Tem alguém aí?
E assim a vida nos leva.
Um amontoado de átomos, células, tecidos… Ser animado dotado de… Inteligência?
É que os anos foram passando e, a tal da maturidade tão cantada, é uma grande bosta.
Maturidade maldita que nos arranca o fôlego, ilusões, ingenuidade, crenças, encantamento, surpresa, fé pura e simples.
É que, de repente, me dou conta de que tudo exige um esforço maior, uma falsidade impositiva, um engabelar-se, um alienar-se, um justificar-se, um culpar-se…
Conflito interno que nem o sol escaldante, nem a suavidade da brisa marítima, nem o silenciar noturno, nem a canção mais doce, nem o gesto mais primitivo são capazes de dissipar. Nem o adormecer, nem o estado letárgico é capaz de fabricar imagens simbólicas que nos conforte.
Ah maldita maturidade! Por que vieste de forma tão violenta? Por que com tanta crueldade arrancaste de mim o frescor, a graça, a beleza dos meus sonhos, meus planos, meus projetos, meus desejos…? Por que tirastes de mim a certeza verdadeira da vitória?
Maturidade maldita que me faz acolher tudo, aceitar tudo, quedar-me silente quando apropriado seria GRITAR GRITAR GRITAR GRITAR…?
Resta-me o socorro da fé. Mas uma fé diferente. A tal fé amadurecida, essa que nos faz buscar lideres espirituais nas redes sociais para dizer coisas que, a lógica da maturidade, denuncia imediatamente não fazer nenhum sentido. Mas buscamos, agarramo-nos desesperados enquanto em vórtices nauseantes, usamos de diversos subterfúgios para nos manter anestesiados.
Questionar parece pecado mortal. E assim, extremamente marcada pela minha cultura, busco o divino na figura de um Deus que me foi apresentado, e que em escrituras muito antigas disse assim:
“(…) Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá as suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade.”
Ah Maldita maturidade! Não fosse o versículo anterior (Olhei os as aves nos céus, eles não semeiam, não colhem, nem juntam em armazém, porém o pai que está nos céus as alimentam) cortaria os pulsos.
Assim, a vida vai nos levando: envelhecendo enquanto tentamos enganar a saudade que sentimos dos tempos em que ACREDITAR era muito mais fácil.
Susana Maria Sobreira
14/02/2023