Banquete

Eu era um banquete. Desses grandes, fartos. Nada mais que um banquete. Um banquete que ele comia frio. Entretanto, ele veio construindo uma narrativa de amor e cuidado que jamais tive, tratou-me bem, deteve meu corpo para fazer eu me afastar de mim mesmo, hoje vejo, sei. Ele era meu quando estávamos ali e não permitia aprofundamentos. Eu, carente, entreguei-me ao que acreditei ser um amor sem fim. Tive medo, ânsia, angústia. Tudo junto, de uma vez só. Meu corpo tremia de prazer enquanto o terremoto se fazia em minha mente, logo mais, o peito constrangido pela humilhação. A mim, sobrou regugitar a dor. Segui, livre, leve, solto. E ele inda continua com fome.