Ônibus lotado
Havia um doido pendurado
no ônibus
e ele não tinha uma perna.
Tinha um doido pendurado
no ônibus,
gritando pro motorista abrir a porta,
alegando que se morresse,
a culpa seria do piloto,
e que se vivesse,
iria ficar rico na base do processo judicial.
Tinha um doido aleijado
pendurado no ônibus
e quando o veículo parava no sinal
vermelho
ele dançava e pedia para que os transeuntes e passageiros o filmassem.
Tinha um doido pendurado no ônibus
dizendo que quando a porta se abrisse
ele iria invadir,
mas ninguém descia
e o doido não conseguia subir.
Então, ele continuou gritando,
dançando,
segurando na janela com uma mão
e com a outra
as muletas,
até que o motorista abriu a porta traseira
para alguém descer
e o doido aleijado subiu, triunfante, irônico.
Após um discurso social/político inflamado
contra o modo selvagem de vida no Brasil e uns xingamentos
contra o profissional no volante,
ele pediu parada e desceu,
dizendo que o que tinha que fazer
já havia sido feito,
deixando uma multidão de assalariados
entre o medo, o riso e a confusão.