os olhos novamente e repetiu para si mesma que isso não estava acontecendo e que haveria uma explicação lógica e correta para tudo o que parecia estar diante de seus olhos. Ela abriu os olhos novamente e foi até os corpos de seus filhos; pegou o pequeno Georges em seus braços e, com um carinho comovente, disse:

-- Acorde, pequeno Georges, acorde para a sua mamãezinha! Precisamos ir para uma festa, estamos atrasados e todos nos esperam lá.

Mas Georges não acordou. Então, a mamãe o colocou cuidadosamente filho caçula no sofá, imaginando que ele estivesse cansado demais após ela ter demorado muito no cabeleireiro. Ela prometeu a si mesma nunca mais demorar tanto lá e foi conversar com seu marido Cristiano, que estava caído atrás da poltrona favorita dele com muitos ferimentos em seu corpo. Alice segurou sua mão e disse com firmeza:

--Levante-se e ande mesmo! Vamos para a festa, você prometeu. Lembra-se?

Mas Cristiano não reagiu. Ela ficou chateada e disse:

--Não gosto quando você me ignora, seu chato.

Ela se dirigiu à sua irmã Cecília, que estava vestida com um vestido preto rasgado e "manchado de vermelho", evidenciando sinais de agressão física. Falando baixo a fim de não chamar a atenção das outras pessoas, Alice disse:

-- Cecília, Cecília, é importante que você vestir-se adequadamente. As crianças e Cristiano não devem vê-la com essas roupas. A mamãe sempre lhe pediu que se comportasse melhor. Sei que às vezes você se veste de forma provocante, mas desta vez, você exagerou um pouco. Por favor, troque de roupa e vista-se de forma mais adequada. Parabéns pelo cabelo das crianças, ficaram lindos. Você tem bom gosto estético, não acha? Nunca mais criticarei seu comportamento com pretendentes, prometo. Acho que é assim que se encontra um bom marido, "experimentando" alguns deles, mas podemos conversar sobre isso quando você estiver pronta para conversar, certo?

Como Cecília estava profundamente adormecida, Alice dirigiu-se a Mozart:

-- Mozart, Mozart, que tal colocarmos um som bem alto para animar as crianças? É por isso que estão tão calados? Vamos todos pular e gritar juntos! Eu permito!"

Como não recebeu resposta, ela ficou imóvel, como se estivesse em choque. Era normal duvidar da veracidade disso, qualquer um poderia reagir deste modo.

Ela se aproximou do corpo de sua irmã Cecília e tentou novamente falar com sua irmã:

-- Cecília, conheci um rapaz que acho que você iria gostar. Ele é muito bonito, assim como você. Acredito que vocês se dariam muito bem. Imagine como seriam lindos os seus filhos. Posso convidá-lo para vir aqui?

Como não obteve resposta, Alice voltou sua atenção para seus filhos e até se um pouco mais preconceituosa:

-- Georges, Georges, que tal trazer seus amigos da comunidade, que falam palavras feias, para brincar e pular no sofá? Não me importo mais, agora. Eu fui uma criança bem bagunceira também. Mozart, por que não aumenta o som? Eu adoro essa animação toda. Georges, fique à vontade para pular no sofá, não me importo mais. Mozart, sinta-se à vontade para comer biscoitos e sujar o sofá. Não vou mais brigar com vocês e não vou mais obrigá-los a comer legumes. A partir de hoje, vocês podem comer hambúrgueres a qualquer hora. E, Georges, se um dia você quiser tocar bateria em uma banda de rock, eu lhe apoiarei. Mas você precisa acordar agora e conversar com a sua mamãe, entendeu? Se não, não podemos fazer isso.

De repente, Alice começou a tremer e gritou:

-- Parece que vocês não estão dormindo, não é mesmo?

Agora ela começou a temer que seus olhos estivessem revelando a pura e triste verdade.

A mãe dessas crianças estava tremendo tanto que nem conseguia andar. Quando ela, novamente, chegou perto do corpo de sua irmã, Cecília, viu que ela havia sido brutalmente assassinada e violentada. Partes dos seus belos seios, foram arrancadas com os dentes, como se fossem antropófagos.

O semblante de Cecília, anteriormente radiante, agora se desfigurava em um semblante entristecido, indicando que sua beleza, anteriormente admirada, estava irremediavelmente perdida.

Não mais teria ela o poder de inspirar paixões ou incitar o ciúme alheio através de seu sorriso contagiante.

Alice, um mulher de fé inabalável, debate-se contra a difícil tarefa de aceitar a tragédia que abateu-se sobre sua família. até aquele momento, ela acreditara que Deus protegia aqueles que depositavam sua confiança Nele, todavia, naquele momento, questionava-se sobre o paradeiro do Todo-Poderoso quando seus entes queridos tanto precisavam de proteção. A dor de ter perdido a família e, junto com ela, a fé em Deus, era insuportável para Alice.

Em prantos, Alice soluçava pensando no Onipotente, e declarou que Ele nunca existiu.

Neste ínterim, ao longe, no quintal, ouviu-se gritos e palavras de ordem, anunciando a chegada de uma pessoa irritadíssima ao quintal, e não tardou a expressar sua frustração:

-- Caramba! Alice, já são quase sete horas! Todos estão esperando por vocês! Telefonaram e ninguém conseguiu falar com vocês! Mandaram que eu viesse buscá-los, caramba! Tudo bem, é legal fazer um pequeno suspense, mas demorar tanto assim é outra coisa, né? Foi combinado que vocês chegariam às seis! Precisamos respeitar o combinado! Todos sabem que é bom fazer um pequeno suspense, mas vocês levam isso muito a sério! Só vim porque não querem liberar as comidas e bebidas até a chegada de vocês, senão nem teria vindo!

Porém, ao entrar na residência e avistar Alice em lágrimas, ao lado do corpo inerte de sua irmã mais nova, o homem deu um salto para trás, tomado pelo susto:

-- Não acredito! O que é isso? O que está acontecendo aqui? Alguém pode me explicar isso?

Léo, amigo dela desde a infância, perguntou atônito, incapaz de manter-se em pé, tendo sozinho diante da cena que se desenrolava à sua frente. Alice socorreu-o, erguendo-o e assentando-o em uma cadeira. Em meio ao pranto ainda mais intenso ao ver o amigo, ela confidenciou:

-- "Leozinho, quero que você me entenda , eu não vou conseguir viver sem minha família ao meu lado. Vou acabar com essa dor insuportável causada pela ausência deles ainda hoje! Eu não tenho mais forças para sobreviver, minha vida não faz mais sentido algum. Minha família era tudo para mim, mas agora todos estão mortos, nenhum deles sobreviveu sequer para me confortar um pouco. Sinto uma dor indescritível no peito, algo que parece querer rasgar meu coração em mil pedaços, e apenas a morte pode aliviar essa dor. Somente ela pode parar essa agonia, tenho certeza disso! Quero acabar com isso agora, agora mesmo!"

o homem, quando chegou ao local, não havia feito uma observação minuciosa a fim de confirmar se aquilo que via correspondia com a realidade. Porém, agora ele o fez, e infelizmente, constatou de que tudo era verdadeiro. Em um momento de angústia, ela dirigiu-se à sua família, com lágrimas nos olhos, questionando se aquela situação era justa, já que seus entes queridos haviam sido brutalmente assassinados por tiros de armas de fogo, e sua irmã mais nova, Cecília, havia sofrido agressões tão cruéis e desumanas quanto as que foram infligidas a sua irmãzinha. Comovido, Léo tentou conforta-la, conscientizando-a de que, infelizmente, tragédias podem acontecer com qualquer pessoa, e que mesmo pessoas boas e felizes podem ser vítimas da violência urbana. No entanto, ele percebeu que não possuía habilidade suficiente para lidar com aquela situação.

Alice, em seu sofrimento, tomou uma decisão drástica, optando por se juntar à sua família no além. Desesperado, Léo tentou de todas as formas convencê-la a não cometer tal ato, usando suas palavras de conforto, lembrando-a de que ela mesma havia dito que Deus escreve certo por linhas tortas, que Ele testa aqueles que ama para ensiná-los lições profundas, e que, apesar do sofrimento, tudo deve ter um propósito justo e certo. No entanto, sua amiga, agora também ateia, interrompeu-o de forma abrupta, expressando sua descrença em divindades e sua indignação diante da tragédia que havia acontecido com sua família.

Em meio a todo o caos, uma mulher nervosa apontou trêmula na direção dos corpos sem vida que jaziam no chão, evidenciando a tragédia que ela havia vivenciado pessoalmente. Qualquer pessoa que visse a cena ficaria chocada, ao ver os quatro corpos inanimados e da conversa sem sentido entre os dois, sem nenhum sinal de ajuda iminente. Alice, porém, acreditava que não era necessário chamar a polícia, pois esperava que, em breve, estaria com sua família, independentemente do seu destino.

Léo sabia que se deixasse a amiga sozinha por um instante, ela poderia tentar tirar a própria vida. Por essa razão, decidiu apelar para a chantagem emocional. Porém, antes disso, Léo mencionou uma ...revista esotérica que afirmava haver um lugar sagrado no deserto chileno; este local inspirava poetas, músicos e filósofos e artistas, além de ajudar as pessoas a recuperar a fé perdida. Segundo o relato do Léo, algumas pessoas que haviam perdido a fé e a recuperaram nesse lugar sagrado decidiram se tornar pessoas profundamente religiosas. Ele explicou que essas pessoas afirmaram ter visto uma Deidade, anjos ou algo semelhante, e que apenas aqueles com uma alma evoluída seriam capazes de compreender a sua vontade.

Enquanto falava desses mistérios, Léo parecia muito emocionado e Alice, embora perturbada, ouvia-o atentamente. Léo implorou a ela que visitasse o lugar sagrado no deserto, mas ela parecia totalmente desinteressada neste assunto. Ele continuou a implorar, explicando que a felicidade dela era importante para ele, e pediu que ela o fizesse por amor a ele.

Léo olhou nos seus olhos e notou que ela parecia distante, quase sem vida, como um zumbi. Ele ficou preocupado com a amiga e pensou: "Será que o coração dela ainda está batendo dentro do peito dela?". Ele tentou incentivá-la, dizendo que se ela ainda sentisse vontade de morrerr depois de voltar, ele compreenderia, pois pelo menos ela teria tentado atender ao seu pedido. Léo disse que ela não tinha mais nada a perder, ou será que tinha?

Léo já estava quase chorando quando disse estas palavras. Ele retirou seus óculos de armação azul celeste, abraçou-a fortemente e sussurrou em seu ouvido:

-- Você não é apenas minha amiga, mas também minha família há tempos. Eu vim a este lugar por sua causa! Seria muito difícil para mim permanecer aqui sozinho.

Alice ficou chocada ao ouvir aquilo e exclamou:

-- "Léo, você não tem família! Você não sabe o que é perder toda a sua família de uma vez. Você não sabe o que é se sentir abandonado pelo Todo-Poderoso, ou pior ainda, acreditar em algo que não existe, como um tolo!". Retrucou Léo:

-- Não tive uma família, Alicinha? Eu considero a sua família minha família também. Você é a única família que me resta agora. Somos apenas eu e você, podemos apoiar-nos mutuamente. Pense cuidadosamente no que irá fazer. Se você ousar se matar, eu também farei o mesmo logo em seguida!

Alice se deparou com uma situação extremamente complexa e desafiadora. Ela compreendia que seu amigo não estava mendindo sobre a intenção de tirar a própria vida em virtude dela e recordava com dificuldade a árdua tarefa de persuadi-lo a vir sempre para esta cidade. Léo somente aceitou a proposta após ela lhe assegurar que nunca deixaria a cidade sem ele. Embora não depositasse mais fé em Deus, ela refletia que, caso o Criador realmente existisse, e tivesse uma índole "má", permitindo a extinção de sua família, seria algo terrível e imperdoável.

Ela também não queria ser tão cruel igual ao Todo-Poderoso e deixar seu amigo sofrer. Por isso ela disse:

-- Eu vou ! Eu irei sim ao tal lugar, Léo, por você, por sua vida.

Ela teve uma ideia que exigia muita astúcia para executá-la. Ela concebeu um plano meticuloso em que simularia ir para um determinado lugar, mas, na verdade, simularia um atropelamento para que pudesse partir sem que Léo se sentisse culpado pelo que aconteceu. Cada passo do plano foi pensado cuidadosamente por ela, para que pudesse partir e se encontrar com sua família em algum destino misterioso. No entanto, Alice ficou aflita com a possibilidade de não haver uma vida após a morte e se questionou sobre o que faria se estivesse errada. Após refletir um pouco, ela pediu a Léo que aguardasse enquanto ela ia até o quarto e colocaria algumas roupas em uma pequena mala, colocando qualquer roupa que encontrava lá dentro, apenas para dar volume. O fato é que ela iria mesmo desistir de sua vida de qualquer maneira, mas ainda assim queria garantir que parecesse uma morte acidental. Ela pediu a Léo que cuidasse do enterro e que confiasse nela.

De fato, foi uma visão muito estranha, vê-la deixando os corpos de seus entes queridos espalhados na sala antes de sair para tirar a própria vida. No entanto, ela estava obcecada com a ideia de se juntar a eles e estava emocionalmente perturbada. Essa era a única maneira que ela conseguia pensar para encontrá-los novamente, seria morrendo. lamentavelmente, a sua mente estava confusa e ela, com certeza, não estava bem em nenhum aspecto.

Léo concordou que seria melhor para ela não estar presente no sepultamento da família, pois isso a faria ainda pior. Antes de partir, Alice, agora mais astuta e decidida, disse a Léo:

-- Vou agora, Léo. Confia em mim, não se preocupe e obrigada por tudo. Eu voltarei em breve...

Com essas palavras, Alice quis dar a entender que tentará mesmo encontrar a sua fé perdida ao chegar no tal deserto.

No entanto, ao longo da vida, aprendemos que quando alguém diz "confie em mim" ou "não se preocupe", geralmente significa que a pessoa não pode ser confiável ou há algo gravemente errado". Alice pegou a sua mala e saiu sem olhar para o rosto de Léo para esconder seus verdadeiros sentimentos dela. Alice não queria que o amigo tentasse impedi-la de por "fugir deste mundo caótico, que era como ela via o mundo agora.

Quando ela passou pelos batentes da porta de sua casa foi um momento estranho para Léo. Desde que a viu pela primeira vez, quando ela tinha sete anos de idade e havia acabado de fazer o catecismo, nunca a tinha visto sair de algum lugar sem fazer o sinal da cruz. Léo ficou surpreso e pensou que deveria telefonar para as autoridades e amigos para informá-los sobre o que havia acontecido.

Na rua, viu um caminhão vindo em alta velocidade e pensou em se jogar na frente dele. Mas quando o caminhão estava a apenas um ou dois metros de distância, ela saiu da sua frente, dizendo para si mesma:

-- Não será aqui! Já há sangue demais neste lugar. Vou para bem longe! Meu amigo vai preocupar-se e isso nunca dará certo!

Ela teve uma ligeira impressão de que algo a influenciou a sair da frente do veículo.

Alice entrou em um táxi que parou ao seu lado, ela estava com a intenção de se dirigir a outro lugar, no entanto, logo ao entrar no carro, percebeu que havia outro passageiro no carro. Este passageiro notou o estado emocional abalado dela e foi ele que solicitou ao motorista que parasse e a recolhesse.

No trajeto, Alice descobriu que ele também estava indo para o aeroporto.

Alice decidiu seguir em frente com seu plano de ir para o deserto, pois ela já tinha as passagens que a levariam bem perto do tal lugar, e não precisava desperdiçar nada.

Apesar de sempre ter nutrido o sonho de contemplar o mundo do alto, voando sobre ele em um avião, jamais imaginara que conseguiria realizá-lo sem a companhia de Cristiano ou de seus filhos, que sempre a acompanhavam em seus sonhos de voar. No entanto, ali estava ela, em Santiago, capital chilena, e depois alugou um pequeno avião e finalmente foi ao deserto, ela estava pronta para alugar um Jeep e se aventurar pelo início do deserto.

No entanto, durante as horas de condução do veículo, sua visão se limitava à interminável extensão de areia, sob o forte sol escaldante do deserto.

E Alice se perguntava, como é que ficar só olhando para um monte de areia e sentir o sol quente na cabeça como isso poderia aumentar sua fé, ela se perguntava?

Ela decidiu ter uma conversa bem franca com Léo quando ela retornasse ao seu país natal.

Porém, lembrou-se de que não havia planejado isso, seus planos iniciais não incluíam voltar para sua casa, e sim partir da vida naquele ambiente desértico, e ser sepultada pelos movimentos do vento.

Alice sempre apreciava ouvir as obras clássicas, tais como Bach, Beethoven, Mozart, e outros compositores renomados, e desejou ter a oportunidade de partir ouvindo essas obras

Ela costumava dizer a seus filhos que, quando envelhecesse e estivesse próxima de partir desta vida, desejava que essas obras fossem tocadas, para que pudesse partir feliz desta vida.

Entretanto, lamentou o fato de não ter consigo nenhuma de suas muitas fitas de música clássica. Lembrou-se, naquele momento, de que, felizmente, tinha escolhido uma fita com as músicas que mais gostava para dar a uma amiga do escritório com o objetivo de apresentar-lhe ao gênero de música clássica. Imaginando que a fita estivesse em sua bolsa, Alice a encontrou e a colocou no aparelho de som do Jeep, iniciando a reprodução. Infelizmente, a primeira música a tocar foi "Imagine", de John Lennon, canção que sempre detestou e que, impulsivamente, descartou, jogando-a no deserto atrás de si.

Ela ficou furiosa por não poder mais concretizar seu plano de partir da maneira que havia imaginado, ainda mais por não apreciar a música que ela achava que desrespeitava e difamava a Deus. Para ela, a canção era cantada por um "cara louco" que afirmou que sua "banda de rock" era mais famosa e relevante do que Jesus Cristo, uma atitude que considerava inapropriada. No entanto, após refletir, percebeu que ela "agora também" era contra Deus, e que, portanto, era semelhante a John Lennon nesse aspecto. Sentiu-se como uma verdadeira discípula do ex-Beatle a partir daquele momento, parece que a Alice estava querendo muito encontrar alguém para chama-lo de meu mestre.

Ela recordou-se de que aquela fita de áudio antiga era de propriedade de seu marido e, ao perceber que a tinha pego por engano, ao confundi-la com a fita de música clássica que havia gravado para sua amiga, descobriu que foi por esse motivo que Cristiano insinuou que ela tinha jogado fora a fita com a música "Imagine". Seu marido julgou que ela não apreciava a canção e, caso ficasse irritada, a descartaria.

Determinada a encontrar a fita, perdida na areia, ela resolveu voltar de carro para finalmente atender ao desejo antigo de seu marido: ouvir a música que ele costumava escutar pelo menos uma vez por semana. A melodia da letra cantada em inglês pelo seu criador, era traduzida simultaneamente para o português por um locutor de rádio, e Cristiano havia gravado em nos dois lados da fita, desejando que Alice a ouvisse e refletisse sobre sua letra.

Agora, desesperadamente em busca daquilo que sempre quis destruir e nunca mais ver, Alice ansiava ouvir a música para realizar o sonho de seu marido. Após muita busca, limpou a fita cassete e a colocou para tocar, sentindo-se mais próxima de Cristiano e acreditando que em breve estariam juntos novamente. Com todas as suas forças, ela tentou acreditar nisso, se preparando para um novo começo.

Muitas vezes, deparamo-nos com a ideia de que aqueles que optam pelo suicídio acreditam em um destino melhor, um lugar mais sereno e livre do sofrimento que os aflige. É dessa forma que encontram a coragem necessária para cometer o ato de desespero, conscientes de que estão pondo fim à sua existência terrena - é a única forma de vida que possuem confirmadamente. Ela, talvez concordando com essa perspectiva, sentiu-se tentada a desistir da vida para para acabar com a dor que a consumia, como se alguém lhe estivesse arrancando o coração.

Após perder sua amada família, ela viu-se sem a força da fé que em Deus depositava. Suas crenças, ancoradas na união familiar e na existência de um ser benevolente e justo, eram seus únicos sustentáculos na vida. Sua vida e seu amor pela vida baseavam-se nisso.

Desorientada e sem saber o que fazer, ela ansiava por simplesmente desvanecer, sentindo-se completamente isolada e incapaz de prosseguir sem sua família - o marido, os filhos e a irmã. A tragédia havia levado tudo o que ela possuía, deixando-a vazia e sem esperança, incapaz de enxergar significado em nada. Desejava ardentemente que aquela grande tristeza e angústia a deixassem em paz, dirigindo pelo deserto sem rumo, sem encontrar uma alma viva sequer.

Após decidir partir deste mundo, ela, como uma potencial suicida, continuou a dirigir pelo deserto chileno por algumas horas, escutando uma única música com muita atenção, como seu amado marido Cristiano costumava lhe pedir. Ele sempre solicitara que ela prestasse atenção na letra da música conhecida como "Hino da Paz", composta pelo ex-Beatle John Lennon.

Alice tinha o desejo de se despedir do mundo ao som de uma música com uma poesia bela. Após dirigir por algumas horas e ouvir a canção repetidas vezes, ela recordou de seu marido, sentado em sua poltrona favorita, segurando uma lata de cerveja. Cristiano tinha o costume de escutar a canção repetidas vezes, aparentando ficar cativado por ela, transportado para outras dimensões do pensamento humano, ele ficava absorto, incapaz de conversar.

Ela relembrou que as crianças assistiam à TV com fones de ouvido, pois Cristiano preferia ouvir a música diretamente das caixas acústicas. Ela ficou no carro por um longo período, ouvindo atentamente a canção e cumprindo o desejo póstumo de seu marido. Enquanto a música tocava, ela imaginou um mundo inspirado na poesia de John Lennon e concluiu que este seria um lugar melhor se todos visualizassem essa realidade e se esforçassem para aprimorá-la.

Alice refletiu sobre a ideia de que se mais pessoas seguissem o exemplo de John Lennon, sua família estaria viva e o próprio músico estaria presente, cantando sua bela canção e sendo feliz com sua família. Então, nesse momento, ela derramou lágrimas e ansiou profundamente que o mundo de "Imagine" pudesse ser real e que as pessoas o enxergassem e vivessem, assim como o autor da poesia imaginou.

Talvez a tontura dela tenha sido causada por fome, sede, cansaço ou sono. Seu corpo estava enfraquecido e fragilizado pelas intensas emoções. Ela simplesmente desejava agradar seu grande amor, visualizando as ideias contidas na letra de uma canção.

Ela adormeceu ao volante do carro que parecia parecia estar indo para um destino específico e, de subito, parou sozinho, como se tivesse realmente uma vontade própria.

Alice, depois de alguns minutos, despertou lentamente e decidiu continuar a jornada a pé mesmo. Pouco depois, avistou uma choupana e, curiosa, aproximou-se da porta sem hesitação. Ao olhar para dentro da choupana, percebeu que não tinha nada além de uma mesa rústica e um tronco de árvore utilizado como cadeira. não tinha armário com comida, cama ou pia para lavar louça. Ao espiar pela pequena janela lateral, ela viu um velhinho que lembrava muito seu avô, embora ele já tivesse falecido há muito tempo, então era impossível que fosse ele. Diante disso, ela deixou escapar uma lágrima de saudade e ficou parada observando o eremita por alguns instantes. Ela acreditava que ele tinha cerca de sessenta e cinco anos, a mesma idade que seu avô tinha quando faleceu, na época em que Alice tinha dezoito anos, foi exatamente no dia do aniversário dela.

Alice, sem perceber exatamente o que estava fazendo, aproximou-se do eremita, que contemplava o sol com ternura. O sábio homem parecia ter um olhar único, no qual considerava o sol como a coisa mais preciosa e importante do universo. Admirada, ela ficou observando-o, encantada com a serenidade e paz que ele emanava. No entanto, ela percebeu que não sentia nem calor enem frio, fome e nem sede, sono e nem se estava ou não totalmente acordada. Parecia que estava dentro de um sonho suave, sem sentir quase nada. Ela ansiava em descobrir o motivo pelo qual o eremita estava ali, como se estivesse aguardando por ela, mas ela sabia que isso era uma ideia impossível.

Diante dessa situação, ela sentiu-se confusa, mas, ao mesmo tempo, leve e confiante em algo que não sabia explicar. De repente, sem pensar duas vezes, ela sentou-se ao lado do eremita em silêncio. Juntos, os dois contemplaram o pôr do sol, como duas pessoas que se sentem conectadas fazem quando admiram a beleza da Lua.

Foi então que, inesperadamente, o eremita perguntou o nome dela e o que estava fazendo ali, sem olhar para ela. Como se fosse algo comum, compartilhou sua vida inteira com o eremita, como se estivesse conversando com sua melhor amiga.

Assim, falou sobre sua infância , da sua amizade com Léo, a igreja e sua grande fé, seu casamento com Cristiano e o quanto ele era uma pessoa maravilhosa, seus filhos, sua irmã e o casamento frustrado da "menina" mais triste e linda do mundo. Além disso, ela mencionou que Léo era um ateu bobo, porém, ela ficava fascinado porque os seres humanos eram incríveis, pois são capazes de fazer tantas coisas tão grandiosas.

Outra experiência que ela compartilhou com o eremita foi sobre um encontro improvável com um mendigo louco em São Tomé das Letras, que achou muito estranho.

Também falou sobre seu desejo de estudar teologia e de se tornar uma freira quando era jovem.

Porém, Alice falou sobre o dia mais feliz em muitos anos, que se transformou no pior dia de sua vida, quando sua família foi assassinada e ela perdeu sua grande fé. Ela falou sobre a confusão em sua mente por causa de tudo o que aconteceu e como ela queria apagar tudo, queria sua família de volta, queria ir atrás deles.

Relatou ao eremita a conversa que teve com o seu amigo Léo sobre um local especial, onde ele acreditava que ela se reuniria com sua família falecida. Apesar de sua vontade intensa de revê-los, já não nutria mais esperanças de que isso pudesse acontecer. Ela confessou que, em momentos de profunda tristeza, cogitou tirar a própria vida para se encontrar com eles, mas algo sempre a impediu. Por fim, ela seguiu em frente e chegou até ali, diante do eremita.

Com grande emoção, também compartilhou com o eremita a paixão que sua irmã nutria pela Arte, bem como sua própria inclinação em ajudar pessoas necessitadas. Ela mencionou as discussões que tinha com Léo a respeito da hipótese da criação e da evolução do mundo, mas reconheceu que ambos possuíam suas próprias crenças e não conseguiam concordar.

Ela expressou que, atualmente, não acreditava mais em nada e que só queria desaparecer. Ela relatou como tentou tirar a própria vida, mas acabou tocando uma música de Lennon, atendendo ao desejo de seu marido. Ela explicou como, mesmo tendo odiado John Lennon antes, agora o amava e desejava que o mundo pudesse ser como descrito em suas poesias. Ansiava por um mundo melhor.

Por fim, falou sobre a felicidade que sentia em conversar com o eremita próximo à sua choupana, mesmo que achasse tudo muito estranho. Ela desabafou por quatro horas sobre sua vida com o bondoso velhinho desconhecido, esperando por uma resposta que não chegava. O eremita olhava em seus olhos como se procurasse algo profundo em sua alma, sem dizer uma palavra. Alice confiava no eremita, pois ele parecia ser a própria bondade em pessoa.

O eremita pediu que ela se sentasse no chão em frente a ele e, num tom suave e hipnotizante, olhou em seus olhos para acalmá-la. Ele explicou que o corpo humano é como um copo cheio, onde o conhecimento, ideias, sonhos, cultura, desejos, frustrações e outras influências são o líquido que o preenche. Ele enfatizou que a alma é formada por esses elementos, bem como pela esperança, fé, empatia e outros sentimentos, e que tudo isso faz parte da existência de cada indivíduo.

O eremita, em um tom carregado de mistério e enigma, comunicou que iria lhe apresentar um pensamento completamente novo, uma ideia desconhecida, uma "substância "que nunca havia sido experimentada antes. Com muita ênfase, ele a instou a esvaziar completamente sua mente, o "copo" para receber essa nova perspectiva. Com delicadeza, ele explicou que seus conceitos eram distintos e até mesmo antagônicos aos dela e que isso poderia gerar mal-entendidos, mas ainda assim ele estava disposto a apresentar algo completamente novo para ela.

Alice, com sua astúcia característica, formulou uma pergunta para esclarecer suas dúvidas e se mostrou pronta para experimentar a nova perspectiva apresentada pelo eremita. Entretanto, ela não pôde evitar questionar se essa experiência seria de fato uma espécie de lavagem cerebral. Com sabedoria e paciência, o eremita explicou que não era esse o caso e que a decisão final caberia a ela.

O eremita insistiu que, antes de começar, ela deveria se livrar completamente de todo o líquido que a preenchia para que pudesse receber o novo conhecimento com clareza, sem misturar ideias conflitantes. Ele explicou que as concepções deles eram bastante diferentes e isso poderia ser um obstáculo para a compreensão mútua.

Extremamente animada com a possibilidade de expandir seus horizontes, perguntou quando começariam e como ela poderia ajuda-lo. Com uma serenidade que inspirava confiança, o eremita ordenou que ela o obedecesse em tudo o que ele dissesse, pois já haviam começado.

Ela, pronta para o aprendizado, iniciou o processo com uma expressão de curiosidade e entusiasmo.

Em um tom suave e envolvente, guiou Alice para que fechasse os olhos e o ouvisse atentamente em cada uma de suas palavras. Ela parecia hipnotizada e encantada com a sabedoria e serenidade do eremita, e suas palavras quase soavam como uma música aos seus ouvidos.

Ele proferiu com solenidade: "A partir deste instante, minha querida , você estará completamente submissa aos meus cuidados, tornando-se a pessoa mais serena deste mundo. Embora sua mente esteja tranquilamente relaxada, sua atenção está centrada unicamente em minhas palavras. Aceite e obedeça a cada uma delas, pois confie em mim como se toda a verdade estivesse contida exclusivamente em meu discurso. Sua maior virtude nesse momento é depositar sua confiança incondicional em mim e no que lhe falo. Quanto mais você confiar em mim, mais virtudes adquirirá. Confie em mim como costumava confiar em seus pais na infância. A verdade reside em minha linguagem. Sua percepção, concentração e inteligência serão aprimoradas em quinze vezes, cinquenta vezes, até que você atinja uma soberania completa sobre si mesma. Somente então você decidirá se dispensará o líquido que lhe ofereço ou não. Tudo o que mais deseja realizar será possível, e foi justamente isso que a trouxe até aqui buscando uma solução para problemas insolúveis. Após percorrer todo esse processo, você voltará a acreditar quinze vezes mais no que acreditava antes de perder sua fé, ou aceitará integralmente tudo o que eu lhe ensinar. Caso opte pelo seu líquido antigo, você o derramará imediatamente o meu líquido apresentado, pois você acreditará que ele lhe é altamente nocivo. Então, mais serena, tomará posse de tudo o que eu lhe ensinar, e utilizará para reforçar seus conceitos e crenças prévios. Entenda cada uma de minhas palavras como um teste para ajudá-la. Absorva todo o conhecimento que lhe transmitir e assimile-o de acordo com sua melhor compreensão. Compreendeu todas as minhas instruções até agora?

Imediatamente, Alice respondeu com prontidão:

-- Sim, meu Mestre, compreendi tudo.

Ela já se encontrava quase em transe e concordou com a metodologia dele, demonstrando um leve sorriso no rosto.

O eremita prossegue com sua exposição, solicitando que a interlocutora se comprometa a disseminar o conhecimento adquirido caso opte por não absorvê-lo, por meio de uma promessa solene de transmiti-lo a alguém admirável. Salienta que cada ensinamento transmitido permanecerá gravado em sua mente, até que seja concluída a transmissão para a pessoa escolhida. Após esse processo, uma forte vontade de compartilhar o conhecimento adquirido com alguém especial se manifestará, e todas as lembranças do encontro com o eremita desaparecerão permanentemente da memória dela. O eremita solicita, em seguida, que se concentre exclusivamente no que é necessário para compreender seu conceito, apagando todas as lembranças irrelevantes e concentrando-se somente no que é útil. Ele pede que a interlocutora imagine que o dia de hoje nunca existiu, confiando em sua capacidade de fazer isso. O eremita ainda instrui que a interlocutora apague todas as lembranças imediatamente, até mesmo a lembrança dos corpos sem vida de sua família, como se essa memória nunca tivesse existido, imaginando que nunca teve uma família.

Alice permaneceu em silêncio, atentando-se a cada palavra proferida pelo eremita, obedecendo suas instruções com submissão, mesmo diante do tédio que a tomava ao ouvir as palavras repetidas. Ela entregou-se completamente à vontade do eremita, esperando que o processo de apagar sua mente pudesse levá-la a algo interessante e benéfico para si.

Ele persistiu em suas instruções, instigando ela a conceber uma realidade na qual jamais tivera contato com Cristiano, não compartilhara de matrimônio algum, não gerara filhos ou possuíra irmãos, tampouco abandonara sua cidade natal. Ele a incitou a aspirar o aroma da flor amarela e fragrante mencionada anteriormente, e a imaginar-se recostando no ventre de sua progenitora. Entretanto, desta vez, ele a compelira a supor que jamais existira naquele útero. O sábio a induzira a visualizar que suas ascendentes femininas, desde mãe a bisavó, jamais tivessem existido, bem como sua árvore genealógica por completo. Ele a desafiara a imaginar que oceanos, rios, planícies e montanhas desapareceram, a par da própria Terra e de seu satélite, a Lua, e que o astro-rei deixara de existir. Com veemência, instigou a que as estrelas desaparecessem do firmamento, deixando um vácuo inimaginável, enquanto a Via Láctea se esvanecia, até que a fixação absoluta da inexistência tomasse conta do que outrora era todo o universo.

Ele propôs a Alice um desafio mental, instigando-a a exercitar sua mente ao imaginar a ausência completa de qualquer existência preenchendo o vazio. Ele solicitou que ela concebesse a ideia da inexistência, levando-a a vislumbrar o silêncio existencial de algo destituído de materialidade e que jamais existiu. Para tal, ele incitou que Alice se permitisse entrar em um estado de contemplação profunda.

Posteriormente, ele a convidou a imaginar que, no centro do nada, uma consciência repentinamente se desperta e surge, tornando-se visível e tangível como uma espécie de Projetista, ou Desenhadora Inteligente. Esse Ser transcendental, por sua vez, dá à luz trilhões de seres, os quais poderiam ser denominados como consciências, almas, espíritos, psiques, mentes, moral, intelectos, vontades ou até mesmo ânimos e ânsias.

Com o intuito de cuidar dessas novas criaturas, a Desenhadora Inteligente edifica "O Dormitório das Almas", um berçário onde as almas recém-criadas são colocadas para aguardar em um sono profundo, como se estivessem em um estado de gestação espiritual.

Aos olhos da Projetista, a sua grandiosidade era indiscutível, uma vez que Ela havia feito o Sol surgir à sua direita e a Luz se tornou alegre, esplêndida e poderosa. No entanto, mesmo com tamanha magnitude, cada vez que ela criava algo, como as estrelas e os planetas, sua existência gigantesca diminuía um pouquinho, quase que imperceptivelmente, mas ainda assim, era uma constatação que a fez pensar sobre sua própria imensidão. Ainda assim, sua imaginação era tão poderosa que bastava que ela pensasse em algo, e cometas, asteroides e outros astros celestes surgiam instantaneamente.

Foi nesse momento que a Desenhadora começou a construir o sistema de coisas exatamente como ela desejava, e o pequeno grande Universo foi criado. E assim, Ela descobriu que era realmente muito poderosa, capaz de criar e controlar todo o universo. Ela acreditava ser perfeita, destituída de sentimentos como amor e ódio, dor e prazer, paz e tormenta, alegria e tristeza, bondade e maldade, tudo anulado dentro dela, coexistindo harmoniosamente e se transformando em perfeição.

A magnitude da Desenhadora era inegável, todavia, ainda assim, ansiava por algo excepcional que pudesse ratificar sua existência majestosa e plena de poderio. Consequentemente, o Planeta Azul veio à tona, emanando uma atmosfera viva e vibrante, repleta de cores e beleza, juntamente com segredos misteriosos a serem desvendados. Por meio de um ato de genialidade, a Desenhadora trouxe à luz um mundo pulsante de vida e encantamento.

Foi então que Ela decidiu criar um tipo de vida orgânica e pensou durante muito tempo. Arquitetou o Planeta Azul de forma magnífica, criou continentes, arquipélagos, água, rios, lagos, mares e oceanos, florestas e matas, montanhas e planícies. E ainda criou uma imensa floresta que cobria todo o Planeta Azul, onde gigantescos animais reinaram soberanamente por muito tempo..

A Projetista, decidiu criar novas criaturas totalmente diferentes das já existentes, extinguindo os gigantescos animais para dar lugar à sua mais recente criação. Ela já havia se divertido bastante e agora desejava novos seres habitando o Planeta Azul, distintos dos que já habitavam. Os animais gigantes já haviam cumprido sua missão de demonstrar à Desenhadora que o planeta era ideal para a vida. Por isso, a Desenhadora fez um cometa colidir com o planeta, extinguindo os seres que o habitavam e abrindo espaço para a nova espécie que ela criaria para habitá-lo. Ela decidiu que as duas espécies não poderiam coexistir, mas optou por não criar um novo planeta,. Então, um enorme cometa, criado pela Projetista, colidiu com o Planeta Azul, tornando tudo escuro devido à poeira resultante do impacto, e todos os seres vivos pereceram. A Desenhadora acabou com tudo o que existia, deixando um cenário vazio. Ela então criou uma nova fauna e flora, bem como a chuva e a Lua, reduzindo sua própria forma e tamanho a cada novo feito Dela

A Desenhadora tinha um desejo audacioso: povoar o Planeta Terra com novas criaturas que refletissem a sua imagem, com a aparência de uma jovem de cerca de 27 anos, semelhante a ela mesma. Ela imaginou seres imortais, destituídos de qualquer emoção ou sentimento, como amor, dor, ódio, sofrimento, alegria, tristeza, frustração, pois acreditava que a perfeição que ela possuía era inigualável. Esses seres seriam uma combinação de homens e mulheres, com ambos os sexos em um único indivíduo, assim como a Desenhadora se apresentava. Para se ter uma ideia do que ela era, imagine que 98% da Desenhadora era mulher e apenas 2% consistia em órgão reprodutor masculino. Todos os seres criados seriam andróginos, similares à própria Projetista. No entanto, devido a essa semelhança, eles nunca se reproduziriam, uma vez que esse não era um plano da Projetista. Ela concebeu que o planeta inteiro seria habitado por uma única criação completa e múltipla de seres idênticos a ela, sem espaço para qualquer nova criatura além daquelas que ela mesma havia criado.

A Desenhadora ambicionava que sua nova criação fosse perfeita, como ela mesma, sem a necessidade de sentimentos, afetos, carinhos ou mesmo da reprodução através do amor ou da multiplicação pelo sexo.

A Projetista, porém, percebeu que tal perfeição geraria infelicidade, como ocorria em sua própria vida, e desejou que os novos seres fossem capazes de experienciar o mundo e as emoções que o permeiam.

Ela ansiava por sentir sensações, nascer de dentro de outro indivíduo, crescer lentamente, namorar, casar e se tornar um pai-mãe.

Com sua habilidade e poder, a Desenhadora moldou o barro coletado de todos os lugares do mundo em corpos diversos, criando uma nova geração de seres que herdavam apenas as formas e desenhos dos corpos da Projetista.

Entretanto, a nova criação recebeu de Gaia, a Mãe-Terra, suas substâncias, tornando-se feita de material orgânico, imperecível e capaz de sentir sensações através do cérebro planejado pela Projetista.

Esses novos seres são capazes de experimentar o mundo como a própria Desenhadora desejaria ter experienciado caso tivesse uma segunda chance para existir de outra forma.

Após todas as decisões e ações que foram tomadas, é possível observar uma cena impressionante. Inúmeras figuras andróginas descansam pacientemente, aguardando a conclusão da sua construção pela hábil Projetista. Com habilidade ímpar, Ela projetou o componente cerebral final para proporcionar às criaturas a capacidade de sentir emoções - algo que Ela mesma jamais experimentaria. Afinal, a habilidade de experimentar emoções está intimamente ligada à conexão entre alma e cérebro, uma conexão exclusiva dos seres que possuem este último.

Após a conclusão desta fase do projeto, a Desenhadora dirigiu-se ao Dormitório das Almas e escolheu cuidadosamente algumas dentre as muitas que aguardavam ali. Em seguida, soprou-nas delicadamente dentro dos pequenos seres andróginos, conferindo-lhes vida e movimento. Esses entes eram dotados de uma dupla natureza, tanto homem quanto mulher, em um único corpo. Cada ser andrógino possuía sua própria individualidade e comportamento distinto, sendo que a influência da dupla essência masculina e feminina contribuía para esta personalidade única já mencionada.

Com o tempo, cresceram, se desenvolveram, se encontraram e, por fim, se reproduziram. Em sua juventude como criaturas, a tarefa mais importante era a criação de novos corpos para abrigar as almas do Dormitório das Almas. A Projetista, ciente da importância deste aspecto, empregou uma força mágica chamada de CIO, atualmente conhecida como paixão, para fomentar a criação de corpos. Esta força agia sobre os seres, instigando-os a gerar novos corpos cada vez mais frequentemente. Com o nascimento de cada um destes corpos, uma nova alma era trazida do Dormitório das Almas e inserida em seu interior.

A Desenhadora se regozijou com este resultado, pois o CIO (a paixão) estimulava a criação contínua de corpos. A ordem da Desenhadora era clara: as criaturas deveriam sempre se multiplicar. Ter corpos para as almas era o objetivo primordial daquela época, e o CIO (a paixão) foi essencial para alcançá-lo. A Desenhadora era a figura onipotente, controlando a fertilidade da terra, a chuva, o sol e as estações do ano, sendo o pilar de sustentação de tudo o que existia. A todo momento, Ela estava muito ocupada gerenciando o mundo, resolvendo todos os problemas que surgiam, pois tudo dependia Dela e acontecia no momento que Ela determinava. Ela era responsável por controlar tudo, desde a brisa e o vento, até o dia e a noite, passando pelo frio e o calor e todas as necessidades que a Terra demandava. Apesar do grande volume de trabalho, a Desenhadora não deixava de apreciar sua criação favorita, percebendo que os seres criados possuíam muitas características semelhantes a Ela. Eles eram imortais, o que fazia com que permanecessem por muitos anos na mesma idade existencial. Assim, mesmo com todo o trabalho a ser realizado, a Desenhadora ainda encontrava tempo para contemplá-los ocasionalmente.

No entanto, a concepção idealizada pela Desenhadora para a vida de um bebê naquela existência ainda não era o ideal. Um bebê com cinco mil anos seria equivalente a um recém-nascido de hoje que acabou de chegar ao mundo. Já um idoso de sessenta anos na época em questão teria uma idade comparável a centenas de trilhões de anos. Diante desse cenário, a Desenhadora não se sentia plenamente satisfeita e decidiu reduzir o período entre o nascimento e a velhice em que se adquire todo o conhecimento. Com o intuito de evitar qualquer semelhança entre as novas criaturas e a própria Projetista, ela alterou todas as características que julgou serem prejudiciais à felicidade de sua criação, substituindo-as por algo ainda melhor e totalmente diferente dela mesma. A Desenhadora acreditava que os seres não estavam completamente felizes por se aproximarem demais da perfeição, algo que ela não apreciava devido ao fato de não trazer completa felicidade. Ela sabia que, quanto mais distantes da perfeição os novos seres fossem, mais felizes se tornariam. Dessa forma, ela considerou muito positivo que as pessoas nascessem sem qualquer conhecimento e fossem aprendendo com o decorrer do tempo, mantendo essa característica intacta. Todos os aspectos que ela julgou serem benéficos para a felicidade foram aprovados e preservados, ou seja, a ausência de perfeição. A Desenhadora gostou tanto da ideia de que as pessoas nascessem e aprendessem ao longo do tempo que fez com que elas nascessem inúmeras vezes durante toda a eternidade. Ela sabia que as pessoas seriam mais felizes sendo crianças e adultos várias vezes, já que era algo que ela mesma desejava experimentar.

A habilidosa Desenhadora concebeu um ciclo de existência que permitia aos indivíduos viverem uma média de oitenta e cinco anos, através do nascimento, crescimento, envelhecimento e diversas mudanças corporais até o fim da Eternidade Suprema. Em sua sabedoria, a Desenhadora aprimorou ainda mais seu plano, fazendo com que todas as pessoas adormecessem profundamente e separando os sexos em homem e mulher.

Depois disso, as Existências Gêmeas foram criadas e suas missões eram se procurar e se encontrar, até que as duas carnes se tornassem uma só novamente. A mulher, era quase uma réplica em tamanho bem diminuto da Projetista, possuía o poder de gerar uma nova vida em seu ventre e era responsável pela perpetuação de sua espécie. Em reconhecimento à sua importância, ela recebia honras e grandezas, sentindo um amor incomparável pelos filhos que trazia ao mundo.

Apesar dos incômodos mensais, e bem como as estrias e celulites resultantes das gordurinhas necessárias para a gestação, a mulher era reverenciada e precisava apenas de uma pequena ajuda dos homens. Como representante de 98% da perpetuação da vida, ela se uniria aos 2% dos homens, tornando-se uma figura majestosa no processo da criação de uma nova vida.

Durante esse momento mágico, todas as outras criaturas, incluindo homens e mulheres não grávidas, se curvavam diante dela em sinal de respeito. As mulheres, em especial, eram reverenciadas e admiradas pela sensação única que experimentavam e pela capacidade de gerar vida. Essa reverência foi ordenada pela própria Projetista, em reconhecimento ao papel crucial das mulheres na perpetuação da vida.

A mulher é uma obra-prima em miniatura da Projetista, pois carrega consigo a capacidade de gerar vida e o poder de seduzir os homens e fazê-los obedecerem aos seus desejos. Uma mulher sábia é aquela que sabe como controlar um homem sem que ele perceba, assim como a Desenhadora controlava o mundo com sua habilidade. Se a Desenhadora criou a humanidade idealmente, a mulher seria a sua representação perfeita no mundo, com o poder de controlar tudo à sua volta.

A Desenhadora concluiu que a humanidade ideal era superior à perfeição. Mesmo quando sua criação não acreditava que ser ideal era bom o suficiente, ela sabia que estava certa e não dava ouvidos às lamentações dos seres humanos, pois sabia que muitas vezes reclamavam sem motivo. Desde a concepção até o nascimento de um novo ser, a Desenhadora acompanha atentamente cada detalhe, como a primeira mamada, o primeiro choro e o primeiro banho, e observa cada gestação, parto e nascimento de cada mulher. Durante o processo de dar vida ao mundo, os seres envolvidos ficam tão próximos que se tornam um só, personificados pelo CIO, a paixão que utiliza sua força para se fazer presente. Esse novo bebê, completamente alheio ao mundo, porém, feliz em sua inocência sublime, carente e dependente de seus pais, acreditando que o mundo foi criado só para ele e sendo totalmente egocêntrico e ingênuo em relação a tudo que o cerca.

Através do choro, a criança utiliza um recurso simples para comunicar suas necessidades básicas, sem fazer distinção entre alimento, sono, colo ou chão.

Mesmo com esse meio tão singelo, a criança é capaz de controlar e satisfazer seus desejos, fazendo com que seus pais atendam todas as suas demandas.

A inocência da criança é algo admirável, pois para ela, o mundo é exclusivamente seu e foi criado para sua felicidade.

Seria cruel se as crianças compreendessem a extensão de suas ações, mas como ainda não têm consciência, suas atitudes são dignas de admiração.

À medida que as crianças crescem, elas adquirem um senso de autoconfiança e passam a acreditar que já possuem conhecimento suficiente, confiando plenamente em seus pais, mesmo que estes não detenham toda a sabedoria.

A confiança incondicional das crianças é um aspecto incrível da vida, pois elas veem seus pais como seres oniscientes e detentores da verdade última, aceitando tudo o que lhes é dito com credulidade.

Enquanto o tempo passa, a pequena pessoa aprende novidades, comete erros, esquece coisas, sorri e se irrita, sendo cuidadosamente observada pela Projetista. Todas as descobertas dessa criança são virtudes aos olhos do ser supremo, que as observa atentamente.

Para a Projetista, todas as coisas que acontecem com as pessoas são atributos para a Felicidade Existencial. Quando a criança se torna adolescente, começa a questionar e reclamar de tudo, numa fase de rebeldia. Nessa etapa, seus pais passam a ser vistos como incapazes e, apesar de lhes darem conselhos de sabedoria e experiência, são raramente ouvidos. Os adolescentes acabam fazendo escolhas equivocadas, porque a insatisfação faz parte dessa fase da vida. Quando se tornam pais, prometem a si mesmos que não irão "aborrecer" seus filhos como seus pais fizeram com eles, mas acabam cometendo os mesmos erros, perpetuando o ciclo.

À medida que os adolescentes se tornam adultos, chega o momento de buscar e encontrar suas respectivas metades, momento em que ocorre a perda da inocência. A Desenhadora acha esse processo lindo, observando a paixão que une as duas partes, que se encontram, se reconhecem e se entregam aos desejos e ao amor. Ela entende que o nascimento de muitos bebês é justo, pois as almas que esperam no Dormitório das almas merecem um corpo capaz de sentir o mundo em sua plenitude.

Desde o início do processo de procriação, a Desenhadora se fascina com a fusão de dois corpos em um, resultando em uma terceira vida. Aquele que um dia foi filho, agora se torna mãe e começa a viver novas experiências. Agora, quem um dia foi mãe, passa a ser avó.

Em seguida, chega a velhice, momento em que as pessoas se tornam mais sábias e semelhantes à própria Projetista. No entanto, os idosos também se assemelham às crianças, já que se tornam dependentes de seus filhos. Aqueles que antes eram pais voltam a ser filhos, mas agora dos seus próprios filhos. Esse processo preestabelecido pela Desenhadora permite que o espírito se prepare para reencarnar e recomeçar tudo novamente como um bebê.

A morte serve, além de outras coisas igualmente importantes, para trocar de corpo e recomeçar tudo de novo. É por meio dela que se torna possível voltar a ser criança. As coisas são ideais, muito melhores do que a perfeição que a Desenhadora acreditava possuir em sua profunda existência sábia e perfeita. Para a Projetista, a reencarnação significava voltar a uma nova vida, uma renovação e uma nova emoção. Tudo tem um propósito, mesmo que as pessoas não saibam ou aceitem, ou mesmo que não queiram. Nada disso pode desfazer o que a Desenhadora idealizou para sua criação. A vida continua se perpetuando maravilhosamente ideal, aos olhos da Projetista, que nutria uma inveja cada vez maior e mais profunda da humanidade que criou de maneira ideal.

Ao observar sua criação, a Desenhadora contemplava as coisas que havia criado e as coisas que o homem havia transformado com sua criatividade, como a arte. Ela podia criar qualquer coisa e tinha o poder de inventar coisas muito melhores do que qualquer ser humano, mesmo os mais habilidosos, poderiam imaginar. No entanto, Ela invejava (desejava) a alegria de sua criação favorita em ver as coisas e invejava o brilho nos olhos de sua criação ao contemplar sua arte. Invejava, sobretudo, a alegria do artista ao terminar seus feitos. A Desenhadora estava se referindo às pessoas que percebem e sentem as artes do mundo.

Invejava também como as pessoas viam a si mesmas e aos outros indivíduos e tudo o que existe no mundo. Imaginava como é poder ver as coisas através dos olhos de uma pessoa, desejando profundamente poder sentir as paixões dos homens. Por isso, resolveu dar mais imaginação e talento à sua criação, para que esta fizesse mais e mais obras de arte. Ainda insatisfeita, ela ainda dotou as pessoas de muitas habilidades para inventar e praticar muitos esportes. Ao fazer isso, sentiu ainda mais inveja de sua grande obra. Agora, Ela não tem mais dúvida alguma. Na verdade, Ela nunca havia tido dúvidas quanto ao melhor modo de ter feito sua criação.

Quando alguém se esquecia de algo, ela costumava indagar com sutileza: "Como é a sensação de esquecer? Qual é o sentimento que se experimenta ao perder algo importante?" Ao constatar que alguém sentia dor, ela se mostrava solícita e perguntava com empatia: "Qual é a sensação de sentir dor? Como você descreveria essa sensação?" Enquanto observava alguém dormir, ela se questionava curiosamente: "Qual é a sensação de estar dormindo? E a sensação de estar sonhando, como é?"

Além disso, ela também explorava os meandros de outras sensações intrigantes, como a perda de controle diante de uma situação desconhecida, a sensação de confusão e a experimentação de diferentes gostos de frutas. Ela se mostrava interessada nas nuances do ciclo menstrual feminino, na sensação de cólicas e TPM, e na intensidade da experiência de estar grávida.

Ela se questionava sobre a experiência única de dar à luz, de sentir a dor lancinante do parto e ainda assim experimentar uma felicidade indescritível ao trazer uma nova vida ao mundo. Ela também se interessava pelo processo gradual de crescimento pessoal, pelos desafios de aprender algo novo e pela experiência de esquecer algo importante.

Os cheiros naturais da terra, do mar e até mesmo do estrume de vaca despertavam sua curiosidade e ela se perguntava como seria a sensação de tomar banho de chuva e sentir a brisa fresca da manhã. Ela também se questionava sobre as emoções fortes que acompanham a paixão, o sentimento de estar perdido, o envelhecimento, a mortalidade e o adoecimento.

Ela acreditava que cometer um erro poderia ser uma oportunidade fascinante para aprender algo novo. Sua curiosidade não conhecia limites e ela queria experimentar como é ser uma mulher humana e sentir a intuição feminina de forma completa e profunda. Ela defendia que a felicidade está relacionada a se aproximar do ideal que cada um tem para si, mesmo que isso não seja compreendido pelos outros. Por fim, ele observou que Alice parecia estar em um estado de quase transe, fixando seus olhos nos dela, transmitindo uma sensação intrigante e misteriosa.

E o eremita disse:

A Desenhadora lamentava profundamente estar privada das sensações e prazeres que Ela mesma havia concedido às suas criaturas. Apesar de ter-lhes dado esse presente, Ela própria estava privada dessas maravilhas. Era condenada a ser perfeita em um "Grande e tortuoso Sempre Eterno", mas Ela nutria cada vez mais um desejo ardente de ser ideal, semelhante às pessoas que havia criado idealmente. Ela invejava sua própria criação e se sentia triste por não poder experimentar as coisas que tanto desejava. Não podia sentir o vento da praia em seu rosto, nem correr nos jardins entre os canteiros de flores. Questionava-se sobre como seria a sensação de cheirar uma flor e lamentava não poder experimenta-la. Como filho, Ela não podia ser, pois não tinha pai, sempre existiu. Sua existência perfeita era, portanto, penosa, e Ela ansiava por experiências humanas, como fazer amor, beijar, receber e dar carinho. Ela queria ser feliz e ideal, mas sua perfeição a limitava.

O eremita, ao contar essa história para Alice, descreveu como a Desenhadora se sentia em uma prisão eterna, sem poder ser feliz, nem ter experiências humanas que tanto desejava. Ela queria poder fazer amor, beijar, tomar banho, compor poesias, ser carpinteira e ter as mesmas experiências que seus seres criados tinham. Ela queria saber como seria fazer coisas que acreditamos estar erradas, mas mesmo assim fazea-las, como mentir e ter relações sexuais pela primeira, segunda, terceira e outras vezes. Ela invejava as mulheres, pois elas podiam sentir dez vezes mais prazer no amor do que os homens. Sua inveja crescia a cada dia e, em um momento de convicção final, Ela decidiu abandonar sua existência perfeita e infeliz para ser como um ser humano comum. Ela se apaixonou pelo modo de vida de suas criaturas e começou a aumentar o universo cada vez mais, para se sentir cada vez menor em relação às pesssoas. Com essa decisão, Ela percebeu que era a dona do mundo e que podia fazer o que bem quisesse, pois suas decisões e escolhas eram soberanas. A quem devo algum tipo de satisfação? Quem pode me tolher em algo? Minhas decisões e escolhas são soberanas." Decidiu, depois de muito refletir, abandonar sua existência perfeita e infeliz e ser como um humano como outro qualquer. Invejou as pessoas de tal forma que suas dúvidas foram extintas. Ela se apaixonou pelo modo de vida de sua criação: amou a maneira como as pessoas levavam suas existências e vida. Então, Ela recomeçou a aumentar o universo cada vez mais e mais. Fez zilhões e mais zilhões de estrelas, e como isso Ela ficava cada vez menor.

Ela empreendeu a criação de incontáveis galáxias e iniciou a construção de novos sistemas solares, superando a capacidade de imaginação até mesmo da Alice.

Porém, sua grandeza era tamanha que, ao criar trilhões e trilhões de planetas, seu corpo foi diminuindo gradualmente na medida em que moldava um universo infinito.

A Desenhadora se sacrificou para construir as coisas, criando ou transformando-se em buracos negros a cada realização, desvanecendo-se lentamente.

Ela concebeu inúmeras espécies de insetos e animais de variados tamanhos e cores, com o propósito de povoar o Planeta Azul.

Porém, ao reconhecer a imensidão de seus poderes existenciais, decidiu transformar-se em água e inundar os oceanos, mares, rios, riachos, lagos e lagoas, a fim de gradativamente diminuir seus poderes.

A fim de proteger a vida marinha e aquática durante o inverno, a Desenhadora precisou manipular algumas leis da física e da natureza, alterando a densidade da água e do gelo para impedir o afundamento do gelo e apenas congelar a superfície da água desses lugares.

Além disso, a Desenhadora salinizou as águas dos mares e oceanos e aumentou a pressão nas águas mais profundas para conter o congelamento total, pois já havia decidido que não poderia mais cuidar das coisas do mundo.

A Desenhadora concedeu ao universo autonomia para se governar, criando leis, fenômenos físicos e sustentáculos que mantivessem os astros, estrelas e planetas em suas respectivas órbitas e rotas constantes.

Ela criou o "Mundo das Imagens e das Ideias", depositando ali toda a sua sabedoria, imaginação e poder. E ordenou que as ideias migrassem para as pessoas na Terra, quando fossem necessárias ou quando alguém, através de sua imaginação elevada, as obtivesse.

Ademais, Ela permitiu que o Mundo das Imagens oferecesse o que as pessoas desejassem, concedendo-lhes possibilidades e tendências para encontrarem suas próprias razões e sentidos a suas vidas e planos em geral.

A habilidade da Desenhadora em criar leis físicas e sustentáculos para manter todos os astros, estrelas e planetas em suas órbitas e rotas constantes é surpreendente. Com essa autonomia concedida ao universo, a chuva passou a obedecer somente às leis naturais e físicas, o que permitiu que o universo se cuidasse sozinho. A Desenhadora criou todas as leis necessárias para que o universo fosse auto governável, concedendo-lhe independência. Além disso, ela criou um "Mundo das Imagens e das Ideias", onde depositou todo o seu conhecimento, sabedoria, imaginação e poder.

A ordem dada pela Desenhadora para que essas ideias fossem migradas para as pessoas na Terra quando fossem necessárias, ou por "quando alguém as atingisse por meio de sua imaginação elevada, é verdadeiramente admirável. Além disso, a Desenhadora instruiu que o Mundo das Imagens oferecesse tudo o que alguém quisesse, se acreditasse que poderia tê-lo ou fazê-lo.

A Desenhadora deu aos seres humanos a possibilidade de encontrarem seus próprios motivos e sentido para a vida. Ao fornecer diferentes versões da origem do mundo, ela permitiu que cada pessoa encontrasse sua própria felicidade de maneira particular.

A Desenhadora também foi muito astuta em criar uma ilusão ou distorção visual na Terra, fazendo-a parecer redonda e plana ao mesmo tempo, de modo que quem olhasse para o horizonte não conseguisse ver completamente a curvatura do planeta.

A Desenhadora estabeleceu uma relação estreita entre os seres criadas por ela e a Terra, ao determinar que todas as suas criaturas deveriam adquirir seus recursos e sustento do solo. Essa medida criou um vínculo forte e duradouro entre as criaturas e a Terra, de modo que os filhos da Terra, ao plantarem as sementes, aguardariam que a Mãe Natureza germinasse os frutos, que seriam colhidos e consumidos pelos próprios filhos. Com essa medida, a dependência anterior dos filhos em relação à Desenhadora, que atuava como um Pai provedor de alimentos, cessaria, dando lugar a uma nova realidade em que eles teriam que trabalhar arduamente, para extrair da Mãe Terra todos os nutrientes necessários para manter seus corpos saudáveis e garantir a própria sobrevivência.

A criação da humanidade pela Desenhadora incluiu a promoção de um forte vínculo com a Mãe Terra. Esse vínculo se estenderia aos pais, que protegeriam seus filhos, fazendo com que os filhos seguissem seus passos e vice-versa. Com esse vínculo forte estabelecido, os seres humanos poderiam viver independentemente, sem depender da Projetista.

Por fim, a Desenhadora distribuiu todas as tarefas necessárias para manter o equilíbrio da vida na Terra de maneira justa entre todos os animais e insetos. Ela atribuiu às minhocas a tarefa de viver debaixo do solo, e ajudar a fertilizar a terra, cavando seus túneis com elese possibilitando hidratação subterranea, e ao comer da terra ir deixando nutrientes atrás de si para facilitar a vida dos seres que se alimentam dessas dádivas da Mãe Terra produz. Já as abelhas foram incumbidas de coletar néctar para produzir mel e polinizar as flores, com a ajuda de suas asas diminuídas, que as lembrariam de encostar nas flores para polinizá-las.

A habilidosa Desenhadora elaborou um plano astuto e sofisticado para incentivar a multiplicação e a prosperidade da flora e fauna. De forma primorosa, Ela engendrou um método singular para aumentar a qualidade e o sabor das frutas das árvores, com a finalidade de atrair e incentivar a alimentação dos animais. A meta era que eles se tornassem parceiros cooperativos na tarefa de propagar a flora, uma vez que a Desenhadora não poderia mais desempenhar esse papel diretamente.

Ademais, a astuta Desenhadora planejou fazer com que alguns animais, ao enterrarem suas reservas de alimento, como as sementes, acabassem por esquecê-las onde as guardou, a fim de favorecer a germinação e o crescimento de novas árvores. Afinal, ela sabia da importância crucial de que a flora se reproduzisse continuamente, como uma corrente vital que sustenta todo o ecossistema.

Para além dessas estratégias geniais, a Desenhadora ainda imaginou um novo mecanismo de interdependência entre fauna e flora. Ela decidiu que cada animal, ao ingerir as frutas e sementes, cederia parte de sua nutrição para transformá-la em adubo, enriquecendo assim o solo e fertilizando-o para as plantas. De maneira genial, ela orquestrou um sistema simbiótico em que todos cuidam de todos, onde a fauna e a flora se auxiliam mutuamente em um ciclo de vida interdependente e saudável.

Com toda a sua grandiosidade e perspicácia, a Desenhadora concebeu inúmeros auxiliares minúsculos para a natureza e para a Mãe Gaia, dotando-os de funções vitais que garantiriam a sobrevivência do Planeta em sua ausência perpétua. A cada nova criação, sua corpulência diminuía gradativamente, entretanto, ainda assim, ela permanecia magnânima e inovadora em sua arquitetura. Com o intuito de proteger e preservar suas criaturas de doenças graves, a Desenhadora desenvolveu um mecanismo para aumentar temporariamente a temperatura do corpo, a febre, a fim de fortalecer a resposta imunológica no combate a invasores como fungos, vírus e bactérias, levando em conta que Ela não estaria mais presente para cuidar de suas criaturas.

Para tornar sua criação totalmente autossuficiente, a Desenhadora a dotou de pelos em várias partes do corpo, tais como sobrancelhas, cílios, pelos no nariz, no púbis e em outras áreas, para protegea-las das impurezas do mundo, como a poeira e outros agentes nocivos. Além disso, para proporcionar mais segurança e conforto aos bebês, a Desenhadora ampliou e suavizou seus traseiros, especialmente os das meninas, a fim de atenuar quedas bruscas. E ainda, para evitar danos em casos de quedas mais perigosas, a Desenhadora optou por tornar as cabeças dos bebês um pouco mais resistentes à medida que cresciam.

Porém, a magnanimidade da Desenhadora não parou por aí. Ela decidiu fazer algumas modificações na anatomia feminina, tornando-a mais modelada, delicada e suave, além de acrescentar doçura e encanto em sua voz, gestos, olhos e pensamentos, e até mesmo amaciar a epiderme delas, conferindo-lhes uma aparência especial. Tudo isso para que os homens, seduzidos por elas, as procurassem mais, mesmo que não fossem suas metades, já que a Desenhadora sabia o quão difícil era para as almas encarnadas encontrarem suas respectivas partes gêmeas, e que muitas almas precisavam de novos corpos para se reencarnar.

No entanto, a Desenhadora também reconheceu a importância de esconder essas dádivas, a fim de evitar que as mulheres soubessem do poder que tinham sobre os homens, pois se elas descobrissem, poderiam facilmente controlar o mundo. E, mais nobre ainda, a Desenhadora concedeu tais bênçãos às mulheres não apenas porque elas eram especiais e os homens eram seus ajudantes, mas também porque sabia que muitas almas precisavam de corpos para encarnar e desfrutar das maravilhas do mundo que Ela havia criado para elas todas.

A Projetista, com sua visão ampla e generosa, acreditava fervorosamente que seria justo se as pessoas pudessem criar muitos corpos para doar, contribuindo não apenas para as almas que aguarvan a sua oportunidade no Dormitório das Almas , mas também para aquelas que necessitavam de um novo invólucro. Compreendia que as almas que haviam perecido ainda ansiavam por um novo corpo, e a própria Desenhadora considerava a possibilidade de reencarnar várias vezes, entendendo que essa seria uma medida justa e equânime.

Além disso, ela acreditava que seria justo proporcionar tanta beleza às mulheres, e que seria lícito reforçar os elementos necessários para que sua criação favorita pudesse procriar ainda mais. Com efeito, ela julgava que a força da paixão seria insuficiente para gerar a quantidade de novos corpos necessários para seu propósito, e assim, com maestria, realizou diversas pequenas cirurgias em sua criação, tornando-as cada vez mais independentes e felizes.

Ainda que tenha realizado todos esses feitos notáveis, a Desenhadora considerava fundamental inventar novos materiais, substâncias, minerais e plantas para que artistas, esportistas, cientistas e inventores pudessem encontrar novas formas de expressão e inovar em suas áreas de atuação. Afinal, esses profissionais precisariam de novos materiais para concretizar suas ideias e evoluir em suas atividades. A Desenhadora costumava dizer que "a necessidade será a mãe de todas as invenções", quando refletia sobre essa questão.

Ela controlou sua ansiedade e criou diversas substâncias que poderiam ser utilizadas para fazer cosméticos que embelezassem as pessoas vaidosas, assim como remédios que pudessem curar aqueles que sofriam com enfermidades. Essa atitude era motivada pelo fato de que ela não estaria presente por muito tempo e, portanto, não poderia continuar curando as pessoas. Todavia, ela sabia que estaria presente em todas as coisas que havia criado.

O eremita, fez uma pausa para admirar o pôr-do-sol e continuou a narrar a sua história:

-- A talentosa Projetista, concebeu a ideia de submeter sua obra-prima a um novo início, um recomeço do zero. Seu objetivo era aplicar um princípio evolutivo gradual, iniciando com seres aquáticos, progredindo para terrestres e, finalmente, atingindo os seres humanos ideais que Ela desejava que existissem. No entanto, em um momento de deliberação, ela considerou ser ainda mais radical, decidindo destruir tudo o que criara até então e fazer o mundo voltar ao nada, exatamente no momento em que ela tomou consciência de sua existência. A Desenhadora ansiava por um recomeço completo, mas optou por "reescrita" e recomeço. Ela almejava retornar no tempo para ter um corpo humano no mesmo instante em que todas as almas também o tivessem, imaginando que, no dia zero, hora zero, instante zero, ela explodiria e, de seu próprio corpo, criaria todas as coisas, se imolando e se sacrificando para se transformar em tudo o que viria a existir. Embora ela quisesse ser como qualquer outra pessoa, Ela decidiu dar autonomia ao Universo de uma só vez, sem hesitar, desfazendo-se de sua essência e poder como havia feito até agora.

No entanto, no momento em que se apresentou a oportunidade de agir, a Desenhadora reconheceu que não possuía mais a capacidade, autoridade ou direito para fazê-lo, uma vez que havia utilizado grande parte de seu poder para criar tudo o que existe. A magnitude do que pretendia fazer demandaria uma quantidade de energia muito superior ao que lhe era disponível no momento. Foi então que ela decidiu realizar apenas uma maquiagem no mundo, de modo a parecer que as coisas haviam sido criadas gradualmente, da forma como ela havia imaginado, ou seja, por meio de um processo evolutivo. Em vez de seguir seu plano original, a Desenhadora optou por deixar muitos indícios, de forma que as coisas parecessem ter sido criadas de diversas maneiras, incluindo a evolutiva, criada, Projetistada, e outras formas.

A Desenhadora tinha em mente um objetivo bastante ambíguo: confundir sua própria criação e a si mesma em um jogo de aparências e realidades. Ela acreditava que a verdade absoluta não era apropriada e buscava múltiplas possibilidades, cada uma com sua própria lógica. Seu desejo era criar uma "Babilônia", um labirinto de opções e interpretações que impedisse as pessoas de chegarem a um consenso sobre a verdade última.

Embora parecesse malicioso, a Desenhadora não escondia a verdade por apenas maldade, banal mas sim para proteger as pessoas da perfeição que eEa mesma não apreciava. Não queria que fossem como Ela, infeliz. Sem poder fazer um novo recomeço, Ela decidiu alterar a aparência do universo e da Terra para que parecessem idênticos aos que seriam se Ela tivesse criado tudo. em um único ato , um ato puro!

Para perpetuar essa ilusão, a Desenhadora plantou vestígios e fósseis em toda parte, criando uma ilusão de evolução que nunca ocorreu. Ela construiu ruínas de falsas cidades inteiras que nunca existiram, deixando rastros tão avançados que os investigadores poderiam pensar que foram feitos por criaturas superiores de outros planetas. Tudo isso para impedir que as pessoas chegassem à verdade e forçá-las a continuar procurando, sempre em busca de novas possibilidades.

A habilidosa Desenhadora foi astuta ao plantar várias pistas para sustentar teorias contraditórias, de modo a permitir que os crentes no DESIGNER INTELIGENTE sempre tenham uma vantagem sobre os outros teóricos.

Com seus poderes diminuídos, a Desenhadora decidiu criar uma lei especial para si mesma, garantindo que em todas as suas reencarnações ela nascesse como mulher e passasse por todas as fases da vida feminina.

Depois de concluir sua obra-prima e libertar-se de sua perfeição, a Desenhadora transformou-se em um ser comum, encarnando-se em um óvulo recentemente fecundado, deixando de ser um ser superior e experimentando a vida como qualquer outra pessoa.

A Desenhadora agora finalmente alcançou o seu desejo de participar da vida efêmera. Ela deixou o universo regido somente pelas leis naturais e por aquelas que ela própria criou para controlar o universo e a vida do planeta durante a sua ausência, pois ela já não seria mais a Projetista. Agora, a humanidade terá de confiar na consciência e nas leis naturais para governar o seu futuro. As leis que os próprios humanos criaram serão o destino da humanidade, e as pessoas precisarão conhecer e se adaptar a elas.

Com a "diluição" da Projetista, abre-se espaço para uma ampla gama de possibilidades. Com efeito, a criadora do mundo agora descansa, cedendo o leme para uma nova tripulação composta por cientistas, filósofos, políticos e religiosos.

Depois de proferir tais palavras, o eremita ficou em silêncio por alguns instantes, ergueu a mão e gentilmente a depositou sobre a cabeça da Alice. Em seguida, dirigindo-se a ela, perguntou:

-- Prezada senhora, estás atenta às minhas palavras?

Alice prontamente abriu os olhos e fixou o olhar no eremita, retribuindo com uma pergunta:

-- Excelência, o senhor poderias me revelar o teu nome?

Quando ela lhe faz essa simples pergunta, ele age estranhamente, de um modo tal que fez Alice desconfiar dele, pois o eremita parecia ser muito confuso a ponto de não saber o próprio nome. Mas, finalmente, ele diz:

-- Meu nome é... Ramones.

Responde o eremita depois de hesitar por um bom tempo. Parecia ter muitas dúvidas ou querer se lembrar do próprio nome. Alice, então, disse ao seu anfitrião, querendo saber detalhes sobre a história que havia acabado de escutar:

-- O Senhor me disse que a Desenhadora de repente abriu os olhos e descobriu que existia? O que o senhor quer dizer com isso? Ela não existia até então? Ou ele estava dormindo e acordou pela primeira vez e nunca mais pôde dormir de novo? Ou ele simplesmente não existia e passou a existir naquele exato momento? Ela veio da não existência? Ela se auto gerou de algum modo?

Quando Alice fez essa pergunta, o eremita percebeu que ela estava muito confusa, ansiosa e também super curiosa. Ele fez uma pausa e agiu como se estivesse tentando lembrar de algo ou inventar alguma coisa para justificar sua história fantástica. Depois, ele continuou sem hesitação:

Mulher, quando eu disse que não existia nada, o que existia era o nada infinito...

-- Já sei, a Desenhadora estava dormindo e acordou, não foi?

Alice o Interrompeu querendo adivinhar ou mostrar que ainda estava prestando atenção em tudo o que ele falava.

Não exatamente. O universo era formado pelo nada absoluto, a mais perfeita ausência de tudo e de todas as coisas. Realmente não tinha nada, exceto zilhões de existências, como almas, espíritos, mentes, intelectos, consciências, ânsias e vontades. Todos esses nomes querem dizer a mesma coisa. Esses seres não eram totalmente evoluídos, mas todas as almas tinham o mesmo objetivo que a Projetista, que era possibilitar um mundo para que a vida física, orgânica, perecível, fugaz e efêmera pudesse acontecer. Queriam que "o tudo que agora existe" e tudo o que a Desenhadora fez, existisse. Queriam ter corpos físicos para que pudessem se encarnar e viver como as pessoas vivem hoje, de maneira semelhante à maneira como a Desenhadora fez o mundo.

No entanto, essas almas não tinham sozinhas tanto poder para fazer tudo isso. Cada alma queria construir seu próprio mundo particular do jeito que mais lhe agradaria e viver nele sozinha, isolada. Queriam viver da maneira que mais lhes conviessem, como acreditavam que era o melhor jeito. Cada consciência era um ser único, diferente dos demais, com suas próprias razões e motivos para fazer o mundo do jeito que pudesse ser mais feliz e satisfeito, segundo seus próprios preceitos e convicções. Todas almejavam ser felizes em "seu cantinho". No entanto, cada uma tinha sua própria definição de felicidade. Mas havia uma coisa em comum a todas elas: queriam que o mundo físico existisse para que pudessem habitar esses corpos com um cérebro e sentir as sensações de um mundo tangível, o mundo orgânico.

Então, Ramones, o que eles fizeram nessa discussão toda? Acordaram a Desenhadora que estava dormindo? - interrompeu Alice novamente, debochando dele porque interpretou que o eremita não estava respondendo sua pergunta e tentando enrolá-la fazendo-a esquecer de sua pergunta.

Mas o eremita calmamente prosseguiu:

-- Como toda consciência queria ter um corpo, e não possuía poder suficiente para criar sozinha um mundo inteiro apenas para si mesma, todas decidiram, após milhões de anos, se unir e, juntas, utilizando o poder de todas, criar um mundo comum a todas. No entanto, elas teriam que negociar como seria esse mundo comum. Elas chegaram a um acordo no qual cada alma cederia um pouco no plano de como criar o mundo para que todas pudessem viver juntas. Porque, talvez, se elas se unissem e utilizassem o poder de todas juntas, poderiam criar um mundo sólido (material) comum para todas elas. Todas concordaram, mas não imediatamente, porque achavam importante ter seu próprio mundo para viver e realizar suas vontades de ter corpos feitos de matéria. Nem todas estavam dispostas a ceder em relação ao seu próprio mundinho. Algumas almas queriam enganar as demais para que o mundo fosse mais parecido com o que elas queriam, em detrimento das outras. Claro que, no início, todas, sem exceção, queriam que o mundo fosse exatamente da maneira que mais lhes conviesse individualmente. Então, ainda não foi possível negociar para confeccionar esse mundo, naquele momento, então elas deram um tempo nas negociações do plano que chamaram de Plano Diretor.

-- Então, elas não conseguiram chegar a um acordo, um consenso, Ramones? - perguntou Alice.

-- Não, Alice, demorou mais alguns milhões de anos... Cada consciência esperava que as outras cedessem mais do que elas e aceitassem o mundo do jeito que mais as favorecessem. Elas estavam ansiosas por esse mundo, mas muitas não cediam em nada nas propostas para que o mundo fosse criado logo. Algumas cediam muito. E nem todas as almas que não queriam ceder eram egoístas; muitas delas eram até bem-intencionadas. Elas não queriam ceder em certas coisas, mas não estavam pensando exclusivamente nelas mesmas e sim no coletivo. Mas havia também algumas almas que eram bem-intencionadas, achavam que o que estavam propondo seria bom para todas e isso não era verdade; havia coisas que não seriam boas para nenhuma. E essas coisas eram muito complicadas de negociar e também de fazer com que todas entendessem isso. Esse foi um dos motivos pelos quais demorou tanto tempo para chegar a um Consenso-Geral-Definitivo.

E Alice quis saber:

-- Não tinha uma alma-chefe, alguém que mandasse em tudo ou em grande parte, alguém que liderasse? Assim fica muito difícil, sabia? - perguntou Alice indignada com esse “chove-e-não-molha” das almas e queria saber logo o porquê a Desenhadora acordou naquele momento.

-- Não. não tinha ninguém superior a ninguém, o que existiam eram apenas argumentos superiores. Quem argumentava nunca era superior a quem estava escutando os argumentos... Depois de muito tempo, uma das almas disse que refletiu muito e acreditava que seria muito melhor se todas cedessem um pouco e fizessem logo o mundo, e que quanto mais demorassem, pior seria. Mesmo assim, demorou muito tempo para que elas conseguissem chegar a um consenso geral no qual fosse possível agradar a todas as sedentas almas... Diante da complexidade do problema, é claro que isso é demorado, mas... Todas as questões relativas à criação do mundo e, sobretudo, como este iria funcionar e ser regido, tudo mesmo, tudo que precisava ser idealizado, foi discutido em várias Assembleias Gerais nas quais cada alma, sem exceção, deu seu parecer e ponto de vista. Foi discutido até chegarem à exaustão, até ficar resolvido como sua ideia, seu desejo iria ser atendido e colocado na decisão final. Depois, todas as resoluções eram guardadas em uma espécie de memória coletiva até que ficassem totalmente prontas todas as outras decisões do consenso-geral...

... Você percebeu, Alice, que as ideias da edificação do mundo não foram decididas pelo que a maioria queria, a democracia, mas sim estabelecidas através do Conselho-Geral, de uma maneira na qual cada alma pôde ter seu interesse discutido e aprovado. Claro que cada alma teve que ceder em alguns detalhes para que se enquadrassem no plano diretor já preestabelecido por elas mesmas... Sabia, Alice, se fosse o voto da maioria que decidisse as coisas, haveria muita injustiça, visto que todas teriam que viver no mesmo mundo, e sua vontade, desejo, ideia, e todas essas coisas. não fizessem parte desse mundo que ajudariam a fazer e posteriormente habita-lo fazendo uso de um corpo...

... Você acharia justo que as coisas fossem decididas apenas pelos votos de uma maioria privilegiada, deixando de lado todos e quaisquer direitos daqueles que querem coisas que só lhes dizem respeito, coisas que só serão úteis para eles ou para uma pequena minoria? Você acha isso justo, mulher? Foi pensando nisso que tudo foi decidido em consenso em milhões de Assembleias-Gerais, entendeu?

-- E o que aconteceu? - interrompeu Alice, não conseguindo se conter de tanta curiosidade.

-- Bem... - disse o eremita - depois de muito tempo, algumas consciências resolveram ceder mais do que as outras, pois entenderam que se não fizessem isso, nunca haveria um mundo realmente ideal, no qual todas as almas pudessem encarnar. Então, através da vontade, união, respeito, amor, necessidade, concentração e principalmente da imaginação e de um sonho em comum a todas, elas finalmente entraram na mesma frequência de pensamento e se fundiram em uma só. E assim surgiu a Desenhadora no meio do nada infinito, abrindo os seus gigantes olhos...

Ouvindo isso, Alice arregalou os olhos e perguntou:

-- Foi neste momento que a Desenhadora abriu os olhos e descobriu que existia?! - perguntou com um olhar de quem descobriu o universo, maravilhada com a informação adquirida.

-- Sim, foi por isso que a Desenhadora sentiu tanta inveja dos seres humanos. Na verdade, Ela foi o que mais gostou de ser uma pessoa mortal. Ela foi a concentração de todas as vontades juntas em um só...

-- Ela era fusão de todas as almas juntas mesmo! - disse Alice, esperando que o eremita lhe desse mais informações sobre o assunto que a fascinava muito. Sua alma estava sorrindo, e tudo isso era uma espécie de distração para ela, pelo menos era assim que estava tentando ver essa história que estava ouvindo da boca desse bom velhinho, que lhe disse:

-- Sim, Alice, agora Ela também está aqui na Terra, vivendo como uma pessoa ideal...

Alice olhou para o eremita com um olhar tão fixo que até ela mesma sentia que a dúvida era muito importante, e finalmente perguntou:

--Ramones, me diga uma coisa: se as pessoas nascem, crescem, são felizes, aprendem, envelhecem, trocam de corpos (morrem), nascem novamente, crescem, são felizes, aprendem, envelhecem, e morrem novamente, e isso acontece por toda a eternidade, me responda: os ricos teriam medo de nascer pobres em outra reencarnação e, por esse motivo, dividiriam suas riquezas com os pobres, para que na próxima vida não se tornassem eles mesmos os pobres famintos, necessitados e infelizes? Sabendo disso, os ricos seriam mais justos e tolerantes com as pessoas necessitadas que exploravam até então? Elas ajudariam a dividir a renda?

O eremita olhou para Alice com uma expressão de perplexidade e finalmente perguntou:

O que é um rico e o que é um pobre, minha jovem?

Alice o olhou como se tivesse certeza de que o eremita estava brincando com ela. Ele havia dito coisas tão profundas que jamais pensou em ouvir de alguém, mas agora fazia uma pergunta tão óbvia assim? Ela virou-se para ele, olhou-o nos olhos e perguntou ironicamente:

Você não sabe o que é dinheiro, bolsas de valores, dólar, e todas essas coisas?

Não faço ideia... - respondeu o eremita sem vacilar nenhum instante.

Alice examinou a figura do eremita querendo mostrar a ele que não era uma tonta e que sabia que ele era "bem crescidinho" para não saber dessas coisas tão simples, e que também não era apropriado fazer brincadeiras sem graça.

Há quanto tempo você está aqui no deserto, longe de sua família, Ramones? - perguntou ela.

Ela perguntou isso como um delegado de periferia que está trabalhando em um final de semana. Ela estava irritadíssima com a atitude do eremita, pois não gosta de palhaçada com ela.

O eremita, com uma calma sobrenatural, respondeu-lhe, mostrando com a mão direita uns 65cm de altura, mais ou menos.

-- "Vivo" aqui desde que era deste tamanhinho. Lembro-me de que saí engatinhando de dentro da minha casinha e fiquei aqui mesmo onde estou agora, olhando o pôr-do-sol...

Alice achou engraçado e deu um belo sorriso, "dando corda" aoeremita. Fingiu que acreditou no que ele contou para vê-lo entrar em contradição e perguntou, achando que o eremita iria gaguejar por estar mentindo:

-- Então, onde estão teus pais?

-- Nunca os conheci... Acho que nunca tive pai nem mãe... – respondeu-lhe mais uma vez, hesitantemente.

-- Quem lhe deu esse nome, então, meu bom amigo? – perguntou Alice, abrindo um sorriso maroto.

-- Na verdade, mulher, eu nunca tive oportunidade de falar com ninguém. Você é a primeira pessoa com quem tenho um diálogo. Uma vez passaram quatro pessoas em duas coisas que faziam uns barulhos bem altos assim, ó: raamm... raammm... raammm... raammm...

Respondeu o eremita, fazendo uma careta ao descrever o som das "coisas" que ele disse que viu e ouviu o som que fizeram.

-- Motos? – disse Alice, esclarecendo aoeremita que do jeito que ele falou, quase a convenceu de que realmente nunca tinha visto motos, exceto por aquelas que ele mencionou agora.

-- Elas não falaram nada comigo... Não me viram... – disse o eremita, continuando seu relato.

-- Só ouvi as mulheres deles gritando de alegria...

O eremita fez uma pequena pausa e continuou a relatar mais coisas de suas experiências no deserto, enquanto Alice ficou a observá-lo apenas.

-- Em outra ocasião, passaram mais três pessoas. Era um casal e uma criança em uma coisa maior que fazia um barulho assim, ó: umm... umm... umm... umm...

-- Igual aquele ali, olha? – apontou Alice para seu Jeep alugado, que estava próximo da choupana do eremita.

-- Sim, sim! – disse o eremita com um entusiasmo desnecessário.

-- Era igual àquilo mesmo. Então, quando eles passaram lá embaixo, o menino me olhou e exclamou: "Papai, olha o Ramones lá em cima!". Foi por esse motivo que eu lhe disse que meu nome era esse... Foi porque só conheço este nome e os que você citou quando contou a história da sua vida para mim, entendeu, mulher?

Quando Alice se preparava para fazer mais perguntas sobre o eremita, ele se adiantou e perguntou a ela:

-- Você não vai me responder o que é um rico e o que é um pobre, não é? Fiquei intrigado com esses vocábulos, sabia?

Alice, ainda meio confusa com tudo o que ouviu do eremita, resolveu responder à sua pergunta e contou-lhe tudo sobre o que é dinheiro, riqueza e como era a vida dos ricos e dos pobres. Falou que enquanto os ricos comem lagostas, caviar...E há muitos pobres e os misersáveis que comem alimentos que vem do lixo e comem também sopa de papel. Falou sobre bolsa de valores, dólar, petróleo, ouro, diamantes e de muitas outras coisas. Quando terminou de falar, o eremita ficou mudo por alguns instantes. Parecia que ele ficou muito triste com sua nova descoberta. Então, a "impaciente" perguntou novamente:

-- Responda-me, por favor, os ricos terão medo de serem pobres em outras reencarnações e, por isso, dividirão suas riquezas e posses com os pobres?

Perguntou Alice com um semblante que mostrava que queria muito saber a resposta de sua pergunta.

-- Não, mulher, eu acredito, com todas as minhas forças, que quando todas as pessoas descobrirem a verdade, que elas nascem e trocam de corpos (morrem) por toda a eternidade e souberem também de tudo o que lhe contei, acredito, sem sombra de dúvidas, que as pessoas, quando souberem da verdade, a verdade as libertará desse absurdo e irão dividir o que têm com as outras pessoas sim, entretanto, será por amor. As pessoas descobrirão que são, efetivamente, irmãs espirituais e que "nasceram ao mesmo tempo" e se uniram para fazer a Projetista. Se uma única consciência não apoiasse e aprovasse o Projeto Final de Construção do Mundo, nunca teriam feito a Projetista, e nada disso existiria. As pessoas saberão que as almas se amavam, se respeitavam, se uniram. Elas se lembrarão e voltarão a se amar como irmãs que são em verdade, e em espírito (consciência).

--- Quando todas souberem da verdade, dividirão suas coisas, suas posses com os pobres, ou seja, suas almas irmãs, não por medo de nascerem pobres, mas porque entenderão que não é apenas um pobre miserável que está ali, mas sim, sua irmã espiritual! Saberão que se amavam muito, e foi o amor delas todas, junto com a união e o respeito, que fizeram a Desenhadora existir e possibilitaram o mundo que estamos vendo! É por isso, mulher, que acredito com muita força que não será o medo que fará com que as pessoas se ajudem e sejam mais justas umas com as outras...

--- Quem fará essa transformação será o amor, um sentimento nobre que as pessoas descobrirão dentro de si. Esse amor, que estava adormecido, será responsável por fazer maravilhas e milagres no mundo. As pessoas perceberão que são irmãs e se unirão em irmandade. O amor as tornará melhores, mais justas, amorosas e felizes.

Alice ficou feliz ao ouvir o eremita falar sobre o amor e a irmandade dos seres e perguntou se o racismo também iria acabar. Ela queria saber se as pessoas lutariam contra o preconceito racial, temendo a discriminação em outras vidas.

O eremita até tentou sentir o significado das palavras ditas por Alice, mas não conseguiu entender e pediu para ela explicar o que é racismo. Alice ficou surpresa que ele não soubesse e perguntou se ele estava mentindo. Depois de examinar seus olhos, ela acreditou que ele realmente não sabia do assunto e explicou sobre as diversas etnias.

Alice pensou que talvez ele fosse um eremita que não acreditava no mundo "civilizado" que trouxe desgosto e fingia esquecer de tudo. Ela respeitou isso e continuou a explicação sobre a discriminação racial.

O eremita ficou triste ao saber que existiam pessoas de diferentes cores e que algumas se sentiam superiores às outras. Ele acreditava que a Desenhadora fez várias cores diferentes para que o mundo fosse mais colorido e alegre, sem achar que uma pessoa é superior a outra por causa da cor da pele. Ele acreditava que ninguém é superior a ninguém por motivo algum e que as pessoas com atitudes realmente superiores são aquelas que demonstram respeito e amor a todas as pessoas.

Para o eremita, as pessoas realmente superiores são aquelas que sabem que ninguém é superior a ninguém e que agem com respeito e amor. Elas sabem que devem escutar os ignorantes e os fracos em sabedoria, porque eles também têm histórias para contar. As pessoas superiores são importantes para o todo em si e para o meio em que vivem. Os conscientes e aqueles que amam também têm atitudes superiores. O amor torna as pessoas superiores porque elas ficam generosas e são exemplos para os outros.

-- Mas, Ramones, responda-me: as pessoas deixarão de ser racistas com medo de serem discriminadas em outras encarnações? -- interrompeu Alice. Ela não consegue esperar que o eremita faça seus discursos longos e queria que ele a respondesse com apenas monossílabos: sim ou não. O eremita até tentava não responder com tantas palavras, mas quando percebia, já havia falado muito. Finalmente, ele respondeu à sua hóspede, mas não conseguiu com um monossílabo:

-- Eu pressinto que quando as pessoas descobrirem a verdade, elas não vão parar de discriminar as outras pessoas de etnias diferentes por medo de serem discriminadas. Quando as pessoas souberem que são irmãs espirituais e que a Desenhadora veio à existência através da união de todas as consciências juntas, e que se uma só alma não amasse às outras almas com todas as suas forças, a Desenhadora nunca surgiria e a vida na Terra nunca existiria também. A irmandade das almas foi um dos fatores decisivos e todos seriam apenas almas vagando pelo meio do nada infinitamente, desejando e sedentas de vontade de fazer este mundo tão sonhado. Então, em verdade, lhe digo que quando as pessoas conhecerem a verdade, a verdade as libertará, e os irmãos se lembrarão. O racismo se extinguirá pelo amor, não pelo medo, entendeu? Porque onde o amor reina, não há medo. As pessoas voltarão a viver em irmandade como era lá no meio do nada, ou seja, o lugar com a ausência de todas as coisas que se fazia presente, lugar onde elas se encontravam quando estavam se concentrando, se conhecendo, se respeitando e se amando para se fundirem em um só: a Projetista. Através do conhecimento da verdade, todas serão livres. Eu digo isso por saber que a verdade tem o poder de tirar as pessoas da ignorância e das trevas...

Os olhos de Alice voltam a brilhar ao ouvir o eremita dizer que em breve o mundo seria bem melhor, e que isso aconteceria quando todas as pessoas soubessem das "boas novas". Neste mesmo momento, Alice olha para o eremita e percebe que ele é muito mais branco do que havia notado ao chegar naquele lugar. Seu anfitrião era da cor de leite puro, mesmo estando no deserto desde quando engatinhava e isso faz muito tempo já que se encontra em idade avançada. Ela também notou que o sol, além de estar exatamente no mesmo ponto de quando chegou ali há tempo, emitia raios muito "brandos", quase sem calor. Achou isso estranho, mas quando ia tocar no assunto de por que o sol estava parado, o eremita percebeu e explicou-lhe algo que julgava ter esquecido de falar, e disse:

Os homens viverão em irmandade aqui na Terra, exatamente como era lá, no meio do nada infinito...

Alice parecia sentir as palavras do seu anfitrião entrarem em seu coração, que ainda estava muito apertado. Em seguida, ela perguntou quase que automaticamente:

As guerras acabarão também. Pergunto isso porque quando todas as pessoas descobrirem que são irmãs espirituais, acha que elas amarão mais as suas irmãs espirituais do que seus países de origem? Já sei, você também não sabe o que são países e guerras, correto?

Perguntou Alice, que parecia não duvidar mais do eremita. Ou ela estava realmente fingindo que acreditava para não fazer o eremita sofrer, já que desconfiava que ele estava no meio do deserto tentando não se lembrar do seu passado que julgava ter sido muito sofrido.

Não faço ideia, mulher... - respondeu a pergunta de Alice com certo desdém, sabendo que não era uma coisa muito boa o que ela iria lhe contar. Ele já estava frustrado em conhecer como era o "mundo civilizado".

O que são essas coisas? - perguntou, já percebendo que o que iria sair da boca da sua hóspede seriam coisas ruins.

Quando Alice terminou de contar ao eremita o que eram essas coisas, ele ficou pensativo e, depois de algum tempo, perguntou em tom claramente chocado com as novidades dos homens, seus comportamentos selvagens:

Imagine você, mulher. Você gostava muito de uma pessoa que fez algo que lhe agradou muito no passado. E agora você quer mata-la porque ela está com outro corpo morando em outro país sem lembrar de quem foi. E você vai mata-la porque o líder do seu país mandou você mata-la, dizendo que ela é sua inimiga, sendo que você nem a conhece nessa vida e ainda a amava em outra. Ainda, ela sempre foi sua irmã espiritual. E ainda, essa pessoa pode ser a encarnação da Desenhadora ou um parente carnal distante. Não vejo fundamento nesse negócio de guerra, nacionalismo e todas essas coisas. Porque, se as pessoas se reencarnam desde que o mundo é mundo, então todas as pessoas já têm um parentesco carnal também, além do espiritual, não é mesmo? Acredito que, quando todas as pessoas souberem da verdade, a verdade as libertará e o mundo será um só! Será um só país, e um só líder nesse país governará. Esse líder Supremo será o amor! Alice, entenda esse amor como sendo o conhecimento da verdade! As pessoas serão governadas por suas consciências e seus corações, visando somente o bem comum... O mundo será como uma só casa, em que todas as pessoas viverão em uma gigantesca irmandade que abrangerá toda a Terra. E não haverá outros países e nem guerras. E o que vai prevalecer é somente o amor. Você consegue imaginar o mundo assim, mulher? Todas as pessoas vivendo em paz? É simples, imagine: saia pelo mundo e diga a todas as pessoas que encontrar pelo caminho. Peça que elas façam o mesmo que você e livrem as pessoas da ignorância!

Quando o eremita olhou nos olhos de Alice, eles brilharam com ainda mais intensidade do que antes. Ela permaneceu em silêncio por um tempo, contemplando o pôr-do-sol.

O silêncio reinava, o vento não soprava e os dois observavam o sol, que parecia sorrir para eles. De repente, Alice pulou de alegria e perguntou ao lhe :

-- As pessoas vão se tornar ecologicamente corretas quando descobrirem a verdade sobre como o mundo foi criado e regido, e se preocuparão muito com a saúde do nosso planeta, nosso lar, não é mesmo, Ramones?

Percebendo que seu novo amigo era leigo em relação ao assunto da ecologia, Alice explicou tudo o que sabia sobre as catástrofes ecológicas causadas pela poluição, pela ganância dos homens em adquirir riquezas, pela indiferença em relação ao que acontece no mundo e, às vezes, pela pura estupidez.

O eremita, após ouvir tudo o que Alice lhe disse sobre a ecologia, meio ambiente, poluição e doenças relacionadas, respondeu meio decepcionado.

-- Nessa ânsia que as pessoas têm por possuir muitas coisas, como casas grandes, vários carros, centenas de objetos valiosos para satisfazer seu ego e vaidade e despertar inveja nos outros, está causando um acúmulo muito grande de resíduos na produção dessas coisas e também no descarte dos objetos quando ficam idosos ou as pessoas perdem o interesse neles. Tudo isso está poluindo imensamente o planeta. Além disso, a retirada indiscriminada de minerais e outros recursos naturais está cada vez mais alterando a biodiversidade e as condições do planeta, tornando difícil sua recuperação. A extração desses materiais e insumos está mexendo muito com a crosta terrestre, causando danos irreparáveis. Chegará um dia em que não haverá mais materiais para serem extraídos do planeta e não será mais possível ter objetos para todos. Chegará um tempo em que, com todas essas alterações no planeta, não haverá mais insetos, animais, árvores e, eventualmente, nem seres humanos, pois toda a Terra perecerá. As pessoas estão se destruindo (uma espécie de kamikaze sem ideologia). Se não cuidarmos bem do Planeta, ele ficará inviável para a vida. Não haverá mesmo vida na Terra em breve se isso não for mudado. As consciências precisarão planejar muito para reverter o estrago que já foi feito. Agora as pessoas vão se matar? Esse efeito estufa alterado vai matar todas as pessoas. O lixo vai causar muitas doenças, e a vida ficará cada vez mais difícil. Mas eu acredito, com todas as minhas forças, que quando todas as pessoas souberem da Verdade Universal, de como as coisas são na sua Realidade mais Suprema, o mundo melhorará. Haverá uma revolução, porque quando as pessoas tiverem consciência das coisas, não vão querer cometer um "suicídio". Essa é a palavra correta, porque as pessoas que estão matando o Planeta estão se matando também. Elas são homicidas (terroristas) também, porque estão condenando à morte todas as pessoas que vivem neste Planeta Azul!

Nesse momento, o eremita é interrompido por sua hóspede, que expressa sua preocupação:

-- Então, precisamos contar tudo para todas as pessoas agora mesmo, senão pode ser tarde demais! Precisamos esclarecea-las agora mesmo, precisamos contar-lhes a verdade sobre os mistérios da vida e do nosso planeta...

-- Sim, mulher, as pessoas precisam ser avisadas, acordadas e conscientizadas da verdade prontamente. Só assim esse processo de destruição e desrespeito a si mesmas, às outras pessoas e ao planeta será exaurido (eliminado, extinto)... Só a verdade libertará as pessoas de sua própria ignorância, de sua própria indiferença: só a verdade pode fazer isso... As pessoas têm que saber, todas elas precisam saber que prejudicando a natureza estarão prejudicando a si mesmas também no futuro.

Alice transmitiu uma expressão em seu olhar de quem realmente entendeu a necessidade de avisar as pessoas, e o eremita percebeu isso. Ela ficou meditando por quase uma hora inteira. Enquanto isso, o eremita apenas a observava com paciência semelhante à de um monge budista. Em seguida, ela olhou para o eremita e articulou:

-- Acredito que o mundo mudará depois que todas as pessoas conhecerem como são as coisas em sua Realidade Suprema. Mas, diga-me uma coisa, não haverá mais necessidade de religiões no mundo quando todas as pessoas descobrirem que quem fez o mundo está aqui conosco, correto? Na verdade, a Desenhadora que fez o mundo pode ser qualquer um de nós, e para provarmos que amamos a Desenhadora que fez o mundo, teríamos que amar a todos que encontrarmos, visto que não saberíamos qual pessoa é a Projetista... Então, teríamos mais um motivo para amarmos uns aos outros, assim como a Desenhadora nos amou poupando-nos da Perfeição e fazendo-nos Únicos como Ele quisera individualmente... E ainda provou que era o melhor para nós realmente vivermos como vivemos: Ela se fez em carne e vive em iguaiscondições a nossa. Acredito que essa atitude da parte Dela, quando se fez carne e igual a um de nós, foi a prova definitiva de que Ela pensou muito em nossa felicidade. Porque fazer as pessoas sofrer, perecer, adoecer, envelhecer, chorar e ficar olhando de lá de cima, achando que tudo isso é "legal" é uma coisa, agora, achar tudo isso "bom" e vivê-lo na pele (carne) e fazer parte desse sistema de coisas é outra coisa muito diferente!

--- Ela não só falou que era bom esse sistema de viver e reencarnar, agiu, se fez carne também, provou sua tese, seu amor, sua sabedoria infinita. Temos vários motivos para nos amarmos então! O caminho é um só: é o amor ao próximo. Essa é a religião do futuro! É uma religião que transcende a uma Divindade Pessoal: podemos ver a Divindade em todas as pessoas, talvez em tudo o que existe, pois foi com seu próprio corpo que a Desenhadora fez o Universo e suas leis autônomas para regê-lo, para reger-se a si mesmo, assim como a Terra é vivo o Universo tem vida como as pessoas...

Quando Alice disse isso, ela mesma se espantou com a tamanha eloquência de suas próprias palavras, e o eremita apenas a observou com admiração e orgulho. Depois, ele falou:

-- Concordo com seu raciocínio, mulher! O futuro recomeça, o mundo ainda é jovem, talvez uma criança ainda. Eu me pergunto se você consegue imaginar esse mundo de paz. Você consegue, Alicinha?

Perguntou o eremita, presenteando-a com um sorriso meigo e mostrando felicidade por conhecea-la:

-- Eu consigo! É fácil, basta tentar! O que você disse me fez lembrar de uma música de um homem, acho que é Raul Seixas, o nome dele... Na letra, ele diz assim: "Sonho que se sonha só, é apenas um sonho; sonho que se sonha juntos é realidade."

Ao escutar isso, o eremita presenteou-a com um novo sorriso de contentamento, e ela o retribuiu. Depois, ela fechou os olhos e logo os abriu novamente.

Alice e o eremita ficaram algum tempo contemplando novamente o pôr-do-sol. Ela ficou tímida e até ficou vermelha, mas criou coragem e perguntou ao eremita:

-- Você sabe o que é a homossexualidade, Ramones?

O eremita olhou para a Alice disse em seguida:

-- Não... Do que se trata este assunto?

O eremita percebeu que talvez o assunto fosse muito complicado para Alice e, tentando ajudá-la a se desinibir, disse:

-- Somos amigos, você sabe disso, não é mesmo, Alicinha? Pode falar comigo como falaria com sua melhor amiga, Ok?

-- Bem...

Mesmo depois que o eremita lhe disse tudo sobre ser amigos, ela ainda ficou com vergonha, hesitou um pouco e balbuciou, mas conseguiu articular. Porém, ela fechou os olhos e não conseguiu encará-lo:

-- Você disse que tinha apenas um tipo de existência antigamente, que esse ser era formado por homem e mulher juntos: andrógino, certo? E que esse ser era muito parecido com a Desenhadora e era noventa e oito por cento mulher e dois por cento homem, correto? E depois, a Desenhadora separou os dois e fez dois seres distintos, correto?

-- Sim...

Disse o eremita, e Alice continuou a lhe perguntar.

-- Só que existe ainda um terceiro tipo de sexo que não sei bem como chamar, talvez essa opção seja a homossexualidade. São pessoas que se sentem atraídas pelo mesmo sexo, gostam de fazer sexo e namorar uma pessoa do mesmo sexo, seja homem com homem ou mulher com mulher. Há casos em que gostam dos dois sexos, são bissexuais... Você sabe por que isso acontece? É errado agir assim dessa maneira?

Alice quis saber, mas ainda estava com muita vergonha de encarar o eremita nos olhos para ouvir sua resposta. O eremita respondeu com naturalidade:

-- As almas não têm sexo na verdade, elas têm a possibilidade de ambos os sexos. Quando se encarnam, se moldam de acordo com o sexo do feto em desenvolvimento dentro do útero materno. Logo que a alma se encarna, ela esquece de tudo e fica fraca, sensível, totalmente influenciável e desorientada. Justamente por esse motivo, fica quase inconsciente, sem poder e sem vontade. Isso causa um grande problema porque quando o futuro bebê é de um sexo e os pais querem que ele seja do outro, muitas vezes pode interferir e confundir o novo ser, causando-lhe dúvidas em sua existência encarnada, às vezes, para sempre... Isso acontece por causa da perfeita união entre a alma (mente) e o cérebro..."

Alice, com uma cara de quem não entendeu uma só palavra dita pelo bom velhinho que mais uma vez, é claro, iria dar uma volta danada para explicar as coisas a sua nova amiga, que lhe perguntou:

-- Não entendi bem o que você disse... Pode explicar melhor tudo isso para mim?

E o eremita respondeu-lhe:

-- Mulher, quando um mulher está em seu período fértil, ficam muitas consciências (almas desencarnadas) perto dela, esperando que ela seja fecundada pelo parceiro que escolheu para ser o pai de seu filho... Quando isso acontece, muitas consciências disputam a vaga daquele corpo, que logo ganhará a oportunidade de viver no mundo IDEAL, uma coisa que tanto almejam... No entanto, quando uma consciência entra no óvulo e não sabe qual é o sexo do futuro bebê, se será menino ou menina, essa alma ignora esse fato. Na verdade, ela nem se importa com isso... As consciências só querem mesmo ter seus corpos para se reencarnarem e poderem "passear" no mundo IDEAL: viver. Para elas, viver é estar aqui, não importa como, só querem estar aqui encarnadas. Quando uma alma entra no embrião, ela já se esquece de tudo isso, pois é um dogma (lei) que a Desenhadora estabeleceu...

As almas realmente não têm ideia do que está acontecendo... O seu comportamento será influenciado porque sentem que seus pais querem o melhor para elas, o seu bem-estar, por isso se deixam influenciar pelo desejo de seus pais já queridos e amados... Agora, imagine que o embrião é de um futuro menino e os pais desejam que seu bebê seja uma menina... A vontade dos pais é tão forte que influencia na mente do ser que está sendo gerado. E isso acontece por causa da confiança que o embrião tem em seus pais... É incrível como é tão forte o desejo dos pais, tão intenso que leva essa dúvida a acontecer nos futuros bebês, e essa dúvida é mantida e levada para esta existência terrestre inteira... Isso ocorre porque o futuro filho não quer desagradar aos seus futuros pais, e os embriões já entendem que os pais querem o melhor para eles... Então, eles se entregam de corpo e alma, literalmente falando, aos desejos de seus pais. No entanto, não é possível mudar o corpo do embrião apenas com o desejo! Só é possível confundir o ser existencial, e ele pode ficar com um corpo de menino e pensar como uma menina, ou vice-versa! Às vezes, esses desejos ficam armazenados nos cromossomos e no subconsciente, e essas influências causadas pelo desejo ficam ligadas aos hormônios...

Você sabia que às vezes essas informações ficam gravadas no código genético de uma pessoa, e esse desejo só vai realmente influenciar em um feto em gerações posteriores? Sabia que tudo começou a ser modificado com o desejo? Sabia, Alice, que às vezes essa influência foi iniciada no tataravô? Mas há outras vezes em que é a própria alma que não quer ser do mesmo sexo do embrião! Ela luta, reluta e acaba ficando com o corpo de um sexo e a cabeça do outro. Acredito que os homossexuais que são felizes, o são porque escolheram ser assim! Cada alma é um ser único e diferente dos outros, todos têm suas próprias razões e desejam ser felizes como qualquer outro ser humano! Além disso, existem casos em que a homossexualidade existe como uma homenagem à mulher e casos em que ela é uma preparação para uma futura recompensa, em que uma pessoa que nasceu homem será mulher em outra encarnação.

Acredito que esse foi um dos motivos pelos quais demorou tanto tempo para as almas se transformarem na Projetista. Cada ser é feliz à sua maneira e muitas vezes queremos que os outros sejam iguais a nós. No entanto, as pessoas precisam entender que devem aceitar as diferenças, pois todos são diferentes uns dos outros, alguns mais diferentes que outros, mas ainda assim, diferentes. Pessoas que não aceitam a diferença do outro é porque não aceitam as diferenças em si mesmas. Em vez de tentar fazer com que as outras pessoas sejam infelizes como elas, as pessoas deveriam ajudar a resolver seus próprios problemas.

Quando as pessoas souberem que o amor pode liberla-las de tudo isso, procurarão um meio de aprender a amar. Todas as pessoas deveriam praticar a empatia e serem chamadas de tolas se não o fizerem! Além dos motivos que já mencionei anteriormente, a homossexualidade também existe porque, quando a Desenhadora criou os seres andróginos, precisava que eles se multiplicassem. Para isso, eles teriam que "conhecer" outros seres, ou seja, outros andróginos, já que não podiam se autofecundar. A fecundação era muito importante, como eu já disse antes.

--- Quando a Desenhadora separou os seres andróginos, tornando-os homens e mulheres, o CIO continuou a exercer sua influência sobre algumas dessas pessoas que haviam sido separadas. Se você reparar bem, Alice, quando todos os seres eram andróginos, todos eram bissexuais e esse comportamento era a coisa mais normal daquele momento da História Humana. Essa tendência (força) continuou a existir, uma vez que a Desenhadora não viu nada de errado nisso tudo e deixou que tudo continuasse assim mesmo. Sabe, Alice, quando um pensamento ou uma vontade é muito forte, ela se aloja até nos cromossomos das pessoas e, de vez em quando, essa influência acorda dentro de alguém e essa pessoa começa a agir igual a quando era andrógina, sentindo-se atraída por uma pessoa do mesmo sexo.

--- Quando a Desenhadora percebeu essa influência que as pessoas adquiriram de se atraírem pelo Sexo Idêntico, resolveu adequar os corpos de todas as pessoas para que todas pudessem “usufruir” dos prazeres dessa possibilidade, caso fossem escolhidas pelo acaso a desenvolver essa disposição.

--- A Desenhadora achou justo, sobretudo, que os homossexuais continuassem a existir, porque quando Ela separou os seres andróginos, achava que as pessoas só iriam se unir (viver em pares) quando achassem suas respectivas metades. No início, a Desenhadora acreditava que sua criação só iria viver em pares (casais) se Ela influísse através do CIO, mas, quando, sem a Desenhadora ordenar, as pessoas desenvolveram essa tendência, Ela se agradou por acontecer uma coisa que Ela não tinha ordenado. Ela achou justo que sua criação conservasse o que ela criou sem a ajuda Dela: homossexualidade.

--- E foi por isso que a Desenhadora resolveu deslocar a localização do ânus dos homossexuais, colocando esse órgão, estrategicamente, bem próximo ao órgão sexual deles, para que as terminações nervosas que dão estímulos sexuais que "serviriam" para estimular a procriação e ajudar a dar mais prazer a esses indivíduos. Depois de muito pensar, Ela resolveu deixar essa ideia Dela se tornar padrão para todas as pessoas, homossexuais ou não, e, depois de pensar ainda mais, resolveu deslocar também nos animais, para deixá-los semelhantes aos seres humanos...

--- Quando a Desenhadora mexeu em boa parte da anatomia dos corpos de sua criação, adaptando-os para que os homossexuais pudessem sentir ainda mais prazer, pensou que não deveria permitir isso, porque queria encher a Terra rapidamente com pessoas, e o sexo entre pessoas do mesmo sexo não produziria descendentes. No entanto, depois achou melhor permitir que o Terceiro Sexo continuasse a existir, porque quis assim. Sabia que um dia a Terra estaria superpovoada, e esse tipo de sexualidade seria uma forma de controle de natalidade. E assim foi feito. A Desenhadora decidiu presentear toda a sua criação com uma vontade de fazer sexo como Arte. Quando Ela tomou esta decisão, teve a ideia de aumentar o prazer das pessoas, para que elas continuassem a ter vontade de fazer sexo mesmo quando não tivessem a intenção de procriar. Devido a essa tendência dos homossexuais, a Desenhadora dotou todas as pessoas com a consciência de que o sexo é agradável, desde antes do ato em si. Antes disso, as pessoas só percebiam o prazer durante o sexo, quando já estavam sob a influência da paixão (CIO). Depois disso, as pessoas já sabiam que o sexo seria bom antes mesmo de começar. A Desenhadora gostava dos homossexuais, e muito, até os invejava, assim como invejava toda a sua criação. As pessoas que gostam de fazer sexo deveriam agradecer aos homossexuais, porque eles foram a inspiração para que Ela criasse a sua criação.

Mesmo depois que o eremita disse tudo isso, Alice ainda tinha dúvidas e perguntou:

-- Então, Ramones, não é errado ser homossexual?

-- Não, mulher, na verdade, os homossexuais têm todas as razões para serem felizes...

Alice o interrompeu novamente:

-- Mas os homossexuais são frequentemente discriminados pelas outras pessoas. Conheço muitos heterossexuais que são infelizes também, afinal...

Ela fez uma pequena pausa e perguntou:

-- Você sabe por que isso acontece, Ramones?

E ganhou uma resposta prontamente de seu interlocutor:

-- Mulher, a pessoa que é infeliz é porque ainda não se encontrou. Quando você sabe quem é e que tem o direito de ser quem é, nada pode atingi-la. As pessoas só podemlhefazer infeliz se você permitir, se você não souber dos seus direitos existenciais. Algumas pessoas são infelizes por natureza, independentemente de serem homem, mulher, heterossexual ou homossexual, adulto ou criança, branco ou negro. No entanto, existem almas encarnadas que seriam felizes de qualquer maneira, independentemente desses fatores. Elas sabem que o objetivo de tudo isso é a felicidade, e o mundo é um grande playground. A maioria das pessoas só precisa de uma chance para aprender a amar, respeitar aos outros e ser feliz. Alguns homossexuais são infelizes porque são discriminados, assim como alguns negros e outras pessoas. Isso se estende aos pobres e a todas as pessoas, mas quando as pessoas descobrirem que são irmãs espirituais, se amarão e serão felizes. Descobrirão que, além disso, podem ser homossexuais em outra encarnação.

Alguns homossexuais que não aceitam sua homossexualidade e são infelizes são uma daquelas almas que são infelizes por natureza. Seriam infelizes sendo homem, mulher, adulto, criança ou idoso. Eram infelizes quando eram almas no meio do nada, e serão infelizes para todo o sempre. Essas almas infelizes estão entre homens e mulheres, não importa em que sexo nascerem, não importa em qual sexo vivam, não importa a idade que tenham, sempre serão assim, infelizes, frustradas, e farão tudo o que puderem para fazer as outras pessoas infelizes como elas. Foi um dos motivos pelos quais demorou tanto tempo para as almas se unirem, se entenderem e se transformarem na Projetista, e daí acontecer o mundo ideal. Mas quando as pessoas descobrirem o amor, serão livres. No entanto, essas almas encarnadas precisam de ajuda para se adaptarem à realidade e serem felizes.

Ao escutar isso, Alice suspirou e disse:

-- Ramones, gostei de tudo que você me ensinou até agora, apesar de não concordar com tudo. Mas me responda uma coisa que está me deixando furiosa: se as consciências sempre trocarão de corpos (perecerão e reencarnarão), como você disse, as almas "que não foram boas" quando encarnadas irão se reencarnar da mesma maneira que as almas "que foram boas"? Talvez eu possa dizer que todas as almas são iguais e merecem o mesmo tratamento na ordem do rodízio das reencarnações? Quero dizer, como cada pessoa (alma) é de um jeito, porque tem um monte de coisas que a influenciam em sua conduta, queria saber se uma alma encarnada que foi uma excelente pessoa terá o mesmo tratamento que uma alma que foi má. Ela irá se reencarnar sem nenhum privilégio em relação às almas que foram más? Ser bom ou mau não faz diferença neste sistema que a Desenhadora predeterminou? Posso ser uma pessoa má ou boa e sempre me reencarnar sem problemas?

Alice perguntou isso ao eremita, achando injusto que não haja punição para as pessoas com má conduta. O eremita respondeu rapidamente:

Não, mulher! As almas que foram profundamente boas - o que é extremamente raro, já que a compaixão é sua característica mais profunda - se reencarnarão antes mesmo de seus antigos corpos esfriarem. Mas as almas que foram muito ruins levarão bilhões de anos para reencarnar novamente. Existem algumas almas que só se reencarnarão duas vezes em toda a eternidade. As consciências que esperam muito tempo para se reencarnar sofrem muito, pois ficam vendo seus amigos reencarnando uma vez após a outra, por terem sido boas pessoas - um grau de evolução muito elevado. Mas essas consciências não podem reencarnar porque a Desenhadora estabeleceu leis universais que regem o sistema de coisas, e que não podem ser alteradas. Para a maioria das almas, o mais importante é estar encarnada no mundo físico. E estar privado disso é uma dor existencial muito grande, semelhante a uma queimadura viva que demora muito a desaparecer, dependendo do comportamento da alma quando estava encarnada. A vontade de se reencarnar é tão grande que, quando não é possível, a alma sofre intensamente. Essas leis foram estabelecidas pela Projetista, mas foram as próprias consciências que as planejaram previamente.

Alice perguntou, chateada com o castigo demasiado imposto às almas fracas que eram alienadas e não conseguiram libertar-se das suas falhas de entendimento espiritual. Ela achava que era justo punir as almas que praticaram o mal, mas achava que a punição deveria ser mais suave.

É que, quando as consciências planejaram o mundo, algumas almas só concordaram com esse processo se as pessoas que fizessem coisas "erradas" pagassem com um tempo de espera na "Dimensão Neutra" até que sua pena fosse cumprida. Essa pena variava de acordo com a conduta da pessoa aqui no Mundo Ideal. A Dimensão Neutra é semelhante a este lugar, porque as almas conseguem ver tudo o que acontece aqui no Mundo Ideal. É por isso que elas sofrem tanto e querem vir logo para cá.

Mas, Ramones, e como é que as almas planejaram para que a Desenhadora não saísse do Plano Original e fizesse o mundo do jeito que uma só alma queria? Quero dizer, eram várias ideias juntas, certo? Então, como é que a Desenhadora conseguiu seguir o plano à risca, sem fazer coisas que uma alma queria só para si, sem a aprovação das outras?

Bom, a Desenhadora não poderia fazer isso. Ela estava predestinada a fazer o que foi combinado. As almas fizeram tudo de maneira que a própria Desenhadora achou que Ela era a primeira e única ser a existir quando abriu os olhos. Ela nem se lembrava de que eram todas as almas juntas. Ela achava que era o início de todas as coisas, o "começo de tudo". Mas, na verdade, ele era apenas algo muito semelhante a um programa de computador executando o que o programador quis.

E como Ela fez as leis do rodízio das reencarnações, Ramones?

As almas preestabeleceram que a Desenhadora pensasse que tinha o controle de toda a situação. Ela fez o rodízio das consciências pensando que estava apenas desenvolvendo um método de seleção para as consciências não se atrapalharem na hora de se reencarnarem. Ela foi "programada" para nem saber que isso era uma espécie de punição. Na verdade, Ela era tão ignorante quanto as almas. Ela só achava que era dono de todo o saber, mas era apenas dono de todo o saber das consciências juntas.

-- O que você acha desse rodízio e das punições, Ramones? Você acha justo esse sistema de punição?

-- É que aqueles que eram "conscientes" e bons apoiaram essa lei porque acreditavam que, se as pessoas fossem punidas, seriam mais "boazinhas" em outras reencarnações... Eu, efetivamente, não gosto da palavra "punição"... Acredito que as pessoas deveriam ser ensinadas e esclarecidas...

-- Eram essas almas conscientes a maioria ou a minoria? Estou falando das almas conscientes que sugeriram a ideia da punição com a espera na Zona neutra (inferno)...

-- Essas almas eram a minoria. Elas conseguiram fazer com que essa lei fosse estabelecida porque, na verdade, a maioria das consciências só queria estar encarnada! Depois, elas veriam o que fariam. Elas estavam ansiosas para fazer parte do mundo, entendeu? No início das discussões, essa lei foi um dos principais motivos para a demora na união e consenso-geral das almas, mas depois elas ficaram mais flexíveis porque queriam estar encarnadas o mais rápido possível e pouco se importavam com a demora em voltar a se reencarnar novamente. Elas queriam, inclusive, sentir como seria ter um corpo humano pela primeira vez e estavam ansiosas por essa experiência. Quando as discussões se prolongavam, elas apoiavam as leis para poderem voltar logo a sentir um corpo e emoções.

-- Então, seria uma espécie de castigo para as almas ficar esperando sua pena ser cumprida, ver toda a vida acontecendo no Mundo IDEAL (aqui) e as almas lá pagando a pena (desesperadas!) e não podendo fazer parte da "verdadeira vida", na opinião delas. Estar aqui, não importa como, era bom demais. Elas acreditavam que este mundo, mesmo com todos os problemas, era muito melhor do que estar na "Dimensão Neutra". É isso, Ramones?

Perguntou Alice com uma expressão de dúvida.

-- Sim, mulher, para uma alma ver tudo isso de perto, como eu já disse, elas estão presentes em todos os lugares, em uma frequência de existência diferente da nossa. A partir dessa frequência, elas conseguem observar a vida acontecer aqui, mas não podem participar dela plenamente (no mundo ideal), o que é uma tortura realmente horrível para essas pobres almas! Elas anseiam por estar aqui e não poder, é tão sofrido que parece queima-las. A sensação é a mesma que uma pessoa encarnada teria se fosse jogada no fogo e ficasse lá por muito tempo. Essa é a forma como a maioria das almas se sente quando ficam muito tempo fora de um corpo que possa lhes proporcionar as sensações do mundo ideal. Você se lembra, Alicinha, quando eulhedisse que a Desenhadora invejava cada pessoa, independentemente da maneira como vivia, inveja todas elas sem exceção? Lembra? Então, sabe por que a Desenhadora sentia tanta inveja das pessoas por elas poderem estar encarnadas? Simplesmente porque a Desenhadora era a vontade de todas elas juntas... As almas acreditam que é maravilhoso estar aqui. No entanto, acredito que, mesmo sendo emocionante viver aqui, é melhor as pessoas se ajudarem mutuamente e realizarem coisas que realmente as deixem felizes na vida.

Alice estava fixando o olhar no eremita quando percebeu que ele nunca piscava nem engolia saliva como as pessoas normais. Mas ela logo esqueceu e fez outra pergunta, já que esse assunto a deixava irritadíssima e ela queria resolver isso, então perguntou:

-- Ramones, você não sabe o que é machismo, certo?

-- Não faço ideia do que seja isso, mulher. Diga-me o que é.

Alice suspirou lentamente e explicou com um tom de alegria por se sentir importante em ajudar o eremita a entender as coisas:

-- Basicamente... - disse ela, fez uma pausa e continuou - Os homens acreditam que são superiores às mulheres e as tratam com inferioridade, dizendo que elas existem apenas para procriar, fazer bebês, dar prazer aos homens e que elas devem ser subjugadas pelos homens, e ainda fazer tudo o que eles querem, como querem, na hora e do jeito que querem! Eles dizem essas asneiras como se as mulheres não fossem capazes de pensar por si mesmas. Alguns homens ainda batem em suas mulheres achando que é certo, argumentando de forma boçal que batem nelas porque elas são suas propriedades. Como se as mulheres fossem objetos deles. Mas meu marido não era assim. Ele era bom, muito bom para mim!

Quando Alice terminou de falar, uma lágrima escorreu em seu rosto. Ela sentiu saudades de seu marido e de suas crianças.

O eremita percebeu isso e não sabia o que dizer, então se calou. Alice olhou para o anfitrião e recebeu um abraço carinhoso. No entanto, Alice não tinha percebido ainda que o corpo do eremita não possuía o calor de um ser humano normal. Subitamente, o eremita respondeu à pergunta que sua hóspede havia feito sobre o machismo:

-- Sim, esse negócio de machismo acabará... Quando todas as pessoas souberem que os primeiros seres eram noventa e oito por cento mulheres, e que a Desenhadora fez os homens apenas para ajudar na perpetuação da vida na Terra, e que a Desenhadora poderia ter feito com que a vida fosse perpetuada sem a participação dos dois por cento: dos homens...

-- Então, as mulheres são muito especiais, Ramones?

Alice interrompeu o eremita novamente com outra pergunta, porque ela gostaria muito de receber uma resposta afirmativa e realmente teve êxito em sua expectativa:

-- Sim, as mulheres são seres maravilhosos mesmo! Lembra quando conversamos sobre a religião do futuro? Que as pessoas teriam vários motivos para amar ao seu próximo? Então... Quando a Desenhadora dividiu os seres e fez deles homens e mulheres, Ele disse que a mulher é uma mulher, porque ela é capaz de gerar um corpo dentro dela e presentear uma alma “irmã dela” (um bebê) com um mundo para fazer o que bem quiser. Na verdade, como as almas sempre foram irmãs espirituais, vocês, na verdade, não são realmente mães de seus filhos no Mundo Espiritual, são irmãs, sabia? Vocês mulheres preparam uma nova Existência Terrestre, e isso é Divino! É maravilhoso! As mulheres fazem milagres! Eu acredito que todas as pessoas deveriam reverenciá-las por esse motivo...

... Quando estiverem diante de uma mulher que esteja preparando um novo ser (grávida), deveriam se curvar diante de tamanha maravilha que é tudo isso...

... A Desenhadora pensou em dotar a mulher com a capacidade de gerar filhos sem a presença do homem, um por ano. Ela ficaria grávida quando os óvulos estivessem prontos e fossem diretamente para o útero, e lá se desenvolvessem “andróginamente”. No entanto, Ela, em sua “infinita sabedoria”, resolveu dar ao homem uma pequena participação em tudo isso... Ela deixou que a mulher decidisse quando e quem seria seu “ajudante” nesse processo, nesse milagre... Foi aí que entrou o homem... Senão não haveria os homens, só haveria seres mulheres...

-- Então, você acredita que quando a verdade vier à tona, os homens passarão a respeitar as mulheres?

Perguntou Alice, animada, e recebeu a seguinte resposta do eremita:

-- Sim, minha querida, os homens sentirão orgulho em estar próximos de seres tão maravilhosos. Quando entenderem a verdade, não apenas respeitarão as mulheres, mas também as reverenciarão. Em verdade, digo que os homens sentirão inveja das mulheres por serem uma mulhertão especial. A inveja do útero...

...Um dos motivos da homossexualidade é justamente esse, um homem se arrepende de ter sido malvado com as mulheres e descobre que elas são muito mais importantes para a perpetuação da vida do que eles...

...E quando percebem que agiram erroneamente, tentam em outra encarnação nascer no corpo de uma mulher para se redimirem de seus equívocos. Mas, eles não têm dignidade suficiente para serem um ser tão maravilhoso! Em verdade, digo que se não fossem as mulheres, os homens não existiriam. Isso é um fato inquestionável, e os homens devem aceitar, se orgulhar e aprender a conviver com isso numa boa. Somente assim eles poderão ter a honra de nascer como uma mulher, ainda quando forem homens. Mas para isso, terão que evoluir muito!

Alice ficou sem palavras, olhando o nada distante. Depois, perguntou:

-- Ramones, estou muito feliz com tudo o que você me disse, mas você realmente acha que nós mulheres somos tão maravilhosas assim, como disse?

Alice fez uma carinha de menina feliz nesse momento, pois estava muito contente com tudo o que aprendeu. O eremita respondeu:

-- Sim, minha querida, você já parou para pensar em como a vida é um grande milagre? Todas as pessoas são de carne e osso e andam por aí, "fazendo e acontecendo", pensando, tendo ideias, sentindo coisas e fazendo história, sendo donas de suas próprias condutas. Você não acha tudo isso incrível? Maravilhoso? Não parece que a vida é tão incrível que parece até um sonho? Não parece que é incrível demais para ser real?

-- Sim, mas os homens também andam, falam e pensam. Ou pelo menos acham que pensam... - disse Alice, chateada por se lembrar de alguns homens que acham que são donos de suas esposas. O eremita respondeu com orgulho no tom de voz:

-- Sim, minha querida, mas os homens nunca terão o privilégio de dar à luz a um bebê, ou melhor, dar a criança à luz. "Dar um mundo para uma criança brincar". Um homem nunca poderá segurar em seus braços um ser que ele mesmo tenha gerado dentro de si! Nunca poderá alimentar um filho com um alimento que produziu internamente...

... Isso é graças às dádivas da Projetista, que concedeu às mulheres essa honra, esse privilégio! É por isso que os homens sempre discriminaram as mulheres e não querem reconhecer que as mulheres se parecem mais com a Desenhadora do que eles! As mulheres são seres muito importantes (Divinos), enquanto eles são apenas uma pequena parte de tudo isso. Os homens só ficaram com uma pequena semelhança com as mulheres, que são os peitos atrofiados que a Desenhadora deixou neles quando separou os seres, formando homens e mulheres. As mulheres são especiais...

... Em verdade,lhedigo que se a Desenhadora pudesse escolher com qual sexo voltaria à Terra, com certeza seria como uma mulher em todas as suas passagens pela Terra, em todas as suas reencarnações. Mas isso não seria justo, e Ela queria ser como as outras pessoas, sem privilégio adicional. No entanto, Ela não quis abrir mão de poder sempre ser uma mulher. A Desenhadora escolheu ser uma menina na primeira vez, na segunda vez, na terceira vez e em todas as vezes que Ela reencarnou. Ela escolheu! - exclamou o eremita, como se estivesse defendendo sua própria honra. As palavras do eremita emocionaram Alice, que fechou os olhos e ouviu bem baixinho a alegria de seu coração que lhe dizia:

-- O machismo vai acabar, o machismo vai acabar...

Neste momento, depois de fazer uma longa pausa para meditar sobre os insetos que a Desenhadora criou para realizar as tarefas que Ela não poderia mais fazer, já que se tornou uma pessoa comum, Alice reflete sobre as baratas e tenta entender qual a função que a Desenhadora lhes deu. Ela reflete muito e não encontra nada que justifique a existência delas, achando que a Desenhadora cometeu esse "erro único" em toda a sua vida, pois considera esses insetos nojentos. Então, ela pergunta ao eremita que a espera há algum tempo:

-- Ramones, você pode me dizer qual é a serventia das baratas? Fiquei a meditar e não encontrei nada, sabia?

-- Acredito que sim, Alicinha, possolheresponder, mas só se você me disser o que são esses insetos...

Depois que Alice prontamente e com muito carinho lhe respondeu, ele respondeu por sua vez assim:

-- Esses bichinhos, Alice, foram inventados, ou seja, idealizados pelas almas que acreditavam que um dia as mulheres não precisariam mais dos homens, quando a ciência estivesse bem avançada e as mulheres não precisassem mais dos 2% dos homens, tornando-os obsoletos e descartáveis, e elas não quisessem mais se casar com os homens. Então, com esse receio, as almas inventaram esses pequenos animais inofensivos, que só servem mesmo para assustar as mulheres e impedir que os homens fiquem fora de moda um dia, quando a humanidade for muito avançada... Você sabia, Alice, que esse foi um dos motivos pelos quais demorou tanto para o mundo ser idealizado? Mas depois foi acrescentado a grande utilidade desses insetos na cadeia alimentar na vida da Terra.

Alice deu um sorriso disfarçado, tentando conter-se para não constranger o eremita por ele ser homem, e disse fingindo não achar engraçado:

-- Porque demorou tanto por causa disso? Poxa, agora que você me falou isso, até faz sentido mesmo, sabia? As baratas se multiplicam muito facilmente! Ouvi dizer que essas "nojentinhas" são os únicos seres que sobreviveriam em caso de uma Guerra Nuclear!

Alice lembrou-se de repente e assustou o eremita, que respondeu à sua pergunta:

-- Bom, respondendo à sua pergunta, algumas almas, a maioria delas, achavam que havia almas com brincadeiras e que estavam atrasando muito a idealização do projeto de criação do mundo. Essas almas não queriam discutir esses assuntos que julgavam bobos... Mas as almas que achavam esse assunto muito importante não concordaram com elas e exigiram que todas fossem ouvidas e julgadas sem discriminação, pois todas tinham o mesmo direito de querer que seus projetos fossem discutidos pela Assembleia Geral... E, é claro, tudo foi discutido, até mesmo as coisas mais banais, e cada absurdo glorioso foi aprovado, sabia?

Respondeu o eremita à sua hóspede, que ainda estava tentando se conter por achar aquilo muito engraçado.

Ela sorria sozinha; dentro de si, residia uma felicidade sem precedentes. Com o coração cheio de felicidade, ela olhou para o eremita e o perguntou com uma expressão de "caçadora de justiça":

E os deficientes físicos e mentais? Por que eles existem e sofrem tanto?

Como o eremita disse que não sabia o que eram essas coisas, Alice se prontificou e o colocou a par de tudo. Depois de explicar ao eremita tudo sobre o sofrimento dessas pessoas, como viviam, sofriam, e todas essas coisas, o eremita explicou de novo:

Mulher, como jálhedisse antes, foram as pessoas que idealizaram o mundo como ele é. Idealizaram as formas das coisas, das pessoas... Tudo foi previamente estabelecido e executado pela Projetista.

... Quando as consciências se transformaram na Projetista, Ela fez o mundo exatamente dessa maneira. Não foi sem propósito. As consciências demoraram muito tempo para idealizar (projetar) o mundo assim como ele é. Mas o fizeram idealmente. Porque havia muitas consciências que queriam um mundo assim: com pessoas com problemas só para que pudessem cuidá-las. Lembra quando você estava falando sobre sua vida como católica praticante, que você ia a instituições fazer algum tipo de serviço voluntário, lembra, mulher?

Sim...

Respondeu Alice. Agora foi o eremita quem não deixou que ela falasse e continuou com sua explicação:

-- Então, você mesma disse que quando fazia esse tipo de caridade se sentia mais feliz do que as pessoas que recebiam esse tipo de ajuda, carinho, amor e compaixão. Você disse que quando saía de lá e tinha que voltar para casa para cuidar de seus filhos, se sentia meio chateada porque eles estavam bem, aos cuidados do pai. Seus filhos tinham o pai e sua irmã para cuidar deles e recebiam amor, carinho e dedicação. Agora, as pessoas nas instituições precisavam mais de você do que seus próprios filhos...

... Que tinham um pai presente e responsável, enquanto os da instituição não tinham ninguém. Você mesma disse que seus filhos atrapalhavam nisso, pois apesar de você saber que as pessoas precisavam mais de você do que seus filhos, você amava mais seus próprios filhos do que os necessitados. Você disse também que quando dava carinho e amor para aquelas pessoas necessitadas, o olhar de agradecimento delas era muito mais gratificante e profundo do que qualquer coisa que existisse no mundo...

... Você mesma disse que o bem que você fazia àqueles necessitados era muito pouco em comparação ao bem que eleslheproporcionavam com apenas um sorriso de agradecimento. Você mesma disse que issolhedava um prazer enorme, uma sensação de ser importante e necessária! Disse também que eles estavam lhe dando uma oportunidade enorme de ser uma pessoa realmente feliz, realizada e útil. Você disse que isso preenchia sua alma...

... Você mesma disse que ao ajudá-los, você tinha um benefício maior do que estava dando, sua satisfação era plena. Disse também que se não fossem essas pessoas com seus problemas, você seria até um pouco infeliz. Você mesma disse que precisava ajudar as pessoas para se realizar como pessoa... Disse que evoluía sua alma, sua existência...

Nesse momento, uma lágrima escapou dos olhos de Alice. O eremita estava esperando por uma reação desse tipo dela e ela disse em seguida:

-- Sim, Ramones, mas muitas pessoas dizem que a melhor coisa da vida é poder ajudar outras pessoas necessitadas! Muita gente diz que a razão de suas vidas é exatamente isso, poder ajudar as pessoas! E se não houvesse os carentes, as pessoas caridosas não teriam como ajudar, não encontrariam sentido na vida delas e seriam infelizes...

-- Alice, você se lembra que eulhedisse várias vezes que a união das consciências era muito importante? Esse foi mais um dos muitos motivos pelos quais demorou muito tempo para que todas as consciências se fundissem na Projetista... Porque cada alma queria que o mundo fosse do jeito que mais lhe conviesse... Mas nunca daria certo, porque teriam que ceder um pouco, e elas não cediam em seus planos e projetos, como já havialhedito antes... Ainda havia, para piorar, algumas consciências que não estavam muito dispostas a que o mundo existisse e inventavam regras, leis e procedimentos na memória do que veria ser a Projetista...

-- Então, essas consciências foram inventando possibilidades de destruir o mundo... Por exemplo, algumas queriam que a mentira existisse porque queriam mentir. Outro exemplo é o choro, também queriam chorar ou fazer os outros chorarem de alegria ou tristeza. Elas queriam dotar as pessoas com diversas fraquezas para poderem ajudá-las.

-- Sim! E também havia algumas consciências que queriam que existissem coisas que seriam úteis para poucas pessoas, como livros, por exemplo, ou Ramones, que só os cultos os apreciam.

-- Sim, mas também as montanhas, que são apreciadas por poucas pessoas que gostam de escalá-las.

-- Então, você está me dizendo que antes das consciências criarem a Projetista, elas brigavam (argumentavam), algumas queriam que existissem montanhas porque queriam escalá-las, enquanto outras achavam isso inútil...

-- Isso mesmo, mulher. Havia várias possibilidades e as consciências queriam explorá-las todas, e o fizeram! Por isso, demorou muito tempo para que tudo fosse decidido. Depois disso, muitas consciências desejaram programar fraquezas, influências, vícios e instintos, e essa foi outra grande negociação que durou muito tempo. Foi estabelecido que haveria também vários vícios embutidos em hormônios e subconsciente. Aí demorou muito tempo porque as consciências que eram contra os problemas que os vícios e os instintos poderiam causar nas pessoas queriam que fosse estabelecida uma possibilidade de viver sem vícios e de superar os instintos para viver livremente disso. Então, a Projetista, através da Grande Assembleia, fez com que todas as pessoas tivessem tendências e fraquezas que as controlassem...

... E não é só isso! Tudo o que a Desenhadora fez já havia sido pré-determinado pelas próprias consciências. Tudo o que existe no mundo foi escolhido de uma maneira "democrática" (todas as consciências participaram de todas as coisas que foram determinadas). As ideias das coisas já existiam antes mesmo de existirem as coisas em si. Alice, todas as pessoas estão vivendo como se estivessem em um sonho...

... Da mesma forma que a Desenhadora acreditava que Ela era livre e que tinha feito todo o sistema de coisas sozinho e soberanamente, sem perceber que isso não era realmente a verdade completa, todas as almas, quando estavam no meio do nada, também pensavam da mesma forma ingênua. Isso ocorreu porque todas as consciências pensavam que eram livres, mas na verdade não eram e nem são agora. As pessoas nem sequer sabem que estão sendo subjugadas e precisam acordar para buscar uma liberdade verdadeira...

-- Como assim? - perguntou Alice, impulsionada pela curiosidade.

-- Todas as pessoas acham que são donas de suas vontades e desejos, mas na verdade não são, sabia?

Alice, abrindo bem a boca e assustando-se com seus próprios pensamentos, diz ao eremita num sobressalto:

-- Parece óbvio agora!

O eremita confirma com a cabeça o que acabou de ser dito e tenta continuar falando:

-- Mas na realidade, não são...

-- É verdade, Ramones, eu não escolhi nada. Fui jogada nesse mundo sem saber de nada... -- disse Alice, meio revoltada com o teatro que as pessoas vivem sem ao menos saber quais são seus papéis na vida.

-- Ninguém escolhe gostar das coisas. Por exemplo, você gosta de música clássica... -- tentou perguntar o eremita inocentemente, recebendo prontamente uma resposta de sua hóspede.

-- Gosto não! Amo! Eu amo música clássica! -- corrige-o Alice, indignada pelo fato do eremita não ter usado a palavra correta que provava que ela tinha bom gosto.

-- Então, você escolheu gostar disso? -- exclama o eremita.

-- Não, eu amo essas músicas porque tenho bom gosto, sou inteligente e muito culta! -- responde Alice, reforçando sua opinião.

-- Tudo bem, mas você escolheu ser como é, não é mesmo? -- pergunta o eremita.

Antes que Alice respondesse à sua pergunta, o eremita disse:

-- Alice, todas as pessoas, na verdade, não são realmente o que gostariam de ser. Do que eu percebi das coisas desse mundo, quem acredita que é uma pessoa boa não é realmente boa pela própria consciência, e quem é psicótico também não é porque quer ser assim. Quem é avarento também não escolheu ser assim, assim como quem é depravado ou promíscuo. As pessoas que são frígidas, deprimidas, loucas ou inteligentes, também não escolheram ser o que são. Todas as pessoas que são, sejam o que forem, são apenas reféns ou escravas de seus instintos e vícios, que foram colocados na carne das pessoas pela Projetista, visando fazer com que as pessoas fossem capazes de sentir sensações que Ela era privada de sentir. A Desenhadora agiu assim porque era contra a sabedoria, acreditando que saber das coisas não era bom. Ela fez tudo isso para ajudar as pessoas a não serem como Ela, pois Ela era muito infeliz sabendo de toda a verdade. No entanto, do jeito que Ela fez esses corpos capazes de captar essas sensações, Ela deu uma coisa muito boa e também uma coisa muito ruim. Com todo esse processo complexo de sensações dos corpos, ele parece ser uma parte desse mundo, parece que ele está ligado a esse mundo e parece também que os corpos participam de um teatro, no qual esse mundo IDEAL é o diretor e roteirista que espalha aleatoriamente os papéis e obriga as pessoas a serem seus atores, a fazerem tais papéis, sem que elas possam escolher, sem ao menos saberem que estão participando dessa Peça Teatral Gigante.

Todo esse processo idealizado pela Desenhadora nos ilude e nos faz pensar que somos quem queremos ser como indivíduos, mas não é verdade. Ninguém está livre da influência do corpo. Todas as pessoas vivem fazendo o que o corpo delas quer, e pouquíssimas pessoas sabem disso tudo e abandonam esse teatro imposto pela Projetista. As pessoas que descobriram isso travam uma luta para obter sua abolição. Pouquíssimas almas encarnadas sabem que são subjugadas por um inimigo que está dentro de si mesmas, ou seja, seu maior inimigo é o desejo do corpo, os instintos, os vícios, a ignorância e todas as coisas que há dentro do corpo e mente das pessoas encarnadas. Isso as impede de perceber que ainda não estão livres. Ninguém que desconhece a verdade pode ser livre, precisam conhecer a verdade e travar uma grande batalha contra si mesmos e se libertar da ignorância que os aprisiona e os impede de viver uma vida realmente Verdadeira. Agora, Alice, você pode me responder se escolheu ou não ser como você é, okay?

-- Não... - disse Alice, meio chateada por entender que não tem mérito algum por ser culta em relação ao gosto musical, que é apenas "um acaso que foi preestabelecido" pelas almas antes de projetarem o mundo.

-- Você é assim, mulher, por vários motivos...

-- Então, Ramones, ninguém escolhe ser feio ou bonito, gordo ou magro, alto ou baixo, inteligente ou burro, alegre ou triste. Ninguém escolhe nada! Estamos em um lugar (mundo) que parece um filme ou uma peça de teatro, no qual seguimos um roteiro que já está todo escrito! Este mundo tem suas próprias leis, é vivo e comanda nossa vida. Somos reféns dele!?

-- É por isso que o mundo tem toda essa riqueza de possibilidades... Este mundo, criado pelas leis da Desenhadora , é parecido com um filme ou teatro ao vivo, onde os atores podem improvisar e criar "cacos".

-- Como assim, Ramones? - perguntou Alice, com a quebra do raciocínio dela.

-- Lembra das doenças que a Desenhadora "inventou"? Na verdade, não foi Ela quem fez isso, tudo foi pré-determinado pelas consciências...

-- Mas por que essas consciências optaram por todas essas doenças? Não bastavam apenas cinco doenças?

-- Alice, você não entende nada! Algumas consciências queriam se tornar médicos para curar os doentes...

-- Ramones, e algumas outras consciências queriam se tornar cientistas ou pesquisadores...

-- Sim, mulher, mas também havia consciências que achavam interessante ficar doentes e serem curadas. Elas estabeleceram um mundo ideal, onde tudo parecia um teatro para elas brincarem. Eram como crianças ingênuas... Jálhedisse, Alice, que havia almas que queriam ser dentistas e que gostavam de consertar dentes estragados, enquanto outras eram contra isso, pois queriam comer muitos doces. Também havia almas que queriam fabricar produtos dietéticos e remédios para curar pessoas que pudessem ficar muito gordas. Outras almas queriam ser cientistas para inventarem esses remédios. Algumas almas queriam que os dentes nascessem várias vezes, mas as almas que queriam ganhar dinheiro com as desgraças alheias ganharam, e os dentes só nascem duas vezes. Quando as almas que pretendiam fabricar dentaduras ganharam nesse ponto, ficaram muito felizes... Do mesmo jeito que as almas que inventaram esses problemas com os dentes, outras almas que nem queriam ser médicas acharam legal a ideia de curar as pessoas, ganhar dinheiro e serem importantes. Elas começaram a inventar muitas doenças para curar e ganhar muito dinheiro com isso também, inventando dores de cabeça, problemas do coração, entre outras. Ficaram obcecadas em ajudar as pessoas e ganhar dinheiro com os problemas dos outros, e começaram a inventar mais e mais problemas e doenças... Depois vieram as almas que queriam ser estilistas de roupas e de carros, e depois os arquitetos. Todos queriam ser algo importante e necessário para ganhar dinheiro, achavam que essas coisas eram importantes...

Alice, você notou que parece que elas esqueceram que, inclusive elas mesmas e suas famílias, estariam sujeitas a todos os problemas que idealizaram para o mundo ideal quando se transformassem na Projetista? Parece que cada uma delas achava que esses problemas não as atingiriam, apenas as outras pessoas. Elas só viam o lado bom da coisa, não percebiam que o vazio em que viviam as levava a pensar que quanto mais coisas tivessem para fazer, melhor seria. Quando idealizaram o Plano Diretor, agiam como se fosse um roteiro de cinema, mas ninguém sabia qual seria o papel de cada uma nesse teatro...

-- Então, tudo isso é como se fosse um grande teatro?

-- Exatamente. -- Respondeu o eremita.

-- Então, a Desenhadora era a união de todas as consciências mesmo, porque Ela amava cada pessoa, cada coisa, tudo, como se fosse o que Ela mais amava na vida... Ela era uma Caixa de Pandora Ambulante! Ela era todas as coisas concentradas em um só ser, uma só vontade...

-- Sim, Ela era todas as vontades das consciências juntas. Ela era o amor de todas juntas, Ela era tudo que as consciências juntas predeterminaram: vontades, tendências, possibilidades, caminhos... E sua irmã, Alice, era vítima como todas as pessoas, vítima do desejo da carne! Todas as pessoas vivem de acordo com os papéis que foram preestabelecidos por elas mesmas que vivem neste mundo agora...

-- "O show tem que continuar?" dos Ramones? Você acha que esse sistema de coisas é uma prisão, então? Você acha que estamos presos dentro de nós mesmos... Ou de um mundo que tem vida própria? Que aonde formos estaremos levando essa prisão ambulante?

-- Bom, se você pensar que as consciências achavam o "nada" uma prisão e desejavam com tanto afinco esse mundo que hoje existe, e que uma espécie de amor entre elas possibilitou esse mundo, como poderia chamá-lo de prisão?

-- Um lugar no qual você não escolhe as circunstâncias e é obrigado a fazer ações sem nem ao menos ter a consciência do que faz, então, isso é uma prisão sim! Esse lugar todo é uma prisão gigantesca... Uma prisão na qual somos obrigados a fazer um monte de coisas que o nosso corpo nos obriga... Temos que realizar ações para que esse nosso corpo se sinta feliz... Nem as pessoas que eu achava que eram boas são realmente boas, pois só agem assim porque precisam dar um sentido à vida delas. Elas não fazem essas bondades por legítima consciência, mas porque seus corpos lhes impõem isso. Portanto, não existe bondade verdadeira, isso é apenas uma satisfação do ego... Nem aqueles que são maus na verdade o são legitimamente, porque nem sabem o que estão fazendo... Vivemos apenas para satisfazer nossos instintos, nosso corpo, nosso ego: vivemos desempenhando papéis predeterminados sem saber de nada!?

-- Olhando desse modo, você teria toda a razão...

E tendo o eremita dito isso, fizeram uma grande pausa. Alice ficou refletindo por muito tempo e, depois, se voltou para o eremita, que estava contemplando o sol, e perguntou, meio melancólica:

-- E os idosos, Ramones, por que eles são tão deixados de lado, abandonados por quase todas as pessoas? Parece que ser idoso é uma maldição, um castigo e uma punição?

Falou Alice, deixando escapar uma lágrima solitária. Depois que Alice explicou tudo para o eremita sobre como é a vida dos idosos nas casas de seus próprios filhos, nos asilos e em outros lugares, o eremita perguntou:

-- Ai, mulher, é falta de inteligência e amor. Eu poderia ficar aqui falando por dez anos sobre isso, mas não há uma só razão para explicar isso. Só vou falar sobre uma: olha, se todas as pessoas ficarem velhas, então só por isso já haveria um bom motivo para que as pessoas cuidassem melhor de seus idosos. E eles são seus irmãos espirituais que estão se preparando para deixar este mundo e depois voltar em corpo de um bebê. Se as pessoas tivessem consciência dessas coisas, viveriam ao redor de seus idosos, adquirindo sabedoria e experiências.

Alice disse cheia de esperanças em que, quando todos souberem das novidades:

-- Eu acredito, Ramones, que depois que você me disse tudo isso, e eu contar aos quatro ventos, as pessoas vão, sim, olhar com mais carinho para seus idosos, mesmo para aqueles que não são seus parentes de sangue. Se a velhice foi idealizada pelas almas e transmitida para a Projetista, acredito que as pessoas aqui que não cuidam bem dos idosos são, por causa do medo de extinguir-se. Ficar perto dos idosos é estar próximo da morte também, é perceber que somos perecíveis, por isso que as pessoas agem assim. Mas, quando todas as pessoas souberem que a morte é apenas uma passagem de uma vida para outra, elas vão parar de temea-la, vão parar de fugir dela (da morte) e ficarão mais solidárias com os idosos, e esse sentimento se estenderá aos deficientes físicos e mentais e a todas as pessoas necessitadas. Já que todos esses fatos são necessários para satisfazer as pessoas que gostam de ajudar os outros, todas as pessoas vão entender que as almas eram inexperientes quando idealizaram o mundo IDEAL. Elas vão sair por aí consertando as coisas que projetaram erroneamente (quando eram apenas almas), e agora precisam de reparos urgentes!

Depois que Alice explicou ao eremita o que são os deficientes, ele concordou com tudo o que ela havia dito e elogiou-a por ter entendido tão bem seus ensinamentos.

Ficaram em silêncio por algum tempo. Depois que Alice meditou sobre as palavras do eremita, ele se aproximou dela e a tirou de seus pensamentos com uma observação:

-- Você parece estar bem, mulher...

-- Estou me sentindo muito bem agora, aliviada. Sinto-me muito melhor. Obrigada por ter me ajudado e dado atenção.

Respondeu Alice com uma expressão de gratidão.

-- Que bom!

Disse o eremita, abrindo um sorriso.

-- Era exatamente essa a minha intenção, fazer você se sentir melhor! Tive que fazer um grande esforço para chegar até aqui e ajudá-la...

Parecia que o eremita ia dizer mais alguma coisa para Alice, mas ela o interrompeu e ficou por isso mesmo.

-- Fico feliz em saber que o inferno não existe. Se as pessoas nascem e morrem eternamente, então não pode haver nenhum inferno abaixo de nós, não é mesmo, Ramones?

-- Se você puder me explicar o que é o inferno, prometo tentar responder a sua pergunta com o maior prazer do mundo, Alicinha...

Respondeu o eremita com a voz de seu avô querido, que sempre fazia Alice se sentir a criança mais importante do mundo. Isso porque seu avô tinha a maior disposição para fazer tudo para agradar sua netinha sapeca e queridinha. Mas isso já faz muito tempo, passaram-se vinte anos. Agora Alice está com outro velhinho que faria qualquer coisa para vea-la feliz. Alice sorriu com ternura e começou a explicar tudo o que lhe foi dito sobre o inferno.

-- Segundo o que aprendi na igreja.

Começou a explicar aoeremita:

-- O inferno é (...). . .

Quando Alice terminou de explicar tudo o que aprendera sobre o inferno, o eremita começou a rir sem parar. Quando finalmente conseguiu parar de rir, falou, enquanto Alice ainda tentava entender a "piada" que o fizera rir tanto:

-- Alice! Não existe tamanho absurdo! As consciências não sentem dor, as almas não sofrem nada no meio do fogo, o fogo só queima o que é físico: animal, vegetal e mineral! Esse castigo que você falou seria muito grande se existisse de verdade! Não seria justo alguém ter que pagar um preço tão "caro" (eternamente) por um erro ou fraqueza de caráter provocada pelo instinto, pelo vício, pela ignorância... As almas não têm culpa de suas imperfeições. Seria injusto, seria tirânico, autocrático, absolutista, despotista, ditatorial... O inferno seria a maior falta de bom-senso... Não dá nem para falar no assunto, de tão absurdo que é isso!

Dito isso, o eremita encarou-a e foi até meio ríspido com ela, depois perguntou:

-- Você inventou tudo isso, não foi, Alice?

-- Não, claro que não!

Defendeu-se Alice, aflita, sentindo-se uma tola por ter acreditado que o inferno existia. Mas, para disfarçar, falou de um jeito que parecia que nunca em sua vida houvesse compactuado com aquilo e envergonhou-se muito, mas não deixou que o eremita percebesse nada. Depois, fitou o eremita e, meigamente, quis saber:

-- E o paraíso existe, Ramones? Já sei, você também desconhece tal coisa, não é mesmo? Mas voulhecontar o que a igreja diz sobre isso: as pessoas más vão para o inferno, como jálhefalei... E as pessoas boas vão para o paraíso. O paraíso é assim...

Quando Alice terminou sua palestra sobre o que aprendera do paraíso, o olhar do eremita estava com uma aparência de alguém que acabara de escutar um dos absurdos mais gloriosos do mundo. Depois, explicou:

-- Não existe esse lugar que você falou, esse paraíso só vai existir quando as pessoas o fizerem aqui na Terra! Olha, mulher, se todas as pessoas do mundo se comportarem como irmãs espirituais por excelência e se reunirem, poderiam fazer um mundo comum a todos, e viver em comunhão, como irmãos... igual aconteceu quando se reuniram, concentraram e fundiram em um só: na Projetista. As pessoas poderiam agora também se reunir para fazerem o mundo ser um só! Poderiam chamar esse novo e único país de "Nosso Lar", e todos se chamarem de irmãos, e o mundo todo seria uma irmandade. Imagine não haver dinheiro, e todas as pessoas fazendo as coisas de graça, pelo amor, pela felicidade de seus irmãos!

--Imagine que o pagamento por um favor seja um abraço sincero e verdadeiro do seu irmão! Imagine, Alice, todos os dentistas cuidando dos dentes das pessoas sem cobrar nada pelo seu trabalho, e fazendo o bem a todas as pessoas com muito amor, prestando serviços em prol do bem comum. Imagine todos os médicos tratando todas as doenças de todas as pessoas por amor, entendendo que todas as pessoas são seus irmãos, e fazendo isso com muito amor para o bem comum. Imagine também as pessoas que fazem roupas fazendo tudo com muito amor para seus irmãos, sem cobrar nada, apenas demonstrando o amor que têm por eles. Você consegue imaginar todas as pessoas do mundo fazendo essas coisas visando o amor e o bem comum, Alice? Imagine todas as pessoas dando com a mão direita sem que a esquerda saiba. Imagine todas as pessoas que fazem cadeiras, as fazendo para todas as pessoas do mundo, sem cobrar nada por isso. Isso seria possível porque não haveria dinheiro, já que todas as pessoas teriam conhecimentos que são da mesma família espiritual. Imagine as pessoas que fazem pratos, fazendo-os para todos, e as pessoas que plantam e colhem, plantando e colhendo para todos sem nada cobrar, apenas querendo agradar seus irmãos, e tendo a felicidade da coletividade como pagamento, o bem-estar-comum sendo a coisa mais importante que se visa. Imagine cada pessoa se dedicando a descobrir como pode ser mais útil à coletividade sem se preocupar em buscar o que lhe traria mais "status", mas, sim, o que seria melhor para o bem comum. Sim, cada pessoa seria um funcionário do bem comum. Um grande funcionário do comunhão. Imagine que o que mais importaria para cada indivíduo seria viver para seu irmão espiritual. Imagine ninguém se preocupando com o amanhã, pois todos os dias seriam dias para se conhecer e fazer o que mais se gosta. Imagine que a felicidade de uma pessoa dependeria da felicidade de todos, e que essa pessoa se "sacrificaria" para fazer isso, sendo essa atitude a coisa mais comum e corriqueira do mundo, e todos visando isso. Imagine todas as pessoas querendo mostrar o quanto amam a todos, tendo essa atitude o tempo todo, sendo esse gesto a coisa mais importante do mundo...

O eremita fez uma pequena pausa e continuou.

Eu fico me perguntando, mulher, se você consegue imaginar isso: um mundo sem países, sendo um único lar (Estado), ou seja, uma única casa, uma nação única para todos os povos. Na verdade, esses povos seriam irmãos! Você consegue imaginar todas essas pessoas renunciando suas posses e doando para seus irmãos, para o bem comum, e todas as pessoas fazendo o mesmo gesto... Ninguém tendo nada seu! Seria como era quando não tinha nada, ou seja, todas as pessoas tendo posse de todas as coisas, pois tudo seria de todos, e ninguém teria mais posses do que o outro, porque todas as pessoas teriam tudo.

Não haveria motivos para matar ou perecer. A ganância e a fome seriam eliminadas do mundo... Imagine, então, as pessoas trabalhando apenas quatro horas por dia! Imagine, mulher, todas as pessoas entendendo que o trabalho existe para servir ao homem, não o contrário, pois o que realmente importa é viver, não se escravizar. Eulhepergunto, mulher, você consegue imaginar uma sociedade em que cada indivíduo serviria de acordo com sua capacidade e receberia de acordo com suas necessidades? Porque em sua essência primordial, o homem é um ser que necessita de solidariedade e liberdade para ser feliz em uma sociedade, ou seja, em um paraíso. Isso só seria possível se todas as pessoas soubessem que todos, sem exceção, são irmãos espirituais, e que o parentesco da carne (casca) não é maior que o parentesco do espírito, e nunca os interesses de uma casta, família ou qualquer outra coisa devem ser privilegiados em detrimento dos interesses coletivos. Você consegue imaginar as pessoas não ficando o tempo todo no trabalho e tendo mais tempo para amar em todos os sentidos da palavra? Consegue imaginar as pessoas tendo tempo para ajudar, conhecer e amar a todos? Preocupando-se apenas com o comunhão, com o amor universal que transcende a condição carnal...

Quando o eremita disse isso, Alice parecia querer se lembrar de algo:

-- Ah! Consigo sim! O amigo do Léo... Acho que é Ernesto Xram o nome dele... Ele falou durante uma assembleia de moradores do bairro, junto com Léo e meu marido, que seria adequado todas as pessoas trabalharem apenas quatro horas por dia e quatro vezes por semana, e o resto do tempo seria para viver. Ele definiu “viver” como ter tempo para brincar com os filhos, fazer teatro, música, canto, dança, lazer, estudar para evoluir a alma, ler sobre todos os grandes filósofos, grandes obras da literatura universal e grandes poetas, aprender sobre ciência, magia, meditação e outras coisas. Em suma, ele queria dizer que o sensato seria pararmos de nos escravizarmos e começarmos a viver corretamente. E deveríamos construir robôs para trabalhos pesados e em tarefas que prejudicam a saúde das pessoas. Ele disse ainda que o mundo precisaria ser redesenhado e reestruturado e que deveríamos começar a reformular as coisas, pois o mundo se desenvolveu de uma maneira muito injusta, como se houvesse um gênio maldoso (a ignorância) fazendo com que as pessoas ficassem cegas e não percebessem que precisamos consertar esse sistema de coisas, esse modo de governo que nossos ancestrais não perceberam que estavam fazendo erradamente com este mundo em que vivemos. Precisamos redefinir os procedimentos, todos esses costumes ultrapassados. Ele disse também que o ser humano já tem tecnologia suficiente para isso.

Ernesto Xram disse que as pessoas deveriam trabalhar durante toda a vida, contribuindo para o bem-comum, nem que fosse por apenas um minuto por dia. Ele acreditava que era errado trabalhar muito quando jovem e se tornar escravo do trabalho, da vaidade, dos desejos carnais, do governo e da ignorância. Ramones concordava e acreditava que era necessário repensar o modo como vivemos, já que muitas vezes nos privamos da vida ao trabalhar demais.

Neste instante, era possível perceber uma pequena expressão de tristeza no rosto de Alice.

O eremita Ramones mostrou um semblante animado e disse: "Sim, mas em uma época futura, porque isso foi estabelecido pelas almas progressistas, haverá meios de comunicação em que várias pessoas em todo o mundo poderão falar ao mesmo tempo. E quanto à demora em fazer a Projetista, isso ocorreu porque, naquela época, as almas não tinham a experiência que possuem hoje em relação a ceder. Agora, todos podem realizar as coisas de maneira mais séria, porque ninguém é mais como uma criança, as pessoas podem agir de forma apropriada e não criar uma nova encenação."

-- Entendi, Ramones", respondeu Alice, "você está se referindo aos meios de comunicação, como o rádio, a TV, o telefone e, principalmente, a internet. Mas e os grandes conquistadores, como Alexandre, o Grande, que conquistou quase todo o mundo? Não seria melhor ter um grande conquistador que fosse e fizesse tudo acontecer imediatamente? Quero dizer, Ramones, não seria melhor ter alguém muito poderoso que obrigasse as pessoas a agir corretamente, sempre visando à justiça e à verdade, impondo um comportamento legitimamente bom a todas as pessoas, sem a opção de escolha delas em querer ou não essa sociedade justa... Eu digo isso porque há pessoas que não vão querer isso, você sabe?"

-- Assim como 'O Grande' (Alexandre) e outros homens que fizeram a história da humanidade, não são realmente grandes conquistadores, são sim, boçais", respondeu Ramones. "Realmente, um grande conquistador é aquele que conquista a si mesmo, vencendo suas fraquezas, e conquista apenas e tão somente a si mesmo, é aquele que domina a si mesmo e se controla, é aquele que se domina e luta para ajudar as pessoas a se libertarem de suas subjugações. Esses são grandes conquistadores! Falando sobre esses meios instantâneos de comunicação, é possível sim uma batalha contra a ignorância, não contra os ignorantes. A luta deve ser apenas por ideias que levem ao bem de todos, sem uma gota de sangue a ser derramada! A luta deve ser apenas para dar liberdade às pessoas para que entendam como as coisas são e queiram se libertar. Eu acredito que a própria verdade libertará a todos, então é só saber como transmiti-la às pessoas. Digo isso, mulher, porque nunca devemos impor nada a ninguém, em hipótese alguma. Nunca deveríamos obrigar ninguém a nada. Devemos conscientizar as pessoas de que uma sociedade baseada na justiça é o melhor para todos. Devemos fazer isso por meio de exemplos e diálogos, ensinando as pessoas a terem consciência das coisas. Essa consciência adquirida é que fará com que as pessoas queiram o que é justo, entendeu, Alice?"

-- Agora entendo, Ramones...

Tendo dito isso, Alice ficou em silêncio, parada e reflexiva por um momento, sentindo-se calma e feliz. Em seguida, fez uma grande pausa e disse finalmente:

-- Sim, você tem toda razão. Se cada pessoa fizesse a sua parte e cedesse um pouco, poderíamos viver em um paraíso aqui na Terra. Mas trabalhar pelo bem comum é muito complicado, pois os pais sempre querem o melhor para seus próprios filhos. Um pai político ou administrador sempre vai querer que seus filhos tenham o mesmo cargo dentro da hierarquia da sociedade e não vão aceitar que seus filhos se "rebaixem" para serem, por exemplo, um simples agricultor. Isso está enraizado na natureza humana desde sempre.

Alice negou com a cabeça enquanto falava. Oeremita então disse:

-- A ligação entre pais e filhos foi criada quando a Projetistadecidiu se tornar uma pessoa comum e não poderia mais proteger as pessoas como antes. Ele dotou os pais e filhos com essa ligação para que os pais protegessem seus filhos e os filhos confiassem neles. Mas quando as pessoas souberem que seus filhos carnais são seus irmãos espirituais, como eu já disse várias vezes, elas serão libertadas do egoísmo e da estupidez. Todas as pessoas são tão importantes para a coletividade quanto seus filhos carnais. Quando todas souberem disso, serão livres e a consequência será o amor que transcenderá todos os problemas causados pela limitação da carne, do instinto e da ignorância.

Alice fez uma pausa para refletir sobre o que oeremita havia dito e disse baixinho para si mesma:

-- Já estou aqui há pelo menos 60 horas, mas meu relógio parece que está parado, embora esteja andando bem devagarzinho... Não senti fome, sede, cansaço ou sono. Só senti paz... Aqui é tão bom que nem o vento traz poeira! Tudo isso é tão estranho quanto maravilhoso, parece um sonho. Até o Sol fica lá... Parado... Esperando, não sei o quê!

Alice esperou que oeremita dissesse algo, mas ele ficou em silêncio. Então ela perguntou:

-- Ramones, um dia eu estava assistindo a um filme junto com meu marido, Ernesto Xram, e Léo.

-- Sim...

-- No filme, havia uma personagem de uma etnia branca que disse que, se um dia tivesse um filho, não iria querer que ele se casasse com uma negra. Disse que não queria ter um "negrinho" na família... A personagem fazia um tipo que parecia que todo mundo compactuava com a opinião dela... Todos os presentes, inclusive eu mesma, acreditamos que ela era racista. Mas havia o Ernesto Xram. Ele disse que ela não era racista. Você, que sabe de tudo, poderia me dizer se acha que ela era racista? Estou perguntando porque ninguém deixou que o Xram explicasse seu ponto de vista, e ele ficou chateado com todos e foi embora. Eu nunca tive a chance de perguntar ao Xram por que ele pensava assim. Agora quelheconheci, querolheperguntar o que você acha disso, Ramones? -- Perguntou Alice, curiosa, pois pressentia que Xram tinha razão e queria saber o que o eremita iria responder.

-- Bom, mulher, pelo que você mesma falou, acredito que ela não era mesmo uma pessoa racista...

-- Você acha que o amigo do Léo, Xram, estava certo?

-- Sim...

Respondeu o eremita secamente.

-- Por quê? Quando quero uma resposta rápida, você demora. Quando quero algo mais palpável, você me responde com monossílabos! Pode me responder direito, por favor?

-- Bom, ela não era racista porque: 1) Para uma pessoa ser racista em relação aos negros, por exemplo, ela teria que conhecer a cultura negra por completo. 2) Ela teria que conhecer a verdade absoluta. 3) Ela teria que fazer uma tese sobre o assunto que queria comprovar. 4) Ela teria que reunir as mil pessoas mais conscientes do mundo em uma sala, e entre essas pessoas, teria muitas pessoas negras também, é lógico. Mas se, por algum motivo injusto qualquer, não tiver negros entre esse número, é necessário que se convide negros para fazer parte dessa assembleia. Aí, o suposto ou possível racista teria que explicar fazendo uso de uma dialética impecável que eles (os negros) são inferiores e que precisam ficar à margem da sociedade. 5) Também é necessário revelar o intuito dessa possível racista em provar isso. 6) É preciso justificar toda a tese. 7) Também é preciso mostrar o ganho que uma sociedade teria se todos chegassem a esse consenso. Eulhepergunto, mulher, se esse procedimento foi adotado com os personagens do filme?

-- Não, Ramones, não foi esse o ponto do filme. A personagem nunca tinha visto um negro de perto antes, morava em um país com poucos negros e era muito jovem... Trabalhava muito e quase não tinha tempo para se divertir... Não era considerada bonita e ninguém queria namorá-la... Ela não tinha a oportunidade de estudar... Era muito pobre...

-- Então, está confirmado, ela era apenas uma pessoa ignorante... Ela precisava ser instruída e ajudada por causa da sua condição... Quando você me disse que existem pessoas diferentes de mim, eu fiquei muito estimulado para conhecea-las, ser amigo delas e aprender tudo sobre suas vidas. Deve ser maravilhoso ter acesso a culturas diferentes, isso seria um privilégio, uma dádiva...

-- Ramones, e se para saber se a pessoa é racista, ela tenta provar que os negros ou qualquer outra etnia são inferiores? Isso a torna racista? O que é pior: ser racista ou ser ignorante?

-- Bem, se alguém consegue, através de uma boa argumentação, provar isso, ainda terá que encontrar meios para ajudar essa etnia a se desenvolver para provar que eles são realmente inferiores. Mas, isso nunca pode acontecer, porque nenhuma etnia é inferior a outra... Quando alguém convive com uma outra etnia, com certeza vai perceber que estava enganado e mudará seus planos para divulgar a cultura dessa etnia. Essa pessoa descobrirá que era ignorante e ficará envergonhada do seu comportamento anterior. Depois, ela vai querer conhecer outras culturas e etnias diferentes e divulgar ao mundo para torná-lo mais evoluído.

-- Então, Ramones, você condena as pessoas ignorantes como a personagem do filme? Você acha que elas devem ser punidas por suas condutas incorretas, já que ofendem outras pessoas?

-- Não, é claro que não! Essas pessoas estão perdendo a oportunidade de ter amizades com pessoas interessantes que poderiam ajudá-las. A privação causada pela ignorância já é uma punição em si mesma... Essas pessoas devem ser orientadas em vez de punidas. Uma pessoa nunca deve ser punida por ser sincera, pois quando expressamos nossas opiniões, elas podem nos orientar e ajudar a eliminar nossos preconceitos. É importante deixar as pessoas expressarem suas opiniões sem serem punidas e sim orientadas! No caso específico da personagem do filme, ela estava carente de amor, como não recebeu, não sabia dar. Ela queria chamar a atenção das pessoas mostrando que tinha opinião formada sobre alguns fatos, mas como não tinha opinião alguma, só tinha ignorância, ela deu o que tinha... As pessoas precisam ser amadas para poderem amar também... Em verdade, eulhedigo que a maldade não existe, Alice. O que existe é a ausência de conhecimento, a ausência do saber. Ausência do fruto do saber, do conhecimento: o amor... Lembre

-se disso, a maldade é filha da ignorância, o amor é filho do saber, entendeu? As pessoas só precisam conhecer a verdade para deixarem de ser ignorantes (malvados) e passarem a saber (amar)... Porque, Alice, a verdade é libertadora...

--Então, Ramones, para alguém ser qualquer coisa na vida, ou seja, defender ideias, ela tem que saber: tem que ter um conhecimento prévio, senão nem a maldade, nem a própria xenofobia existem... Porque, apesar de toda aparente maldade, a xenofobia se esconde em um ser ignorante: um ser sem "o saber da verdade", um coitado... Um ser que deveríamos ter muita compaixão por ele!!!

O eremita ouviu isso de Alice e olhou para o Sol, e depois disse:

-- É isso mesmo, mulher, a ignorância é vizinha da maldade, porque os ignorantes fazem coisas erradas e prejudicam toda a humanidade sem perceberem, achando que estão sempre certos. Essas pessoas que chamamos de malvadas prejudicam muito a humanidade!!! Mas, acredito, fortemente, que a maioria das pessoas chamadas de malvadas são apenas ignorantes e precisam ser educadas, conscientizadas e ensinadas a amar... Quando uma pessoa é tola, ela é apenas tola, não é má, não é racista, não é nada além disso... Ela só é uma tola mesmo... Para ser qualquer outra coisa, é preciso ter conhecimento sobre aquilo. E os tolos, os ignorantes, ignoram sua própria ignorância, então tudo o que fazem são apenas tolices: TUDO... Agora, quanto à xenofobia, eu não sei o que é isso...

E Alice responde:

-- Isso é um sentimento de aversão às pessoas e coisas de outros países, mas eu já entendo bem, sei o que você vai responder: você vai falar que essas pessoas são ignorantes e precisam ser reeducadas e aprender a amar as pessoas e ter consciência da realidade, que elas têm que aprender culturas diferentes e espalhá-las pelo mundo, que as pessoas têm que saber que todo mundo é irmão, e todos têm que se unir e fazer deste mundo um lugar melhor para se viver, porque se nós não fizermos, ninguém o fará para nós! Que temos que respeitar a individualidade das pessoas. Temos que ser conscientes... Porque Deus não existe, porque a Desenhadora era o Toda-Poderosa, mas Ela está aqui entre nós agora, não é mesmo, Ramones? Estou certíssima?

O eremita permanece em silêncio absoluto, parecendo estar pensando em uma resposta adequada para dar a Alice, mas parece hesitar. De repente, Alice diz:

-- A Projetista, então, não era Deus, Ramones? Quem era Deus? Eram todas as almas juntas!? Elas que deram origem a tudo isso! Então... Nós, almas viventes, somos o Deus Todo Poderoso!? Porque, pelo que entendi, fomos nós mesmos, quando éramos apenas almas, que idealizamos e criamos tudo que existe nesses sistemas de coisas. E fomos nós mesmos que idealizamos cada curva dos nossos corpos, cada mínimo detalhe de tudo o que existe! Então, podemos dizer que somos o Deus Todo Poderoso, certo? Não há outro Deus senão "o homem", nós mesmos, certo? Fomos nós mesmos que criamos este mundo cheio de contradições, visto que éramos almas sem experiências de vida. Por isso fizemos este mundo extremamente errado e muito complicado, mas ao mesmo tempo ideal. E poderemos chegar a um paraíso se conseguirmos ensinar a todas as pessoas como são as coisas em sua realidade, e assim desperla-las. Correto? Podemos reconstruir o mundo de forma correta com a experiência que adquirimos ao longo do tempo. A humanidade está madura agora e podemos começar tudo de novo agora mesmo... Correto?

Alice perguntou isso “berrando”. Ela estava muito emocionada com seus pensamentos, conseguindo “enxergar” que o mundo foi feito pelas respectivas pessoas que nele vivem. Que as pessoas o estragaram, de certa forma, e que agora é preciso consertá-lo. Porque a culpa ou o crédito de tudo o que acontece no mundo é das pessoas mesmo. E que "nós mesmos vamos ter que pegar os brinquedos que estão espalhados pelo chão" e "arrumar a casa porque os nossos pais (Deus) não voltam mais e as crianças mais velhas vão ter que ensinar as crianças mais novas as brincadeiras que faltaram ser ensinadas pelos pais!". E que só assim viveremos em uma casa limpa e organizada (um paraíso)! Devido aos instintos e a todas as coisas que as almas tiveram que estabelecer para chegarem a fazer um consenso e formar a Projetista, por todos esses motivos, o mundo ficou parecendo um palco e nós somos apenas meros atores. Mas, depois que a peça acabar, todos poderemos desempenhar o papel da vida real (reconstruir o mundo). Ela percebeu que a consciência é a chave que abre as portas desse teatro de ilusões que mais parece uma prisão ou um mundo de alienação. Ela percebeu que “não existe Deus, senão, o próprio homem”. E que este é o novo diretor dessa peça que precisa ser reescrita por todas as pessoas conscientes.

Depois de pensar e expressar tudo isso, Alice ainda perguntou:

-- Deus não existe, não é, Ramones? Deus é apenas um conceito que usamos para lidar com nossas dores, desejos e frustrações, certo?

O eremita olhou para Alice por um longo tempo, parecendo hesitar e relutando em falar mais. Então, ele disse:

-- Em termos, você está certa, mulher. O mundo precisa ser consertado pelas pessoas, e você tem razão quando afirma que tudo foi criado por almas que ansiavam por um mundo físico para experimentar sensações psicossomáticas, para o qual precisariam de corpos humanos com cérebros. No entanto, Deus existe sim. Ele é a Inteligência Suprema e a Causa Primária de todos os eventos.

Alice ficou irritada e, ficando vermelha, disse aoeremita:

-- Mas Ramones, foi você mesmo quem me disse que o inferno e o paraíso não existem e que foi a Projetistaquem criou o mundo, portanto, Ele é Deus! Apesar de termos criado isso nós mesmos... Nós nos tornamos a Projetista! Então, todos nós somos Deus! Ou você vai me dizer agora que não fomos nós que criamos a Desenhadora ? Onde está Deus, então? Quem é Deus?

O eremita, apesar de muito hesitante, tentou explicar a Alice quando ela o interrompeu:

-- Não é a Projetistaou as almas...

O eremita tentou responder com calma, como era seu costume. Mas Alice ficou muito nervosa porque, quando finalmente parecia entender tudo, o eremita estava dizendo que ela não tinha entendido direito e que os eventos não eram exatamente como ela havia acreditado. Deus não estava convidado para a festa que se passava em sua mente. Ela ficou desesperada e sua pressão caiu, fazendo-a desmaiar. O eremita deu-lhe um líquido doce em uma caneca de madeira rústica, feito de maneira bem rudimentar. Depois de algum tempo, Alice se recuperou.

Por um instante, Alice chegou a pensar que tudo aquilo que havia vivido até então era apenas um sonho. Ela considerou a possibilidade de que a morte de sua família e tudo o mais não eram reais. Mas o eremita estava ali na sua frente, e sua simples presença a trouxe de volta à triste realidade. Os pensamentos dela viajavam a uma velocidade muito superior à da luz.

O eremita segurou a mão dela e tentou consolá-la:

-- Não se preocupe, Alice. Vou cuidar bem de você! Estou aqui só para isso. Pode confiar em mim...

Ela o repreendeu e respondeu rispidamente:

-- Você me deixou nervosa! Eu estava quase entendendo tudo, e você fica aí complicando as coisas que estavam certas!

-- Não estou complicando, mulher.

-- Está sim! Você está insinuando que existe um Deus! Mesmo depois de dizer que foi a Desenhadora que fez o mundo! Deus é aquele que fez o mundo, portanto, a Desenhadora é o Deus Todo-Poderoso... Por que você não entende isso, Ramones? É tão simples de entender! Você tem que entender que a Desenhadora é o Deus e pronto... E que o Céu não existe.

Alice tentava ajudar o eremita a entender o que ela considerava "óbvio". Depois, ela fez uma pergunta, achando que ele não poderia dar uma resposta fundamentada:

-- Quem é Deus para você, Ramones? Onde Ele mora? Ele mora na Deuslândia?

-- Não sei onde fica essa tal de Deuslândia que você mencionou! Mas Deus mora no Céu. É assim que se chama o Seu reino, onde Ele reside, e é lá que se encontra o que há de mais sublime: a beleza...

Alice tentou lembrá-lo:

-- Mas você disse que foi a Desenhadora que fez o mundo. Então você estava mentindo para mim, Ramones?

-- Não, não estava mentindo. Foi a Desenhadora que fez o mundo e tudo o que nele existe, e foram as almas que criaram a Projetista! Eu ratifico e testifico tudo isso!

-- Ramones... Mas... Então... De onde veio esse teu Deus aí, assim de um vão improviso, de repente? Foi a Desenhadora quem o fez antes de se tornar um de nós aqui na Terra, Ramones? A Desenhadora teria usado seu poder na criação desse tal Deus para reduzir de tamanho e se tornar um ser humano? Ele quis deixar alguém para cuidar das coisas para Ele poder se ausentar de suas funções?

Alice perguntou, crente que havia encontrado a resposta, mas o eremita não deu a resposta que confirmava suas expectativas. Ela não queria admitir que Deus existia. Ela não o queria de jeito algum, achava Deus um indivíduo totalmente dispensável. Se existe um Deus e Ele não protege as famílias, se Ele não criou o mundo, se Ele se comporta como se não existisse, por que Ele teria o direito de existir então? Ela pensava isso naquele momento. Ela não aceitava essa realidade; ela até aceitava as mortes de sua família se Deus não existisse, mas Ele existindo era demais para a cabeça dela.

-- Não... Alice... Não foi a Desenhadora que fez Deus... – disse o eremita com receio e foi interrompido pelos gritos de Alice:

-- De onde veio esse teu Deus aí, então, Ramones?

O eremita passou a mão no rosto dela e disse, com a maior calma do mundo:

-- Se acalme quelheexplico tudo.

Desta vez, Alice percebeu que a mão do eremita estava sem o calor natural de qualquer ser humano, mas nada disse em relação a esse fato.

-- Não sei responder a essa pergunta, mulher. Não sei de onde que Deus veio. Mas eu sei que Ele sempre existiu!

-- Como assim Ele sempre existiu? – perguntou Alice, inconformada com tudo isso.

-- Bom, a resposta é: Ele sempre existiu... – respondeu o eremita sucintamente.

-- Desde quando é sempre? – quis saber Alice, com uma cara de poucos amigos.

-- Eu não sei, mas Ele existia muito antes dos espíritos e das almas. Na verdade, Deus pretendia que as almas existissem no Céu com Ele, mas achou que seria arbitrária a decisão de fazer isso.

Desta vez, Alice o interrompeu, ainda mais nervosa, querendo que o eremita fosse mais rápido e explicasse tudo completamente. Ela se sentia enganada, traída, desamparada e sozinha, porque o eremita lhe contava as coisas aos poucos. O eremita, parecendo poder ler os pensamentos de Alice, disse a ela:

-- As atitudes de Deus têm que ser explicadas aos poucos, porque as pessoas não entendem tudo de uma vez.

Ela ficou muito brava com o eremita e exigiu uma resposta imediata, mas, na verdade, Alice queria que o eremita matasse Deus imediatamente:

-- Como assim Ele pretendia fazer com que todas as almas vivessem no Céu com Ele e achou que seria arbitrário fazê-lo?

Alice, irritadíssima com toda a confusão de ideias mal explicadas, perguntou aoeremita que tentava em vão acalmá-la, dizendo:

-- Calma, mulher, voulheexplicar tudo. Não se preocupe! Eulheconto aos poucos, porque assim fica mais fácil para você compreender todas essas informações complicadas. Olha, Alicinha, quando alguémlheexplicar algo, você tem que ajudá-lo alheexplicar. Você tem que prestar atenção e fazer as perguntas necessárias para facilitar a compreensão. Tem que ajudar a pessoa a ver e perceber como você está entendendo tudo: “A palavra é metade de quem fala e metade de quem escuta”. Mas você embaraça em vez de me ajudar! Assim fica muito difícil falar sobre o Divino Existir! Eu sei o que estou falando e consigo explicar qualquer coisa que eu venha a falar, mas não posso obrigá-la a entender. Preciso da sua colaboração! Preciso que você queira entender, entendeu?

Alice ficou vermelha de vergonha e sentiu-se um peixe fora d’água. Sabia que estava atrapalhando a explicação do eremita. Ela queria mostrar que tinha domínio sobre si mesma, que era conquistadora de si mesma. Disse aoeremita, "fazendo biquinho", para mostrar que só estava brincando e que às vezes age como uma menininha mimada, mas que não era burra:

-- Perdoa-me pela minha intransigência, Ramones? Vou tentar me controlar. Não sou uma alienada, sei o que faço...

O eremita parecia entender a dificuldade dela e continuou a explicação:

-- Deus sempre existiu. Não me pergunte como isso é possível, porque nem eu sei. Se eu tentasse explicar, você não entenderia mesmo. Tenho dúvidas sobre isso também. Nem sei se eu entenderia se alguém tentasse me explicar... Mas Deus não precisa explicar sua existência: “Ele É” e pronto!

Disse o eremita resolutamente. Alice, por sua vez, suplica aoeremita:

-- Gostaria que você fosse breve em suas colocações, Ramones. Estou muito nervosa com tudo isso que você está me dizendo! Portanto, se você puder ser sucinto, seja, okay?

Pediu Alice, mais que encarecidamente aoeremita. Mas este já estava tentando encontrar palavras adequadas para não lhe causar mais transtorno algum, já que a cada momento sua hóspede se encontrava mais ansiosa e também nervosa. O eremita tinha que usar as palavras corretas, o que era meio complicado para alguém que nunca havia falado a sua língua (idioma) antes. Na verdade, ele mesmo disse que nunca havia falado em nenhuma língua antes.

-- Mulher, Deus queria companheiros (amigos) para estar com Ele no Céu para todo o sempre! Só que Deus "não sabia" se as almas iriam gostar de viver lá no Céu com Ele. Então... quando Deus pegou a metade de sua Essência (como se fosse o corpo dele) e fez todas as almas, Ele preferiu deixá-las livres, vagando pelo nada infinito. As almas foram feitas com várias características (gênios e personalidades) diferentes. Isso foi estabelecido para que elas, um dia, ao se conhecerem totalmente, se tornassem amigas e se amassem! Ele desejava que quando todas elas se conhecessem e tivessem o poder para fazer um mundo PERFEITO, criassem o Céu onde Deus mora (que já existia e elas ignoravam sua existência). Nesse meio tempo, como as almas já teriam ficado amigas de várias almas diferentes (de gênios e personalidades), poderiam ter aprendido a amá-lo (Deus) sem problema algum, porque Ele é muito diferente de todas as almas. Ele planejou tudo, queria ser aceito pelas almas que Ele mesmo criou. Ele tinha receio das almas não aceitá-lo. Poderiam vê-lo como um tirano por tea-las criado sem que pedissem para existir, colocando-as para viver com Ele sem aviso prévio, sem consulla-las.

Alice, ainda muito nervosa e confusa, investiga o eremita: -- Espera aí, Ramones, não entendi nada! Você não disse que Deus estava no Céu? E que o Céu já existia? Agora você disse que Deus queria que as almas fizessem a Projetista, e depois a Desenhadora fizesse o Céu que já existia? É lógico que se o Céu já existia, era porque Deus morava lá! Como alguém poderia fazer um lugar que já existe? E outra coisa! Como elas (as consciências) não viram Deus e nem o Céu então? Em todas essas centenas de milhares de zilhões de anos... Como as consciências não o viram? Elas eram, todas, deficientes visuais?

Alice tornou-se cada vez mais exigente, buscando respostas e explicações rápidas, mas também queria que o eremita explicasse em detalhes. Então o eremita lhe disse que Deus estava em outra frequência de existência, muito bem escondido. Alice ficou tão surpresa que soltou um palavrão, algo que nunca tinha feito antes. Mas considerando toda a história que estava ouvindo, podemos dar um desconto. O eremita então começou a explicar suas novas dúvidas, falando sobre uma espécie de outra dimensão. Alice concordou que conseguia imaginar do que se tratava, tendo assistido a muitos filmes de ficção científica com seu marido e com Léo. Apesar do receio do eremita em contar a verdade sobre o Céu para Alice, ele decidiu continuar.

-- Ele estava em uma frequência diferente daquela em que as almas se encontravam e não podia vea-las, pois as consciências que estavam em outra frequência de existência estavam protegidas contra todo tipo de interferência externa. Elas não sabiam da existência de Deus e achavam que sempre tinham existido, mas isso não era verdade. Como jálhedisse antes, Deus foi quem as fez nascer. Ele fez tudo isso dessa forma para que elas se sentissem como se fossem Deuses poderosos. Ele queria mostrar às consciências que, se elas se unissem, seriam poderosas, tão poderosas quanto Ela, e não precisariam Dela para existir e criar um mundo complexo com um tipo de vida totalmente planejado por elas mesmas. Percebendo tudo isso, elas tratariam Deus com igualdade e O veriam como igual a elas quando fossem para o Céu, depois de fazerem a Desenhadora através da união e do amor delas todas juntas, como eu jálhedisse antes também. Foi por isso que Deus as fez de forma que cada uma delas fizesse as pazes sozinha, se unisse sozinha e fizesse a Desenhadora sozinha. Ele fez tudo isso para que as consciências não se sentissem inferiores a Ele quando O conhecessem lá no Céu ao chegarem lá. Elas estariam habituadas a amar e aceitar todo tipo de existência e, então, amariam a Deus.

-- Por que Deus sempre foi tão ausente de tudo, Ramones? -- perguntou Alice, admitindo a sua existência finalmente. Ela estava agindo como uma menina mimada que gosta que suas coisas saiam como planejado e outra menina entra em sua festa sem ser convidada. Parece que ele deixou as consciências abandonadas à própria sorte!, lamentava Alice, desolada.

-- Por que, então, Ramones? As consciências eram como bebês, não sabiam de nada! Não tinham experiência alguma em criar coisa alguma. Foi muita responsabilidade para elas. Coitadinhas! Elas eram muito inocentes e inexperientes. É minha opinião e ponto final! Eu acho que Deus poderia muito bem ter feito as consciências logo de uma vez lá no Céu junto Dela! Você não acha, Ramones? Acho que Deus fez uma coisa muito feia, sabia? Ele jogou essa responsabilidade para quem não deveria, para quem não tinha a maturidade necessária.

-- Sim, mulher, acredito que sim! Talvez Ele tenha errado mesmo! Mas acredito também que Ele errou por excesso de amor, por excesso de liberdade, por excesso de confiança! Ele sempre esteve ausente de tudo... Nunca efetivamente interferiu nas coisas do Mundo que as almas idealizaram! Na verdade, Deus ofereceu-lhes o livre-arbítrio para que elas, por sua vez, fizessem o que quisessem com o poder da união delas todas juntas (a Projetista). Ela sabia que elas poderiam criar um mundo que não tinha nada a ver com o que Ele aspirava. Talvez elas nem cogitassem em ir para o Céu. No entanto, Deus não se permitiu saber o que elas iriam fazer. Ele sabia que havia várias consciências e que aquelas que planejassem ir para o Céu acabariam vencendo no argumento, e todos veriam que o Céu era a melhor escolha. Mas isso não aconteceu. As consciências que preferiram o mundo "errado" (ideal ao perfeito) ganharam, e Deus perdeu. Perdeu os amigos que tanto desejava ter em seu convívio. Perdeu tudo, porque tudo o que Ele queria era ter as almas com Ele no Céu, mas queria que fosse por livre e espontânea vontade.

Ao dizer isso, o eremita deixou escapar uma pontinha de frustração em seu olhar e, em seguida, desviou seus olhos do rosto de sua nova e única amiga, não querendo que ela visse sua tristeza. Ela tenta ser mais suave com o eremita quando percebe que ele está tristonho.

"Ramones, por que Deus não vem aqui e se revela logo para as pessoas, e faz com que todas vão para o Céu morar com Ele?" - perguntou Alice.

"Isso é mais complicado do que você imagina, mulher..." - respondeu seu anfitrião.

Quando Deus criou as consciências, concedeu-lhes o Livre Arbítrio. Ele esperava que pelo menos uma alma fosse para o Céu ser sua amiga, mas como você sabe, isso não aconteceu, certo?

Alice olhou para o eremita e sugeriu:

Mas por que Ele não desfaz tudo isso agora mesmo?

O eremita respondeu prontamente:

É que quando Deus concedeu o Livre Arbítrio às almas, Ele prometeu não interferir em nada do que elas fizessem. Ele amou tanto a sua criação, as almas, que isso o levou a acreditar que elas fariam as coisas mais adequadas, já que possuíam uma parte de sua essência! Infelizmente, as almas não eram evoluídas o suficiente para entender isso. Agora, essa incapacidade foi confirmada... Mas Deus já sabia dessa possibilidade. Ele esperava que, com argumentos superiores, as almas evoluíssem e o Céu fosse habitado por todas elas um dia. Poderia demorar um pouco, mas um dia Ele teria ao menos um amigo fiel e verdadeiro para si...

Alice fez uma pergunta em um tom de voz carinhoso, parecendo estar compadecida com o problema de Deus:

-- Ramones, por que Deus fez cada consciência única, com uma personalidade incrivelmente diferente? Isso não dificultou muito a construção dos sistemas de coisas? Por causa dessas diferenças de personalidade, não foi possível que as almas chegassem ao Céu...

Alice orgulhosamente afirmou que compreendeu as coisas relativas do processo Divino. O eremita respondeu:

-- É porque... Ele queria que, quando as almas que encontrassem o caminho ascenderem ao Céu e o amassem, elas não se importassem com toda a superioridade Dela, com toda sua diferença existencial que é gigantesca... O plano Dela era fazer com que cada alma fosse diferente uma da outra. Elas teriam que se amar para formar a Projetista. Se conseguissem fazer a Projetista, seria porque aprenderam a amar personalidades muito diferentes de si mesmas. Entendeu? Ao aprenderem a amar o diferente, poderiam amá-lO também ao chegar ao Céu... Ela não queria ser visto como superior a elas. Deus simplesmente temeu que as consciências não o quisessem como amigo, como igual a elas mesmas. Ele temeu uma rebelião. Ele fez tudo certo para que, quando elas chegassem na casa Dela, no Céu, já estivessem acostumadas com várias personalidades diferentes e não o estranhassem nem o rejeitassem... É que Deus é tão superior às almas que elas dificilmente o veriam como apenas um amigo. Dificilmente, as almas não ficariam receosas com tanto poder e sabedoria...

-- Ramones, se for ver bem, Ele tinha toda razão mesmo de pensar assim. Pouquíssimas pessoas se sentem bem em estar perto de pessoas superiores a elas. A maioria das pessoas não se sente bem quando alguém lhes ensina algo que elas não sabiam, coisas que precisam ser corrigidas... Mas o que Deus faz lá no Céu, sozinha? Coitadinha Dela! Ela fica olhando para nós aqui na Terra, rindo da nossa estupidez?

Alice riu de si mesma e sentiu-se meio tola por ter vivido tanto tempo na ilusão. Ainda rindo, ela ouviu a resposta de seu anfitrião:

-- Não... Do mesmo jeito que as consciências e depois a Desenhadora não podiam vê-lO, Ele também não pode ver nada no Universo todo, com exceção do Sol. Ele só pôde ver o Sol porque foi a primeira coisa que a Desenhadora construiu depois do respectivo corpo...

-- Ramones, vamos recapitular tudo isso? Quero ver se entendi tudo direitinho. Oras, se é que dá para entender exatamente toda essa grande confusão!

Alice a essa altura já estava bem mais calma. Ela parecia estar contente. Então o eremita recapitulou:

-- Ótimo! Vou fazer o possível para que você entenda tudo. Olha, mulher, Deus queria ter amigos para ficar com Ele no Céu. No entanto, Ele não queria que as almas, ao chegarem lá, o tratassem como um ser Poderoso, o que é verdade, claro! Ele fez tudo isso como um estratagema para que as consciências se sentissem iguais a Ele. Por isso, Deus fez as consciências sem que estas soubessem de sua existência, que era desde sempre. Ele inventou astutamente toda uma situação exclusivamente para que as consciências agissem sem sua influência em tudo que elas construíssem! E usassem seus Livres Arbítrios para viverem como quisessem! Foi por amor que Deus fez isso, pensando mais na felicidade de todos os seus seres (almas) do que na sua própria felicidade! Ele se alegra com a felicidade de seus seres (almas)! Certamente, Ele preferiria que todas elas optassem em viver no Céu, junto a Ele. No entanto, Ele não obrigaria ninguém a fazer isso.

Então, Deus não interfere em nossa vida? Ele não faz nada por nós? Perguntou Alice meio decepcionada, estranhamente decepcionada, pois há pouco tempo nem queria que Ele existisse.

--Mulher, você tem que entender que, se Deus fizesse alguma coisa pelas pessoas, Ele estaria quebrando um juramento que Ele fez quando disse que daria o Livre Arbítrio às pessoas (as consciências) para que estas fizessem de suas vidas (existências) o que bem quisessem. A vida é um presente Dela às consciências, o Livre Arbítrio é uma prova desse amor de Deus para com todas as almas! O Livre Arbítrio também é sinônimo dessa liberdade e representa a confiança de Deus nas almas! Elas podem usar esse presente como bem entenderem...

Alice olhou bem nos olhos do eremita e disse:

--Ramones, essa atitude de Deus seria o mesmo que eu desse um livro de presente a um amigo, e que esse livro contasse uma história muito interessante! E que quando o presenteasse com esse livro, minha intenção era que ele o lesse e a história o ajudasse a refletir algo profundo em sua vida. Mas suponhamos que meu amigo pegue o livro e o coloque debaixo de uma perna da mesa que estava manca. Esse bom livro que eu lhe dera com o maior carinho fora destinado para um bem muito maior do que fora planejado por meu amigo. A maneira que ele usou o livro não correspondeu às minhas expectativas. No entanto, não devo condená-lo por isso, porque entendo que esse meu amigo não tem culpa de ser uma pessoa sem cultura, e o perdoo por isso, mas ainda assim gostaria que ele lesse o livro! Sei que ficaria muito chateada com isso, porque quero que as coisas sejam usadas da maneira certa, justa e verdadeira! E Deus? Deus perdoou as pessoas por elas não terem ido para o Céu e pronto!? "Ele desistiu feito um covarde, lavou as mãos e esqueceu de nós aqui?" - perguntou Alice, profundamente decepcionada com Deus.

"Exatamente isso, meu mulher! Você entendeu muito bem a Essência Suprema de Deus! Ele não pode obrigar as pessoas a irem conviver com Ele no Céu, você entende?"

"Mas, Ramones, eu sou assim - se meu amigo pegou o livro e não leu, e o deixou debaixo da perna da mesa, toda vez que eu tiver a oportunidade, vou tocar no assunto e tentar fazer com que ele leia o livro. Às vezes, até forçaria uma situação só para falar sobre o livro, só para induzi-lo a lê-lo. E Deus! Ele não faz nada para as pessoas perceberem que o Céu existe? Para que as pessoas saibam que Ele existe e quer que elas vão morar com Ele no Céu?"

"Mulher, eulhedigo a verdade - Deus fica uma pequena parte do seu tempo no Céu contemplando o Sol, pois é a única coisa deste 'Mundo Físico' que dá para Ele ver de lá! Mas Ele vem muitas vezes à Terra para visitar as consciências (pessoas) e ver como é o mundo que elas construíram e como elas se relacionam com esse mundo que criaram! Quando 'desce' aqui na Terra, Ele também não se lembra de nada, sua mente é bloqueada, isso acontece por alguns motivos - um deles é por causa das frequências (as dimensões) que são muito diferentes, outro motivo é que a Desenhadora fez uma série de leis que impedem que se vejam outras frequências quando se está na frequência em que estamos agora. Deus também não pode fazer nada para ajudar as pessoas, pois isso estaria interferindo no Livre Arbítrio, quebrando sua promessa, sua confiança nas almas e suas autonomias, além de fazer as pessoas se sentirem inferiores a Ele. Então, Alicinha, mesmo que a Desenhadora não tivesse feito essas leis, Deus não poderia fazer nada! Mas, como Ele é muito evoluído, sempre que vem à Terra, Ele conta uma história ou descobre algo que faz a Humanidade evoluir muito! Uma simples poesia que Ele faz - se uma pessoa consegue entendea-la - pode sublimar sua alma e levá-la à ILUMINAÇÃO... Pode influenciar muitas pessoas a refletirem. Mas Ele não faz isso de propósito! Ele nem sabe quem Ele é! Ele não sabe que é Deus Todo Poderoso! Se Ele soubesse, estaria quebrando sua própria promessa! Essa atitude involuntária (fazendo coisas que ajudam as pessoas a evoluir) sem saber quem Ele é torna o mundo melhor para se viver... Muitas vezes quando vem aqui, Deus vive como uma pessoa comum, e assim, Ele evolui o mundo a cada visita sua, e essa atitude Dela é praticamente um convite para as pessoas irem morar com Ele no Céu, você entende? Mas eu acredito que, às vezes, Ele aparece nos sonhos das pessoas, principalmente dos poetas, aparentemente, nos sonhos não há regras, porque os sonhos estão ligeiramente ligados ao mundo espiritual e Deus usa os sonhos para ajudar algumas pessoas a evoluir. Essas pessoas percebem coisas, acordam, vislumbram o Céu e querem fazer parte dele. Você entende?"

Ao ouvir isso do eremita, Alice responde:

-- Sim, entendi. Mas não acho que seja tão ruim quebrar uma promessa para ajudar as pessoas a chegar ao Céu!

No entanto, o eremita explica a ela o problema que isso causaria:

-- À primeira vista, parece que não, mas se Deus fizesse algo apenas para satisfazer seu desejo, Ele estaria automaticamente dizendo que as consciências não são iguais a Ele. E esse não é o desejo dele. Ele sabe que se fizer algo e as consciências perceberem que foi meio "forçado", algumas delas vão se revoltar contra Ele, enquanto outras vão se sentir inferiores e se curvar diante Dela. Ele não quer isso, Ele só quer que as consciências sejam amigas Dela. Você consegue entender isso agora?

-- Então, Deus queria que as consciências alcançassem a Desenhadora , e a Projetistafizesse o Céu, o mesmo Céu que já estaria pronto em outra frequência (dimensão), e elas nem desconfiariam de nada, não é, Ramones? As consciências conviveriam com Deus sem problemas. A ideia de Deus foi brilhante!

-- Sim, minha amiga, esse era o plano divino! Foi exatamente assim que Ele planejou tudo! Ele nem queria ser visto pelas consciências como um Pai amoroso e sábio, mas sim como uma alma irmã, igual a todas as outras. No entanto, a grandiosidade de sua existência divina era um obstáculo para seu plano, pois seria muito complicado para algumas almas estarem perto de um ser tão poderoso e grandioso sem vê-lo como superior, enquanto outras se sentiriam inferiores a Ele ou teriam inveja Dela e, posteriormente, quereriam ser maiores que Ele ou se corromperiam e se tornariam seus inimigos, tentando mostrar que são maiores do que Ele. Deus temia que esse possível inimigo corrompesse algumas almas e transformasse o Céu em um caos! E se Ele precisasse expulsar as almas corrompidas e pervertidas... Ele não queria isso! Por isso, Deus acreditava que seria melhor deixar as almas escolherem se queriam ou não morar com Ele, decidindo por livre e espontânea vontade, permitindo que amassem e vivessem em um mundo de beleza infinita. Deus não queria ter que expulsar essas almas corrompidas do Céu, e Ele via a possibilidade disso acontecer. Além disso, Deus ama tanto sua criação que fez as almas a partir de uma parte de Sua própria essência, e Ele jamais iria correr esse risco. Com sabedoria, como lhe é peculiar, preferiu deixar as almas fazerem essa escolha e só ir quem realmente quisesse e se agradasse em ser seu amigo, ser um igual com o ETERNO e experimentar uma Felicidade Plena e Verdadeira.

-- Pelo que você está dizendo, "Ramones, a Desenhadora não era realmente sábio, ele não era onisciente como julgava ser, correto?"

"Alice, as almas eram tão ignorantes que na verdade a Desenhadora herdou TODA a IGNOR NCIA delas, não herdou sabedoria porque elas não tinham sabedoria alguma... No entanto, as almas achavam que sabiam tudo, que podiam tudo, mas, na verdade, elas não eram tão sábias assim como a maioria imaginava... "

"Ao escutar essas palavras proferidas peloeremita Ramones, Alice olhou para o Sol e depois fixou o olhar em seu novo amigo e perguntou:"

"Mas quando as almas conseguem finalmente se reencarnar, elas não se lembram de nada mesmo?"

"São casos raros que se lembram de coisas de outras vidas, mulher, porque existem consciências de todo tipo e elas idealizaram muitas coisas que não servem para nada, e outras coisas ainda ninguém sabe o sentido. É tudo muito complicado, porque quando as consciências estavam planejando o mundo e suas leis, que o regeriam, muitas consciências sugeriram muitas coisas que possibilitaram diversos caminhos muito diferentes entre si. Por exemplo, algumas almas queriam que existissem os ignorantes: alguns queriam ser ignorantes, outros queriam enganar os ignorantes, outros queriam defendê-los. Existiam também as consciências que queriam ser poderosas e nunca se encarnar em seus próprios corpos. Elas queriam, de vez em quando, usar os corpos de outras pessoas para comer, dançar, fumar, perverter-se e fazer outras coisas. Muitas consciências gostaram muito mesmo da ideia de emprestar seus futuros corpos às irmãs e ser uma espécie de divindade para serem cultuados, as almas sempre imaginaram o mundo ideal como um teatro onde pudessem brincar o tempo todo. Elas não sabiam que Deus já existia. Mas muitas foram absolutamente contra isso, elas falaram sobre a possibilidade da existência de Deus e queriam fazer o Céu e ver se Deus estava lá esperando por elas. Só que as outras não concordaram. E o mundo não poderia ser feito pela Projetista, porque para a Desenhadora existir deveria haver amor, união, compreensão (...) de todas as consciências, sem exceção. Por isso, não vai ser muito fácil fazer da Terra um paraíso. Do mesmo jeito que foi difícil para elas se unirem para fazer a Projetista... Ainda todas as consciências podiam falar umas com as outras simultaneamente, e todas sabiam o que cada alma pensava porque seus pensamentos eram transmitidos através de uma espécie de "Telepatia Coletiva". Mas, mesmo assim, demorou muito tempo para que elas se entendessem completamente... Apesar disso, agora as almas têm ao seu favor toda a experiência dos erros do passado e podem pensar melhor no que pretendem fazer para o bem comum ser realmente o melhor para todos.

Alice começou a imaginar muitas coisas sobre as atitudes e vontades dos seres humanos e disse:

-- Ramones, então, a vontade de governar também faz parte dessas ideias que as consciências implantaram na Projetista?

-- Sim, mulher. Tinha algumas almas que queriam ser governadas por outras almas, nesse teatro todo que imaginaram. Havia almas que queriam governar as outras e outras que queriam fazer com que todas as demais almas fossem tão conscientes que não precisariam ser governadas por ninguém. Mas, mais uma vez, essa ideia não foi apoiada por todas as almas. Algumas queriam viver só para o instinto e prazer da carne, sem se preocupar com a política que seria implantada na Terra. Elas nem sabiam que o melhor era ter consciência das coisas. No entanto, as almas que apoiaram o "conscientismo" só entrariam no processo de construção da Desenhadora se houvesse a possibilidade dos seres evoluírem através do tempo. As almas que eram contra só aceitariam se esse processo de conscientização fosse bem devagar e gradual, sem atingir a todas as pessoas. Foi o que aconteceu. Elas chegaram a um acordo, mas a ignorância prevaleceu, como você pode observar...

-- Então, só as pessoas conscientes são livres, Ramones?

-- As pessoas conscientes e aquelas que aprendem a amar e experimentam uma tênue liberdade, porque só Deus é realmente livre. Mas por que quem ama...

O eremita percebeu pelo olhar de Alice que ela queria discursar e deixou que ela falasse:

-- Quem ama, tudo suporta, tudo perdoa, tudo faz feliz. Pois quem ama sempre procura um jeito de ver o lado bom de todas as coisas ruins e imperfeitas. Já quem não ama, sempre tenta arrumar um jeito de encontrar defeitos nas coisas perfeitas...

-- Sim, mulher. Mas por que você disse isso agora?

-- Não sei, veio à minha cabeça, sei lá! Mas me diga uma coisa: e o Céu? É fácil ir morar lá? O que temos que fazer para ter a capacidade de ir até lá e sermos amigos de Deus? E viver com Ele por toda a eternidade? As consciências criaram essa possibilidade, um caminho, sei lá como se chama! Elas fizeram, não é mesmo, Ramones?

-- Mulher, assim como existem vários tipos de consciência, também existem aquelas em que Deus acreditava que ganhariam nos argumentos e estabeleceriam que a Desenhadora fizesse o Céu para que todos morassem lá com Ele. Deus acreditava muito no poder do diálogo, da dialética, da conversa, da negociação de ideias das almas que acreditavam na ideia da possível existência Dele (Deus) mesmo, porque, é claro, Deus existe; era preciso apenas que elas se perguntassem: “De onde viemos?”, “Quem nos teria feito, senão Deus?”, ou “Quem mais senão Deus poderia ter começado tudo, senão um ser superpoderoso como Ele?” Se essas almas tivessem feito isso, tudo teria sido facilmente entendido. As almas que eram partidárias desse conceito pensavam da mesma forma que Deus. No entanto, essas almas evoluídas perderam nos argumentos e tiveram que ceder e viver aqui na Terra, em um mundo imperfeito que causa sofrimento por meio dos desejos dos instintos. Esse mundo é uma tortura para elas, sabia? Os desejos do corpo trazem sofrimento, assim como as coisas desse mundo, como o nascimento, a velhice, a doença e a morte, conforme estabelecido nesse sistema de coisas. Estar separado de um ente querido ou lutar inutilmente para satisfazer os desejos também gera sofrimento, e tudo é dor para essas almas. De fato, para essas consciências evoluídas, a vida aqui no mundo ideal é uma luta contra os desejos e paixões humanas, envolta sempre com a angústia que se chama "Verdade do Sofrimento". Elas querem sair daqui e ir para um lugar onde não existam as paixões mundanas. Elas querem ver Deus! Querem viver no Céu...

-- Como elas fazem então, Ramones, para se livrarem desse Sofrimento Existencial?...

-- Ir para o Céu... As almas que acreditavam, ou pelo menos vislumbravam a possibilidade do Céu já existir, no meio das negociações para fazerem a Desenhadora criaram meios, caminhos e atitudes que levariam as pessoas ao Céu, ou para outros caminhos que levariam a outras formas de existência após desencarnarem deste corpo terrestre. Esses caminhos são outras dimensões e outros planetas... Esses meios possibilitam a evolução de seres que ainda precisam melhorar sua conduta. Existem várias formas de conduta depois da morte, dependendo no que as pessoas foram induzidas a acreditar; cada alma segue um caminho alternativo. Às vezes, a alma precisa passar por muitos estágios de existência para evoluir e alcançar um estado elevado, podendo até mesmo chegar ao Céu e ser amiga de Deus. Por isso, é estranho achar que apenas o seu caminho é o correto, já que todas as almas estão interligadas e têm o seu próprio caminho. Se uma alma tiver êxito em seu caminho, ela será feliz com Deus por um caminho e você por outro. No entanto, parece que nenhuma dessas almas chegou ao Céu, pois elas sempre voltam para a Terra.

-- Mas, Ramones, como se faz para ir ao Céu de maneira mais rápida e efetiva, sem escalas em mundos alternativos? -- Alice estava quase querendo bater noeremita para que ele lhe explicasse os fatos de maneira mais fácil e rápida.

-- Para uma alma ter o privilégio de ir morar com Deus no Céu, ela tem que perecer aos prazeres da carne, dos instintos, e daquilo que você chamou de "prisão". Ou seja, precisa esquecer tudo aquilo que lhe dá muitos prazeres, mas também muitos sofrimentos nesse mundo de coisas que despertam os desejos e, consequentemente, o sofrimento. Isso porque todo o sofrimento vem do desejo. As frustrações também causam dor, na verdade, tudo é dor. Tudo é sofrimento para essas almas, até o desejo de não sentir dor dói. Essas almas sabem que o Céu existe e desejam muito viver lá, viver a verdadeira vida.

-- Ramones, como essas almas vão parar de sofrer então? Como elas vão encontrar o caminho e, finalmente, ver Deus?

-- Elas têm que parar de desejar e alcançar o NIRVANA, um estado de Santidade Absoluta ou paz total, mas antes precisam perecer para este mundo. Isso é apenas o início de uma existência que será plena e verdadeira. Para isso acontecer, a pessoa tem que eliminar todos os desejos mundanos.

-- Ué! Nós teremos que parar de fazer o que gostamos, por quê, Ramones?

Perguntou Alice, indignada.

-- Porque as leis para conseguir chegar ao estado de NIRVANA ou TRANQUILIDADE em que não há desejo são: Percepção Correta, Pensamento Correto, Fala Correta, Comportamento Correto, Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Atenção e Concentração Corretas. É esse caminho que leva as pessoas à extinção dos desejos e as leva ao NIRVANA. No Céu, não haverá as coisas que temos aqui na Terra (mundo ideal). Lá, tudo é PERFEITO, e a perfeição de lá não tem nada a ver com as coisas daqui. As coisas daqui são apenas sombras do que as almas idealizaram, ou seja, este mundo é uma ilusão em relação às coisas que Deus criou lá no Céu, esperando que as pessoas vivam com Ele. As pessoas que se apegam às coisas deste mundo das sombras e ilusões viverão nas sombras e ilusões que existem aqui. Já as pessoas que se tornarem perfeitas poderão morar em um mundo realmente perfeito. Se as pessoas fossem para lá ligadas às coisas daqui, sentiriam saudades, estariam divididas e indecisas e iriam querer voltar, o que não é possível! O Céu também seria uma espécie de inferno, uma tortura devido à saudade, para quem não está preparado para isso, mas para os santos, que são almas evoluídas que atingiram o Nirvana, é um paraíso. Lá, como é um lugar perfeito, apenas as pessoas realmente perfeitas que veem a própria perfeição poderão ficar felizes para sempre, “sendo um com Deus”...

E tendo dito isso para Alice, o eremita se cala de repente, e Alice diz meio chateada:

-- Você está dizendo que uma pessoa tem que ver se realmente deseja viver em um lugar que não tem nada a ver com as coisas que fazemos aqui? Um lugar que é igual ao espaço vazio onde as almas viviam antes de a Desenhadora criá-las para se livrar daquele marasmo eterno?

-- Sim, mas há algumas poucas almas que gostariam muito de morar lá no Céu... Eu não entendo por que essas almas evoluídas ainda não chegaram lá no Céu, se elas são como Deus e conseguem ver as maravilhas do Céu... Se as pessoas imaginassem como é o Céu, então elas poderiam ver as belezas enquanto essas almas corrompidas só poderiam ver “um mundo vazio” por não terem a espiritualidade condizente com esta realidade sublime.

O eremita disse isso meio que perguntando, e Alice respondeu:

-- Ramones, é óbvio que essas almas que gostariam de morar lá no Céu se “corromperam” diante de tantas coisas “boas” que existem aqui na Terra (mundo ideal) e que não existem no Céu (mundo perfeito)! Eu, particularmente, acho este mundo muito legal, se você realmente quer saber... Aqui não é uma sombra, é um lugar que foi tão desejado, planejado pelas almas e feito com muitas dificuldades. Acho estranho você ser tão contra este mundo, sabia? -- Ao dizer isso, Alice parecia se revoltar contra o eremita, que prontamente respondeu:

- Alice, é que, na opinião de Deus (o dono da verdade), não há coisas realmente “boas”. As atitudes boas são apenas boas na falsa realidade terrena, pois para Ele tudo o que existe aqui é uma ilusão. E as almas não se lembram de nada quando se reencarnam, lembra? É por isso que eu acredito que essas almas evoluídas apenas se esqueceram do Céu... Às vezes, quando Deus vem à Terra, Ele as procura, sabia?Ele gostaria muito de vea-las no Céu junto a si... Na verdade, queria que todos fossem com Ele para lá...

-- Eu não sei de nada, meu Senhor! Mas, aproveita e me diz direito como uma pessoa pode ir para o Céu? Estou muito curiosa, sabia? -- Disse Alice, querendo mostrar aoeremita que ele enrolava muito para dizer as coisas.

-- Bom, mulher, as pessoas que almejam e pretendem ir para o Céu terão que se abster dos prazeres deste mundo e viver aqui na Terra de um modo que viveriam no Céu!

-- Como assim? Não entendi. -- Disse Alice, meio chateada. O eremita respondeu, parecendo muito entusiasmado:

- Diga-me, o que o teu amigo Léo gosta de fazer neste mundo?

-- Bom, o Leo gosta de pizza, conversar, beber vinho, ver filmes, tomar sorvete e ler sobre quase todos os grandes filósofos... -- Respondeu Alice, achando sem propósito a pergunta.

-- Pois bem! O Léo teria que parar de fazer tudo o que gosta, pois se ele for para o Céu (o mundo perfeito), sentiria falta de tudo isso que temos aqui (no mundo ideal), pois ele não suportaria viver em um lugar que não tem nada deste mundo... Lá no Céu, só teria o Sol para se ver e matar a saudade por toda a eternidade... Não tem mais nada desse mundo lá, sabia? E não há pôr-do-sol. Ele sempre fica parado, majestosamente parado, pois o Céu não roda em torno do seu próprio eixo como a Terra e outros planetas. O Céu fica parado e o Sol também... Só que lá no Céu tem maravilhas que, se ele estiver sintonizado com elas, nem vai sentir falta deste mundo de porcarias que estamos vendo agora, o mundo idealizado pelas almas e fabricado pela Desenhadora em sua ignorância de que o Céu já existia e é maravilhoso...

- Só isso que tem lá?!! Não tem mais nada, além disso, Ramones? Então não há vantagem alguma em deixarmos de fazer as coisas que tanto gostamos para que possamos ir para o Céu, não é mesmo? -- Perguntou Alice, ingenuamente e também nervosa por gostar de um monte de coisas deste mundo e não se achar uma pessoa corrompida por ele. O eremita respondeu a essa pergunta com um grito que quase a ensurdeceu:

-- Não?! Como não?! Quem for lá terá a honra, o privilégio e a satisfação de estar perto de Deus! De ser amigo do próprio Deus! E ainda será tratado com igualdade por Ele! Terá a companhia de Deus para a eternidade suprema! E você me pergunta se é bom ir para o Céu!?

Alice ficou muito assustada com a atitude inesperada do eremita, que até esse episódio não tinha demonstrado, na opinião dela, nenhum desequilíbrio mental.

O eremita, percebendo que estava assustando Alice, disse:

-- Perdoe-me, é que pensei que você não tinha gostado da ideia de ir para o Céu! Mas agora sei que não é bem assim, não é mesmo? O Céu me fascina muito, não consigo entender por que as almas não chegam lá... O Céu me agrada muito...

-- Na verdade, Ramones, eu nem pensei se queria ou não ir para o Céu, mas acho que gostaria de ir morar lá sim, passar uns dias só para ver se iria querer ficar lá para sempre... Mas sei que seria muito difícil para mim: abandonar este mundo para poder ir para o Céu e depois, se eu me arrepender? E se eu quiser voltar para a Terra?

-- Bom, acredito que talvez Deus permita que as pessoas voltem...

-- Acho isso justo, ir lá e ver se gosta, e se não gostar, voltar! Qual seria o problema com isso, então, Ramones?

-- Veja bem, seria estranho. Uma pessoa se privaria deste mundo, não poderia fazer nada do que gosta. Se gosta de fazer o bem neste mundo, não poderia ascender ao Céu, porque sentiria vontade de fazer o bem para alguém na Terra. Lá no Céu não teria ninguém para exercer essa vocação inerente, a bondade na realidade terrena, e sentiria saudades de ser boa na Terra. Queria voltar para a Terra (o Mundo Ideal), onde há muita gente precisando de ajuda, caridade e compaixão! Como você acha que Deus se sentiria quando aquela alma fosse embora e não quisesse ser mais amiga Dele, dizendo que Ele não precisa de nada e as pessoas na Terra precisam mais dela do que Ele? E é claro que Deus deixaria essa alma voltar para a Terra, porque Deus pensa mais na felicidade de sua criação do que em si mesmo. Você não acha que é cruel deixar Deus sozinho? Ele só quer ter amigos... Na verdade, o Céu é um lugar maravilhoso para Ele. Ele está tão feliz quanto alguém que encontra um tesouro enterrado em seu próprio quintal. Lá é muito bom mesmo para quem é semelhante a Ele. Mas só um ser realmente evoluído conseguiria desfrutar de tudo que o Céu poderia lhe oferecer. Se não for evoluída, uma alma verá o Céu da mesma maneira que as almas enxergavam o vazio antes da criação, entendeu? Para as almas realmente evoluídas, a alegria de viver no Céu só é comparável à de uma pessoa na Terra que ama o dinheiro e encontra em seu quintal o maior baú de tesouro do mundo...

-- Poxa, Ramones, é um caso bem complicado! Então, uma pessoa boa na realidade terrena, cuja maior paixão é fazer o bem, terá que se privar desse prazer para poder ir para o Céu? Porque no Céu não haveria pessoas com problemas para ela ajudar?! Nossa! Tudo isso é mais complicado do que eu poderia presumir!

-- Não! Você ainda não viu nada. Agora, imagine a pessoa que quiser ascender ao Céu: ela terá que eliminar o amor que tem pela família, parentes, amigos e até as coisas do “Mundo Físico-Concreto-Orgânico”, pois essa pessoa precisa abster-se de tudo o que há aqui na Terra e que não existe no Céu! Na verdade, as pessoas deveriam enxergar seus parentes de sangue como irmãos espirituais, pois, ao chegar no Céu, todos os que estiverem lá serão sua família... Aqui, no mundo IDEAL, é preciso desenvolver um método para ver todas as pessoas como iguais, para que, quando estiver no lugar onde Deus se faz presente, consiga vê-Lo como a si mesmo. E isso agradará muito a Deus, pois é o que Ele mais almeja: ser visto como um amigo. Você consegue imaginar a alegria de Deus Todo Poderoso quando alguém chegar ao Céu querendo ser amigo Dele, ser igual a Ele? Agora, se uma pessoa for para lá e perceber diferenças entre Deus e ela, certamente Ele não gostará disso... Agora, imagine que essa mesma pessoa, achando que o Céu não é o que esperava, pede a Deus para perdoá-la e quer voltar à Terra. Imagine, minha amiga, a tristeza de Deus quando a pessoa estiver deixando o Céu e sua amizade com O ETERNO para voltar à Terra. Além disso, para Deus, este mundo aqui é apenas uma Sombra Mal Reproduzida do Céu, uma imitação da realidade; esta é uma ilusão. Para Ele, o melhor mesmo é viver no Céu com Ele, pois foi para isso que Ele criou o Céu e planejou tudo para esse momento... Pois Ele tem a convicção de que as pessoas, através de uma “superpreparação espiritual”, poderiam viver a Verdadeira Realidade, que é a vida junto ao ETERNO, em Sua casa: o Céu... E para isso se realizar, basta Santificar-se Existencialmente de tal maneira que nunca se queira voltar e deixar as maravilhas que Ele FEZ esperando por Seus hóspedes em Sua casa, que em breve será de todas as pessoas...

-- E como alguém conseguirá se alimentar sem sentir prazer ao comer, Ramones? Como será possível comer sem sentir prazer? Comer é a coisa mais prazerosa do mundo!

-- Bem, para os venturosos (bem-aventurados) que desejam ver a Deus, é preciso chegar à Perfeição, e eles precisarão comer alimentos visando apenas nutrir seus corpos, não podendo, em momento algum, “contemplar o prazer” de gostar de algo que só é possível neste mundo...

-- Tudo bem, Ramones, eu até entendi essa parte da comida, mas como alguém que gosta de ser bom na realidade terrena poderá ir para o Céu? É quase impossível deixar de ser uma pessoa boa na realidade terrena...

-- É só ela ser justa desde o início, sem se deixar levar pelo sentimento de pouco a pouco... Sabe, essa bondade do mundo ideal é apenas uma forma de manter as pessoas presas aqui. A verdadeira bondade só existe no céu. Somente Deus é verdadeiramente bom e a verdadeira bondade está na justiça. Somente Deus sabe ser verdadeiramente justo, pois a justiça é filha da verdadeira sabedoria. As bondades que as pessoas conhecem aqui só fazem com que elas se reencarnem mais rapidamente. Essa bondade é até mesmo um pouco egoísta e movida pela vaidade. As pessoas a praticam por diversos motivos, mas nenhum desses motivos é realmente nobre. Quando Deus pratica a bondade, Ele está apenas se manifestando em sua essência.

-- Você não acha melhor, Ramones, que as pessoas que são boas, ou seja, que possuem a bondade do mundo ideal, não tentem mudar para ir para o céu? Porque elas sofrerão muito ao tentar se livrar de sua pseudo bondade. E depois, haverá a falta de oportunidade de exercer seu dom, que é inerente à sua natureza, já que no céu não existem pessoas com problemas em um lugar tão perfeito. Você não acha que essas pessoas deveriam ficar aqui mesmo, e com sua bondade procurar melhorar a vida das pessoas aqui na Terra? Eu acho que apenas os ateus deveriam morar com Deus no céu, pois eles (os verdadeiros ateus) não querem viver neste mundo mesmo! Porque eles nem acreditam que este mundo exista! E você está me dizendo que, na opinião de Deus, este mundo também não existe, que é apenas uma grande ilusão... Você concorda com alguma coisa que eu falei, Ramones?

-- Sim, mulher, eu concordo com quase tudo o que você falou. Mas, Deus realmente quer um amigo para conversar e amar de perto.

Nesse momento, Alice fez uma expressão de quem pensou em algo muito importante a perguntar e disse aoeremita:

-- Ramones, agora me ocorreu uma coisa, e se as almas que foram para o céu não quiserem nem ficar com Deus nem voltar para a Terra, nem fazer parte de coisa alguma? Elas simplesmente querem apagar sua existência? Porque, na verdade, ninguém pediu para existir como alma ou como pessoa, somos obrigados a participar do mundo ideal ou a ficar no céu. E se houver pessoas que simplesmente não querem existir em nenhuma circunstância e desejam fazer parte do nada, entendeu?

-- Ah, sim. Existem muitas almas que desejam exatamente isso. Quando todas as almas estavam resolvendo como fariam o mundo, algumas se revoltaram por existir e só concordaram em fazer parte dessa "besteira". Foi assim que elas chamaram esse sistema de coisas, porque para elas toda forma de existência era uma perda de tempo. Elas possibilitaram esse processo de "simplesmente" apagarem suas existências. Esse "apagão", ou seja, essa renúncia da vida em qualquer forma ou estado de existência, só seria possível depois que elas chegassem ao Céu através do Nirvana. Somente Deus poderia "apagá-las", isso se Ele existisse, pois pouquíssimas acreditavam que Ele pudesse existir realmente. Algumas almas ainda achavam que Deus poderia existir, mas nem queriam saber Dele, pois sabiam que elas poderiam criar um mundo sem o auxílio e intervenção Dele. Entendeu, mulher?

-- Sim, entendi. Mas, Ramones, por que Deus não vem morar conosco de uma vez para sempre aqui na Terra? É muito chato Ele ficar vindo tantas vezes aqui chamando as pessoas e ninguém querer ir com Ele. Acho que Ele deve se frustrar muito, sabia?

-- Mulher, o que é bom para as almas inferiores não é bom para Deus! Da mesma forma que as pessoas que não são tão evoluídas chegariam no Céu e não se adaptariam a ele, Deus também não se adaptaria a este mundo aqui. Ele é pura luz e aqui só há ilusão (sombras). Ele conhece a realidade e não se influencia nem se agrada por esse sistema de coisas absurdo, malfeito, que só corrompe os fracos de espírito. Acredito que é mais fácil para as pessoas se santificarem e se tornarem aptas a viverem no Céu do que Deus se adaptar a este mundo de horrores. As pessoas não precisam dessas cascas (corpos) nem dessas influências, instintos, vícios, jogos de azar, embriaguez, e todas essas coisas, para fazerem de suas existências algo interessante e satisfatório. No Céu, não há sexo, sorvetes, comidas, e todas essas coisas, mas todos viveriam como irmãos, como o que você chamava de anjinhos, Alicinha. Você chamava seus filhos assim também, não é mesmo? Existe no Céu um modo de existência que faz tudo o que há aqui na Terra ser quase nada. O prazer de ser um com Deus supera todas as sensações deste mundo, que, na minha opinião, são apenas besteiras. Isso sim vale dizer.

Depois que o eremita falou, Alice olhou novamente para o Sol, que continuava majestoso no mesmo lugar há mais de 85 horas, segundo seus cálculos. Ela ficou pensando em tudo que o eremita havia dito.

Observando a expressão de orgulho no rosto do eremita, Alice refletiu sobre o fato de ele conseguir falar sua língua, mesmo nunca tendo falado com ninguém antes. De acordo com o eremita, ele nunca havia falado com ninguém, o que a deixou ainda mais impressionada com o conhecimento que ele possuía sobre Deus, a origem do mundo e todos os eventos e acontecimentos.

Após muita reflexão, Alice olhou para o eremita e percebeu que ele era tão magro e branco que “quase dava para ver através dele”. Com essa imagem em mente, ela perguntou:

-- Ramones, então o paraíso que você mencionou não é importante, já que tudo aqui é uma ilusão, como você afirmou?

-- Não exatamente, Alice. Para ter a espiritualidade necessária para ir ao Céu, ver suas maravilhas, desfrutar da amizade de Deus e ter o privilégio de estar com Ele por toda a eternidade, você precisa ser como Deus é.

-- O que isso tem a ver com o paraíso na Terra?

-- Deus é a sabedoria em pessoa, Ele é o amor em pessoa, Ele é a filosofia. Todo o seu conhecimento e amor são oriundos do seu saber infinito e verdadeiro. Ele quer compartilhar todo esse amor e essência divina com aqueles que optam por viver com Ele no Céu. A necessidade de criar um paraíso na Terra, como eu disse antes, é simplesmente uma maneira de exercitar a semelhança com Deus e se adaptar ao sistema que rege o Céu.

-- Como assim?

-- Se as pessoas tivessem mais tempo para buscar conhecimento e exercer seu amor pelo próximo, elas teriam mais recursos para entender o verdadeiro amor do Céu. Se todas as pessoas tivessem um acordo para criar uma sociedade justa, que refletisse como as coisas são no Céu, um lugar onde todos fossem comunistas, como Deus trata seus filhos igualmente, como irmãos, pois tudo que há no Céu pertence a todos, sem exceção e sem privilégios, elas precisariam se adaptar a esse sistema na Terra. Quando as pessoas estiverem conscientes de como o sistema funciona no Céu e tentarem implementá-lo aqui, estarão incorporando em si a essência de Deus. Como somente Deus possui a verdadeira sabedoria, as pessoas precisam AMAR a SABEDORIA, ou seja, amar a Deus, ser filósofos. Como somente Deus pode amar verdadeiramente, as pessoas devem ser amantes do saber também. Quando uma pessoa, por qualquer motivo, talvez por iluminação, percepção ou pela razão mesmo, descobre que Deus é a Essência do Amor e que o Céu é regido e governado por esse ser tão evoluído, automaticamente nasce um Céu dentro dela e ela começa a criar um Céu ao seu redor. Aos poucos, esse Céu se expande e fica cada vez mais próximo de todas as pessoas. Há indivíduos que são justos e desejam uma sociedade justa, o que também é um sinal de que o Céu nasceu dentro deles. Quando exercem o amor (justiça), na verdade, estão fazendo o bem muito mais para si mesmos do que para a coletividade, pois quanto mais uma pessoa é desprendida das coisas desse mundo, mais justa, solidária e pronta a viver no Céu ela estará. Quanto mais uma pessoa se assemelhar a Deus aqui na Terra, mais evoluída ela será, Alice.

"Mas para sermos como você está falando, Ramones, a gente iria perder muito tempo de nossas vidas, não é mesmo?"

"Alice, nesse caso, depende muito, sabia?"

"Depende de quê?"

"Depende do que você chama de vida..."

"Viver é nascer, crescer, perecer, nascer, crescer e perecer, nascer..."

"Ah sim, se você acredita que isso que acontece aqui e no mundo idealizado pelas almas é vida, então sim, realmente, perderia muito tempo fazendo essas coisas que Deus gostaria que você fizesse para poder viver com Ele no Céu. No entanto, Deus sabe que nascer, crescer e perecer, nascer, crescer e extinguir-se é uma perda de tempo. Ele acredita que a verdadeira vida é aquela vivida no Céu. Se você quiser ir para lá, terá que usar esse tempo para evoluir aqui e se habilitar para poder (se qualificar) ir para lá, entendeu? Então, se Deus não estiver enganado, coisa que sinceramente eu duvido, todo esse processo de evolução seria um investimento, se você tiver a convicção de que Deus é a Verdade. E você terá toda a eternidade para viver e viver de verdade, viver em abundância, entendeu, mulher? Você simplesmente trocaria a ilusão pela verdade. Qual é melhor, entendeu?"

"Sim, entendi... Seria o mesmo que saber que há uma estátua de ouro à venda e seu dono acreditar que ela é feita de bronze por causa do revestimento. Se eu soubesse com toda a minha convicção que a estátua é de ouro, com certeza faria tudo o que pudesse para conseguir o dinheiro e comprar esse objeto tão valioso que todos ignoram. É isso que você quer dizer com usar esse tempo para evoluir, ou seja, ser como Deus, para podermos usufruir de algo muito maior. Não é perder tempo, ninguém perderá tempo ao fazer as práticas para se assemelhar a Deus está trocando uma vida na ilusão por uma vida eternamente com Deus no Céu, certo, Ramones?

-- Isso mesmo, Alice, foi exatamente o que eu estavalhedizendo... No Céu, existe a Beleza, enquanto aqui existe o Belo. Tudo o que há no Céu é infinitamente melhor do que o que existe aqui, e tudo o que você puder fazer para viver a Beleza é um investimento, não uma perda de tempo. Contemplar o Belo que é feito pelas mãos dos homens é uma perda de tempo, porque existe algo infinitamente superior a isso: a Beleza feita por Deus no Céu. Você tem que agir aqui de maneira semelhante à maneira como Deus agirá com você lá no Céu. Assim, você será merecedora dessa honra e desse privilégio. Assim como Deus sabe que a maldade não existe e que o que existe é apenas a ignorância, ou seja, a falta de conhecimento - um conhecimento que liberta as pessoas da ilusão, do instinto, do vício e das paixões deste mundo -, você terá que fazer como Deus faz quando Ele vem à Terra a fim de ajudar as pessoas a evoluírem espiritualmente. E, é claro, fazer da maneira que Deus faz. Ele faz as pessoas evoluírem de uma maneira bem sutil. Talvez Deus tenha errado ao dar às almas ignorantes um excesso de liberdade para escolher seus destinos com a confecção da Desenhadora que, por sua vez, iria realizar seus desejos. Não se deve dar tanta liberdade para quem não apresenta tanto conhecimento para saber o que fazer com tanta liberdade e poder. Claro que essas almas sem instrução iriam fazer um mundo estranho como este em que estamos vivendo. Liberdade sem sabedoria (experiência, responsabilidade) vira libertinagem, bagunça, perdição e todas essas coisas. E foi exatamente isso que aconteceu. Ficou comprovado quando a Desenhadora fez este mundo do jeito que estamos vendo, um mundo em que as pessoas só estão interessadas em satisfazer e realizar todos os desejos da carne, do instinto, da ignorância. Por causa disso, as almas estão iludidas com este mundo, da mesma forma que o seu marido, quando ele estava iludido, preso na perdição, ou seja, viciado em jogos de azar. Do mesmo jeito que ele não conseguia interromper esse desejo muito forte de jogar e beber, mesmo quando percebeu que só perdia dinheiro, tempo e saúde, ainda assim ficou impotente perante essa vontade, assim também são as almas que só querem ficar se reencarnando vezes após vezes neste mundo para uma vida sem sentido algum, sem objetivo evolutivo. Porque essas almas nunca evoluem, nunca aprendem nada e ficam presas às ilusões, às paixões mundanas, girando em círculo como insetos em volta de uma lâmpada, se perdendo em prazeres que apenas as corrompem. Elas nem se percebem que estão se privando da verdadeira essência, da verdadeira virtude, nem sabem que estão longe do que o Céu pode oferecer, o que seria muito valioso. Se essas almas entendessem como seria maravilhoso presenciar tudo o que o Céu pode proporcionar... A culpa não é de Deus, porque a maioria das almas evoluídas que falavam para todas as almas sobre o Céu, aquelas que eu mencionei antes, estavam negociando como seria o mundo. Na verdade, Deus se dividiu em pedaços e se fez em uma variedade de almas que estavam disfarçadas entre as almas que Ele criou. Deus deixou essas almas criarem a Desenhadora para criar o mundo, mas o propósito de Deus era tentar avisar as almas, quando estavam idealizando o mundo, que seria muito melhor fazer o Céu. Através dessas almas em que se transformou, Deus disse às outras almas que o Céu já poderia existir e que Deus só queria ser amigo delas. No entanto, todos esses argumentos foram ignorados e as almas mensageiras não conseguiram fazer com que as almas fossem para o Céu por escolha própria. Quando os argumentos de Deus foram ignorados e as almas decidiram criar a Desenhadora para criar o mundo ideal, Deus saiu de perto delas. Ele ficou até o último instante com a esperança de conseguir esclarecer as almas sobre as maravilhas do Céu, mas falhou. No entanto, Ele está sempre trabalhando sutilmente para que as pessoas tenham a chance de ir para o Céu.

-Interessante tudo isso... Deus realmente ama as almas e tentou levar as pessoas para o Céu. Ele é um Grande Herói que respeita o Livre Arbítrio das pessoas. Mas mudando de assunto, tenho a curiosidade de saber: e o Belo, então, deve ser ignorado, Ramones?

-Alice, em verdade, Deus não se interessa pelo Belo. Ele vive a Beleza que está no Céu e quer compartilhá-la com as pessoas. Eu jálhefalei que as pessoas que almejam a Beleza têm que se esquecer do Belo, porque ele é apenas uma sombra em relação à Beleza. Quem quer viver a Verdade tem que se desapegar das ilusões deste mundo, como os vícios, a ignorância e as paixões. Os artistas deste sistema de coisas são vistos como deuses e são adorados, o que não condiz com as questões divinas, porque somente as atitudes verdadeiramente divinas foram feitas pelo Divino. A Arte, não só ela, mas também o dinheiro, o poder, a fama e os elogios, fazem com que as pessoas se iludam e se percam aqui, ficando longe de vivenciar a Beleza. No entanto, a Arte pertence a todas as pessoas deste mundo, e todas as pessoas têm o direito inviolável de escolher se querem o Belo ou a Beleza...

A arte está ligada às paixões humanas, por isso a Desenhadora se apaixonou pela humanidade. Ela era um poço de paixões e realmente se apaixonou por este mundo. No entanto, Deus não está apaixonado pelas coisas que os homens fazem, Ele vive a beleza e ama as pessoas que possuem o verdadeiro saber e amor. Pessoas evoluídas têm a missão e responsabilidade de trabalhar para uma sociedade justa e também ajudar outras pessoas a se libertarem da ilusão deste mundo. Elas devem despertar nas pessoas iludidas o desejo de evoluir, para que possam viver a beleza. Isso deve ser feito da maneira mais sutil possível, assim como Deus faz.

Pessoas evoluídas e libertas das coisas deste mundo devem criar um estratagema para ajudar os donos de grandes posses (riquezas e poder) a se desapegarem de seus patrimônios, a fim de ajudá-los a evoluir. Se eles ficarem ligados às suas posses, nunca poderão conhecer a Deus, pois não é possível ter Deus e dinheiro (posses) ao mesmo tempo. São coisas totalmente antagônicas. As pessoas que não conseguem se desprender de suas riquezas devem ser ajudadas por outras pessoas que já entendem como funciona o sistema que rege o céu.

Nenhum rico pode ser amigo de Deus, pois como alguém com muitos recursos pode deixar, por omissão, crianças perecerem de fome e ainda ser um amigo de Deus? Sem amor e sem atitudes corretas, ninguém pode ser amigo de Deus. No céu, todas as coisas pertencem a todas as pessoas de maneira igual, sem exceção de coisas ou pessoas (almas). Assim como no céu, aqui na terra, deve haver uma espécie de ensaio: adaptação seria a palavra correta. Isso deve ser feito da mesma maneira que Deus faz.

Nesse instante, o eremita fez uma pausa, e um silêncio absoluto preencheu o ambiente. Após muita reflexão, Alice perguntou a Ramones:

--Ramones, como fazer como Deus faz? Como Deus agiria se vivesse nessa realidade do nosso mundo, ou seja, nessa ilusão que é o nosso mundo? Falando nisso, Ramones, advinha em que eu estava pensando? Que Deus sempre soube que o mundo se encontraria como está agora, e Ele deve ter permitido que a Desenhadora fizesse o mundo nesse sistema de coisas porque Ele queria que as almas que fossem viver com Ele lá no céu fossem por vontade própria, não é mesmo? Baseado em tudo o que você me ensinou, cheguei à conclusão de que as pessoas evoluem se quiserem viver com Deus, só se quiserem, e Deus nos convida das maneiras mais sutis. Acertei, não é isso mesmo?

Sim, mulher, você acertou - respondeu Ramones.

Eu percebi isso quando você me disse há pouco que Deus estava negociando a ida das almas para o Céu, sem se identificar, usando apenas argumentos. Conheço uma história que diz que havia um pai que tinha dois filhos, e um dos filhos queria a sua parte da herança para conhecer o mundo, achava que ali não era suficiente. O pai, mesmo sabendo que o melhor para o seu filho era estar ali perto dele, fez o que o filho queria. O filho foi e se arrependeu porque perdeu tudo, percebeu que o melhor lugar para se viver era com o pai e voltou para casa. O pai fez uma festa para esse filho. Será que Deus também deixou que as almas escolhessem uma ilusão e, depois, conhecessem a realidade para que fossem viver por escolha e entendimento?

-- Sim.

-- Então, me diga uma coisa, Ramones, como é viver a beleza?

-- Alice, na verdade, você nem precisa saber como é isso. Basta saber que Deus sabe que lá é o melhor lugar para se estar por toda a eternidade. Porque, sem sombra de dúvida, Deus é o ser mais evoluído que existe, e Ele não quer outro lugar senão o Céu. Isso basta para se saber como é o Céu.

Alice olhou o eremita e, talvez por um impulso involuntário, perguntou:

-- Ramones, diga-me uma coisa, como é Deus? Como é o amor de Deus? O amor é o que mais importa para Deus, não é mesmo?

-- Sim, mulher, é o amor sim! Porque o amor existe em abundância no Céu. Isso (o amor) você poderá levar para lá. Agora, as coisas materiais que só interessam à carne, na verdade, não podem ser levadas. Na verdade, é o amor quelheleva para o Céu, quelhequalifica, quelhesantifica e quelheestimula a ver e viver essa realidade. O amor faz-te poder viver a beleza.

-- Como podemos colocar o amor em prática, Ramones? Como viver com um Céu dentro de nós como você mencionou há pouco?

-- Olha, mulher, imagine quando você for fazer qualquer coisa, imagine como Deus faria! Imagine como algo tão evoluído como Deus agiria e imite a atitude Dele, entendeu?

-- Na teoria, agir assim é fácil, mas, na prática, eu não sei se é possível...

-- Por quê, mulher?

-- Porque Deus, diante de um acontecimento, é o dono da verdade, sabe o que fazer, e para as pessoas comuns seria muito difícil saber o que fazer. Você sabia disso?

-- Eu francamente acredito que você está equivocada.

-- Por quê?

perguntou Alice, irritadíssima. Ela não concordava com o eremita e disse:

-- O que exatamente poderia fazer uma pessoa comum ter atitudes análogas às de Deus Todo-Poderoso? Isso para mim é até uma blasfêmia de sua parte, sabia? Você realmente acha que poderíamos imitá-lo? Deus, até onde eu entendo, na minha tênue concepção, está em um estágio de espiritualidade muito mais avançado do que o nosso... Como eu poderia ser como Deus sendo eu, simplesmente, de carne e osso, influenciada pelos meus instintos e por todas as outras coisas que me fazem ser tão pequena diante de Deus? Como poderia eu ser como Deus, que é espírito de Luz, enquanto eu sou apenas uma pobre criatura, pobre de espírito e ignorante? Seria até uma falta de bom senso da parte Dele esperar de nós uma igualdade de atitudes com as que Ele tem resguardado por toda a sua espiritualidade infinita...

Na verdade, Alice, se você realmente acreditasse que a Beleza existe, que Deus existe e que tudo o que Ele faz é adequado, bom, justo e verdadeiro, você entenderia que, se é necessário fazer como Ele faria em uma determinada situação, a sua verdade não é maior do que a Dele. E, com certeza, você entenderia a importância e o valor de tudo isso e, se assim fosse entendido e feito, você faria como Deus faria. Se você pudesse entender como Deus a trataria se você estivesse no Céu com Ele, Ele a perdoaria por todas as suas falhas. Se você pudesse entender como Ele é, você começaria a perdoar as falhas das pessoas aqui também. Se você conseguisse entender o quanto Deus é amor, você o imitaria. Conhecer e entender essa verdade faria de você uma pessoa livre dessa prisão (ilusão). Você e todas as pessoas que conhecessem essa verdade poderiam optar entre estar presas à sombra e estar vivendo na Luz...

-- Poxa, Ramones...

-- Alice, me diga uma coisa: como você acredita que Deus agiria se estivesse vivendo aqui na sombra (nesse mundo) agora?

-- Nem consigo imaginar, sabia? Ele destruiria tudo e faria um mundo melhor?

-- Não, claro que não! Deus, com certeza, estaria agindo de maneira que, a todo instante, Sua Essência (amor) estaria voltada para ajudar as pessoas a se elevarem espiritualmente, para que pudessem usufruir da Beleza. Ele usaria tudo o que existe neste mundo, inclusive a ilusão mitificada (a arte), para ajudar nesse processo. Ele estaria ajudando as pessoas a se amarem e a dividirem suas posses, para que elas pudessem se acostumar ao sistema que rege o Céu, onde tudo pertence a todos. Deus, de algum modo, sempre estaria agindo...

-- Como é Deus?

Interrompeu Alice, tentando mostrar aoeremita que ele estava sendo meio repetitivo às vezes.

-- Bom, Deus em Sua Essência sabe que este mundo é uma ilusão, isso é um dogma. Ele sabe também que a Beleza existe e está no Céu, Sua morada, e isso também é outro dogma. Deus é dotado de Amor, Suas atitudes e ações são movidas e originadas por esse nobre proceder. Deus é o Amor, porque o Amor é o fruto de Seu saber absoluto... Imagine Deus em uma sociedade, certamente Ele agiria de forma Divinamente Evoluída...

-- Como Deus agiria? Por favor, especifique! - perguntou Alice querendo algo mais concreto para entender.

-- Bem, Ele não iria querer juntar riquezas aqui, onde tudo é perecível: dinheiro, posses, poder, fama, aparência e outras coisas que são muito importantes para quem vive preso na ilusão... Deus acumularia a riqueza que realmente vale a pena ser acumulada, ou seja, o Amor... Ele não se interessaria por obras de arte, casas, carros, status, fama ou poder, porque essas coisas não existem no Céu e nem têm valor lá... Lá, Alice, todas as pessoas viveriam como iguais a Deus... Ele influenciaria as pessoas a cuidarem bem das crianças e agiria de tal modo que nenhuma criança conhecesse a fome. Ele venderia tudo o que tinha para alimentar os pobres...

-- Isso é muito bonito vindo de Deus... Mas o que Ele aconselha que as pessoas acumulem? -- perguntou Alice, impaciente.

-- Fazendo com que todas as pessoas vislumbrem o Céu, a beleza e o Amor... Ele com certeza usaria a política, a literatura, a música e todo tipo de arte e tudo o que fosse acessível às pessoas, mas sempre mostrando que este mundo ficaria muito melhor com uma vida ilusória relativamente boa, mas que o Céu deve ser a meta de todas as pessoas... O Céu foi idealizado e construído por Deus para que todas as almas lá vivessem, mas isso é uma escolha...-- Então, teríamos que viver a cada instante como se já estivéssemos no Céu, correto? Temos que trazer o Céu para dentro de nós, para que as atitudes divinas nos guiem para o Céu, é isso, Ramones?

-- Mulher, parece que agora você finalmente entendeu muito bem o quelheensinei sobre o que é divino e verdadeiro...

-- Sim, consigo perceber que tudo o que devemos fazer é pensar em como Deus agiria se estivesse em nosso lugar e seguir suas atitudes corretas, em vez de confiar em nossas próprias opiniões, que são muitas vezes equivocadas. Temos que ser seus imitadores, tratar as pessoas na Terra da mesma forma que Deus nos trataria no Céu, porque Deus sabe que a maldade não existe, e as pessoas consideradas más são, na verdade, pessoas que precisam de perdão e ensinamento para ter a chance de viver a beleza. Devemos ser gentis com os que entendem o propósito de Deus e os que não entendem ainda, ou os que nunca entenderão, porque quem precisa de ajuda são os ignorantes, os chamados de maus... Precisamos agir como Deus em relação a isso, porque Ele sempre nos ensina sutilmente o caminho para a beleza...

-- Isso mesmo, Alice, Deus é sutil, ajuda as pessoas a evoluir sem que elas percebam. Quando Deus se faz presente entre os homens, certamente desperta em suas consciências a importância da justiça, da tolerância e da benevolência, além de despertar a preocupação com o planeta, que é vital para as almas não evoluídas, que precisam dele para reencarnar e evoluir. Se as pessoas destruírem o planeta com poluição, guerras e outras tragédias, prejudicam o processo de evolução, e isso é alarmante. Deus sempre estará tentando fazer com que os homens entendam que precisam ter mais tempo para se dedicar ao amor. Ele busca maneiras de tornar o mundo mais justo, onde cada pessoa seja vista como um patrimônio e todos os indivíduos sejam iguais, sem hierarquia, e, finalmente, em uma sociedade altamente evoluída como no Céu, onde as pessoas são civilizadas o suficiente para não precisar de um governante. Na Terra, por enquanto, podemos apenas buscar um "capitalismo justo", a busca pelo ideal de viver a Beleza qualifica um indivíduo para experimenla-la. Infelizmente, os seres humanos frequentemente estão sob a influência da ilusão e poucas pessoas podem ver a Deus no curto prazo. A crença na existência da Verdadeira Realidade é fundamental para se livrar da Sombra e da Ilusão deste mundo planejado e criado pela Projetista. Aqueles em quem o Céu reside devem ajudar todas as pessoas a viver bem nesta Ilusão, porque aqueles que acreditam que este mundo criado pela Desenhadora é uma dádiva estão iludidos. A falta de fé e esclarecimento dessas pessoas as manterá presas aqui por muito tempo, e é importante para as almas esclarecidas tornar este mundo mais justo para que essas pessoas tenham a oportunidade de entender que existe a Beleza verdadeira.

Alice ficou surpresa com tudo o que ouviu e quis interromper o eremita, mas não conseguiu. O eremita explicou que o Céu só pode ser habitado pela junção da vontade e evolução dos seus pretendentes, mas que se pode fazer com que as pessoas entendam a existência da Beleza verdadeira e ajam como Deus agiria. Se esta Ilusão se tornasse um lugar justo e bom para se viver, as pessoas teriam mais tempo para perceber que a Beleza existe e reside no Céu, e mesmo que este mundo melhore, ainda será uma Ilusão. As pessoas que realmente entendem isso vão buscar a vida com seu Criador e amigo-Deus. O conhecimento dessa verdade é libertador e mesmo aquelas que querem ficar aqui merecem pelo menos viver na Sombra sem muita dor causada pela ignorância. Quem realmente tem o Céu dentro de si fará isso acontecer de maneira sutil e transformará o mundo em um lugar mais justo. Deus não julga as almas, mas as ama e as ajuda sem que elas percebam. Devemos imitá-lo e reconhecer que este mundo de paixões é apenas uma Ilusão, e que a verdadeira vida reside no Céu.

-- As pessoas, com certeza, teriam atitudes nobres como as que Deus tem, porque Ele sai do Céu e vem à Terra ensinar as pessoas dessa possibilidade. Ele vive lá e sai de lá para ajudar as pessoas aqui. Então, se Deus sai do Céu por amor e se priva de todas as glórias e das maravilhas de lá para ajudar as pessoas, em verdade, eulhedigo que para uma pessoa abandonar a ilusão para ensinar as pessoas é muito pouco em relação à atitude de Deus, porque Ele já estava lá... Entenda, mulher, se o Céu está realmente dentro das pessoas e elas amarem suas almas irmãs como Deus as ama, com certeza, iriam ajudá-las a abandonarem as paixões que as prendem aqui. Como você poderia ser como Deus se sabe que existe uma beleza e suas irmãs espirituais não sabem disso? Lá tudo é justo, e a verdade e a liberdade fazem sua morada lá. Como você poderia ser como Deus se não faz o que Deus faz?

Quando melhoramos a vida das pessoas em uma sociedade justa, ajudando-as através de uma boa educação, elas fazem menos coisas erradas, ou seja, coisas que Deus jamais faria. Ter atitudes que Deus jamais teria afastaria cada vez mais as almas do Céu. Essas pessoas são coitadas por estarem ligadas à ignorância, às paixões, aos instintos e aos vícios. Da mesma maneira que Deuslheajudou a ver a verdade elhelibertou dessa prisão, você teria que fazer o mesmo com seus irmãos aqui neste mundo. De maneira semelhante que Deus, a cada dia lá no Céu, ajuda a evoluir cada vez mais, dividindo seu conhecimento com você, você terá que fazer com seus irmãos aqui neste mundo. De maneira semelhante que Deus perdoa as coisas erradas que você faz lá no Céu por saber que a maldade não existe e que o que você cometeu de errado foi por ignorância, você também terá que fazer aqui com seus irmãos, porque eles também não são maus, e sim, estão presos nas paixões desse mundo. Essas pessoas merecem o mesmo tratamento que Deus daria a você. Pode até existir pessoas más, mas a gente nunca conseguiria saber se elas são más ou estão sofrendo pela ignorância desse mundo. Por isso, aconselho que sejamos bons com todas as pessoas para não sermos injustos com as que precisam de nossa ajuda. Devemos ser como o Sol, que não faz distinção de ninguém e aquece a todos.

Alice, nesse instante, arregala os olhos e pergunta meio assustada:

-- Ramones, somos uns miseráveis e nunca seremos capazes de fazer essas coisas. Eu adoro comer bem, adoro comer...

Ela se cala por um instante.

Quando ela iria falar sobre o Sol que está parado e brando faz um tempão, subitamente, percebendo o que ela iria dizer, o eremita prontamente fala antes dela:

-- Você não entendeu nada do que eu quis ensinar-te sobre o Céu. Deverias sentir vergonha por não prestar atenção à sutileza das minhas palavras. Quando eu disse que uma pessoa não deveria fazer coisas que gosta, das quais pertencem exclusivamente a este Mundo de Ilusões, eu não estava falando do jeito que tu entendeste. Eu quis dizer que, quando uma alma chega ao Céu e depois quer voltar à Terra, isso acontece porque adquiriu uma espiritualidade semelhante à de Deus. Ela adquire essa espiritualidade por ter sido ensinada pelo próprio Deus em pessoa. Quando essa alma descobre a espiritualidade divina, ela vive nela e volta ao Mundo Ideal para ajudar as pessoas a fazerem parte das maravilhas do Céu, ensinando o que Deus lhe ensinou lá. Tu não entendes como é ser como Deus? Deverias sentir-te envergonhada por isso. Deus nunca desejaria toda aquela maravilha só para Ele mesmo. As almas que adquirem essa espiritualidade semelhante à divina adquirem também a mesma "tradição" que Ele adquiriu de vir avisar as pessoas aqui neste mundo de ilusões. Elas também querem vir avisar e ajudar a todas as pessoas a entender que existe algo profundamente maravilhoso para contemplar e viver no Céu. Essas almas semelhantes ao divino, quando voltam à Terra, às vezes, usam estratagemas complexos para preparar as pessoas para viver a beleza do Céu. Elas fazem isso porque sabem que nunca poderiam ter uma felicidade verdadeiramente plena mesmo estando no Céu. Elas sabem que uma alma (ou pessoa) só será feliz realmente quando todas estiverem também livres, felizes, e desfrutando das coisas verdadeiras. É exatamente por esse nobre motivo que, às vezes, essas almas que já contemplaram a beleza do Céu não querem voltar a se iludir com os sabores e gostos deste Mundo de Ilusões. Por isso, elas se afastam "dos prazeres desse mundo", porque, na verdade, não são prazeres, são meios de se prenderem a este mundo. Essas almas que voltaram depois de contemplar a beleza não querem outra coisa senão vivea-la por toda a Eternidade Infinita. Querolhecontar que "sem tempero" não quer dizer exatamente que devemos comer alimentos sem sabor. Eu quis dizer que não deveríamos dar tanta importância às coisas que não têm tanto valor e passar a dar prioridade às que têm. Eu quis dizer que o verdadeiro sabor bom está em aprender a compartilhar todas as coisas necessárias deste mundo com todos os nossos irmãos. Deveríamos aprender a compartilhar todos os produtos e mantimentos deste mundo. Compartilharemos as coisas deste mundo e aprenderemos a compartilhar no Céu também. Eu sei que é muito difícil para as pessoas se desfazerem de suas coisas neste mundo, mas é necessário compartilhar, senão nunca poderão ver a Deus. Ele é o SENHOR DA COMPARTILHAÇÃO e da COMUNHÃO. Compartilhe e comungue com o mundo, e Deus compartilhará e comungará o Céu com você e todos que aprenderem através de você a compartilhar e a comungar também. Aquelas almas que conhecem a Deus sabem que precisam tornar o sistema de governo da Terra semelhante ao sistema que rege o Céu, com igualdade e amor. Elas criam histórias, teses, conceitos, e todas essas coisas, para que as pessoas possam ter acesso um dia ao que realmente liberta: os verdadeiros ensinamentos de Deus.

Essas almas lutam diariamente contra a ignorância, ajudando as pessoas a se tornarem mais conscientes, a se encontrarem e a refletirem na possibilidade de que algo Divino as criou. Elas desejam que um dia o governo do Céu (o Acordo, a Consonância, a Harmonia, a Uniformidade e a União) venha governar a Terra e arrebatar todas as almas que tiveram a chance de saber sobre o Céu e que optarem, depois de conhecê-lo, viver lá com Deus e juntas com todas as almas.

Quando esse dia chegar, e as almas estiverem totalmente conscientes de como as coisas são no Céu e na Terra, elas poderão fazer suas escolhas: onde querem viver, no Céu ou na Terra? Se elas optarem por não existir mais, se gostariam de ser apagadas por Deus ou renunciar (abandonar) o presente que Deus lhes deu (a vida) com muito amor. Se acharem que Deus não deveria tea-las criado sem que elas pedissem esse presente, poderão escolher.

Você entendeu, Alice, o porquê das almas voltarem do Céu e não quererem se apegar às coisas que só existem neste mundo?

O eremita terminou de falar, e Alice fez uma carinha de menina querendo mostrar que sabe das coisas, que quer atenção, e disse pausadamente:

-- Eu entendi sim, Ramones, o porquê das almas voltarem do Céu. Lembro-me, inclusive, de uma história que meu amigo Léo me contou há algum tempo. Era sobre algo que Platão, um antigo filósofo grego, falou fazendo uma metáfora sobre a missão de seu mestre, Sócrates. Lembro-me disso porque Santo Agostinho também gostava muito de Platão. Os Espíritas também gostam muito deste filósofo, e isso me intrigava até agora. Mas, voltando à história de Platão: ele disse em sua alegoria que havia pessoas que estavam sempre, desde que nasceram, presas em uma caverna, acorrentadas com a cabeça virada para uma parede no fundo da caverna. Quando passava algum animal, como um galo, por exemplo, a sombra dele era projetada na parede que os acorrentados eram obrigados a olhar o tempo todo, então, essas pessoas, quando ouviam o galo cantar, acreditavam que a sombra dele era a causadora daquele som. Achavam que a sombra do galo era o próprio galo e o admiravam por isso. Passavam muitos outros animais na entrada da caverna, mas a ignorância continuava. Porém, um dia, um jovem soltou-se das correntes e saiu da caverna. Finalmente, conheceu o mundo, viu o galo e todos os outros animais que passaram na entrada da caverna e percebeu que havia vivido na ignorância por achar que as sombras dos animais eram os próprios animais. É nesse ponto que quero chegar paralhecontar, Ramones. Quando o jovem conheceu a verdade, ele quis voltar e dizer às pessoas acorrentadas que elas não conheciam a verdade e viviam na ignorância, contemplando sombras e ilusões. Então, eu lhe digo, Ramones, que as almas abandonam o Céu não porque não querem ser amigas de Deus, mas porque querem avisar as pessoas que vivem na ignorância na Terra de que existe uma verdade digna de ser vivida e contemplada intensamente no Céu. As almas fazem esse sacrifício de deixar o Céu e suas maravilhas para ajudar as pessoas a conhecê-lo também, influenciadas pelo amor que Deus lhes proporcionou. Com esse amor, tornaram-se semelhantes a Ele e fazem como Ele faz, vêm à Terra ajudar suas irmãs a ir para a verdadeira casa: o Céu! Eu entendi sim, Ramones... Como alguém poderia viver feliz, sabendo que há pessoas, principalmente crianças, morrendo de fome no mundo das ilusões? Claro que uma alma que se tornou semelhante a Deus vai querer ajudar essas almas que se encontram nessa situação lastimável, presas por causa da ignorância. Entendi também que Deus dá entendimento para que as almas percebam que elas só serão totalmente livres quando todas as outras almas também o forem.

Alice, nesse instante, até se assustou com o pedido do seu interlocutor quando este lhe pediu para que ela permanecesse só escutando suas últimas palavras. Disse, inclusive, que iria fazer um resumo e também acrescentar algo novo, e ela iria decidir qual crença ela iria optar ao ver qual líquido ficaria em seu copo. Então, o eremita começou a falar:

-- As almas fizeram o mundo como se fosse um gigantesco playground, buscando a felicidade e achando que encontrariam-na aqui nesse mundo IDEAL. Mas, como não sabiam como é a verdade, como é a realidade, eram inexperientes e fizeram besteiras. Elas eram como criancinhas inocentes brincando de ser Deus. Quando se uniram e se transformaram na Projetista, na verdade, as almas se doaram, ou seja, deram uma boa parte de seus corpos existentes e ficaram bem menores do que eram na realidade. Quero dizer com isso que tudo o que existe no mundo IDEAL tem sua essência nas existências das almas. Esse é um dos motivos pelos quais elas são tão apegadas a este mundo e às leis que o regem, bem como aos vícios preestabelecidos pela Projetista. Por isso, também estão sempre procurando realizar os desejos de seus corpos.

Quando a Desenhadora criou o vínculo de proteção para que os pais e seus filhos ficassem juntos a fim de se protegerem, perpetuando sua prole (descendência), as pessoas ficaram ainda mais egoístas, querendo o melhor para seus filhos e parentes. O próximo passo foi cercar um pedaço de terra e dizer que era seu, o que começou os problemas do mundo, as divisões e tudo o que afastou o homem de sua irmandade (quando eram apenas espíritos feitos por Deus). Começaram então as possessões, os clãs, as etnias, os grupos separatistas de todos os tipos e espécies. Mas quando todas as pessoas souberem que todos são seus parentes por espírito, como já mencionamos antes, isso mudará. A irmandade renascerá nos corações dos conscientes, que se tornarão justos como Deus é. Quando todos conhecerem a verdade do Céu, todos largarão as verdades da Terra, e a verdade do Céu reinará na Terra.

Quando uma alma chega ao Céu, ela, através do amor e do conhecimento que Deus lhe proporciona, cresce e se desenvolve plenamente, podendo até ficar do tamanho de Deus. Antes disso, as almas eram ignorantes, não sabiam da verdade, portanto eram sem experiência alguma, imperfeitas e desejavam possuir um corpo imperfeito também. Queriam o mundo IDEAL, ou seja, as criancinhas queriam um teatrinho, um playground para poderem brincar à vontade. Com tudo isso, quero dizer que as almas são imperfeitas, têm corpos imperfeitos (corruptíveis) que pioram ainda mais sua situação. Mas quando vão para o Céu, podem ficar PERFEITAS como Deus é. Mesmo quando ainda não são realmente PERFEITAS como Deus, por terem apenas começado seus estudos, resolvem voltar para a Terra logo em seguida, no início de sua PERFEIÇÃO. Como conversamos antes, elas voltam aqui (na Terra) para chamar as almas irmãs a fazerem parte do Céu. Mas essas almas que voltam do Céu são PERFEITAS, vivendo em corpos imperfeitos nos quais estão sujeitas às paixões desse mundo IDEAL. Então, elas precisam se afastar das coisas que dão uma sensação de êxtase ilusório para não se perderem (ou se corromperem), pois quando voltam para ajudar as pessoas, estas podem ficar presas às coisas deste mundo se não tomarem cuidado. Assim, elas levam uma vida alternativa para si mesmas enquanto estão aqui, montando um ardil para ajudar as pessoas com exemplos e demonstrando que a verdadeira felicidade está em outro Reino, o do Céu. Agindo assim, conquistam pessoas para o Reino do Céu. Fazem todo o possível, porém, sutilmente, para que as almas deste mundo comecem a se comportar como no Céu. Elas utilizam estratagemas com o objetivo de tornar as pessoas mais espirituais, condizentes com o Céu, mesmo que imperceptivelmente. Isso pode permitir que estas vivenciem, um dia, a verdadeira vida no Céu. Essa tentativa evolutiva de qualificar as almas é também uma tentativa de prepará-las para uma futura vida abundante no Céu, uma verdadeira vida.

No Céu, ninguém adora a ninguém, e ninguém é adorado. Nem mesmo Deus deseja ser adorado, pois não foi para esse fim que Ele criou as almas. Ele as criou para serem amigas Dele, e para compartilhar com elas, de maneira igual, todo o Seu amor, Suas coisas, Seu grandioso conhecimento e tudo o que o Céu pode oferecer. Ele não se comporta como um ser superior ou inferior a ninguém. É por isso que, para se viver essa glória no Céu, as pessoas precisam começar a vivenciá-la aqui, como se fosse um treino, uma adaptação para a verdadeira vida.

Imagine, por exemplo, que você, Alice, quer viver a mais linda Beleza para poder contemplá-la. Não se pode ficar preso a este mundo como uma prisão. As pessoas que estão no caminho do Céu precisam começar a libertar os artistas dessa vaidade, dessa prisão que o mundo lhes oferece. Como já mencionei antes, no Céu ninguém adora nem é adorado. Precisamos agir assim aqui neste mundo para podermos nos preparar para aquele mundo de maravilhas.

Também quero lhe dizer, Alice, que da mesma forma que os artistas precisam se desprender desse sentimento de Deuses (querer ser idolatrados), as pessoas que se apegaram às riquezas precisam ser ajudadas a se desapegarem das coisas deste mundo. Pois no Céu, ninguém tem mais do que ninguém, e tudo o que há lá basta para todos, pois há abundância. Não é necessário levar nada daqui deste mundo. Aqui, podemos apenas treinar o amor sem distinção, compartilhando-o com todos.

... As pessoas que conhecem essas Verdades Divinas (que têm o Céu dentro de si e vivem como se estivessem lá) sabem, é claro, que podemos viver neste mundo de ilusão com as coisas daqui, da mesma maneira que é feito lá no Céu... Basta apenas ensinar às pessoas a fazerem como Deus faria se estivesse aqui, ou seja, com amor, sabendo que todos somos iguais, que existe algo realmente verdadeiro e que podemos superar essas coisas fortes (instintos, vícios e todas essas coisas, que foram colocados em nós pela Projetista) que nos tornam egoístas, separatistas, mesquinhos, fracos e ignorantes... Como é muito difícil no começo sermos como Deus, podemos pelo menos começar dividindo nossas posses com nossas irmãs espirituais encarnadas, da mesma maneira que Deus fará com todas as pessoas no Céu... Para começar, já está bom: se as pessoas começassem a entender realmente como Deus é, como o Céu é regido, como Deus ensina e como Ele viveria com sua criação querida, essas pessoas que receberiam esse ensinamento pensariam assim: “Se eu tenho o direito de me alimentar de uma maneira boa, na qual meu corpo material consegue absorver todos os nutrientes necessários para uma boa saúde, então todas as pessoas deste mundo têm o mesmo direito que eu, meus filhos e parentes têm!” Elas precisam "saborear essa verdade", compreender que precisam fazer algo para que todas as pessoas, sem exceção, possam também se alimentar de maneira igual a elas... Se uma pessoa, por exemplo, pode comer macarrão, frango, purê de batata, saladas e de sobremesa torta de maçã no domingo, todas as pessoas do mundo têm o mesmo direito de comer esses alimentos: e você tem que ajudar para que essa justiça e outras justiças sejam feitas, pois se você pode comer isso, todos também podem, e se essas pessoas não estão tendo acesso a esse direito de maneira igual, é seu dever (dever do amor, de alguém em quem o Céu se faz presente) procurar saber o que está acontecendo e ajudar a resolver essa injustiça da maneira mais rápida, justa e verdadeira, ou seja, como Deus faria, de maneira sutil... Porque, em verdade, em verdade, eulhedigo, Alice, que as pessoas têm os mesmos direitos que você: e se você pode comer macarrão, frango, purê de batata, saladas e de sobremesa torta de maçã, todas as pessoas do mundo têm esse mesmo direito, e se elas quiserem comer outros alimentos com outros sabores, será apenas uma questão de paladar pessoal, pois nesse sentido as pessoas não são iguais, cada uma tem sua própria opinião sobre seu cardápio e também sente o gosto das coisas de maneira diferente... Mesmo quando as pessoas vivem neste mundo IDEAL, que é muito distante da realidade do Céu, se as pessoas que aqui vivem começassem, através de um prévio conhecimento da realidade Divina, a agir conforme é no Céu, ou seja, em igualdade de direitos, deveres, amor e irmandade... E em acordo, consonância, harmonia, uniformidade e união...

O eremita, ao dizer isso, parou e deu mais uma olhada para o astro-Rei antes de prosseguir com sua explicação:

-- No Céu, as pessoas não têm posses, tudo pertence a todos. Portanto, para se fazer algo aqui na Terra que se assemelhe ao sistema regido pelo Divino, é necessário que todas as pessoas se conscientizem de que quem tem mais do que precisa é um ladrão. As pessoas precisam aprender a agir como lá no Céu para que esta alma, um dia, tenha o privilégio de ver a Deus e ser semelhante ao ETERNO e desfrutar de tudo o que há no Céu e que Deus pode oferecer.

Alice, em verdade,lhedigo que, de maneira igual, eulhedisse em relação à alimentação. Também todas as pessoas têm o mesmo direito à diversão, ao estudo, à cultura, ao esporte, à saúde, ao lazer e ao prazer, e acesso de maneira igual a tudo o que esse mundo de ilusão pode oferecer (compartilhar)! Porque lá no Céu é assim: Deus compartilha tudo com todas as pessoas.

Uma pessoa que tem o Céu dentro de si, Alice, tem que agir de modo sutil para ajudar todas as pessoas a perceberem isso e agir assim (compartilhar). Essa pessoa tem que ajudar os ricos a entenderem tudo isso. Tem que ensinar os ricos, por exemplo, que os pobres são iguais a eles, pois também querem boas casas, boas comidas, querem passear e querem ser felizes igualmente a eles. Portanto, todos têm que se esforçar para estabelecer esses benefícios a todos, como é no Céu. Se as pessoas que foram libertas das influências desse mundo conseguirem influenciar os artistas (que são idolatrados) e essas pessoas que detêm o poder, as posses, e se esse poder, as riquezas e o prestígio dos artistas forem usados para divulgar as coisas do Céu aqui na Terra, ajudando as pessoas a terem mais acesso ao conhecimento do Divino, ou seja, a verdade, então, se isso for feito assim, meio caminho para a libertação das pessoas desse mundo terá sido percorrido com êxito, pois as pessoas terão acesso a esses conhecimentos libertadores.

Se for possível pegar a mesma arte que corrompe os artistas e as pessoas e fazer um tipo de arte que eleve a espiritualidade dos indivíduos, tornando-os aptos a viverem no Céu, por conseguirem implantar a verdade do Céu, e todas as pessoas puderem vislumbrar essa maravilha, então a arte será Divina também.

Um dos motivos que tornam importante uma sociedade regida por leis semelhantes às que regem o Céu é que, com uma sociedade justa, as pessoas não vão se corromper tanto, porque com uma divisão justa de suas riquezas e tudo o que este mundo tem, seria muito difícil para uma pessoa se corromper. Com a sociedade que conhecemos, que valoriza a competição, o egoísmo, o vício, a inveja, a ganância e outras tendências, se influenciarem as pessoas a se corromperem, podem ser consideradas como uma espécie de mitologia nesta sociedade desorientada. Se considerarmos que o homem é produto do meio, então uma sociedade justa, como o Céu, pode elevar a evolução do homem que é influenciado por ela. Isso se torna ainda mais importante se considerarmos que as almas que estão pagando suas penitências não podem se reencarnar por não terem sido boas, por terem sido corrompidas pela sociedade corrompida e por serem fracas perante os vícios da carne. Se a sociedade oferecer uma chance melhor para as pessoas, elas não serão tão corrompidas e vão querer se elevar cada vez mais para alcançar o Céu. Uma alma só será livre de verdade quando todas as outras também o forem. Portanto, ajudar alguém a evoluir e entender que precisamos fazer da Terra um lugar como o Céu é fazer o bem para si mesmo e agradar a Deus. Esse benefício coletivo deve ser feito sem a intenção de se vangloriar, assim como Deus faz, de maneira sutil, sem se mostrar, pois quem busca as glórias deste mundo não busca as glórias do Céu. Temos que ser imitadores de Deus. Deus acha a existência das almas mais importante do que a Dele mesmo, visto que Ele sempre existiu como essência e precisava de companhia. Ele criou as almas para serem Suas amigas. Se as criaturas criadas por ela não existissem, a existência de Deus não seria necessária, pois ninguém questionaria sua existência. Deus ama tanto sua criação porque precisa delas para justificar Sua própria existência, Seu amor, Seu poder, Sua glória, Seu conhecimento, Seu Céu, Sua verdade, Seu tudo. Para que serviria tanto poder se ele não pudesse ser apreciado por ninguém e não houvesse ninguém com quem compartilhá-lo? Deus sabe, baseado em Sua onisciência, que só existiria de verdade se houvesse alguém para amar, alguém para explicar Sua existência. Portanto, todas as pessoas devem se tratar como Deus as trataria, compartilhando. O único mandamento que Deus impõe à Sua criação é "amem-se uns aos outros da mesma maneira que Eu os amarei quando estiverem em Minha companhia e herdarão o Reino do Céu".

Ao dizer isso, o eremita se calou por um pequeno instante e retomou sua elucidação:

-- Deus fez as almas para que estas sejam livres, totalmente livres. Portanto, se isso é verdadeiro, os homens estão condenados a ser eternamente e absolutamente livres... Então, aproveitem essa liberdade, ó homens (e almas) do mundo inteiro! Porque foi com esse fim que o Todo-Poderoso as criou: a liberdade! O homem está livre, inclusive para rejeitar o Céu, Deus e todas as suas maravilhas. Ele é livre para escolher seu caminho e é livre até mesmo para estragar sua existência da maneira que acredita ser a mais conveniente para si próprio! Acho válido salientar que cada pessoa, mesmo quando ela era apenas uma alma vagando pelo nada infinito, desejando um mundo para viver e sentir através do cérebro de um corpo, sempre foi um ser genuinamente único. E é por isso que vê e interpreta o mundo de uma maneira específica (única), só sua. Em verdade, eulhedigo, Alice, que Deus também vê o mundo de uma maneira específica. Entretanto, ao falarmos de Deus, não estamos falando apenas de mais uma maneira de ver e interpretar o mundo: estamos falando de uma maneira diferente que é também a verdadeira maneira de ver o mundo. Entendeu? Estoulhedizendo isso com a finalidade delheexplicar que quando você ensina uma pessoa a ver o mundo com os teus olhos, está dando a ela um novo mundo. Quando você dá a uma pessoa a chance para que ela mostre como ela vê o mundo, você está recebendo uma outra visão de mundo como presente. Eu diria que, quando alguém lhe mostra (diz) como está vendo o mundo, esta pessoa está emprestando os olhos dela para que você possa ver um outro mundo que você não conhecia. Esse empréstimo dos olhos alheios é uma prova de amor, já que ela dividiu o seu mundo com você. Eu sei que já lhe disse tudo isso antes, mas estou reafirmando para que você entenda a importância disso tudo. Para se habilitar e viver nessa verdade que reside no Céu e ser amigo do Eterno, é preciso aprender a ser amigo de todas as pessoas. É necessário começar a praticar essa vontade de ver o mundo através da visão alheia, para que quando você estiver com Deus, consiga deixá-lo à vontade ao ajudá-la a ver o Céu com os olhos Dele, ou seja, com os olhos da verdade, da verdadeira maneira de vê-lo e senti-lo. Em verdade, aindalhedigo, Alice, que, quando você estiver conhecendo o mundo das pessoas, ou seja, vendo o mundo com os olhos delas, você terá acesso a informações privilegiadas que lhe ajudarão a ver como melhor poderá ajudar essa pessoa a ver o mundo da maneira que mais rapidamente trará o Céu para dentro dela.

O eremita interrompeu sua fala por um breve instante e prosseguiu com sua explicação:

-- Se a pessoa que está mais evoluída do que vocêlheajudar a trazer o Céu para dentro de si, será ainda mais rápido. Percebe como nunca se perde ao praticar essas atitudes? Elas são interessantes, pois é a maneira sutil que Deus usa para ensinar as pessoas, tanto no Céu como na Terra, em suas visitas rotineiras. Além disso, essas atitudes são seguidas pelas pessoas que já conheceram o Céu e retornaram para convidar outras a fazerem parte dessa maravilha. Em resumo, devemos imitar as atitudes de Deus, pois é a maneira certa de agir. Quanto ao problema de possuir bens, isso é ruim, pois corrompe as pessoas. Deus não se deixa seduzir por nada deste mundo, pois as riquezas desejadas pelas almas inferiores apenas tornam as pessoas egoístas e as privam do Céu. Não podemos servir a dois senhores: amor e dinheiro. Quando possuímos mais do que precisamos, estamos nos afastando de Deus e do Céu de forma "inocente". Adquirir muitos bens e corromper-se ao mesmo tempo leva outras pessoas a corromperem-se também, pois despertamos a inveja nelas. Alice, quando ensinamos as pessoas a terem as mesmas atitudes de Deus, fazemos um bem maior para a sociedade. Ao ajudar o rico a se desapegar deste mundo de ilusões e a não despertar a inveja das pessoas que não conhecem a verdade sobre o Céu, estamos também ajudando Deus a ter amigos lá no Céu. Além disso, estamos praticando as atitudes que Deus deseja que pratiquemos e nos qualificando para viver com Ele no Céu. Todas as pessoas que ajudamos a conhecer Deus farão o mesmo para se livrarem da ignorância e viverão em um mundo mais justo. Será mais fácil e rápido pregar as verdades do Céu quando as coisas estiverem simples, organizadas e justas. Um dia acordaremos em um mundo de pessoas refinadas, elegantes e sinceras, capazes de fazer a escolha certa e rejeitar a errada. Neste mundo, as almas desencarnadas que estão pagando pelos seus erros em vidas passadas terão a oportunidade de evoluir em um ambiente favorável. O objetivo principal deste mundo é ensinar a todos a se tornarem semelhantes a Deus. Devemos imitá-lo e compreender a sua essência sublime para levar o céu às pessoas e liberla-las da perdição. Então, o céu que está dentro de nós nos guiará para o verdadeiro céu, onde a verdadeira vida começará. Todos se esquecerão de que já viveram em uma ilusão criada pelas almas. Em resumo, Alice, quero afirmar que se fizermos a vontade de Deus, sua sabedoria e amor verdadeiro farão com que as pessoas ajam de forma semelhante a Ele. Se você e todos aqueles que forem despertados pela verdade ajudarem aqueles que compreendem que há um lugar, uma atitude e uma maravilha a ser vivida no céu e que isso requer esforço para acabar com qualquer tipo de guerra, desigualdade, posses e outras coisas que Deus desaprova e que desqualificam as pessoas, então essas mesmas pessoas não impedirão os outros de conhecer Deus.

E mais uma vez o eremita ficou em silêncio, parecia refletir sobre algo muito importante e logo começou seu esclarecimento novamente:

-- É necessário que todas essas atitudes sejam realizadas porque se quisermos viver em um lugar justo, com regras justas, devemos nos tornar condizentes com essa realidade que encontraremos lá. Temos que nos preparar para viver em uma vida de abundância infinita... Eu sei que já lhe disse tudo isso antes, mas não sei me expressar muito bem no seu idioma. Esqueço as frases, as sequências dos raciocínios e, por conta disso, me atrapalho muito. Mas acredito que é importante salientar sobre as "almas sem crença". Como já lhe disse, Alice, havia aquelas almas que não acreditavam que o Céu já existia. Estas eram almas "totalmente ateias", que não acreditavam de jeito nenhum que o Céu pudesse existir. Diziam que seria uma perda de tempo e um desperdício de poder fazer a Desenhadora criar o Céu. Acharam melhor fazer a Desenhadora criar o mundo ideal... Sabia, mulher, que no meio dessas almas também havia algumas que até acreditavam que o Céu pudesse existir, mas não eram favoráveis à ideia de morar lá? Não queriam viver com Deus, queriam viver sem Sua presença. Queriam sua independência e achavam que o mundo ideal seria melhor. E estas não cederam para aquelas de bom senso que queriam viver no Céu. Então as almas com bom senso tiveram que sucumbir ao que as outras queriam, senão o mundo nunca seria Projetistado e ficariam até agora no meio do nada discutindo essas coisas... Tiveram que deixar que o mundo ideal acontecesse, porque quando elas cederam para que esse mundo surgisse, elas conseguiram também a chance de aprovar a possibilidade de deixar Deus entrar nesse mundo e salvar as pessoas da prisão que é este mundo malfeito, planejado pelas almas de "virtudes ateias". Ainda bem que as almas de bom senso tiveram sucesso ao fazer com que as almas que não queriam que tanto Deus quanto o Céu existissem acabassem cedendo um pouco e deixando esse interstício (abertura)... As de bom senso só conseguiram essa abertura porque quando as almas ateias disseram que não iriam dar essa possibilidade para Deus entrar nesse mundo porque Ele não existia, as almas que acreditavam em Deus e sabiam que Ele estaria aqui para ajudá-las no futuro responderam a aquelas infelizes "se Deus não existe, vocês não têm nada a perder. Então realizem o nosso desejo, porque temos o direito". E tendo dito isso, conseguiram a maior de todas as vitórias, pois as outras não tiveram mais argumentos para questionar!... Apesar de as almas sensatas terem perdido a chance de ir ao Céu naquele tempo por terem cedido nas negociações, agora elas podem alcançar o Céu se reconhecerem a Deus e evoluírem. Embora não seja justo que aqueles que conhecem o que é bom, justo e verdadeiro tenham que ceder sempre às pessoas que estão perdidas na ilusão da ignorância, as pessoas sábias sempre encontram meios de restabelecer seus desejos e vontades com paciência e sabedoria.

Alice, estou ciente de que estou sendo repetitivo, mas é importante que você entenda que as pessoas que conhecem a existência do Céu e sabem que é o melhor lugar para todas as almas desejam viver em uma irmandade celestial lá. Essas pessoas conscientes precisam ajudar a criar uma irmandade na Terra para convencer as almas ateias (e as pessoas encarnadas agora) de que a irmandade do Céu seria muito melhor do que a forma de existência aqui na Terra.

As pessoas conscientes dessa verdade precisam criar um estratagema para ensinar (preparar) as almas (pessoas) ateias a viverem em um lugar como o Céu. Para fazer isso, é necessário tornar essa irmandade semelhante à do Céu. Quando essa irmandade terrena ocorrer, as pessoas que não acreditam ou não queriam viver no Céu mudarão de ideia. Elas serão as primeiras a querer entrar no Céu, e os últimos a entrar no Céu serão os primeiros a querer entrar. Essa sedução é instigada pelos indivíduos sensatos, e tudo estará consumado finalmente.

As almas realmente evoluídas sabem que é muito difícil ajudar as pessoas que estão influenciadas pelo mundo ideal. Sabendo disso, elas não tentam convencer esses iludidos de uma só vez, mas tentam esclarecê-los aos poucos, de maneira sutil, fazendo uso das coisas que eles gostam, ou seja, coisas que os prendem a esse mundo. Elas usam as artes, as tecnologias, os esportes e outras coisas que seduzem e corrompem as pessoas. Elas se fazem de iludidas para ajudar os iludidos a se desapegarem das coisas que não existem no Céu.

O conceito básico dessa atitude é que, quando o sistema aqui da Terra for muito semelhante ao do Céu, as pessoas ficarão mais suscetíveis ao Céu. Será mais fácil convencer as pessoas de que o Céu existe e que é muito melhor do que a imitação dele (sistema que as almas vão empregar aqui na Terra imitando o Céu). As almas realmente evoluídas sabem que essa atitude sutil, ensinada por Deus, é muito melhor do que dizer a verdade logo de cara. Isso ocorre porque as pessoas iludidas estão muito apegadas às coisas daqui da Terra e não acreditam facilmente nas coisas de Deus. É por isso, Alice, que as pessoas evoluídas precisam agir com sutileza em suas atitudes, pois assim conseguirão resultados muito melhores. Por meio da Arte, as pessoas evoluídas podem persuadir as pessoas comuns a agir de forma fraterna, tal como no Céu. Dessa forma, elas seduzirão cada vez mais pessoas a quererem viver em um lugar justo. Como esse povo já começou a experimentar a vida celestial aqui na Terra, basta explicar-lhes sobre o Céu para que desejem fazer parte dele.

Por isso, minha querida Alice, é tão importante conhecermos as pessoas e o que as seduz, e, com astúcia, usarmos isso para atraí-las e esclarecea-las sobre o Céu. Devemos ganhá-las para Deus, salvando-as deste mundo e, por fim, conduzi-las ao Céu, sua verdadeira casa, seu LAR. Eu sei que posso estarlhecansando, minha querida, mas é preciso esclarecer sobre a relação entre o Céu e a Terra: no Céu, todos terão igual acesso aos recursos divinos, sem que qualquer um tenha mais privilégios que o outro.

E houve uma pausa na narrativa do eremita, que logo recomeçou a falar:

--É como se fosse uma espécie de mitologia. Todas as almas passarão a maior parte do seu tempo adquirindo conhecimento para se tornarem como Deus e aprender a usar as coisas do Céu de forma satisfatória e sublime. Para chegar ao Céu e viver isso, todas as pessoas precisam aprender a dividir as coisas da Terra e viver em irmandade, compartilhando tudo o que existe aqui com todas as pessoas. É preciso buscar conhecimentos sobre coisas que as almas idealizaram, como doenças, fraquezas causadas por vícios, instintos e ignorância, e aniquilá-las. As pessoas precisam aprender as ciências ideais deste mundo para ajudar aqueles que sofrem com doenças físicas, orgânicas e psicológicas. Todas as pessoas precisam estar bem para aprender as coisas divinas e ajudar as outras a adquirir conhecimento e parar de sofrer neste mundo mal-idealizado. Para viver em um mundo onde todos possam ter tempo para aprender a amar como irmãos, é necessário criar um estratagema e aprender a compartilhar. As pessoas precisam aprender a dividir as coisas da mesma maneira que Deus divide as coisas Dele com todas as pessoas quando vão para a casa Dele no Céu. As pessoas precisam aprender a viver sem se preocupar com o amanhã, pois se fizerem as coisas como Deus quer, o amanhã será bom. Se conseguirem ser como Ele, receberão o Céu e a presença de Deus para sempre. Todas as pessoas precisam se adaptar ao sistema de governo aplicado no Céu, mas para isso, precisam adquirir uma fé fundamentada na razão, no conhecimento e no entendimento. Não se deve querer ir para o Céu só porque se quer fugir deste mundo, pois o Céu é a maior de todas as verdades e uma coisa séria, criada por Deus e onde reside o que é verdadeiro. A fé deve ser fundamentada no conhecimento. Todas as coisas que existem neste mundo não são verdadeiras, nem a bondade das pessoas aqui é real. Apenas há bondade verdadeira no Céu ou dentro das pessoas que trouxeram (ou trarão) o Céu para dentro de si. As pessoas que parecem ser boas não o são realmente. Elas fazem coisas que parecem ser bondade, mas não são. Algumas fazem isso para se sentir importantes, outras fingem ser bondosas para enganar as pessoas e tirar proveito disso. gora existe a verdadeira bondade que Deus ensina no Céu. Essa bondade é desinteressada, visa apenas o que é puro e consciente, é libertadora porque não nos escraviza e está ligada à Luz Divina. Alice, desculpe-me por repetir-me tanto. Eu não sou habilidoso em falar o seu idioma e acabo me enrolando nos argumentos. No entanto, é importante falar claramente sobre a importância de compartilhar. Compartilhar é muito mais importante do que se imagina. Aprender a compartilhar o mundo com todos nos permitirá trazer um pouco do Céu para a Terra e estar mais próximos do Altíssimo. Quando todos aprenderem a compartilhar, estarão imitando o Altíssimo. Temos que compartilhar tudo, nossas ideias, sonhos, coisas e olhares, para conhecer todos os mundos que existem e ainda estão desconhecidos dentro das pessoas. Devemos fazer isso para nos adaptarmos à correta visão das coisas verdadeiras, a do Céu e do Altíssimo. A bondade deste mundo é apenas uma ilusão porque vem da carne. A verdadeira bondade só é possível quando o Céu está presente dentro de uma pessoa. As pessoas normalmente fazem pseudo-bondades para obter algum benefício próprio. Quem quer ser realmente bom, justo e verdadeiro compartilha o mundo com todas as pessoas da mesma maneira que o Altíssimo faz com as pessoas no Céu. Eu sei que estou sendo repetitivo, mas é necessário dizer que quando uma alma chega ao Céu e aprende muitas condutas com Deus, ela cresce muito. Essas almas querem conhecer tudo que o Altíssimo e o Céu Sublime têm a oferecer porque é um infinito de maravilhas. Quando essas almas discípulas do Altíssimo conhecem uma pequena parte do Céu e se espiritualizam em apenas 0,000000000000015% do que podem, ficam tão conscientes e evoluídas que desejam voltar urgentemente à Terra para avisar as pessoas como é o Céu e o regime que o rege. Elas agem assim porque entendem a ilusão com que as pessoas vivem na Terra. Essas almas são solidárias com as almas iludidas e querem voltar imediatamente para tentar ajudá-las a tomar consciência da verdade das maravilhas que existem no Céu. Elas abandonam o Céu e Deus por amor aos que estão perdidos na ilusão. Deus nunca consegue ter um amigo no Céu por mais do que apenas um pouquinho de tempo.O eremita fez agora apenas uma pausa e recomeçou:

-- Essas almas-discípulas do Altíssimo ficam tão conscientes que desejam ajudar as pessoas a fazer parte do Céu... Essas almas-discípulas do Altíssimo vêm à Terra para ensinar as pessoas a compartilhar tudo o que têm, visando começar o processo de compartilhar o Céu em breve... Eu sei que estou sendo chato, mas preciso repetir que compartilhando o mundo todo, estaremos ajudando todas as pessoas de uma só vez: quem for rico e aprender a compartilhar poderá ver o Altíssimo...

... Se quem é rico compartilhar o mundo com quem é pobre, estará aprendendo a viver como no Céu, e estará apto ao Céu, além de ajudar o pobre a não ter inveja dos ricos. Porque quem tem inveja não pode entrar no Céu, certo? Pois no Céu tudo é de todos... No Céu, as pessoas passam a maior parte do tempo adquirindo conhecimento e contemplando a BELEZA. Temos que nos acostumar com essa conduta do Céu fazendo o mesmo aqui: procurar conhecimento para tornar a vida das pessoas mais parecida com a que encontrarão no Céu quando estiverem prontas para conhecer o Altíssimo...

... O que mais me fascinou nessas almas-discípulas do Altíssimo, Alice, é que como ainda não estão muito evoluídas, ficam sujeitas a serem corrompidas e podem, inclusive, iludir-se com este mundo. Elas se arriscam tanto assim por amor... Se não conseguirem continuar agindo de maneira muito correta, não poderão voltar ao Céu tão rapidamente, podendo inclusive ter atitudes erradas e precisar pagar por um longo tempo na "Zona Neutra", tendo que começar tudo de novo... Mas agem assim, sempre procurando levar as pessoas ao Céu...

... A maioria das almas, quando idealizava o mundo ideal (o palco), acreditava que seria muito mais divertido montar um teatro do que ficar naquele marasmo eterno no meio do nada infinito, sem poder fazer absolutamente nada... Então, elas entenderam que seria muito mais interessante se criassem vários personagens para exercerem papéis de ladrões, policiais, médicos, psicólogos, cientistas, professores, mecânicos, soldados, músicos, vendedores, compradores e todas essas coisas. Quando escolheram todos esses papéis para serem representados, tiveram que passar tudo isso para o consenso-geral-final (roteiro)...

... Todo esse processo de nascer e extinguir-se eternamente faz com que as reencarnações sejam muito parecidas com o teatro que você conhece, aquele que tem plateia. Pois, neste teatro que você conhece, quando um personagem (ator) morre, ele volta no próximo espetáculo. Já no teatro que as almas escreveram, quando um personagem (ator) morre, ele volta no próximo espetáculo, agora nesse teatro que as almas escreveram. Quando um personagem (alma encarnada) morre, só pode voltar em outro papel, ou seja, em outra reencarnação. Entretanto, os dois teatros são muito parecidos, pois as personagens sempre voltam a atuar.

O teatro que as almas idealizaram é muito parecido também, porque do mesmo jeito que um ator vive várias personagens em peças diferentes, nesse teatro com plateia, cada alma (ator) também vive vários personagens (vidas) diferentes em cada peça que atua, ou seja, em cada reencarnação sua. Do mesmo jeito que um personagem do teatro com plateia vive papéis diferentes, como um personagem pobre, um rico, um negro, um branco, um amarelo, um vermelho, uma mulher, um homem, um homossexual, um judeu, um palestino, uma pessoa inteligente, uma pessoa bonita, uma pessoa feia, uma pessoa magra, uma pessoa gorda, os papéis também são possíveis de serem representados em uma ordem feita aleatoriamente.

Assim como no teatro com plateia, em que as pessoas atuam em papéis escritos por um roteirista e dirigidos por um diretor, no teatro que as almas montaram, elas também atuam nesses papéis e vivem esses personagens. As atuações das almas serão presenteadas de maneira semelhante às das pessoas no teatro com plateia.

No entanto, no teatro que a Desenhadora montou, os personagens (as almas) não escolhem a peça, o diretor ou a personagem que irão interpretar. Esses personagens (as almas) nem sequer sabem que estão num teatro, pois acreditam que são aquilo mesmo, e que estão vivendo em uma realidade. Eles agem de maneira semelhante aos personagens do teatro com plateia, que seguem o diretor e o roteiro. Entretanto, o roteiro e a direção que os personagens do teatro da Desenhadora seguem são seus instintos, vícios e ignorância, pois eles não sabem que estão atuando num teatro e levam seus personagens muito a sério. Se fossemos julgar apenas pela qualidade das representações, esses personagens seriam perfeitos, pois acreditam mesmo que são esses personagens!

Mais uma vez, o eremita ficou em silêncio, mas logo recomeçou seu relato:

No entanto, para que os dois teatros sejam realmente parecidos, os atores (almas) do palco da Desenhadora precisariam agir de maneira semelhante aos personagens do teatro com plateia. Estes sabem que tudo o que fazem é uma ilusão, pois entendem que não são realmente aqueles personagens durante os espetáculos. Quando o espetáculo termina, recebem seus amigos e fãs no camarim e recebem elogios, abraços, beijos e pedidos de autógrafos, mas sabem que não são aqueles personagens que viveram naquele espetáculo. Da mesma maneira, os personagens do palco da Desenhadora deveriam saber que sua vida não é real, que é apenas uma ilusão, que precisam acabar o espetáculo e voltar para casa. Sua casa é o Céu, onde Deus os espera! De maneira semelhante aos atores do teatro com plateia, esses atores (almas encarnadas) da Desenhadora precisam agir quando estão fora do palco. Eles precisam viver sem a influência do roteiro do escritor e da direção do diretor. Eles precisam estar livres da influência da carne e dos desejos que prendem as pessoas aqui neste mundo. Pois, agindo assim, eles se prendem neste palco (mundo IDEAL).

As almas encarnadas precisam agir livres dessas influências dos corpos e precisam saber que o Céu existe, e que lá é onde elas viverão a verdadeira realidade. Para começar a viver essa realidade do Céu, as pessoas precisam, como eu já lhe disse antes, Alice, começar a viver de maneira semelhante à que viverão na verdadeira realidade no Céu aqui mesmo na Terra. Elas precisam aprender a compartilhar, como será feito no Céu, sua futura casa. As almas encarnadas não devem agir como alguns atores do teatro com plateia, que deixam de viver a sua “vida real” e passam a agir como se fossem aqueles personagens que tanto ensaiaram... Temos que começar a viver de acordo com as coisas do Céu...

Temos que ser como Deus! Precisamos nos tornar semelhantes a Ele em sabedoria, bondade e justiça para que as pessoas possam ver Deus através de nossos comportamentos e se sintam atraídas a serem como Ele, a fim de poderem contemplar toda a beleza de Sua morada celestial. Devemos nos tornar tão parecidos com Deus a ponto de encantar as pessoas com nossa sabedoria e bondade, levando-as a imitá-Lo.

Devemos atingir um nível de compreensão em que percebamos que este mundo é apenas uma ilusão, e que o Céu é a verdadeira morada das almas. Quando alguém adquire a certeza de pelo menos o tamanho de um átomo, essa pessoa começa a enxergar a ilusão deste mundo em que estamos condicionados a viver.

Uma pessoa que alcançou tal certeza é capaz de andar sobre as águas, atravessar montanhas e até mesmo levitar, pois estará livre das influências deste mundo ilusório. A Desenhadora criou essa ilusão e implantou nas almas humanas uma capacidade de acreditar que essa ilusão é real. No entanto, este mundo é um vazio, assim como era quando as almas estavam no meio do nada infinito antes de serem criadas pela Projetista. As pessoas são condicionadas a acreditar que tudo isso é real por causa da influência que a Desenhadora colocou em suas almas.

Alice, quando as pessoas começarem a acreditar na verdade, ficarão livres de todos os males deste mundo, inclusive das doenças, pois estas são ilusões que os corpos são induzidos a acreditar que são reais.

Quando souberem que as coisas são assim, as doenças desaparecerão instantaneamente. Somente ficarão livres quando conhecerem a verdade, entenderem e fizerem suas escolhas! Em qual mundo querem viver: no Céu, que é verdade, ou na ilusão aqui na Terra? Quando as almas idealizaram a Projetista, criaram este mundo porque achavam que era muito melhor viver na ilusão e poder sentir essas sensações ilusórias do que viver sem sentir nada no meio do nada infinito.

Elas criaram este mundo porque não acreditaram que o Céu existia e que Deus é um amigo que só quer ensinar coisas profundamente maravilhosas a todas as almas que forem para a casa Dele! Quando as almas idealizaram este mundo, criaram muitas coisas que pareciam dar prazer real. Mas eu digo que tudo é só uma ilusão. Se pudéssemos juntar todas as sensações, como o orgasmo feminino, a sensação das drogas e as sensações dos artistas ao criarem suas artes, e multiplicássemos tudo isso por zilhões de vezes, ainda assim não se compararia à sensação de ver a Deus e contemplar a beleza do Céu. Eu digo isso porque, quando uma alma vai ao Céu e vê Deus, ela já aprendeu e viu apenas 0,000000000000015% de tudo o que pode ver, saber e sentir. Mesmo assim, fica tão espiritualizada que volta à Terra para avisar as pessoas sobre tudo o que viveu lá.

Essas almas que voltam não o fazem porque não gostaram do Céu, mas sim porque ficaram maravilhadas e conscientes, e querem ajudar todas as pessoas a irem para lá. Querem que todas as almas vão juntas como uma grande família feliz. Por mais que tentem, não conseguem ver Deus como um amigo; ao contrário, chamam Deus de Mãe. Querem ficar junto de sua Mãe, mas chamam seus irmãos para agradá-la, pois ela construiu o Céu para abrigar seus filhos.

Alice, eu continuo a lhe dizer que sei que estou me repetindo, mas é necessário dizer que as pessoas precisam agir aqui na Terra de tal forma que acabem gradualmente com a prostituição e todas as coisas que não são permitidas no Céu, pois lá isso não existe. As prostitutas e quem as compra, por exemplo, não poderão residir no Céu, pois lá ninguém compra nem vende nada, muito menos corpos de pessoas. Mas em verdade, eulhedigo que quem não faz nada para livrar tanto as prostitutas quanto os seus compradores e todos que estão nessa vida de perdição, que os distanciam de Deus, não poderão residir no Céu. No Céu não é lugar para pessoas tímidas, ou seja, pessoas omissas e covardes que nada fazem para ajudar essas pessoas a se livrarem dessas vidas bandidas...

--A melhor maneira de ajudar essas pessoas é agir como Deus faz, sabe? Quando Deus visita a Terra para ver sua criação - as almas -, Ele sabe que é muito difícil para as pessoas abandonarem a vida que esse sistema de coisas as obriga a levar. Por isso, Deus vai à raiz do problema: Ele sabe que grande parte das atitudes que levam prostitutas a vender seus corpos e outras pessoas a comprá-los vêm de vícios, instintos, ignorância, cultura (ou falta dela?) e má distribuição de recursos neste planeta, que as almas escolheram viver quando foram colocadas aqui pela Projetista. Se todas as pessoas que têm o Céu dentro de si ajudassem (ou obrigassem) seus governantes a gerenciar o mundo de uma forma que esclarecesse os compradores de corpos sobre as muitas outras coisas boas que poderiam fazer em vez de corromper pessoas...

... E se o governo e a sociedade ajudassem a prostituta, dando-lhe acesso à educação, cultura, esporte, saúde, lazer e prazer, talvez ela não se tornasse um ser perdido, negando-se o direito de viver no Céu ao lado de Deus. Afinal, só as almas que agem como Deus vão para o Céu...

... Mas eulhedigo, Alice, que poucas almas foram para o Céu de verdade! Como eu já disse, para ir ao Céu, as pessoas precisam ser como Deus. O simples fato de as pessoas deste mundo permitirem que outros vendam e comprem corpos e não fazerem nada para ajudar esses seres infelizes que estão tão longe de viver a verdade, torna-as omissas e covardes, muito diferentes de Deus. Ele jamais deixaria de ajudar as pessoas! A simples omissão em ajudar (ou amar como Deus ama) a libertar essas pessoas da perdição já mostra que essas pessoas omissas também não verão Deus, pois são diferentes dele: Deus não é omisso nem covarde, ele é o amor em pessoa...

O eremita fez outra pausa e disse:

--Uma pessoa em quem o Céu reside realmente age como Deus age, ou seja, ela sabe que é muito difícil libertar essas pessoas dessa prisão. Por isso, de maneira muito sutil, respeitando o livre-arbítrio delas, essa pessoa tenta ajudá-las de maneira pragmática, fazendo com que o mundo seja cada vez mais justo para que todas as pessoas, simultaneamente, possam se libertar deste mundo e viver a verdade. Afinal, não adianta nada uma pessoa evoluída, que entende o sofrimento alheio, ajudar apenas uma pessoa, pois ela pode até ir para o Céu...

Agora eulhedigo, Alice, que pouquíssimas almas realmente vão para o Céu! Como já mencionei anteriormente, para ir ao Céu, as pessoas precisam ser como Deus. No entanto, o fato de as pessoas permitirem a venda e a compra de corpos, ignorando a possibilidade de ver Deus em outras pessoas e não ajudando aqueles que estão sofrendo, faz com que elas se tornem omissas e covardes, muito diferentes de Deus. Pois Ele sempre ajuda as pessoas! A simples omissão em ajudar e não amar como Deus ama, para libertar as pessoas dessa perdição, mostra que essas pessoas não são como Deus: Deus não é omisso nem covarde, Ele é o amor em pessoa...

O eremita fez uma pausa e continuou:

Uma pessoa que tem o Céu em seu coração age como Deus, sabendo que é muito difícil libertar as pessoas dessa prisão. Então, de maneira sutil, respeitando o livre arbítrio das pessoas, tenta ajudar a todos de maneira pragmática, fazendo com que o mundo seja mais justo e equitativo para que todos possam se libertar juntos e viver a verdade. Pois não adianta apenas ajudar uma pessoa, se o objetivo é evoluir juntos. Se uma pessoa evoluída, que compreende o sofrimento dos outros, ajudar apenas uma pessoa, ela poderá ir para o Céu. Mas quando ela chegar lá, se tornará muito evoluída e sentirá a necessidade de voltar à Terra para ajudar mais pessoas a entender que este mundo é uma ilusão e que o Céu vale a pena, pois Deus e o Céu são maravilhosos.

No entanto, quando as almas que viram a Deus voltam à Terra para salvar as pessoas, elas só podem estar aqui como recém-nascidos, esquecendo-se de tudo o que viram no Céu e sujeitas às influências deste mundo, assim como todas as outras pessoas que já viveram e voltaram, perdendo-se e incapazes de ajudar nem a si mesmas nem a outras almas. Para se libertarem desse ciclo, todas as almas devem evoluir juntas, conscientes igualmente, e isso só acontecerá quando todas as pessoas viverem em igualdade, compartilhando o mundo de maneira que possam aprender as coisas do Céu.

Mulher, entenda a importância disso: se uma pessoa for corrompida e viver para os vícios, ignorância e prazeres do corpo, quando desencarnar, passará muito tempo antes de poder voltar para este mundo, pois terá que pagar uma sentença. Por outro lado, se uma pessoa for santa como Deus, irá para o Céu, mas se esquecerá de sua missão e se corromperá ao voltar à Terra, como aconteceu com todas as outras pessoas até agora. Portanto, as pessoas não podem ser muito corrompidas nem muito santas; devem seguir o caminho do meio. Se você for muito santa, não poderá ajudar ninguém indo para o Céu e depois voltando e se corrompendo, e tendo que pagar por sua sentença por causa dos seus feitos ruins e só depois poder voltar e começar tudo de novo...

--Então, assim como não é bom ser um santo, também não é bom ser um corrupto. Precisamos fazer um mundo justo, sem pobres, pois no Céu não existem pobres nem ricos. Se continuarmos assim, nunca poderemos viver com Deus como uma família, pois só podemos viver lá quando todos estivermos juntos. Se não formos todos, certamente voltaremos para resgatar as almas perdidas e fazer parte de nossa verdadeira casa: o Céu. É por isso que estoulhedizendo que só será possível essa ida definitiva ao Céu quando todas as pessoas estiverem cientes da verdade de como funciona esse sistema de coisas, sem se corromperem ou se tornarem santos.

Eu disse que as pessoas não poderiam se tornar santas, pois iriam ao Céu e depois voltariam sem lembrar de nada. Acredito que essas almas que conhecem a verdade seriam muito mais úteis aqui, ajudando a implantar um sistema de governo na Terra em que todas as pessoas tenham acesso a todas as coisas, informações e tudo o que este mundo pode oferecer de uma maneira próxima do modo como é feito no Céu.

Quando disse que não deveríamos ser corrompidos, foi porque se as pessoas se corromperem, ficarão pagando suas penas na Zona Neutra, o que impedirá que todas as pessoas possam ir ao Céu e permanecer lá. Como já disse, se isso acontecer, todas voltarão querendo ajudar as almas que faltam para encher o Céu. E quando elas voltarem, estarão sujeitas às influências do corpo novamente e poderão ter que pagar suas penas, perpetuando esse ciclo de idas e vindas entre o Céu e a Terra. Isso acontece porque as almas evoluídas agem sempre como um pastor que tinha 1000 ovelhas e uma se perdeu. Quando percebeu isso, correu para buscar a ovelha perdida e colocá-la de volta ao convívio das outras. Isso acontece porque uma alma só será livre quando todas estiverem livres. Deus só terá amigos quando isso acontecer.

Quando as pessoas na Terra entenderem a importância de viver com Deus no Céu, todo o problema que Ele tem em encher o Céu de amigos será resolvido. O livre arbítrio dado por Deus às almas é um presente, mas algumas almas de bom-senso não queriam nem ir ao Céu, nem queriam que outras fossem, dificultando muito para que um dia isso fosse possível. Deus está de mãos atadas, quer que as almas vivam com Ele no Céu, mas não pode fazer nada para ajudá-las a entender isso.

Os homens construíram várias religiões visando um Céu, mas essas religiões se afastaram umas das outras, afastaram pessoas umas das outras e afastaram todas de Deus, pois Ele não está na separação das pessoas, Então, assim como não é bom ser um santo, também não é bom ser um corrupto. Precisamos fazer um mundo justo, sem pobres, pois no Céu não existem pobres nem ricos. Se continuarmos assim, nunca poderemos viver com Deus como uma família, pois só podemos viver lá quando todos estivermos juntos. Se não formos todos, certamente voltaremos para resgatar as almas perdidas e fazer parte de nossa verdadeira casa: o Céu. É por isso que estoulhedizendo que só será possível essa ida definitiva ao Céu quando todas as pessoas estiverem cientes da verdade de como funciona esse sistema de coisas, sem se corromperem ou se tornarem santos.

Eu disse que as pessoas não poderiam se tornar santas, pois iriam ao Céu e depois voltariam sem lembrar de nada. Acredito que essas almas que conhecem a verdade seriam muito mais úteis aqui, ajudando a implantar um sistema de governo na Terra em que todas as pessoas tenham acesso a todas as coisas, informações e tudo o que este mundo pode oferecer de uma maneira próxima do modo como é feito no Céu.

Quando disse que não deveríamos ser corrompidos, foi porque se as pessoas se corromperem, ficarão pagando suas penas na Zona Neutra, o que impedirá que todas as pessoas possam ir ao Céu e permanecer lá. Como já disse, se isso acontecer, todas voltarão querendo ajudar as almas que faltam para encher o Céu. E quando elas voltarem, estarão sujeitas às influências do corpo novamente e poderão ter que pagar suas penas, perpetuando esse ciclo de idas e vindas entre o Céu e a Terra. Isso acontece porque as almas evoluídas agem sempre como um pastor que tinha 1000 ovelhas e uma se perdeu. Quando percebeu isso, correu para buscar a ovelha perdida e colocá-la de volta ao convívio das outras. Isso acontece porque uma alma só será livre quando todas estiverem livres. Deus só terá amigos quando isso acontecer.

Quando as pessoas na Terra entenderem a importância de viver com Deus no Céu, todo o problema que Ele tem em encher o Céu de amigos será resolvido. O livre arbítrio dado por Deus às almas é um presente, mas algumas almas de bom-senso não queriam nem ir ao Céu, nem queriam que outras fossem, dificultando muito para que um dia isso fosse possível. Deus está de mãos atadas, quer que as almas vivam com Ele no Céu, mas não pode fazer nada para ajudá-las a entender isso.

Os homens construíram várias religiões visando um Céu, mas essas religiões se afastaram umas das outras, afastaram pessoas umas das outras e afastaram todas de Deus, pois Ele não está na separação das pessoas, mas na união delas.

Alice, não me seria permitido influenciá-la a compreender e aceitar o que lhe digo. As coisas divinas devem ser ensinadas de maneira sutil. Então, eu lhe peço que feche os olhos e, quando eu disser "escolha", você será livre da minha influência e poderá voltar a ser como era antes. Será apenas por sua escolha, está bem?

Finalmente, o eremita fez uma pausa em seu discurso e Alice obedeceu prontamente quando ele mandou que fechasse os olhos. Ela respondeu com um aceno de cabeça, indicando que havia entendido, e eles ficaram em silêncio absoluto por alguns instantes.

O eremita parecia estar ponderando se realmente permitiria que Alice decidisse por si mesma. Ele preferia que ela continuasse acreditando nas coisas por sua influência. Alice ainda tinha os olhos fechados quando o eremita disse:

-- Entre em sono profundo... Obedeça-me...

Ao ouvir essas palavras, ela obedeceu prontamente. Nesse momento, o eremita apontou para o corpo dela e fez com que Alice levitasse a uma altura de quase cinco metros do chão. Em seguida, ele levitou também. Eles atravessaram montanhas como se elas não fossem reais, como se fossem ilusões. Depois, pousaram sobre um lago e não afundaram. Era como se estivessem em solo firme. Depois, voltaram para o mesmo lugar onde estavam conversando antes.

Parecia que o eremita estava confirmando para si mesmo tudo o que havia ensinado a Alice. Ele mesmo parecia não saber que realmente podia realizar aquelas "maravilhas" que havia afirmado serem possíveis. Parecia que estava descobrindo tudo ao mesmo tempo em que ensinava para sua interlocutora.

Quando eles tocaram o solo com os pés, o eremita observou Alice, que ainda estava "dormindo" e não viu nada das realizações incríveis que o eremita havia feito.

O eremita parecia ainda estar seduzido pela vontade de não permitir que ela escolhesse em qual verdade acreditar por si mesma. Ele pensou em fazer com que ela acreditasse ter escolhido por si mesma e espalhasse tudo o que ele havia ensinado pelos quatro cantos da terra para conserla-la. Ele acreditava que tudo o que disse a Alice poderia realmente realizar essa maravilha.

Mas, finalmente, decidiu optar por deixá-la decidir sozinha. Ele disse bem próximo ao ouvido de Alice:

-- Faça como a gente combinou, Ok? -- Nisso o eremita estalou os dedos e disse:

-- Escolha, agora...

Mas quando ela abriu os olhos ele se arrependeu e mandou que ela dormisse de novo e disse:

-- Alice, agora eu sei que, para uma alma acostumada com esse mundo de ilusão, é muito difícil mesmo ser como Deus é, visto que, Deus tem a sua soberania espiritual que advém de seu saber infinito e as pessoas não adquiriram, ainda, esse privilégio, terão um dia, com certeza, quando todos forem ao Céu... Então, mulher, mas uma vez eu lhe digo sobre a importância de seguir o CAMINHO DO MEIO, pois no Céu todas as pessoas seguirão uma espécie de CAMINHO DO MEIO também, porque lá todos serão iguais a Deus... As almas não serão nem superiores nem inferiores a Deus, nem serão superiores nem inferiores às suas irmãs, todas serão uma integração (unidade) com a Eterna MÃE...

... Você teve razão ao dizer que acreditava que era uma blasfêmia de minha parte quando eulhedisse que as pessoas poderiam e deveriam ser como Deus, eu disse isso tudo mesmo sabendo que as pessoas estando aqui na Terra, nessa ilusão que as corrompem e Deus estando no Céu livre de tudo...

... Alice, eu aprendi com você que as pessoas não poderão nesse mundo ser como Deus é, pois esse mundo é muito diferente do Céu e Deus está em outro estado de espiritualidade: eu acho que mesmo Deus fraquejaria se estivesse aqui, pois a influência desse mundo é muito forte, realmente dá a impressão que todas essas coisas (ilusões) que estamos “vendo” existem de verdade! Alice, em verdade eulhedigo que quando alguém quer, o Céu faz sua morada dentro de si, poderia mandar uma montanha se despencar para dentro do mar e a montanha obedecê-lo-ia prontamente, pois, essa montanha não existe de verdade e a montanha (ilusão) obedece a quem sabe que ela (montanha) é uma mentira fabricada para corromper as almas desavisadas do que é a realidade, como todo esse mundo é uma ilusão fabricada pela Projetista...

... Uma pessoa que o Céu (a verdade) reside dentro de si sabe que todo esse mundo é uma grande mentira e vê todas as coisas desse mundo como são na realidade um nada: um vazio, essas pessoas sabem que tanto as coisas “boas” quanto as coisas “ruins” desse mundo são apenas ilusões e não se iludem com nada que veem, essas pessoas sabem que as doenças não existem, que são ilusões também, sabem que podem curar uma pessoa doente só fazendo com que essas pessoas acreditem que podem ser “curadas”, no entento, Não foram curados, mas iluminados. As enfermidades imaginárias que padeciam eram nada mais do que ignorância. As almas carentes da verdade acreditam nesta ilusão, presas no mundo que não habita o Céu. Os que buscam a felicidade fora de si mesmos se apegam a riquezas efêmeras deste mundo ilusório. Tudo que vêem é uma mera simulação, uma ilusão. Tudo é mentira, pois somente a verdade se revela no Céu. É necessário seguir o caminho do meio até que todas as almas evoluam espiritualmente e possam atuar com igualdade, tendo acesso igualitário a todas as coisas. Somente assim a GRANDE DEUSA MÃE poderá vir e se apresentar na sua verdade forma e aparência e levar todas as almas para o Céu, onde aprenderão tudo que Ela sabe. Então, todas serão um com a Deusa.

.. Quando Deus vier e levar todas as pessoas que acreditaram, que se prepararam e se qualificaram para viver a verdade, apenas os ateus, materialistas e pessoas com crenças similares permanecerão na Terra. Eles herdarão o planeta e poderão fazer dele o que quiserem, inclusive pedir a Deus que faça algumas reformas para que possam ser mais felizes nessa ilusão em que escolheram ficar. Preferem a mentira à verdade e não querem viver no Céu porque acham que aqui é melhor do que lá. Além disso, haverá almas que não querem existir mais, nem ir para o Céu nem ficar na Terra ou em qualquer lugar. Essas almas acham que Deus não tinha o direito de faze-las existir sem que pedissem a Ele. Querem ser apagadas e deixar de existir completamente.

Quando esse dia chegar, todas as almas terão a vida que pediriam a Deus se pudessem pedir algo antes de existirem. Eu acredito que o CAMINHO DO MEIO seja mais fácil de seguir, pois as almas que fizeram muitas concessões para construir um mundo ideal, quando seu verdadeiro desejo era ir logo para o Céu, tiveram que ajudar as almas que queriam ficar na ilusão e longe do Céu. Deus também não pode ficar à mercê das almas que querem permanecer na ilusão. As almas que desejam viver a verdade não podem ficar presas nesse ciclo interminável de ajudar as pessoas que preferem a ilusão e não querem o Céu. Aquelas que já têm o que querem, uma ilusão barata, são os ateus e os materialistas. Agora, faltam apenas as almas que querem o Céu e as que não querem existir de forma alguma. Para que esse dia chegue o mais rápido possível, devemos aprender a seguir o CAMINHO DO MEIO, e então todos estaremos livres, felizes e satisfeitos com a normalização das coisas.

O eremita parecia ter mudado de opinião em relação ao CAMINHO DO MEIO. Depois de refletir por um longo tempo, ele começou a falar com Alice (que ainda dormia em pé):

Eu concordo com você, Alice, quando você me esclareceu que as pessoas não podem ser como Deus: não podemos colocar Deus e as almas na mesma balança. Deus vive na realidade do Céu, enquanto as pessoas vivem na ilusão. Seria blasfêmia de minha parte achar que isso poderia acontecer de verdade. No entanto, também é blasfêmia para alguém se dizer filho de Deus se não vê todas as pessoas como irmãos. Isso é um contra-senso, uma aberração, uma contradição. Como alguém pode ser filho ou filha de Deus se não trata todas as pessoas como irmãos, como Deus quer? Se uma pessoa realmente acredita que tem parentesco com Deus, ela saberia que todos somos da mesma família e agiria como se todos fossem parentes. Agiria da mesma forma que trata seus parentes carnais, porque saberia que o o parentesco do espírito, e que o parentesco por meio do conhecimento da unidade com Deus seria superior a toda essa ilusão projetada pela Projetista...

Para quem quer se mostrar a si mesmo que Deus é seu pai (ou mãe), teria que conviver como irmãos com todos de maneira análoga (equivalente) à que viveremos no Céu, pois Deus é o pai (ou mãe) de todas as pessoas, mesmo que elas não saibam disso: essa falta de conhecimento não impede a verdade de existir e ser completamente verdadeira.

O eremita disse isso, suspirou e continuou a falar:

"Alice, estoulhedizendo tudo isso para que você entenda que eu entendi tudo o que você me ensinou sobre como você vê o mundo. Fico muito feliz por isso elheagradeço muito mesmo. Aprendi muita coisa com você, sabia? Entendo agora que não é possível ser como Deus em sua sublime verdade estando preso a um corpo humano dotado de um cérebro que faz com que as pessoas se iludam com este mundo e com as ilusões que seus olhos veem. Alice, minha querida discípula, você me fez perceber que não é justo esse sistema de coisas que Deus esteve apoiando, sendo cúmplice de certa forma, já que agiu como não deveria, deixando que as pessoas fossem levadas pelos seus instintos..."

Nesse momento, o eremita tomou fôlego e disse:

"As pessoas que estão neste mundo de ilusão jamais poderão ver todas as pessoas como sendo de uma única família, sendo todas como irmãs do mesmo jeito que Deus gostaria que fosse, do mesmo jeito que é lá no Céu. Mas, se todas as pessoas começassem a pensar que o melhor jeito de fazer com que sua família carnal vivesse com mais tranquilidade neste mundo seria ajudando a nascer uma sociedade justa, então se todas as pessoas tivessem acesso a todas as coisas que precisam, não haveria muitos (ou bem poucos) ladrões. E a pessoa que fez algo pela igualdade social teria suas famílias protegidas contra esse tipo de gente, vítima de uma sociedade tirana que exclui seus membros..."

E tendo dito isso, o eremita fez mais uma pausa e prosseguiu:

"Alice, se as pessoas preconceituosas ou racistas que se preocupam exclusivamente com sua família carnal e por apenas esse motivo tivessem a atitude de ajudar a fazer nascer uma sociedade cada vez mais justa na qual todas as pessoas tivessem acesso às melhores condições de vida (com boa moradia, educação, lazer, trabalho, diversão, alimentação, informação e cultura), o resultado final dessa atitude ajudaria a todos os envolvidos a viver em paz. Então, essas pessoas preconceituosas ou racistas teriam ganhos espirituais importantes mesmo assim. Pois essa maneira, mesmo sendo motivada de modo errado de fazer o bem, terá assim mesmo bons resultados. Essas pessoas preconceituosas acabariam sendo um belo exemplo de conduta, pois fariam um bem muito grande ao coletivo. Haveria, então, um grande beneficiamento de todos em volta desse sistema de atitudes. E se esse exemplo for reconhecido e todas as pessoas de uma sociedade tiverem suas necessidades básicas supridas pelos mais abastados teriam mais chances de serem mais "evoluídas" com a ajuda dessas "pessoas-de-bem" preocupadas apenas com os seus filhos em correr menos riscos de vida... E esses egoístas teriam menos sequestros, teriam mais lazer, mais liberdade e mais sossego, entre outras coisas, se ajudassem por esses motivos não muito nobres. O retorno para si mesmo, mesmo assim, seria muito bom... Digo isso porque numa sociedade justa, com as mesmas oportunidades para todos e os mesmos incentivos para que todas as pessoas possam evoluir e viver com dignidade, os filhos dessas pessoas preocupadas exclusivamente com apenas suas famílias carnais teriam bons amigos. E suas filhas, com certeza, encontrariam bons maridos para se casarem, e seus filhos também dariam boas noras. E seus filhos não teriam amigos que os levassem para o caminho errado, pois os filhos das outras mães também teriam acesso a uma boa educação numa sociedade justa. Alice, as pessoas não precisariam fazer muros e grades para se protegerem de pessoas corrompidas, porque não haveria pessoas corrompidas assim.

O mesmo dinheiro que essas pessoas que são preocupadas exclusivamente com suas famílias carnais usariam para fazer os muros e as grades seria utilizado com coisas mais úteis para o bem-estar de suas famílias, e todas as outras famílias também fariam o mesmo. Se isso acontecesse, a sociedade evoluiria cada vez mais. E do mesmo modo, as pessoas que fizessem esse Novo Mundo IDEAL, uma sociedade justa visando o bem-estar de suas famílias carnais, veriam essa ideia se disseminar e influenciar o pensamento das outras pessoas em todas as relações, em todos os países. Todos iriam querer ajudar os outros países visando a paz, para que não aconteçam mais guerras e seus filhos não tenham que deixar o lar e suas famílias para lutar para defender ideias cretinas dos seus líderes terrenos déspotas (tiranos) dizendo para as pessoas para defender a "mãe pátria". Todas as pessoas fariam justiça social, devolvendo as pessoas ao seio da sociedade, com o objetivo de fazer o bem para seus parentes carnais e ajudando todas as outras pessoas.

Alice, estoulhedizendo tudo isso porque entendi muito bem o que você me disse quando me relatou que fazia caridade nos asilos e queria voltar logo para casa para ver seus filhos, mesmo sabendo que eles estavam muito bem com seu marido e sua irmã, sabia que eles estavam cuidando muito bem deles e aqueles pobres e infelizes velhinhos precisavam mais do seu amor. Entendi que, para uma pessoa que vive na Terra (ilusão), não é possível de maneira alguma viver como é no Céu. Entendi que o sexo, a comida e outras coisas são muito importantes para quem está encarnado e dependente dessa ilusão terrena.

Acredito que Deus não deveria continuar permitindo que as pessoas vivam nesse sistema de coisas, presas em um círculo, pois quando uma alma consegue finalmente ir para o Céu, ela volta para a Terra a fim de ajudar as pessoas a sair dessa ilusão e acaba se iludindo também. E esses egoístas teriam menos sequestros, teriam mais lazer, mais liberdade e mais sossego, entre outras coisas, se ajudassem por esses motivos não muito nobres. O retorno para si mesmo, mesmo assim, seria muito bom... Digo isso porque numa sociedade justa, com as mesmas oportunidades para todos e os mesmos incentivos para que todas as pessoas possam evoluir e viver com dignidade, os filhos dessas pessoas preocupadas exclusivamente com apenas suas famílias carnais teriam bons amigos. E suas filhas, com certeza, encontrariam bons maridos para se casarem, e seus filhos também dariam boas noras. E seus filhos não teriam amigos que os levassem para o caminho errado, pois os filhos das outras mães também teriam acesso a uma boa educação numa sociedade justa. Alice, as pessoas não precisariam fazer muros e grades para se protegerem de pessoas corrompidas, porque não haveria pessoas corrompidas assim.

O mesmo dinheiro que essas pessoas que são preocupadas exclusivamente com suas famílias carnais usariam para fazer os muros e as grades seria utilizado com coisas mais úteis para o bem-estar de suas famílias, e todas as outras famílias também fariam o mesmo. Se isso acontecesse, a sociedade evoluiria cada vez mais. E do mesmo modo, as pessoas que fizessem esse Novo Mundo IDEAL, uma sociedade justa visando o bem-estar de suas famílias carnais, veriam essa ideia se disseminar e influenciar o pensamento das outras pessoas em todas as relações, em todos os países. Todos iriam querer ajudar os outros países visando a paz, para que não aconteçam mais guerras e seus filhos não tenham que deixar o lar e suas famílias para lutar para defender ideias cretinas dos seus líderes terrenos déspotas (tiranos) dizendo para as pessoas para defender a "mãe pátria". Todas as pessoas fariam justiça social, devolvendo as pessoas ao seio da sociedade, com o objetivo de fazer o bem para seus parentes carnais e ajudando todas as outras pessoas.

Alice, estoulhedizendo tudo isso porque entendi muito bem o que você me disse quando me relatou que fazia caridade nos asilos e queria voltar logo para casa para ver seus filhos, mesmo sabendo que eles estavam muito bem com seu marido e sua irmã, sabia que eles estavam cuidando muito bem deles e aqueles pobres e infelizes velhinhos precisavam mais do seu amor. Entendi que, para uma pessoa que vive na Terra (ilusão), não é possível de maneira alguma viver como é no Céu. Entendi que o sexo, a comida e outras coisas são muito importantes para quem está encarnado e dependente dessa ilusão terrena.

Acredito que Deus não deveria continuar permitindo que as pessoas vivam nesse sistema de coisas, presas em um círculo, pois quando uma alma consegue finalmente ir para o Céu, ela volta para a Terra a fim de ajudar as pessoas a sair dessa ilusão e acaba se iludindo também. Deus deveria construir mais seis céus abaixo do verdadeiro Céu, e fazer com que o sétimo Céu (o mais próximo da Terra) seja habitado por almas que amam suas famílias e ajudam a sociedade a evoluir, visando apenas o bem-estar de suas próprias famílias. Essas pessoas não entendem que todos são irmãos perante o Altíssimo e que devem buscar o amor fraternal em vez do bem-estar individual. Cada um desses céus seria habitado por pessoas de diferentes espiritualidades, condizentes com suas realidades espirituais, interesses e frutos de suas obras.

Se uma pessoa tiver uma espiritualidade condizente para viver no sexto, no quinto, no quarto, no terceiro ou no segundo céu, ela será encaminhada para o céu que lhe corresponde espiritualmente e poderá crescer espiritualmente até poder viver com Deus no Céu principal. Todos esses céus seriam criados pelo próprio Deus em uma grande intervenção divina para que as almas possam se acostumar paulatinamente com a verdade do primeiro Céu. Se as almas que buscam apenas o bem-estar de sua família carnal fossem para o Céu principal de uma só vez, a verdade poderia cegá-las instantaneamente, pois sempre viveram em trevas e a luz da verdade é muito forte.

Portanto, é necessário que Deus corrija imediatamente, em uma grande intervenção divina, o sistema de regras construído pela Desenhadora que, por sua vez, foi programado pelas almas que não eram capazes de entender a complexidade de suas escolhas.

Tendo dito isso, o eremita e Alice começaram a subir até uma altura muito elevada, e o sétimo Céu apareceu ou se formou de tal maneira que deu a impressão de que Deus leu os pensamentos do eremita e o criou de acordo com o que ele entendia ser correto. O eremita e Alice, que ainda estava dormindo, visitaram então o sexto Céu, o quinto, o quarto, o terceiro, o segundo e, finalmente, o primeiro Céu, que sempre existiu e é a casa de Deus.

Amigos leitores, do fundo do meu coração, digo-lhes que vocês iriam querer ficar aqui no Céu contemplando a beleza eterna deste lugar. A sensação de bem-estar que vocês encontrariam aqui é sublime. Não dá para descrever nenhum milésimo dessa sensação, mas não há nada na Terra com o que possamos comparar o Céu.

Estou encantado por estar aqui, mas onde está a Grande Mãe Deusa? O Céu está vazio!

Nesse instante, o eremita e Alice estão flutuando no primeiro Céu, e ele diz para Alice, que ainda dorme: "Agora, Alice, quando uma alma conseguir chegar finalmente aqui no Céu Principal, onde Deus reside, ela não sairá correndo daqui para chamar as pessoas da Terra, como era de praxe quando só existia um único Céu e as pessoas tinham que ser idênticas a Deus (mesmo estando na Terra com um corpo que a fazia ver a ilusão como verdade), essa alma saberá que esse Novo Sistema de Atitudes será muito mais fácil de ser vivido na realidade que escolhermos para viver. Com esse Novo Sistema de Atitudes, as almas poderão sair do primeiro Céu e ir para o segundo Céu ajudar as almas a aprender os procedimentos espirituais mais rapidamente e adequar as almas-irmãs às verdades do Primeiro Céu. Depois, poderá ir para o próximo Céu, essa alma que saiu do primeiro Céu saberá que Deus realmente é o pai (ou mãe) e agirá tratando as almas como irmãs, em sua realidade. Essas almas, que um dia estarão com Deus, descerão aos Céus ajudando as outras almas na elevação espiritual gradual delas. Se elas quiserem, poderão ir à Terra sem precisar se encarnar, a fim de ajudar as pessoas a acreditar no Céu e querer fazer parte dele, e sair da ilusão. Essas almas serão como Espíritos de Luz. Elas terão a faculdade de ver esse mundo como ele é na realidade, ou seja, um vazio sem formas, sem nada. Essas almas, que se chamarão de Espíritos de Luz, só verão a realidade, ou seja, só enxergarão as almas e mais nada.

Esses Espíritos de Luz enxergarão as almas que estão encarnadas, mas não verão seus corpos. Verão as almas que estão desencarnadas e estão esperando sua vez para se reencarnarem. Verão também as almas que estão fora de seus corpos (ilusões de corpos) porque estão dormindo e sonhando. Esses Espíritos de Luz também terão a faculdade de ver e falar com as almas que estão pagando suas penas na Zona Neutra por não terem sido boas pessoas.

Esses Espíritos de Luz ajudarão todas essas almas a se tornarem mais puras e evoluídas para que um dia possam ver a Deus e desfrutar da Beleza do Céu.

Aqui no Sétimo Céu habitam as pessoas que, não por amor e entendimento, mas por preconceito, evitam olhar para os excluídos e, mesmo assim, promovem a paz na sociedade por interesses não nobres. No entanto, mesmo sendo profundamente preconceituosas, essas pessoas podem fazer algo para beneficiar aqueles que foram desassistidos pela sociedade, dando-lhes mais educação, emprego, lazer, cultura e outras coisas. Essas atitudes levarão esses preconceituosos ao Sétimo Céu, e a partir daí, eles poderão ter atitudes corretas pelos motivos corretos e passarão aos Céus mais elevados.

As pessoas que têm posses e ajudam os excluídos a evoluírem fazem um grande bem à sociedade. Essas pessoas que ajudam os necessitados habitam o Sexto Céu, mas não permanecerão nesse Céu por muito tempo, pois algumas voltarão para o Sétimo Céu em breve. Elas não possuem uma espiritualidade condizente com esse Céu tão elevado, já que só fizeram essa bondade visando fazer com que as pessoas vivessem mais integradas na sociedade e fossem bons cidadãos. Essas pessoas não ajudaram aquelas excluídas porque as amavam e por justiça, ou como irmãos, mas sim porque acreditavam que viveriam melhor em um mundo em que não houvesse muitos ladrões, estupradores, promíscuos, drogados e outras coisas. Elas praticaram essa atitude correta de ajudar para protegerem apenas seus parentes carnais da violência causada pelas pessoas que a sociedade corrompe em vez de educá-las. No entanto, mesmo visando apenas o bem-estar de suas famílias, essas pessoas ajudaram muitas outras que necessitavam de uma ajuda para terem acesso a uma vida digna que as propiciará viver com Deus no Céu. Esse bem que essas pessoas fazem para a sociedade e para as pessoas individualmente será tão bom que elas realmente merecerão estar pelo menos algum tempo no Sexto Céu, como resultado de suas atitudes e boas práticas, mesmo que não sejam pelos motivos comunhãonistas.

Nesse instante, o eremita está levando Alice de volta para o Primeiro Céu!

Amigo leitor, vamos entrar depressa no salão que guarda os Corpos Celestiais? Olhem! Estou vendo os corpos que usaremos quando nos mudarmos para cá no Céu: são lindos, perfeitos e maravilhosos! São feitos de luzes e seu brilho é incrível! A Grande Deusa Mãe realmente deu a luz, ela sim deu a luz aos corpos!

Existem zilhões de corpos aqui, esses Corpos Perfeitos foram preparados desde a fundação do Céu. A Grande Mãe os criou esperando que as almas (nós) os usássemos em breve!

Que interessante! Cada corpo de luz que vejo aqui está conectado à alma que o ocupará um dia, por toda a eternidade. A conexão desses corpos de luz com as almas na Terra faz com que, a cada atitude positiva e evolutiva, seus corpos celestiais fiquem cada vez mais luminosos, com cores mais intensas e divinas. Essas mudanças de brilho corporal dos corpos de luz acontecem para mostrar que as almas estão em processo de evolução e que estão cada vez mais próximas do céu. Logo, esses corpos receberão suas respectivas almas. Os brilhos corporais e as cores intensas são de alegria, pois as duas partes logo se tornarão uma só, serão integradas e ficarão juntas por toda a eternidade. Será um recomeço, uma nova era.

Esses corpos de luz parecem estar fazendo uma festa para comemorar o encontro tão esperado! Cada atitude divina que as pessoas têm faz com que esses corpos celestiais festejem dentro de si e seus brilhos fiquem mais contentes.

Alguns corpos de luz parecem sem vida, sem brilho, e devem pertencer às pessoas que não poderão vir ao céu tão brevemente por não terem a espiritualidade condizente com esse lugar tão espiritualizado. A tristeza desses corpos de luz é comovente, e dá vontade de ajudá-los a encontrar suas donas. Que possam se fundir e se tornar um só ser como foi planejado por Deus desde o começo.

Essas almas que deixaram tristes os seus corpos de luz são pessoas muito más ou ignorantes, ou pessoas que não tiveram a chance de conhecer as verdades do céu e foram corrompidas pelo mundo.

Agora quero ver como está o meu corpo de luz! Será que ele tem um brilho forte? Vou procurá-lo!

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Nossa! Que pena, eu achava que ele teria um brilho muito melhor! Acho que não fui um bom menino até agora, mas vou procurar ser uma pessoa melhor daqui por diante, pois é muito triste deixar o próprio corpo de LUZ tão triste.

Espere só um pouquinho, eu quero ver como estão os corpos de algumas pessoas que eu conheço!

Nossa! O brilho dos corpos de alguns amigos está muito bom! Parabéns a vocês! Agora eu gostaria de ver a cor do corpo de LUZ do meu amor. Você é realmente linda em tudo!!!

É preciso ter muita espiritualidade positiva para ficar aqui por muito tempo, é Sublime. Acho que toda essa LUZ (verdade) pode me cegar, já que eu fiquei por muito tempo nas trevas da ignorância. É preciso ficar mais tempo no sétimo Céu e vir subindo aos poucos.

O sétimo Céu é muito parecido com a Terra. Tem sexo, comidas, bebidas e muitas pessoas ignorantes ainda, mas também tem outras coisas. Na verdade, estar nesse Céu nem parece que estamos em um dos Céus, já que as mudanças são muito sutis. Se a gente for devagarzinho, logo estaremos prontos para ser UM com a GRANDE DEUSA MÃE!

Nesse momento, amigos leitores, por eu estar em um plano superior, sou capaz de ter o poder da onisciência e onipresença. Estou agora ouvindo, vendo e decodificando os pensamentos de todas as pessoas que sofrem algum tipo de discriminação, ou seja, quase todas as pessoas do mundo, pois todos nós fomos vítimas de pelo menos um tipo de injustiça, preconceito e discriminação, sabia?

Agora eu fiquei chateado comigo mesmo! Estou chateado conosco! Vejam só, vem vindo uma passeata do movimento negro em que eles reivindicam respeito, igualdade de direitos, dignidade e tantas outras reivindicações. Só há um porém: quando eles cruzaram com outra passeata de outro grupo, um grupo gay, eles se discriminaram mutuamente!

Mas esse caso foi apenas um pequeno exemplo. Existem muitas discriminações em todos os grupos e de pessoas individualmente também, e tudo isso é muito triste.

Dá para entender como pessoas que sofrem discriminação podem discriminar outros grupos que estão se manifestando e procurando seus espaços dentro de uma sociedade? Estão vendo? As mesmas pessoas que são discriminadas também discriminam! Somos todos vítimas de injustiças, preconceitos e intolerância, e nem nos damos conta disso!

Olhem lá, amigos leitores. As pessoas estão se julgando umas às outras por pertencerem a outras etnias, por pertencerem a outras tribos urbanas, por serem magras ou gordas, baixas ou altas, por serem muito inteligentes ou por terem pouca inteligência, por seus modos de se vestir, por seus estilos de cabelo e por diversos outros motivos. Realmente, somos todos vítimas, testemunhas, autores e coautores de todas as discriminações, preconceitos e intolerâncias que ocorrem neste mundo, e muitas vezes não percebemos isso. Somos intolerantes conosco mesmos e transformamos a vida em caos. Erguemos barreiras contra aquilo com o que não concordamos e tornamos a vida cada vez mais difícil. Todos nós criamos um labirinto de preconceitos e intolerância. Ai, que vergonha! Estou me sentindo muito mal por ser um ser humano! Como afirmou Sartre, somos, efetivamente, cada qual, o inferno de outras pessoas.

Amigos leitores, agora, depois de ter visto tudo isso, acredito que o simples fato de existir grupos que fazem movimentos, como, por exemplo, negros, gays, sem-terra, sem-teto, prostitutas, magros, gordos e tantos outros, também é uma forma de preconceito, pois estão contribuindo para esse labirinto. Quando reivindicamos algo apenas para um grupo de excluídos, estamos nos separando dos demais grupos. Acredito que deveríamos protestar contra nós mesmos, contra a nossa ignorância. Deveríamos fazer um único movimento chamado "Movimento de Conscientização de que Todas as Pessoas são Iguais e Merecem Ser Respeitadas". Somos nós mesmos que sofremos discriminação e que discriminamos algum tipo de grupo ou pessoa. Somos nós mesmos que usufruiremos com essa conquista: o direito de agir como pessoas e não como selvagens, pois temos a essência divina que deveria se sobressair ao nosso lado animal.

Parece que o eremita ouviu minhas súplicas e está levando Alice no colo. Vou descendo os céus, um por um. O sétimo céu foi recém-criado e já chegaram seus primeiros habitantes: socialistas, artistas e alguns índios de todas as tribos do mundo inteiro. Também há alguns grupos de pessoas que não consigo distinguir. A cada minuto, chegam mais e mais pessoas. Ah, agora está chegando um grupo de pessoas que se esforça para melhorar a sociedade. Essas pessoas que acabaram de chegar no céu alcançaram essa espiritualidade mínima por entenderem, quase sem querer, a Lei do Karma, a Lei da Causa e Efeito. Descobriram que quando fazemos o bem para as pessoas, o maior beneficiado é a própria pessoa que fez esse bem.

Essas pessoas que descobriram a Lei da Causa e Efeito começaram a construir uma sociedade em que todas as pessoas tenham emprego, saúde, lazer e tudo o que é necessário para ser feliz e viver com segurança, sem medo de sequestros, invejosos, caluniadores e tudo o que é necessário para viver com dignidade. Começaram a ajudar o governo em tudo o que podiam, depois cobraram o governo para que ele desse à sociedade o que ela precisava para que todas as pessoas pudessem ser membros ativos dessa sociedade. Essas pessoas começaram a ajudar o governo a gerenciar a sociedade para que se fizessem mais escolas do que prisões! Essas pessoas que descobriram a Lei da Causa e Efeito começaram a colaborar com o governo, pagando os impostos corretamente para que ele pudesse distribuir à sociedade melhorias para seu desenvolvimento. Elas conscientizaram outras pessoas a pagarem seus impostos e ajudaram o governo a combater a corrupção e sonegação.

Essas pessoas agiram com justiça, porém, não necessariamente porque acreditavam que todos são irmãos, mas sim porque buscavam viver em paz na Terra. Se elas não evoluírem, irão retornar à Terra, pois não agiram com bondade por compreenderem a existência de Deus. Elas não buscavam viver em verdadeira paz, no Céu. Algumas delas talvez passem a acreditar na Beleza e, assim, migrem para o Sexto Céu, continuando sua jornada até um dia poderem viver a verdade integralmente.

Vamos ver o que há no Sexto Céu. Que interessante! E estranho também. Vocês não imaginam o tipo de pessoas que habitam o Sexto Céu: são alguns ateus convictos! Eu nunca teria imaginado! São pessoas que afirmam não acreditar na existência da alma antes ou após a morte. Por que elas estão aqui, então?

Ah, agora compreendi! Essas almas estão aqui porque são muito evoluídas! Apesar de não acreditarem em recompensas ou punições por seus atos, tiveram uma boa conduta social, ecológica e humanista... Eu vi muitos panteístas... Essas almas que não acreditavam na existência da alma gostaram tanto de ter nascido que cuidaram do planeta para que as futuras gerações também pudessem desfrutar do privilégio que tiveram. Fizeram isso sem interesse algum, apenas para agradecer à Mãe Gaia (Terra) por tê-los feito e dado a oportunidade de ver o mundo. Viveram em uma ilusão sem se deixar influenciar por ela. Achavam que apenas a existência corpórea tinha uma Mãe e ignoravam a Deusa Mãe, mas mesmo assim tinham uma espiritualidade muito maior do que muitas pessoas que acreditavam na imortalidade da alma.

Agora vamos para o Quinto Céu e ver que tipo de pessoas estão chegando lá. O Quinto Céu será habitado por pessoas como Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Voltaire, Nietzsche e Einstein. Será que os poetas, como Fernando Pessoa e Goethe, também viverão aqui? Gostaria muito de vê-los.

Também habitarão essas alturas espirituais empresários que se preocuparam com o meio ambiente e com seus funcionários, dando-lhes condições satisfatórias para desenvolverem suas vidas. Líderes de países que promoveram a paz no mundo, como Abraham Lincoln, e líderes que ajudaram países pobres a pagar suas dívidas externas, ou mesmo perdoaram essas dívidas, visando reduzir o número de pessoas pobres e crianças que desencarnam (morrem) por fraqueza dos seus corpos causados pela fome e desnutrição. Esses líderes são muito honrados!

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"Ih! Temos que descer depressa, pois o eremita está indo embora para a Terra com Alice no colo!"

O eremita colocou Alice no chão! Mas onde estamos? Onde está a Terra? Onde estão todas as coisas? Eu só vejo um vazio! Realmente, o eremita estava certo; neste mundo, como ele é na realidade, existe apenas um vazio, e as pessoas vivem num teatro de ilusões. Eu vejo apenas as almas "flutuando" no meio do nada, parecendo estar dentro das casas e carros, contando dinheiro que não existe! Dá vontade de rir porque elas parecem crianças inocentes brincando de casinha, desviando das paredes ilusórias como se elas fossem reais, assim como atores de teatro respeitam as marcações do cenário da peça que estão representando! Eu vejo as almas encarnadas transando, mas não dá para saber quem é o homem e quem é a mulher, pois só vejo as almas. Não dá para saber quem é rico, quem é pobre, quem é negro, branco ou vermelho; todas as almas são muito parecidas. Espere um pouco! Consigo perceber que algumas almas têm um brilho mais lindo, mas é difícil de descrever! Ah! São as almas que possuem muita sabedoria e amor! São as almas das pessoas sábias e amorosas que conseguem amar todas as pessoas como Deus ama, mesmo vivendo nesta ilusão. São as almas que estão neste mundo de ilusão, mas não fazem parte dele. Elas vivem neste mundo corrupto, mas não concordam com ele. São as pessoas que vivem separadas do modo de governo deste mundo. Então, a sabedoria e o amor são as únicas coisas que devemos acumular neste mundo de ilusão?

É muito "engraçado" ver tudo isso! Vejo agora muitas mulheres reclamando que os homens são machistas. Elas reclamam que fazem todas as tarefas domésticas e eles, os homens, não ajudam em momento algum. O engraçado é que os homens realmente não ajudam muito, acham que as mulheres são suas escravas e que eles não precisam fazer nada. As mulheres dizem que eles não movem um dedo para ajudá-las! Eu concordo com elas, mas há um probleminha nisso que precisa ser esclarecido: realmente, os homens não ajudam muito, e as mulheres fazem quase tudo, inclusive educar as crianças. Elas mesmas educam os meninos e as meninas, transformando-os em machistas. As mães mandam os filhos meninos irem para a rua brincarem e as filhas meninas ajudarem nas tarefas domésticas, ensinando que os homens não precisam ajudar nas tarefas domésticas, como lavar a louça e outras necessidades domésticas, e depois reclamam que os homens não fazem nada! Elas mesmas ensinam que as meninas não podem brincar com carrinhos, bolas ou pipas e que os meninos não podem brincar com bonecas e outros brinquedos considerados "de meninas". Realmente, é engraçado como tudo isso funciona. As mães ensinam que as meninas precisam estar sempre bonitas e que os meninos precisam ser fortes e não chorar, além das meninas vestirem rosa e os meninos azul. Elas dizem coisas como "sente direito, menina, feche as pernas", "fique só de cueca, menino, está calor".

Vejo muitas mulheres entrando gratuitamente em lugares, ficando felizes por isso, sem perceber que esses lugares fazem isso para atrair clientes homens, tratando as mulheres como mercadorias. Elas aceitam isso sem notar o perigo dessa situação.

Percebo que muitas mulheres se colocam como mercadorias, sem se dar conta disso, contribuindo para manter o machismo. Isso acontece, em parte, porque, ao longo da história, as mulheres não eram levadas a sério e ser bonita e ser uma boa mãe era a única maneira delas terem importância. Como elas precisavam se casar para serem alguém, ou seja, esposa de um homem, isso gerou muita desunião entre elas. Esse mundo apresentado às mulheres as fez competir entre si, o que nunca as ajudou a se unir, pois elas precisavam ser mais bonitas que suas rivais para serem escolhidas.

Agora, vamos viajar pelo "mundo" e ver como as coisas são nesse teatro de ilusões. É engraçado ver as pessoas fazendo coisas sem que as "coisas" existam, como aquela mulher subindo escadas que não existem ou aquele homem chamando uma mulher de linda, sendo que eu posso ler os pensamentos das pessoas e só vejo a alma dela.

Olha aquela mulher que pensa em emagrecer, mesmo sem ter corpo algum! E perceba aquele homem triste porque seus cabelos estão caindo, sendo que tudo é apenas uma ilusão! Como ele se sentiria se soubesse disso? Agora veja aquele rapaz querendo comprar uma casa que não existe, achando a cozinha espaçosa, mas eu não vejo parede alguma! Que legal!

Olhe para essa cena interessante: uma mulher com um filho no útero, outro no colo e um terceiro segurando em sua saia, todos atravessando uma ponte e encontrando o avô das crianças no meio do caminho. Todos têm a mesma idade, nascidos juntos, mas se comportam como bebês, crianças ou idosos. Todos pensam que estão vivendo uma realidade, mas tudo não passa de um teatro de ilusões muito bem feito.

Se não fosse por eu ver a realidade, também acreditaria que existem bebês, mulheres, homens, idsosos, meninos, meninas, gordos, magros, brancos, negros, pessoas bonitas e feias, mas nada disso existe. Todas as almas têm o mesmo sexo, cor, idade e parentesco. Vamos ver como está o mundo todo? Veja aquele lugar que chamam de "terra santa", o lugar onde é derramado tanto sangue em nome da fé, onde há mais ódio por metro quadrado em todo o mundo, quão tolas são essas pessoas! Não há terra alguma ali, não vejo nada lá. O único lugar sagrado que eu já vi foi no Céu, onde todas as pessoas podem caber e ninguém precisa se matar para ter uma vaga. Ao contrário, precisamos amar e deixar o Céu morar dentro de nós. Se essas pessoas pudessem ver o que eu vi, deixariam suas armas de lado e parariam de odiar aqueles que chamam de inimigos, pois veriam que somos todos irmãos. É uma pena, ó insensatos, que vocês não possam ouvir e ver o que eu vejo e sinto agora.

Estou vendo a alma de Hitler sofrendo muito, pagando pela sua má conduta e erros (pecados) que cometeu contra a humanidade quando estava encarnado. Ele foi um péssimo exemplo de comportamento para as pessoas e ainda hoje influencia alguns jovens em várias partes do mundo. Se ele quisesse viver em um mundo verdadeiramente puro (com a "raça ariana"), deveria ter agido de maneira diferente. Se agisse corretamente, teria ido para o Céu, onde há indivíduos realmente puros, sábios e que contemplam a verdadeira arte que é o amor. Lá ele encontraria a verdadeira arquitetura da qual o Céu é formado.

Não sinto pena alguma por Hitler. Que ele fique lá para sempre!

Estou vendo também, além da alma de Hitler que sofre muito, algumas almas de outros líderes de países que promoveram o terror no mundo. Esses miseráveis líderes que governam países poderosos provocaram misérias no mundo para que seus países tirassem vantagem disso. Suas atitudes tiranas provocaram a ira de pessoas que se sentiram injustiçadas e, por causa dessas opressões, fizeram coisas que trouxeram mais medo ao mundo. Esses líderes de países poderosos ficarão vagando pagando suas penas, pois além de matarem muitas pessoas inocentes com políticas imperialistas, ainda fizeram com que as pessoas de seus próprios países vivessem em pânico. A consequência disso foi mais discriminação entre várias nações, etnias, culturas e outras coisas. Tudo isso foi causado por esses malucos que chegaram ao poder e acharam que eram sábios, fazendo idiotices dignas de loucos. Achavam que eram donos do mundo e ainda se diziam (e dizem ainda) frases como “que Deus salve a América”, como se houvesse divindades que compactuassem com a tirania deles. Esses tiranos, além de todas as asneiras que fazem, ainda colocam as divindades que as pessoas creem no meio de suas loucuras, induzindo as pessoas, sem um esclarecimento correto, a acharem que são apoiadas por essas divindades em suas "guerras santas".

Bem feito! Que esses líderes de países poderosos paguem suas penas por toda a eternidade!

Que esses malucos que governam esses países poderosos, que são credores de países pobres e endividados, e que nunca poderão pagar suas dívidas, sejam punidos! Esses déspotas criaram uma armadilha onde, quanto mais os países devedores pagam os juros de suas dívidas, mais ficam devendo. Esses países governados por tiranos sabem que essas dívidas já foram bem pagas. Sabem também que esses países precisam desse dinheiro para alimentar seus pobres, seus idosos, educar suas crianças e seus jovens, além de precisarem de dinheiro para curar seus doentes e feridos. Esses tiranos usurpam as riquezas, os trabalhos, a dignidade e a paz dessa gente pobre e sofrida para sustentar seus impérios de tirania. Fazem com que as dívidas desses países pobres sejam eternas!

Vejo, junto com o Hitler e seus seguidores, e os governantes de países poderosos, tiranos, as pessoas que administravam a "santa inquisição" e que mataram milhares de pessoas em nome de uma divindade que só falava de amor. Por vezes, essa divindade pediu para ninguém matar ninguém por motivo algum, na verdade, ela pediu para que as pessoas amassem até seus inimigos. Esses miseráveis que mataram tantas pessoas em nome do amor vão pagar por toda sua ignorância! Miseráveis!

Chamavam as mulheres boazinhas curandeiras de bruxas e diziam que elas compactuavam com um demônio, queimando-as em fogueiras. Queimavam também seus gatos, pois achavam que havia um diabo dentro desses animais. Eles, além de serem ótimos amiguinhos para pessoas que vivem sozinhas, ainda ajudavam a limpar a cidade caçando os ratos! Depois que milhares de gatos foram queimados, os ratos se multiplicaram muito rápido e o mundo conheceu um surto de doenças vindas dos ratos, como a peste bubônica. Esses inquisidores conseguiram fazer muito mal às pessoas achando que iriam purificar o mundo matando as "bruxas" e seus animaizinhos de estimação. Agora, esses cretinos ficarão na Zona Neutra por muito tempo! Eu não tenho pena deles, nem de Hitler, nem dos tiranos que promoveram a pobreza total dos países que já eram pobres, fazendo essa canalhice com o fim de financiar seus impérios, suas guerras, suas vaidades e suas economias altas. Esses boçais tiravam dos pobres e davam (e dão) aos ricos! Essas almas que fizeram isso vivem sofrendo na Zona Neutra onde estão e ficarão por muito tempo. Bem feito para eles!

Ah! Estou vendo almas que sofrem por terem que pagar suas penas. No entanto, essas almas acreditavam na existência da alma e do Céu. Infelizmente, foram enganadas, pensando que aqueles que sofrem na Terra estão pagando por crimes cometidos em outras encarnações. A lei do karma não foi criada para isso, e aqueles que pensam assim são preconceituosos e terão que pagar uma pena na Zona Neutra. Quando reencarnarem, poderão ter atitudes melhores e ir para um Céu condizente com sua nova espiritualidade. Temos que ajudar todas as pessoas sem deturpar a verdade!

Se não quisermos ajudar alguém, pelo menos admitamos nossas fraquezas e não coloquemos a culpa nas pessoas, dizendo que estão sofrendo por causa de seus karmas. Todas as pessoas que estão encarnadas já pagaram suas penas na Zona Neutra e estão livres de seus pecados de outras vidas. Se alguém sofre, é porque precisa de ajuda. Precisamos ajudá-los e não discriminá-los.

As almas que cometeram muitas maldades e estão presas na Zona Neutra veem tudo o que acontece na Terra e sentem-se como atores que não podem mais atuar em peças de teatro por terem feito coisas erradas. Eles querem uma nova chance, mas nunca poderão voltar a atuar. Esses atores sofrem de maneira igual e querem muito voltar a atuar (ou reencarnar).

Que bom que o planeta reapareceu! O eremita estalou os dedos e o mundo surgiu novamente! Ou melhor dizendo, a ilusão surgiu.

Ao terminar de fazer tudo isso, o eremita disse para Alice:

-- Mulher, quando eu estalar os dedos novamente, você estará livre da minha influência e poderá escolher qual líquido quer em seu copo, entendeu?

E dizendo isso, o eremita estalou os dedos.

Nesse instante, Alice, como se despertasse de um transe de um show de ilusionismo, olhou para seu anfitrião, franziu os olhos e, em seguida, os abriu novamente. Ela falou com o eremita da mesma maneira que falava com seu avô quando era pequena e ele a aborrecia com brincadeiras e mimos, até que ela ficava entediada e com sono. Ela simplesmente disse:

-- "Tá..."

Está bem, entendi o que ela quis dizer com esse "tá", mas seu avô não estava ali com ela. Então, Alice olhou para o eremita e gritou como se tivesse se assustado, como se só agora pudesse pensar claramente:

-- Por Jesus Cristo!...

Quando pronunciou o nome de Cristo, ela estremeceu inteira, pensou em milhões de coisas em apenas um segundo e disse:

-- Acho que o senhor é muito repetitivo, já entendi tudo, não precisa dar mais exemplos... Mas você sabia que quase tudo o que me falou tem a ver com o que filho de Deus disse? As palavras que você usou me fizeram lembrar dele de uma maneira muito forte! Sinto as palavras dele dentro de mim, elas estão gritando comigo!

O eremita olhou para ela com curiosidade, querendo saber quem é essa pessoa que tem algo em comum com ele, e perguntou com pressa:

-- Quem é esse tal de filho de Deus?

E a Alice lhe respondeu:

-- Vou mostrar quem é Cristo para você, Ramones, está bem?

Alice disse isso enquanto entrava na choupana onde o eremita "morava", pegou a bolsa que havia deixado lá há muito tempo e se aproximou rapidamente do eremita para entregar-lhe a Bíblia que havia encontrado no interior da bolsa. Ela encontrou um calendário com uma "fotografia de Jesus" e ofereceu-o aoeremita. No entanto, quando ela entregou a Bíblia, ele a segurou fechada, apertando-a com as duas mãos diante dos olhos, olhando-a como se tentasse sentir as palavras escritas em suas páginas. Parecia que queria ou podia ver as palavras sem olhar para dentro da Bíblia, mantendo-a fechada enquanto a olhava. Perplexa, Alice pensou em voz alta:

-- Por que dei a Bíblia para Ramones? Ele não sabe ler, nunca foi para a escola!

Mas, antes que Alice pudesse reagir, o eremita, parecendo estar sendo possuído por uma entidade espiritual, começou a citar frases do evangelho:

" Amai-vos uns aos outros, assim como eu os amei..." (segundo o Novo Testamento).

O eremita fez uma pequena pausa e disse, antes que Alice pudesse reagir:

"Por que me chamas de mestre se não fazes o que lhe digo?" (segundo o Novo Testamento).

Parecia que o eremita estava procurando na Bíblia as coisas que Alice havia dito que se pareciam com as coisas ditas por ele. Alice tinha certeza de que não tinha "tirado os olhos do eremita". Ela sabia que ele não tinha aberto a Bíblia e, mesmo se tivesse aberto, não sabia ler. Ela ficou muito assustada com tudo isso, não conseguia compreender como ele podia saber esses versículos da Bíblia sem nunca ter ouvido falar deles antes. Depois dessa cena, o eremita fechou os olhos e citou o Sermão da Montanha: "E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos.

E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:

Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos Céus,

Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados,

Bem-aventurados os mansos, pois herdarão a Terra,

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão fartos,

Bem-aventurados os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia,

Bem-aventurados os limpos de coração, pois verão a Deus,

Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus,

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, pois deles é o reino dos Céus.

Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.

Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte, nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos os que estão na casa.

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus.

Não cuideis que vim destruir a verdadeira lei do meu Pai ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir.

Porque em verdade vos digo que, até que o Céu e a terra passem, nenhum jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.

Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos Céus. Aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos Céus.

Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos Céus.

Ouvistes o que foi dito aos antigos: "Não matarás", mas qualquer que matar será réu de juízo.

Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: "Raca", será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: "Louco", será réu do fogo do inferno.

Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aílhelembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, (... )...” (segundo o Novo Testamento).

Alice ficou completamente sem saber o que fazer, e o eremita citou outra passagem do evangelho: "Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me."

Então, os justos lhe responderão, dizendo: "Senhor, quandolhevimos com fome, elhedemos de comer? Ou com sede, elhedemos de beber? E quandolhevimos estrangeiro, elhehospedamos? Ou nu, elhevestimos? E quandolhevimos enfermo, ou na prisão, e fomoslhevisitar?"

E, respondendo o Rei, lhes dirá: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes".

Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer, tive sede, e não me destes de beber, sendo estrangeiro, não me recolhestes, estando nu, não me vestistes, e enfermo, e na prisão, não me visitastes".

Então eles também lhe responderão, dizendo: "Senhor, quandolhevimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e nãolheservimos?"

Então lhes responderá, dizendo: "Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim".

Alice ficou meio tonta nesse momento, e o eremita ainda com a Bíblia sem abri-la e com os olhos fechados citou outra passagem do evangelho que achava que tinha a ver com as coisas que havia dito à sua hóspede: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

O amor é sofredor, é benigno, o amor não é invejoso, o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha, mas havendo profecias, serão aniquiladas, havendo línguas, cessarão, havendo ciência, desaparecerá, porque, em parte, conhecemos e em parte profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Porque agora vemos como em um espelho, obscuramente, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido." (1 Coríntios 13:12)

"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor." (1 Coríntios 13:13)

Alice ficou sem entender o que estava acontecendo e ficou ali parada esperando por uma resposta. O eremita prosseguiu dizendo: "Eu sou meu próprio mestre, quem mais poderia ser?". (Sidarta Gautama -- O Buda)

"Conhece-te a ti mesmo." (Sócrates)

"As leis existem para serem mudadas quando algo melhor surge." (Sócrates)

Alice continuava a olhá-lo com espanto e o eremita disse: "Eu me lembro de conhecer essas citações de algum lugar..." O eremita continuou citando:

"O reino do Céu deve ser procurado primeiro dentro de nós mesmos, depois que o encontrarmos, ele se expandirá para todos os lugares." (Lama-Hifha)

"Eu atingi o imortal." (Sidarta Gautama -- O Buda)

"Feliz é aquele que durante sua vida terrestre consegue libertar-se dos impulsos que geram paixão e ódio, estabelecendo-se firmemente no espírito da união com Deus." (Krishna)

"Sob a influência da pureza e da tranquilidade, o mundo se ratifica." (Lao-Tse)

"Devemos amar nossos parentes, amigos, conhecidos e também nossos inimigos de semelhante maneira que uma mãe ama o filho." (Sidarta Gautama -- O Buda)

"O importante é acreditar no que é justo e verdadeiro e aplicá-lo em nossas vidas." (Sócrates)

"Não devemos seguir nem o caminho da perdição, nem o da santidade, mas sim o caminho do meio." (Sidarta Gautama -- O Buda)

É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito" (Albert Einstein).

"A alegria e o amor são as duas asas para as grandes ações" (Goethe).

Alice não conseguia entender por que esseeremita conseguia citar essas frases nos próprios idiomas das pessoas que as citaram. Ela não entendia ainda mais o porquê o eremita conseguia citar essas frases com os sotaques de cada personagem que as citou. Parecia que o eremita conhecia intimamente cada uma das pessoas que estava fazendo uso de suas citações, pois parecia que o eremita imitava a voz dessas pessoas e ainda imitava seus trejeitos. Alice ficou ainda mais perplexa quando se deu conta de que jamais poderia entender tão bem cada idioma que o eremita mencionava. Mesmo muito assustada, ela se intrigou: como poderia ouvir línguas estrangeiras, perceber isso e entendea-las como se fossem em português, sua língua materna?

E o eremita continuava com suas citações:

"Penso, logo existo" (René Descartes).

"Tudo que uma pessoa pode imaginar, outra pode torná-la real" (Júlio Verne).

"Não acreditamos que a verdade continua sendo verdade quando tiramos o véu" (Nietzsche).

"O futuro pertence àquele que acreditou na beleza de seu sonho" (Roosevelt).

"A vida que não se examina não vale a pena ser vivida" (Sócrates).

"Pureza e impureza dependem da própria pessoa. Ninguém pode purificar o próximo" (Buda).

"A Terra é um só país e os seres humanos são seus cidadãos" (Bahá U’ Lláh).

"Existimos para nossos semelhantes" (Albert Einstein).

"A melhor coisa que uma pessoa que não é sábia nem santa pode fazer no campo da metafísica é estudar as obras daqueles que foram capazes de uma qualidade e soma de conhecimentos mais do que meramente humanos, por terem modificado seu modo de ser meramente humano" (Aldous Huxley).

"O amor só começa a desenvolver-se quando amamos aqueles de quem não necessitamos para nossos fins pessoais" (Erich Fromm).

"A noite abre as flores em segredos e deixa que o dia receba os agradecimentos" (Tagore).

"Mundo! Que és tu para um coração sem amor?" (Goethe).

"Se as mulheres fossem iguais aos homens, seriam superiores" (Sócrates).

"O grande problema do homem ainda é ele mesmo e sua orientação para com seu semelhante. Para entender perfeitamente a si próprio, ele deve tornar-se consciente de que não é meramente uma forma temporária cujo destino é envelhecer e perecer. Ele possui uma alma imortal que habita um corpo mortal e é dotado de uma mente independente do cérebro físico" (Sir Donald Tovey).

"Preciso de você: porquelheamo" (Erich Fromm).

"Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar" (Immanuel Kant).

.. É preciso eliminar os mal-entendidos entre a fé e a ciência... (Galileu Galilei).

... Os poderosos podem destruir uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera... (Che Guevara).

... Abdicar da liberdade é destruir a própria essência humana... (Jean-Jacques Rousseau).

... O homem está condenado a ser livre... (Jean-Paul Sartre).

... A vida é a infância da nossa imortalidade... (Goethe).

... Só quando ultrapasso os limites da minha liberdade é que sou plenamente eu mesmo: ser livre é ser eu mesmo... (Jaspers).

... Quando as pessoas abandonam a sua natureza essencial para seguir seus desejos, suas ações nunca são corretas... (Lao Tsé).

... A liberdade é o início e o fim de toda filosofia... (Schelling).

... Todo crime é vulgar e toda vulgaridade é criminosa... (Oscar Wilde).

... Precisamos pensar globalmente e agir localmente... (John Lennon).

... Quanto menos se entende, mais se deseja discordar... (Galileu Galilei).

... O homem sábio rejeita o excesso, a prodigalidade e a grandeza... (Lao-tse).

... Sejam suas próprias luzes, sejam seu próprio apoio, permaneçam fiéis ao que há dentro de vocês como a única luz... (Sidarta Gautama, o Buda).

... Acredito que é nosso dever difundir a ciência para melhor desenvolvea-la... (Galileu Galilei).

... Quem são os verdadeiros filósofos? Aqueles que amam contemplar a verdade... (Platão).

... Deus não joga dados com o mundo... (Albert Einstein).

... Então, eu pergunto: por que não dar uma chance à paz?... (John Lennon).

... A palavra é metade de quem fala e metade de quem ouve... (Montaigne).

... Se uma confissão é o que eles querem, confessarei até que sou uma lagartixa... (Galileu Galilei).

... O mundo é maravilhoso, só precisamos consertá-lo... (Lama Thubten Yeshe).

... Ao procurar fazer o bem ao nosso semelhante, encontraremos o nosso próprio bem... (Platão).

... Por que eu iria querer acumular riquezas? Isso só despertará a cobiça das pessoas e elas poderão querer me matar ou sequestrar para obter minha riqueza... (Lao-Tse).

... Não violarei minha própria dignidade humana... (Charles Darwin).

... Se Deus não existisse, tudo seria permitido... (Dostoiévski).

... A sabedoria da experiência deveria ensinar-nos que a guerra é obsoleta... (Martin Luther King Jr.).

... Faça o que quiseres, há de ser tudo da lei... (Aleister Crowley).

... Creio na razão... (Galileu Galilei).

... Os homens não são culpados, e mesmo quando punimos os canalhas, o fazemos sem ódio, pois perdoamos aqueles que não sabem o que fazem... Spinoza).

... Ser grande não é estar colocado acima da Humanidade, dominando os outros, mas sim estar acima das parcialidades e futilidades do desejo irracional e dominar a si mesmo... (Spinoza).

... Eu tento ser direito e caminhar ao lado do próximo... (Martin Luther King).

... A sobrevivência de um organismo depende da sobrevivência do outro... (Charles Darwin).

... Só somos livres quando temos conhecimentos... (Spinoza).

... Meu esforço consiste em recriar o real... (Pablo Picasso).

... Se quisermos ter paz no mundo homens e nações terão de adotar a atitude pacífica de que os fins e meios devem adaptar-se... (Martin Luther King).

... Não há verdade que não tenha sido perseguida ao nascer... (Voltaire).

... O universo funciona como um relógio, e todo relógio tem um relojoeiro... (Voltaire).

... Não concordo com uma só palavra que você diz. Mas, vou defender até a morte o direito de você falar o que quiser... (Voltaire).

... Nenhum homem é uma ilha isolada, fechada sobre si, todos são parte de uma parte de um continente, uma parcela da terra principal... (Carl G. Jung).

... Devemos responder ao ódio com amor... (Martin Luther King).

... A felicidade está na atitude... (Leonardo Da Vinci).

... (... ) Portanto ela (a Terra) se move... (Galileu Galilei).

... Não vejo nenhuma diferença entre uma guerra injusta e uma guerra considerada justa... (Voltaire).

... A propriedade é um roubo... (Pierri-Joseph Proudhon).

... Quem tem mais do que precisa é um ladrão... (Mahatma Gandhi).

... Sou comunista para que haja menos miséria... (Pablo Picasso).

... O homem por natureza é capaz de viver em uma sociedade livre, é evidente que aqueles que tentarem impor leis serão o verdadeiro inimigo da sociedade... (William Godwin).

... Quando mais se conhece mais se aprecia... (Leonardo Da Vinci).

... Se um único homem chegar à plenitude de amor neutraliza o ódio de milhões... (Mahatma Gandhi).

... Quem busca a verdade, quem obedece à lei do amor, não pode estar preocupado com o amanhã... (Mahatma Gandhi).

... Ou aprendemos a viver todos juntos como irmãos ou pereceremos como loucos... (Martim Luther King).

... Há coisas que ainda não são verdadeiras, que talvez, não tenham o direito de ser verdadeiras, mas que poderão ser amanhã... (Carl G. Jung).

... Ser ou não ser eis a questão... (Shakespeare).

... Somos matéria da qual são feitos os sonhos... (Shakespeare).

... Quando eu olhei para aquele mendigo eu vi: Deus... (Madre Teresa de Calcutá).

... (... ) É ele na verdade um santo, que encontra o Céu dentro de si mesmo, (... ) abre-se uma porta para o Nirvana... (KRISHNA).

... A religião é uma ilusão... (Freud).

... Assim como pimentas ardem aos olhos atingidos são as palavras de um sábio aos ouvidos dos tolos e ignorantes... (Lama Hifha).

... Guerra Santa: é uma Guerra travada contra si mesmo, tendo em vista, tão-somente, uma busca de uma evolução espiritual profunda a fim de se ter com o Divino uma intimidade eterna... (Lama Ihfha).

... A loucura é rara nos indivíduos: em grupos, nações e épocas ela é regra... (Nietzsche).

... De manhã cedo, dize a ti mesmo: “Encontrei um indiscreto, um ingrato, um arrogante, um trapaceiro, um invejoso, um egoísta. Tudo isso lhe advém da ignorância do bem o do mal. Mas, eu tendo reconhecido que a natureza do bem é a virtude e a do mal é o vício, e que o pecador é por natureza meu parente -- não do mesmo sangue ou semente, pela inteligência e por particular de uma parcela da Divindade --, não posso considerar-me ultrajado por qualquer um deles. Nenhum deles me contaminaria com o vício. Não posso tampouco me irritar contra meu parente nem odiá-lo, pois,fomos feitos para cooperar, assim como os pés, as mãos, como as pálpebras, como as fileiras superiores e inferiores dos dentes. Agir como a natureza. E é ser adversário irritar-se com os outros e evitá-los... (Marco Aurélio).

... Pensem o que quiserem de ti, faze aquilo quelheparece justo... (Pitágoras).

... Todos os mundos estão enfiados em mim... (KRISHNA).

... O homem faz a religião, a religião não faz o homem...

... Os filósofos se limitavam a interpretar o mundo de diversas maneiras, o que importa é modificá-lo...

... O capitalismo é e será sempre irracional...

... A mudança econômica é o motor da História...

... Proletariado de todos os países uniu-vos...

... As ideias nada podem realizar. Para realizar as ideias são necessários homens que ponham a funcionar uma força prática...

... Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência...

... Ser radical é agarrar as coisas pela raiz, e a raiz do homem é o próprio homem...

... A melhor forma de Estado é aquela em que os antagonismos lutam abertamente e encontram sua solução...

... O povo que subjuga outro forja suas próprias cadeias... (Marx).

... Ser governado: é ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, doutrinado, prejudicado, controlado, calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nome nem título, nem ciência, nem virtude (... ). ser governado é ser, a cada operação, cada transação, a cada momento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reforçado, reenviado, corrigido, (torturado). É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado, monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, rotulado, e depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, mutilado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis a sua justiça, eis a sua moral! (... ) Oh! Personalidade humana! Como foi possível deixares-te afundar, durante sessenta séculos, nesta abjeção(?)... Tornarão obsoletas... ( Pierri-Joseph).

... A pátria não é ninguém: são todos, e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação... (Rui Barbosa).

O eremita parecia não estar interessado em parar de citar as frases ditas por grandes personalidades da História da Humanidade. Alice ficou muito assustada com a expressão do rosto do "possuído" e com tudo o que aconteceu desde a sua chegada ali. De repente, ela reuniu forças e se afastou daquele homem que lhe causou arrepios, fugindo em direção ao Jeep que era seu objetivo. Enquanto corria, ainda podia ouvir o eremita recitando as frases.

Quando chegou ao veículo, Alice ainda estava muito assustada. Ela se lembrou de que o Jeep havia parado ali sozinho e ficou com medo de que não funcionasse novamente, deixando-a vulnerável àqueleeremita estranho. Enquanto acelerava o carro, sentia-se aterrorizada e acreditava que o eremita era um demônio que estava tentando levar sua alma para o inferno. Ela lembrava de um encontro ecumênico em que ouviu que o demônio conhecia as palavras da Bíblia e se consolava pensando "conheço as artimanhas do inimigo...".

Mais tarde, Alice percebeu que na verdade o demônio a ajudou a recuperar sua fé. Ela gritou para si mesma:

-- "Será que o demônio não quis me levar para o inferno com ele? Será que ele me ajudou a recuperar minha fé em Deus novamente, só para evitar a minha presença lá e não ter que conviver comigo para sempre? Se eu me matasse, iria para o inferno, e então recuperaria minha fé lá. Mas ele temia que eu ficasse falando sobre o poder e a glória de Deus, e não pudesse ir para o Céu por não estar em paz comigo mesma e com Deus. Como uma pessoa que acredita profundamente em Deus, minha presença no inferno seria um tormento para o demônio. Será que ele estava com medo de que eu ficasse glorificando a Deus para sempre perto dele? Tenho certeza de que os escolhidos de Deus são um grande tormento para o demônio e ele tem medo de nos levar para o inferno, pois nunca o glorificaremos. Jesus disse aos seus discípulos que quem tem fé nele (Cristo) faria os demônios fugirem de perto deles, pois os demônios evitam o povo de Deus."

-- Eu sou uma escolhida de Deus! Eu sou de Deus! Sempre fui e sempre serei! Eternamente serei! O demônio me fez um favor, só porque ele não me queria no inferno. É por isso que é bom ser fiel a Deus, porque tudo dá certo...

Alice estava muito feliz. Ela acreditava que era tão devota a Deus que o próprio demônio a ajudou a recuperar a fé, só para ela não ir para o inferno e ficar "infernizando o demônio", falando do Deus de sua devoção por toda a eternidade em seus ouvidos. Ela também estava feliz porque tinha recuperado a sua fé católica de sempre. Ela sentia que sua fé era muito maior do que antes, quando sua família foi assassinada.

Alice se levanta do banco do carro, onde esteve desacordada por quatro horas, segundo seu relógio. Ela começa a pensar se tudo aquilo não passou de um sonho e foi se certificar disso. No entanto, quando ela olha em sua bolsa, percebe que sua Bíblia não está lá dentro.

Ela estava com fome, sede, cansaço e muito calor quando ligou o carro e começou a dirigir pelo deserto. Ela queria ter certeza se tudo o que aconteceu ali era real ou não. Olhou novamente para o relógio e confirmou que havia chegado ao deserto apenas quatro horas antes. Ela ficou pensando com certo medo:

-- Será que tudo isso não foi apenas um sonho? Será que o Ramones era o demônio disfarçado de uma pessoa boa? Será que ele era o lobo em pele de cordeiro que Jesus Cristo nos alertou? Ou será que ele era um anjo enviado por Deus que contou a história de um modo diferente só para me salvar do suicídio, porque se falasse de Deus do jeito que o padre prega na missa, eu teria ido embora e não teria escutado suas palavras?

Alice continuou a refletir sobre o acontecido:

-- Acho que foi isso mesmo! Deus falou sobre reencarnação para me fazer entender que meus filhos, meu marido e minha irmã estão bem no Céu junto Dele. Deus me ama, e eu o amo! Ele sabe o que está fazendo e me perdoou. Agora entendo que Deus quer que eu pratique a caridade com os necessitados. O anjo contou-me a história para despertar minha fé, que estava bloqueada por um tempo porque eu não tinha entendido as coisas direito, por ter me desesperado. Agora estou acordada e vou acordar outras pessoas. Preciso ajudar a todos os necessitados como uma católica praticante que sempre fui. Deus é realmente incrível, Ele fez tudo parecer um sonho para testar minha fé e depois fortalecea-la, assim como aconteceu com Jó. Por isso é sempre bom ter Deus no coração, porque Ele sempre arranja um modo de nos salvar e nos abençoar.

Alice desceu do Jeep, ajoelhou-se, fez o sinal da cruz e pediu perdão a Deus por ter fraquejado diante do inesperado. Apesar de sempre ter sido uma católica praticante, essa foi a primeira vez em toda a sua vida religiosa que se persignou, fazendo o primeiro sinal na testa, o segundo na boca e o terceiro no peito. Sua fé voltou forte, recuperando sua grande religiosidade.

Aconteceu exatamente como seu amigo ateu, Léo, disse quando a mandou vir ao deserto para conversar com um anjo. Alice duvidou que ele estivesse falando a verdade sobre o lugar, mas mesmo assim foi ao deserto. Sua fé foi ampliada, exatamente como o eremita lhe disse que aconteceria quando ela optasse por qual crença permanecer em seu coração: a dela mesma, a católica, ou a que ele estava ensinando.

O eremita estava certo quando profetizou que Alice iria repeli-lo e sair correndo para longe dele.

Alice estava sempre sorrindo e se sentia abençoada, agradecendo a Deus por ter-lhe dado uma nova chance. Ela recebeu um anjo contador de histórias que a ajudou a ver a realidade de uma nova maneira. Emocionada, ela se ajoelhou e persignou mais de cem vezes.

Quando finalmente parou de agradecer a Deus, Alice entrou em seu Jeep, ligou o carro e gritou pela estrada afora: "Deus me ama! Deus ama minha família!" Ela estava muito feliz e satisfeita com sua vida.

Depois de dirigir por muito tempo, o Jeep finalmente parou de funcionar. Apesar da dificuldade, Alice não se desesperou. Ela fez uma oração pedindo a Deus que lhe desse forças para chegar onde havia alugado o carro e percebeu que não estava muito longe. Ela chegou em segurança e devolveu as chaves do carro.

O pessoal da locadora insistiu para que Alice tomasse um banho e comesse algo, mas ela recusou, dizendo que tinha coisas importantes da parte de Deus para fazer. Ela embarcou em um avião que a levou de volta a São Paulo, após uma passagem por Santiago, capital do Chile.

Quando a campainha de Leo tocou no sábado à tarde, ele ficou surpreso ao ver Alice, sua querida amiga, toda suja e descabelada à sua frente. Ela estava em um estado de êxtase, parecendo uma imagem de uma santa, e saltou em seus braços, agradecendo-lhe por ter salvado sua vida e sua fé.

Escrito por Isaías Francisco de Amorim

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POETA ISAÍAS AMORIM
Enviado por POETA ISAÍAS AMORIM em 13/04/2023
Reeditado em 17/04/2023
Código do texto: T7762972
Classificação de conteúdo: seguro
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