Prefácio I
Quando conto a história de Alzira, alguns leitores me perguntam se houve realmente essa mulher na minha vida. Minha resposta é enigmática e a deixo nas entrelinhas para que haja um esforço maior no processo do letramento literário. Eu tento disfarçar ainda mais a verossimilhança e transformá-la em ficção.
Minto, sei que minto, mas de uma forma tão agradável que o meu personagem principal sai do papel e desfila na mente das lentes devoradoras a deixá-las curiosas.
A poesia que exalta a beleza de Alzira é puro romantismo, entretanto não há o exagero, pois é uma criatura tão fascinante que dá para imaginar cada detalhe de suas características. O enredo coloca sempre a sua beldade em evidência.
Apesar de encantar todos os homens que a avistaram, Alzira não passava de uma simples menina que procurava esquecer o seu passado a naturalmente aproveitar a oportunidade de viver numa cidade que a recebera de braços abertos.
Fora apresentada aos cariocas, habitantes de um lugar paradisíaco, e se entregara aos seus encantos, embora soubesse do perigo de uma cidade grande.
Mesmo assim, não pode escapar dos assédios dos animais oportunistas que após considerá-la vulnerável partiram para o estupro como a violência dos orangotangos adolescentes preteridos pelas fêmeas que não conseguem se livrar dos ataques.
Eu a conduzi a se adaptar a alguns fatos sociais comuns. Alzira foi moldada à sociedade nova que de forma coercitiva a induzia a pensar e agir de acordo com o seu grupo social.
Levei-a aos melhores momentos de uma vida urbana a apresentar sua beleza ao túnel de mercadorias de preços módicos, ao gigantesco comércio suburbano, à plateia que alimentava um grande ibope, ao templo do esporte mais amado, à exposição dos produtos livres, à danceteria dos arrasta-pés, à orla do mar e a tantos eventos cotidianos de uma vida urbe.
O seu letramento foi a sua maior virtude, todavia, uma mudança de rumo a levou a um mundo tétrico que criou uma antítese na mulher mais bela do mundo.